sábado, abril 05, 2025

O Brutalista

(The Brutalist, EUA/Inglaterra/Hungria, 2024)
Direção: Brady Corbet
Elenco: Adrien Brody, Guy Pierce, Felicity Jones, Isaach de Bankolé.

László Tóth é um renomado arquiteto judeu húngaro que foge para os Estados Unidos após sobreviver o inferno na Segunda Guerra Mundial. E na busca pela segunda chance, e de sua família, ele encontra no caminho oportunidades e decepções na terra das oportunidades. Sua arte brutalista serve como chamariz para a solução dos problemas mas também uma força de atração para as pessoas exploradoras.
Em seu terceiro filme, o diretor  Brady Corbet cai de cabeça em um grande épico e realiza um monumento visual e técnico com destaque para a linda fotografia de Lol Crawley que explora esplendidamente o belo design de produção afinal protagonista é um arquiteto. A trilha sonora de Daniel Blumberg clama pela grandiloquência mas de uma forma mais contida e não rasgada. No entanto, as quase quatro horas de duração pesa na balança e o filme perde fôlego na metade para o fim o que é uma pena pois a primeira parte é espetacular. Mas mesmo assim O Brutalista chama atenção por ser um bonito exemplo do desencanto do sonho americano. Da queda da imagem de um país aberto ao imigrante; mas que no fundo nunca tolerou o diferente. E a presença de Adrian Brody se torna uma curiosidade já que o seu personagem lembra demais o Wladyslaw Szpilman de O Pianista. Até parece que Corbet realizou uma continuação da obra-prima de Polanski. E Brody realmente entrega mais uma atuação visceral ao dar vida a um homem que sonha com uma nova oportunidade mas os traumas terríveis da guerra se tornam demônios interiores difíceis de exorcizar. E se a introdução é incrível ao expor a Estátua da Liberdade totalmente torta (o que seria um indício da sua difícil estadia), o final vira uma bagunça ao incluiu de forma apressada uma conclusão quase didática sobre a vida e obra de László. Mesmo assim, O Brutalista é uma bonita epopeia de almas torturadas que procuram em vão por uma redenção que é apenas uma mera miragem diante de um mundo duro, e armado de concreto.

terça-feira, abril 01, 2025

Emilia Perez

(França/EUA/México, 2024)
Direção: Jacques Audiard
Elenco: Karla Sofía Gascón, Zoe Saldana, Selena Gomez, Adriana Paz.

A advogada Rita atua em casos polêmicos mas sem levar créditos pelas vitórias (o que não a desagrada pois ela tem vergonha de livrar pessoas corruptas). Com o desânimo profissional, ela recebe uma proposta inusitada: um famoso chefe do tráfico de drogas,  Manitas, lhe faz um acordo para ela organizar algumas ações pois este deseja sair do mundo crime e realizar o sonho de transição de gênero. E com o surgimento de Emília Perez, ambas terão um destino rodeados por sonhos a serem realizados.
Um dos filmes mais aclamados do Festival de Cannes 2024, o musical francês Emília Perez foi para o olimpo da consagração após ganhar dois prêmios significativos na riviera francesa. No entanto, quando entrou no catálogo da Netflix dos Estados Unidos, os problemas da obra de Jacques Audiard iniciaram. Diferente da indústria que abraçou o filme, a popularidade lançou problemáticas que vai desde a falta de representatividade mexicana a exploração do tema da transexualidade. E as declarações desastrosas do diretor e de sua estrela (espanhola) só jogaram mais combustível no incêndio. O que é lamentável pois o filme parece ter sido esquecido. Deixado de lado. E confesso que gostei muito do filme - e compreendo o barulho por parte de nomes fortes do cinema, de James Cameron a Guillermo del Toro. Fugindo da dura realidade mexicana, em particular a violência da América Latina, o diretor foi feliz ao inserir o escapismo dos musicais justamente por não ser um mexicano (ou latino). O diretor lança um olhar curioso sobre a busca da redenção e a criação de mitos de uma forma singular. Me fez recordar de Glauber Rocha ao texto de Dias Gomes do clássico da telenovela brasileira Roque Santeiro.
Mas o filme apresenta problemas como roteiro que apresenta alguns diálogos toscos como na cena em que Selena Gomez demonstra excitação sexual. E por falar dela, sua personagem se torna mais uma distração do que um elemento forte na narrativa. Em compensação chama atenção o ótimo trabalho técnico como a colorida fotografia de Paul Guilhalme (o que se espera de um musical); as canções são boas; e a direção criativa de Jacques Audiard que usa e abusa de ótimos movimentos de câmara, e na mistura de diálogo e música. E a cereja do bolo fica no ótimo duelo entre Zoe Saldana e Karla Sofia Gascón. Aqui elas dão vida a personagens que lutam constantemente e apresentam coragem na busca por uma segunda chance na vida. Enquanto Zoe Saldana surpreende ao dar um peso dramático e canta muito bem, Gascón demonstra uma segurança magistral as mudanças da protagonista. Mesmo com todas as suas qualidades, Emília Perez de musical diferente se se tornou com curioso caso de um filme que alimentou uma rejeição tremenda pela América Latina (que tem a sua razão de existir), somado a uma campanha de divulgação das mais incompetentes nos últimos anos.

terça-feira, março 25, 2025

Oscar 2025

 


O Oscar 2025 reflete um momento fraco do cinema estadunidense. Após uma boa safra em 2023, Hollywood se entregou ao cinema independente representado por Anora e O Brutalista. Conclave é uma delícia de thriller britânico. No entanto nesta edição foi marcada pela polêmica obra francesa Emilia Perez que foi do paraíso com as exageradas 13 indicações (mostrando o poder da Netflix), e o purgatório com as acusações (com provas reais) de xenofobia e transfobia. Assim, refletiu numa temporada totalmente imprevisível em que o vencedor de Cannes 2024 saiu laureado na noite do Oscar com 05 prêmios. Mas sem sombra de dúvida, a noite da premiação foi especial para dois filmes tão distintos. A animação da Letônia Flow chamou a atenção e conquistou duas inéditas indicações e ganhou a categoria de animação derrotando a indústria Dreamworks e Pixar. E o cinema brasileiro fez história com as 3 indicações de Ainda Estou Aqui - incluindo a histórica indicação de melhor filme principal - a principal surpresa dos indicados. E com essa força, o filme chamou muita atenção em Hollywood, e conseguiu o primeiro Oscar para o Brasil. A festa seria melhor ainda se a Fernanda Torres levasse a de melhor atriz, mas o prêmio do Walter Salles simbolizará o empurrão necessário para produções brasileiras cresceram no mercado internacional. E que o Oscar de Ainda Estou Aqui seja o primeiro de muitos que virão.


***


A lista dos vencedores do Oscar 2025:


MELHOR FILME: Anora
MELHOR FILME INTERNACIONAL: Ainda Estou Aqui (Brasil)
MELHOR FILME EM ANIMAÇÃO: Flow
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Sem Chão
MELHOR CURTA-METRAGEM: Eu Não Sou um Robô
MELHOR DIREÇÃO: Sean Baker (Anora)
MELHOR ATOR: Adrien Brody (O Brutalista)
MELHOR ATRIZ: Mikey Madison (Anora)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Kieran Culkin. (A Verdadeira Dor)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:  Zoe Saldana (Emilia Perez)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Conclave
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Anora
MELHOR FOTOGRAFIA: O Brutalista
MELHOR MONTAGEM: Anora
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Wicked - Parte 1
MELHOR FIGURINO: Wicked - Parte 1
MELHOR TRILHA SONORA: O Brutalista
MELHOR CANÇÃO: Emilia Perez
MELHOR SOM: Duna - Parte 2
MELHOR EFEITOS VISUAIS: Duna - Parte 2
MELHOR MAQUIAGEM: A Substância
MELHOR CURTA-METRAGEM EM DOCUMENTÁRIO: A Única Mulher da Orquestra
MELHOR CURTA-METRAGEM EM ANIMAÇÃO: In the Shadow of the Cypress

quinta-feira, março 20, 2025

Destaques nos Cinemas

MICKEY 17
(EUA/Coréia do Sul, 2025) de Joon-ho Bong
Ficção cientifica. No futuro, jovem aceita - e depois se arrepende - de participar de uma absurda experiência cientifica.


VITÓRIA
(Brasil, 2025) de Andrucha Waddignton
Drama. Idosa solitária arrisca a vida filmando a violência da sua área para denunciar a polícia.



BETTER MAN - A HISTÓRIA DE ROBIE WILLIAMS

(Inglaterra/EUA, 2024) de Michael Gracey
Musical. Uma excêntrica biografia do irreverente cantor pop britânico que aqui é retratado como macaco.







OESTE OUTRA VEZ
(Brasil, 2024) de Erico Rassi
Drama. No interior do Brasil, homens entram em conflito mortal ao se envolver com a mesma mulher.

sábado, março 15, 2025

Lançamentos nos Streamings

O APRENDIZ
(The Apprentice, EUA/Dinamarca) de Ali Abbase
Amazon Prime
Comédia. Na década  de 1970, uma improvável amizade entre um inexperiente yuppie e um maléfico lobista selaria o futuro dos EUA.


BARBIE
(EUA, 2023) de Greta Gerwig
Amazon Prime
Comédia. Ao sentir diferentes sensações, a famosa boneca sai de seu mundo em busca de respostas.






INSÔNIA

(Insomnia, EUA, 2002) de Christopher Nolan
Mubi
Suspense. Detetive é enviado ao Alasca para investigar um crime mas uma série de atos torna o seu trabalho exaustivo.





JURASSIC PARK
(EUA, 1993) de Steven Spielberg
Max
Aventura. Casal de arqueólogos são convidados a conhecer um parque de dinossauros vivos.






UM LUGAR SILENCIOSO - PARTE 2
(A Quiet Place - Part 2, EUA, 2021) de Johm Krasinski
Netflix
Suspense. Nesta continuação, conhecemos o início do enredo que deu origem ao primeiro filme.

LA CHIMERA

(Itália, 2023) de Alice Rohrwacher
Mubi
Comédia. Um grupo de ladrões vendem objetos arqueológicos no interior da Itália.



RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS
(Portrait de la Jeune Fille en Feu, França, 2019) de Celine Sciamma
Mubi
Drama. No século 18, uma pintora é contratada para pintar uma jovem sem esta saber.



TROPA DE ELITE
(Brasil, 2007) de José Padilha
Max
Policial. Capitão da polícia é encarregado da segurança do Papa no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo busca candidatos para a sua substituição no órgão.

segunda-feira, março 10, 2025

Conclave

(EUA/Inglaterra, 2024)
Direção: Edward Berger
Elenco: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Isabella Rossellini.

Com a morte do Papa, surge de imediato o conclave para eleição do novo chefe da Igreja Católica. Um dos cardeais cotados ao cargo é Lawrence. Mas este parece mais interessado em administrar o ritual. E neste processo depara com lutas de poder que revelam as verdadeiras máscaras por trás dos potenciais candidatos.
Após o sucesso do drama de guerra Nada de Novo no Front (2022), o cineasta alemão Edward Berger aposta numa produção caprichada na adaptação do best-seller de Robert Harris. E em Conclave, Berger não brincou em serviço e faz um show de imagens e câmeras com intuito de revelar toda a ritualística da votação de um papa, e também as tramoias por trás do evento. Assim, a tensa trilha sonora de Volker Bertelmann encaixa com a linda fotografia de Stephani Fontaine que registra - com cores fortes - os cenários e vestimentas dos cardeais. Nada escapa na lente do diretor associado ao roteiro afiado de Peter Straughan que injeta bipolaridade política atual no centro de uma disputa de poder. E outra decisão acertada da produção é o seu elenco. Enquanto Ralph Fiennes é o olhar do público que vai revelando as angústias e o peso de carregar um fado tão grande como a Igreja católica, grandes atores injetam ar de conspiração shakesperiana com louvor - em particular a revelação Carlos Diehz, ator mexicano debutando no cinema com um personagem surpreendente. Conclave é uma delícia de trailer de suspense em que os desdobramentos ocorrem de forma fluida como uma metáfora dos dias atuais em que a luta do poder (e os ideais políticos) é mais importante que o coletivo.