(Brasil/França/Espanha, 2024)
Direção: Walter Salles
Elenco: Fernanda Torres, Selton Mello, Dan Stulbach, Fernanda Montenegro.
Direção: Walter Salles
Elenco: Fernanda Torres, Selton Mello, Dan Stulbach, Fernanda Montenegro.
No momento mais tenso da ditadura brasileira - quando ocorre sequestros de embaixadores em 1970 - uma família tenta viver a margem dessa realidade numa rotina bucólica de um "pacato" Rio de Janeiro. Praia, festa, confraternização. Mas a realidade violenta a família Paiva com o desaparecimento do patriarca exigindo da mãe, Eunice, força e perseverança para cuidar de seus filhos, e na busca do paradeiro do seu marido.
Confesso que cansei do tema autoritarismo. Sabemos da importância do debate...mas discutir algo que as pessoas em volta não levam a sério soa como palavras ao fim. Isso causa uma tremenda frustração. Mas o novo filme de Walter Salles tem qualidades suficiente para fugir de um tema tão batido. E o melhor, causar uma democrática discussão sobre um assunto tão atual e necessário. Assim, o filme me fisga por outros elementos: a memória, a perseverança e o fim da inocência.
Das recordações de um Rio de janeiro lúdico me veio a mente Roma de Afonso Cuarón. Se o filme mexicano foca no lirismo; o brasileiro mira no melodrama mas sem pesar na mão. Pelo contrário, o roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega faz um ótimo trabalho ao mesclar a rotina de uma família em que cada um lida a sua maneira a violência do Estado. E nesse quesito, me chamou atenção a ótima montagem de Affonso Teijido em que o público mal sente o tempo passar. Outro ponto em destaque da obra de Salles é a força da protagonista. Mesmo em um mundo sombrio, Ainda Estou Aqui se assemelha com o lindo Central do Brasil ao mostrar a transformação de uma mulher através do ambiente em sua volta. Se Fernanda Montenegro encontra a sua humanidade em uma viagem ao nordeste brasileiro; Fernanda Torres encontra na ausência do marido um poder de cuidar (de si, dos seus filhos, e dos filhos dos outros) como uma ferramenta de resistência aos abusos de poder. E aqui o destaque fica totalmente a hipnótica atuação de Fernanda Torres que imprime uma garra; expõe uma leoa que não vacila a sua prole de uma forma desconcertante. E o final com a Fernanda Montenegro é cativante. E por fim, o filme foca a mão violenta do Estado sobre os filhos - em que as crianças sentem o clima opressor a ponto da filha de 14 anos de idade ser torturada por militares e os outros a sensação de um desolador.
Ainda Estou Aqui é um belo manifesto em que a opressão estatal não diminui a grandeza, a forca das pessoas por justiça e um mundo melhor. Esse é também o legado de Eunice Paiva. Uma figura até então desconhecida e que renasce através do cinema em um momento mais que urgente.
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