domingo, dezembro 01, 2024

O Quarto ao Lado

(The Room Next Door, Espanha/EUA, 2024)
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Julianne Moore, Tilda Swinton, John Torturro, Alesandro Nivola.

A escritora Ingrid está de mudança em Nova Iorque até receber a notícia que uma grande amiga sua, a correspondente de guerra, Martha, está em estado avançado de câncer. O reencontro das duas expõe o passado de Martha, em particular o distanciamento desta com a sua filha. Ao testemunhar a narrativa de Martha, Ingrid é convidada a ficar perto de Martha após esta ter menos tempo de vida. Mas o desejo de morrer de Martha mexe com os sentimentos de Ingrid.
Almodóvar é um cineasta corajoso. Quando finalmente ele realiza o seu primeiro filme em língua inglesa, ele dobra a aposta. Em O Quarto ao Lado, o mestre espanhol deixa evidente todo seu estilo colorido e dramático, em particular a linda trilha sonora de Alberto Iglesias. Já na outra ponta, o roteiro vai na contramão com diálogos ásperos e sem as reviravoltas características do Almodóvar. A narrativa direta dá o tom, sem rodeio. Aqui, o cineasta espanhol presenteia o público com uma tocante e humana visão sobre a brevidade da vida e eutanásia. Também crítica um mundo cada vez mais distante de sua humanidade (de profissionais que não podem dar um abraço fraterno e a destruição do meio ambiente).  E em um tom quase teatral, o diretor nos brinda como a força da arte é vital nos momentos de reflexão e conforto, em particular a linda homenagem ao clássico literário Os Mortos de James Joyce. E se o duelo de titãs entre Tilda Swinton e Julianne Moore eleva o nível representando a dualidade de sentimentos como a vida estável de Ingrid e o destino turbulento de Martha; em compensação as histórias secundárias (as memórias da Martha) e a participação de John Torturro  não apresentam peso, e até torna um calcanhar de arquivos. Aliás, o Almodóvar repete o mesmo erro de Mães Paralelas ao incluir vários temas sem saber explorar organicamente como é o caso do meio ambiente.
Assim, O Quarto ao Lado é uma obra extremamente adulta e madura que aborda a morte com bastante sensibilidade. Mesmo que o filme tenha bastante cor, no entanto, as características almodovianas como as paixões platônicas e amores passionais são podadas ao máximo em nome de um estilo mais minimalista (o que pode deixar alguns fãs decepcionados). Afinal, o mestre está em uma cultura diversa da sua. Mesmo não sendo um dos seus melhores trabalhos, a produção representa uma nova guinada em um artista que não tem medo de se arriscar. E faz um bonito filme sobre a única certeza da vida e o desencantamento.

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