Elenco: Ney Latorraca, Christiane Torloni, Tarcisio Meira, Lídia Brondi.
A rotina de uma família sofre imensa abalo quando um jornalista sensacionalista e um delegado inescrupuloso exploram ao máximo um fato inusitado: Arandir beija na boca um homem que não sobreviveu a um acidente de trânsito. Esse fato aflora sentimentos e segredos da família de Aprígio, sogro de Arandir.
Ao rever O Beijo no Asfalto após tantos anos e fiquei surpreso ao ver um teor altamente kafkaniano. E hoje o texto ganha mais relevância com as fakes news. Imprensa predatória e um estado ávido por um bode expiatório é o combustível para aniquilar qualquer pessoa, e o competente Bruno Barreto surpreende ao explorar a tensão e o drama - mais sem esquecer a natureza cafajeste do grande autor da hipocrisia carioca. Mas aqui a sacanagem e a depravação moral e humana rola solta em setores públicos e privados como a imprensa e a polícia. Setores que deveriam proteger cidadãos mas que aqui ganha uma força fascista de destruir vidas. Destaque a ótima trilha sonora de Guto Graça Mello recorda demais a colaboração entre Alberto Iglesias e Pedro Almodóvar, e sai do padrão musical daquela época que é tão característico do nosso cinema. E o elenco arrasa em especial a um frio Tarcísio Meira que mesmo teatral tem uma presença magnética como o dúbio Aprígio. O Beijo no Asfalto consegue o primor de unir o melodrama rasgado de Nelson Rodrigues (e o seu teor polêmico) ao mundo perverso do controle do estado na vida do cidadão.
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