terça-feira, dezembro 31, 2024

Nota do Blog - Os Melhores Filmes do Ano

Finalmente o ano de 2024 está dando adeus. E depois de uma ótima safra em 2023, o ano atual termina com filmes mais medianos o que refletiu em um fraco desempenho nos festivais. O ano também representa fracassos monumentais de grandes produções do cinema autoral como Coringa: Delírio a Dois de Todd Phillips, Horizan - Uma Saga Americana de Kevin Costner, e principalmente um dos mais aguardados da temporada: o retorno de Francis Ford Coppola em Megalópolis. Mesmo assim, a temporada teve boas surpresas como o denso drama dinamarquês A Garota da Agulha de Magnus von Horn, a energia do irlandês Kneecap - Música e Liberdade de Rich Peppiatt, o lirismo português de Grand Tour de Miguel Gomes, o original thriller britânico Love Lies Bleeding - O Amor Mata de Rose Glass, e as obras estadunidenses a começar pelo surpreendente musical Wicked - Parte 1 de Jon M. Chu, a elegância do cinema clássico de O Brutalista de Brady Corbert, a emocionante animação da DreamWorks Robô Selvagem de Chris Sanders, e a crítica desconcertante da sociedade americana de Jurado N⁰ 02 de Clint Eastwood.


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MELHORES FILMES DE 2024:

Ainda Estou Aqui (Brasil) de Walter Salles
Anora (EUA) de Sean Baker
Emilia Pérez (França) de Jacque Audiard
Flow (Letônia) de Gints Zilbalodis
O Quarto ao Lado (Espanha) de Pedro Almodóvar
Rivais (EUA) de Luca Guadagnino
A Semente da Figueira Sagrada (Irã) de Mohammad Rasoulof
A Substância (Inglaterra) de Coralie Fargeat
Tudo Que Imaginamos Como Luz (Índia) de Payal Kapadia
Verdades Duras - Hard Truths (Inglaterra) de Mike Leigh


FELIZ NATAL 
E UM ÓTIMO ANO NOVO

sexta-feira, dezembro 20, 2024

Destaques nos Cinemas

O CONDE DE MONTE CRISTO

(Le Comte de Monte-Cristo, França, 2024) de Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte
Drama. Vítima de uma emboscada, homem retorna a sua região em busca de vingança após 14 anos.



QUEER
(EUA/Itália, 2024) de Lucca Guadagnino
Drama. Americano que vive na Cidade do México tem uma relação intensa com um jovem compatriota.





UM HOMEM DIFERENTE
(A Different Men, EUA, 2024) de Aaron Schimberg
Suspense. Após fazer uma cirurgia, homem fica obcecado com um rapaz que tem a mesma condição física que a dele.

domingo, dezembro 15, 2024

Lançamentos nos Streamings

A BELA DA TARDE
(França, 1967) de Luis Buñuel
Mubi
Drama. Para acabar com o tédio, burguesa decide trabalhar em um bordel de Paris.



O BEIJO NO ASFALTO

(Brasil, 1981) de Bruno Barreto
Mubi
Drama. Após atender um inusitado desejo de um desconhecido, homem sofre um ferrenho preconceito.



DAHOMEY
(Senegal/França, 2024) de Mati Diop
Mubi
Documentário. Relato da devolução dos tesouros históricos de Benin que se encontrava na França.




DESEJO E REPARAÇÃO
(Atonement, Inglaterra, 2007) de Joe Wright
Netflix
Drama. Por ciúmes, uma garota inventa uma mentira que causará danos irreversíveis a um casal de jovens.

PEARL
(2022, EUA) de Ti West
Amazon Prime
Terror. Em uma fazenda distante, jovem sonha com a fama mas a realidade se distancia do desejo com violência.


TÁR
(EUA, 2022) de Todd Field
Amazon Prime
Drama. A turbulenta vida de uma ambiciosa maestra que alcança o topo na carreira.


TAXI DRIVER
(EUA, 1976) de Martin Scorsese
Netflix
Drama. Veterano do Vietnã entra numa espiral de loucura em uma decadente Nova Iorque.




AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL
(The Perks of Being a Wallflower, Inglaterra/EUA, 2012) de Stephen Chbosky
Mubi
Drama. jovem perdido encontra um grupo que lhe mostra um outro lado da vida.


WHIPLASH - EM BUSCA DA PERFEIÇÃO
(EUA, 2013) de Damien Chazelle
Max
Drama. Estudante de música tem pela frente uma relação turbulenta com o seu professor.

terça-feira, dezembro 10, 2024

O Sol Por Testemunha

(Plein Soleil, França/Itália, 1960)
Direção: René Clément
Elenco: Alain Delon, Maurice Ronet, Marie Laforêt, Billy Kearns.

Os amigos Ripley e Philippe levam a vida de bon-vivant ao lado da dublê de escritora Marge (namorada de Philippe) na estonteante natureza da Itália. E em uma viagem de barco as máscaras caem. E a realidade demonstra que Ripley é um elemento estranho na vida do casal de riquinhos; tornando-se um fator imprevisível neste quase "trisal".
Adaptação do clássico de Patrícia Highsmith, é inevitável não comparar com a versão de 1999. Aliás, a comparação faz sentido para entender melhor o filme de 1959 pois a obra francesa já inicia cortando a introdução da história original, mas isso não atrapalha a compreensão do enredo. Até pelo contrário pois reforça o tom amoral do protagonista que ganha na interpretação de Alan Delon uma dubiedade envolvente. Aliás, a visão do cineasta René Clément reforça um jogo emocional convincente e sedutor de gato e rato entre Philippe e Ripley. O grande destaque do filme fica  para a leve e sexy trilha sonora do mestre Nino Rota que usa um som solar e sensual na riviera italiana. E a versão francesa se distancia do ponto-de-vista de Anthony Minguella que sustentava um olhar humano do protagonista, incluindo uma consciência de seus atos. Clément eliminou qualquer julgamento e focou o protagonista como um alpinista social que não exita em brincar com sentimentos alheios por diversão e fetiche. E essa sensação é representada pela ótima e polêmica conclusão.

quinta-feira, dezembro 05, 2024

Ainda Estou Aqui

(Brasil/França/Espanha, 2024)
Direção: Walter Salles
Elenco: Fernanda Torres, Selton Mello, Dan Stulbach, Fernanda Montenegro.

No momento mais tenso da ditadura brasileira - quando ocorre sequestros de  embaixadores em 1970 - uma família tenta viver a margem dessa realidade numa rotina bucólica de um "pacato" Rio de Janeiro. Praia, festa, confraternização. Mas a realidade violenta a família Paiva com o desaparecimento do patriarca exigindo da mãe, Eunice, força e perseverança para cuidar de seus filhos, e na busca do paradeiro do seu marido.
Confesso que cansei do tema autoritarismo. Sabemos da importância do debate...mas discutir algo que as pessoas em volta não levam a sério soa como palavras ao fim. Isso causa uma tremenda frustração. Mas o novo filme de Walter Salles tem qualidades suficiente para fugir de um tema tão batido. E o melhor, causar uma democrática discussão sobre um assunto tão atual e necessário. Assim, o filme me fisga por outros elementos: a memória, a perseverança e o fim da inocência.
Das recordações de um Rio de janeiro lúdico me veio a mente Roma de Afonso Cuarón. Se o filme mexicano foca no lirismo; o brasileiro mira no melodrama mas sem pesar na mão. Pelo contrário, o roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega faz um ótimo trabalho ao mesclar a rotina de uma família em que cada um lida a sua maneira a violência do Estado. E nesse quesito, me chamou atenção a ótima montagem de Affonso Teijido em que o público mal sente o tempo passar. Outro ponto em destaque da obra de Salles é a força da protagonista. Mesmo em um mundo sombrio, Ainda Estou Aqui se assemelha com o lindo Central do Brasil ao mostrar a transformação de uma mulher através do ambiente em sua volta. Se Fernanda Montenegro  encontra a sua humanidade em uma viagem ao nordeste brasileiro; Fernanda Torres encontra na ausência do marido um poder de cuidar  (de si, dos seus filhos, e dos filhos dos outros) como uma ferramenta de resistência aos abusos de poder. E aqui o destaque fica totalmente a hipnótica atuação de Fernanda Torres que imprime uma garra; expõe uma leoa que não vacila a sua prole de uma forma desconcertante.  E o final com a Fernanda Montenegro é cativante. E por fim, o filme foca a mão violenta do Estado sobre os filhos - em que as crianças sentem o clima opressor a ponto da filha de 14 anos de idade ser torturada por militares e os outros a sensação de um desolador.
Ainda Estou Aqui é um belo manifesto em que a opressão estatal não diminui a grandeza, a forca das pessoas por justiça e um mundo melhor. Esse é também o legado de Eunice Paiva. Uma figura até então desconhecida e que renasce através do cinema em um momento mais que urgente.

domingo, dezembro 01, 2024

O Quarto ao Lado

(The Room Next Door, Espanha/EUA, 2024)
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Julianne Moore, Tilda Swinton, John Torturro, Alesandro Nivola.

A escritora Ingrid está de mudança em Nova Iorque até receber a notícia que uma grande amiga sua, a correspondente de guerra, Martha, está em estado avançado de câncer. O reencontro das duas expõe o passado de Martha, em particular o distanciamento desta com a sua filha. Ao testemunhar a narrativa de Martha, Ingrid é convidada a ficar perto de Martha após esta ter menos tempo de vida. Mas o desejo de morrer de Martha mexe com os sentimentos de Ingrid.
Almodóvar é um cineasta corajoso. Quando finalmente ele realiza o seu primeiro filme em língua inglesa, ele dobra a aposta. Em O Quarto ao Lado, o mestre espanhol deixa evidente todo seu estilo colorido e dramático, em particular a linda trilha sonora de Alberto Iglesias. Já na outra ponta, o roteiro vai na contramão com diálogos ásperos e sem as reviravoltas características do Almodóvar. A narrativa direta dá o tom, sem rodeio. Aqui, o cineasta espanhol presenteia o público com uma tocante e humana visão sobre a brevidade da vida e eutanásia. Também crítica um mundo cada vez mais distante de sua humanidade (de profissionais que não podem dar um abraço fraterno e a destruição do meio ambiente).  E em um tom quase teatral, o diretor nos brinda como a força da arte é vital nos momentos de reflexão e conforto, em particular a linda homenagem ao clássico literário Os Mortos de James Joyce. E se o duelo de titãs entre Tilda Swinton e Julianne Moore eleva o nível representando a dualidade de sentimentos como a vida estável de Ingrid e o destino turbulento de Martha; em compensação as histórias secundárias (as memórias da Martha) e a participação de John Torturro  não apresentam peso, e até torna um calcanhar de arquivos. Aliás, o Almodóvar repete o mesmo erro de Mães Paralelas ao incluir vários temas sem saber explorar organicamente como é o caso do meio ambiente.
Assim, O Quarto ao Lado é uma obra extremamente adulta e madura que aborda a morte com bastante sensibilidade. Mesmo que o filme tenha bastante cor, no entanto, as características almodovianas como as paixões platônicas e amores passionais são podadas ao máximo em nome de um estilo mais minimalista (o que pode deixar alguns fãs decepcionados). Afinal, o mestre está em uma cultura diversa da sua. Mesmo não sendo um dos seus melhores trabalhos, a produção representa uma nova guinada em um artista que não tem medo de se arriscar. E faz um bonito filme sobre a única certeza da vida e o desencantamento.