sábado, abril 20, 2019

Festival de Berlim 2019

O Festival de Berlim 2019 começa com produções de primeira. Os destaques desta edição foram: o  chinês So Long, My Son que expõe um casal se adaptando as recentes mudanças sociais da China; o turco A Tale of Three Sisters que relata três jovens que são forçadas a viver longe de casa; o canadense Ghost Town Anthology, uma fantasia sobre a morte inexplicável de um homem comum; e o mongol Öndög, um drama em que coisas estranhas acontecem em uma zona rural da Mongólia.
E com esse clima, a presidente do júri desse ano, a atriz francesa Juliette Binoche, premiou bons filmes - e ousou - dando o Urso de Ouro de Melhor Filme para a comédia israelense Synonyms que conta a estória de um jovem israelense que vai para Paris fugir da guerra. Outros premiados foram o polêmico francês sobre pedofilia na Igreja Católica By the Grace of God; e o reflexivo alemão I Was at Home, But, sobre uma jovem que apresenta um inusitado comportamento.
Já o Brasil fez bonito com destaque para a consagração do pernambucano Gabriel Mascaro com a ficção Divino Amor; Greta de Armando Praça, drama sobre a estranha relação entre um velho enfermeiro e um paciente; Querência de Helvécio Marins Jr., que aborda um homem que procura a sua irmã após um fato traumático; e o lançamento mundial do politizado Mariguella, debut do ator Wagner Moura na direção, e que vai dar o que falar em sua estréia nos cinemas brasileiros.

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A lista dos vencedores do Festival de Berlim 2019:

Urso de Ouro de Melhor Filme: Synonyms (Israel/França/Alemanha) de Naday Lapid
Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri): By the Grace of God  (França/Belgica) de François Ozon
Urso de Prata de Melhor Diretor: Angela Schanelec - I Was at Home, But (Alemanha/Sérvia)
Urso de Prata de Melhor Ator: Wang Jung-chun - So Long, My Son (China)
Urso de Prata de Melhor Atriz: Yong Mei - So Long, My Son (China)
Urso de Prata de Melhor Roteiro: Piranhas (Itália)
Urso de Prata - Prêmio Alfred Bauer para filmes que abrem novas perspectivas: System Crasher (Alemanha) de Nora Fingscheidt
Urso de Prata - Melhor Contribuição Artística: Rasmus Videbaek (diretor de fotografia) de Out Stealing Horses (Dinamarca/Suécia/Noruega)
Prêmio de Melhor Filme de Estreia: Oray (Alemanha) de Mehmet Akif Büyükatalay
Prêmio de Melhor Documentário: Talking About Trees (Sudão/Chade/Alemanha/França) de Suhaib Gasmelbari

segunda-feira, abril 15, 2019

Destaques nos cinemas

VOX LUX - O PREÇO DA FAMA
(EUA, 2018) de Brady Corbet
Drama musical. Uma famosa cantora pop vive a sombra de um passado trágico e um futuro que parece ser sombrio.



TRÊS FACES
(Three Faces, Irã, 2018) de Jafar Panahi
Drama. Narração que acompanha três mulheres que viveram períodos distintos da história do Irã.




BORDER
(Gräns, Dinamarca/Sueca, 2018) de Ali Abbasi
Suspense. Uma funcionária de uma alfandega de aspecto primitivo questiona o seu passado ao encontrar um homem misterioso.



O ANJO
(El Ángel, Argentina/Espanha, 2018) de luis ortega
Drama. Psicopata de fisionomia infantil toca o terror na Buenos Aires no auge da ditadura miliar argentina na década de 70.

quarta-feira, abril 10, 2019

Girl

(Bélgica, 2018)
Direção: Lukas Dhont
Elenco: Victor Polster, Arieh Worthalter, Valentijn Dhaenens, Nele Hardiman

Lara é uma garota comum que vive as pressões típicas de uma adolescente: pressão por boas notas escolares; os hormônios em ebulição; o ambiente competitivo do bale; e o frustante controle dos pais. Mas a protagonista tem uma característica singular - é transexual - e esse dado exige dela uma tremenda força de vontade para lutar pela sua humanidade.
Girl é um ótimo filme ao abordar os dilemas de uma adolescente madura, competitiva mas que sente total aversão pelo seu sexo. E essa repulsa cria um abismo, um isolamento familiar e social. Assim, o grande lance do roteiro é colocar a protagonista em um ambiente que lhe acolhe e lhe aceita (algo raro), no entanto insuficiente para apaziguar o desconforto que ela sente sobre o mundo e sobre si mesma. E a atuação de Victor Polster como Lara é de uma sensibilidade tocante (e um realismo surpreendente) pois evita o melodrama e imprime uma força, um vigor na luta pela sua identidade. Se o chileno Uma Mulher Fantástica recorre ao surrealismo ao focar na luta de uma mulher pela sua identidade; o belga Girl vai em outra corrente e usa a realidade para expor os medos e aflições de uma garota que não é compreendida por todos. Cairia muito bem uma sessão dupla com esses filmes citados para uma melhor entendimento sobre o tema.

sexta-feira, abril 05, 2019

Cafarnaum

(Líbano, França, 2018)
Direção: Nadine Labaki
Elenco: Zain Al Rafeea, Yordanos Shifera, Boluwatife Theasure Bankole, Nadine Labaki

Logo de cara, Cafarnaum mostra o seu protagonista Zain, um garoto de 12 anos, em um tribunal com um insólito desejo: processar os pais pela sua existência. Diante de uma realidade crua, a diretora Nadine Labaki surpreende e faz uma obra dolorosa sobre uma criança que consegue conservar a sua humanidade diante de uma realidade caótica: a miséria, a falta de afeto dos pais - e o pior - a ausência de uma identidade. De início a Labaki pesa a mão caindo na armadilha do melodrama lacrimoso, mas a inteligente edição de Konstantin Bock consegue corrigir a falha ao usar uma narrativa não cronológica com a intenção de segurar o chororô. Outro plus é a bela trilha sonora de Khaled Mouzanar que é emocionante. E o garotinho Zain Al Rafeea é um assombro na tela, mostrando um domínio de cena impressionante. Com um final arrebatador, Cafernaum joga esperança em um mundo cada vez mais dividido e sem projetos para inclusão social (os refugiados da Síria, os imigrantes ilegais e os mais pobres). Um filme de cortar o coração.

segunda-feira, abril 01, 2019

Tangerine

(EUA, 2015)
Direção: Sean Baker
Elenco: Kitana Kiki Rodrigues, Mya Taylor, Karren Karagulian, James Ransone

Sin-Dee é uma prostituta transexual que acaba de sair da cadeia, e descobre pela sua amiga Alexandra que o seu amado, o cafetão Chester, está lhe traindo com uma branca "racha"(mulher). Enfurecida, Sin-Dee parte em busca da traidora - e na mesma região, Razmk, um taxista armênico divide o seu trabalho com as suas aventuras sexuais com os travestis de rua.
Em seu primeiro filme, Sean Baker humaniza os excluídos de Los Angeles de uma forma vigorante graças a ótima trilha sonora e o uso de iPhone como câmera que torna tudo mais vibrante e pop (me fez lembrar um pouco o clássico Corra, Lola, Corra, mas sem a sua originalidade). Um pena que a estória do taxista armênico soe mais como um conto de Nelson Rodrigues - o que destoa do argumento principal, mas mesmo assim rende uma cena surreal e hilária (quando ele confunde uma mulher com um travesti). Ao jogar humor (o que não é para qualquer público) em um enredo que poderia desbancar ao drama pesadíssimo, Tangerine imprime uma energia que torna a vida dos travestis um misto de luta, determinação e obstinação.