quarta-feira, fevereiro 20, 2019

Destaque nos cinemas

GUERRA FRIA
(Zimna Wajna, Polônia/França, 2018) de Pawel Pawlikowski
Drama. Na Polônia pós-Segunda Guerra Mundial, um casal apaixonado tem o seu destino afetado pela geo-política que atravessam.


NO PORTAL DA ETERNIDADE
(At Eternity´s Gate, EUA/Inglaterra/França, 2018) de Julian Schanabel
Drama. O mestre Van Gogh usa o seu triste destino para dar vida a uma de suas obra-prima: Quarto em Arles.



PODERIA ME PERDOAR?
(Can You Ever Forgive Me?, EUA 2018) de Marielle Heller
Drama. Escritora de livros biográficos passa por uma crise de identidade e se senti desconexa ao mundo.



SE A RUA BEALE FALASSE
(If Beale Street Could Talk, EU, 2018) de Barry Jenkins
Drama. Mulher grávida tenta provar com todas as forças que o seu companheiro foi preso injustamente.





TODOS JÁ SABEM
(Todos lo Saben, Espanha/França/Itália, 2018) de Asghar Farhadi
Suspense. Casal espanhol que moram na Argentina viaja para a terra natal e o misterioso passado vem a tona.

sexta-feira, fevereiro 15, 2019

Oscar 2019

Finalmente o ano novo inicia, e junto sai as indicações ao Oscar 2019. E nesta edição muitas surpresas (esperadas rsrs) aconteceram. Primeiro, a Academia finalmente indicou um filme adaptado em história em quadrinho, Pantera Negra, para a categoria máxima, e com uma boa chance de ganhar o citado prêmio! Mas se isso concretizar, o que vai acontecer com a futura indicação de melhor filme popular? Outro filme que está bombando é o mexicano Roma, que lidera em números de indicações neste ano, mostrando que a Netflix não está de brincadeira. E junto com Roma outros filmes "estrangeiros" se deram bem como o polonês Guerra Fria (merecidíssimo) e o alemão Nunca Deixe de Olhar que foram além da indicação de melhor filme estrangeiro; aliás a lista de indicados nessa categoria é de longe a melhor dessa edição. E voltando a Hollywood, o cometa Nasce uma Estrela perdeu fôlego, e espero que Spike Lee ganhe algum prêmio por Infiltrado na Klan. E neste ano não tem favorito ao prêmio principal criando uma lacuna para uma grande surpresa no fim da premiação. Roma? Pantera Negra? Green Book: O Guia? Infiltrado na Klan? A Favorita? O ponto negativo: o fraco Bohemian Rhapsody aparece na lista só por causa da sua grande bilheteria. Nem tudo é flores.

BOHEMIAN RHAPSODY
Sempre entra na lista do Oscar um filme fraco. E nesta edição o eleito foi a biografia da banda Queen. Com um péssimo início, em que a criação da música-título é exposta de forma superficial, o filme só ganha pontos com o ótimo final mas isso se deve mais as músicas da banda do que ao filme. Lamentável. A única coisa boa é a ótima atuação de Rami Malek como Freddy Mercure. Se não fosse a bilheteria assombrosa dificilmente receberia as 05 indicações. Tem chance de levar a de melhor ator, e pasmem, melhor edição (se concretizar será a piada do ano).

A FAVORITA
Com uma carreira ascendente, o cineasta grego Yorgos Lanthimos se consagrou de vez com o delicioso A Favorita. Com uma produção de cair o queixo, o diretor usa e abusa do seu estilo provocativo e realiza uma espécie de Ligações Perigosas à lá Lars Von Trier. E de quebra, o trio de atrizes esta fantástico - uma pena que a Olivia Colman não tenha chance de levar o prêmio de melhor atriz, ela merece. Com 10 indicações, o filme é o favorito para melhor roteiro original, edição, figurino, direção de arte.

GREEN BOOK: O GUIA
O inesperado sucesso no Festival de Toronto deu um impulso gigantesco a estréia em um drama ao cineasta Peter Farrelly, mais conhecido pelas comédias politicamente incorretas, mas aqui o diretor volta muito comportado, o que pra mim foi uma surpresa negativa, afinal nos últimos anos o racismo/preconceito vem se tornando um tema para ótimas produções originais. Com 05 indicações, tem chance de ganhar a de melhor ator coadjuvante para Marheshala Ali, e pode surpreender na de melhor filme após ganhar o Globo de Ouro de melhor comédia e o sindicado dos produtores. Espero que eu esteja enganado.
INFILTRADO NA KLAN
Será que é desta vez que a Academia vai reconhecer o polêmico e politizado Spike Lee? Após uma estreia brilhante no Festival de Cannes, Infiltrado na Klan é um filme atual e necessário ao cutucar que o racismo somente mudou de estratégia - e no fim um tapa na cara a um mundo cada vez mais conservador e fechado. Com 06 indicações, tem muita chance de levar a de melhor roteiro adaptado.



NASCE UMA ESTRELA
De início a quarta versão do musical Nasce uma Estrela era uma incógnita. Bradley Cooper estreando na direção, Lady Gaga debutando no cinema. Mas o filme gerou ótimas críticas no Festival de Veneza, e a bilheteria consagrou a obra, que realmente é muito boa de fato, e a dupla arrebenta. Se no fim de 2018, o filme já era considerado certo para o prêmio de melhor filme, o tempo esfriou os ânimos e a ausência de Cooper na categoria de melhor direção só fez empalidecer a trajetória do filme na noite de Oscar. Com 08 indicações, é o favorito ao prêmio de melhor canção.

PANTERA NEGRA
Há um ano atrás, a adaptação da Marvel causou sensação em torno das boas críticas e da estrondosa bilheteria, e desde daquela época já se falava da possibilidade de arrebentar no Oscar 2019. E não deu outra; o filme sempre entrou na lista dos melhores do ano e conseguiu 07 indicações ao Oscar, incluindo a de melhor filme. Tem chance de ganhar os prêmios de melhor trilha sonora, figurino, edição de som, e mixagem de som.




ROMA
Um projeto muito falado mas que foi jogado para o encanteiro no Festival de Cannes por ser do Netflix; mas no Festival de Veneza Alfonso Cuarón deu a volta por cima e além de levar o Leão de Ouro de melhor filme, deixou a crítica perplexa com a sua beleza estética e o seu discurso ao abordar memórias e crítica social do México dos anos 70. Com incríveis 10 indicações, a Academia deixa de lado o preconceito sobre o famoso streaming, e tem uma grande chance para quebrar barreiras premiando uma obra mexicana para melhor filme, além de direção, filme estrangeiro, e fotografia.

VICE
Time que está ganhando não se mexe. Com essa filosofia em prática, a equipe do sucesso cult de 2015, A Grande Aposta, volta ao estilo consagrado na biografia do "satanás" Dick Cheney, vice-presidente do governo George W. Bush. Mesmo que a fórmula se apresente um pouco desgastada, Vice recebeu 08 indicações com boas chances de melhor maquiagem, montagem e ator para Christian Bale que realmente está fantástico na pele do personagem-titulo.

domingo, fevereiro 10, 2019

Roma

(México/EUA, 2018)
Direção: Alfonso Cuarón
Elenco: Yalitza Aparizio, Marina de Tavira, Verónica García, Fernando Grediaga.

Roma é o nome de um bairro da Cidade do México onde reside uma família de classe média/alta no início da década de 70. E a rotina desse núcleo familiar é exposta pelo olhar da empregada faz-tudo Cleo, uma jovem ingênua e humilde descendente indígena que se encontra grávida.
Baseado em suas memórias, o grande Cuarón realiza uma entrega absoluta a imagem e a narrativa - não é de estranhar que o diretor faz tudo no filme (dirige, produz, escreve, fotografa e co-edita) - igual a personagem Cleo. Dessa forma os longos planos-sequências que é uma característica do realizador ganha um plus arrasador com a hipnótica fotografia em preto-e-branco gerando cenas de grande beleza visual (a periferia da cidade) e dramática (o parto, a praia). E Cuarón não é nada modesto ao citar em alguns momentos seus filmes mais conhecidos como Gravidade, Filhos da Esperança e A Sua Mãe Também. Vale destacar a incrível atuação de Yalitza Aparizio ao dar vida a uma garota que começa a sentir as dores da vida adulta (gênero/social), e ao mesmo tempo representa uma força da natureza para seguir o destino adiante. Uma pena que não deu pra conferir essa belezura nas telas do cinema.

terça-feira, fevereiro 05, 2019

Infiltrado na Klan

(BlacKKKlansman, EUA, 2018)
Direção: Spike Lee
Elenco: John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier, Topher Grace.

Na década de 70 em uma "pacata" cidade do sul dos EUA, a polícia local é forçada a fazer inclusão social na repartição. E assim nasce o policial Ron Stallworth, um brother gente boa que decide registrar os atos criminosos da Ku Klux Klan na região. Mas para conseguir sucesso na missão é fundamental a participação do colega Flip Zimmerman. O problema é que Ron é negro e Flip é judeu.
Com um argumento absurdo é de se espantar que o enredo é baseado em uma estória real; o verdadeiro Ron escreveu o livro no qual o filme se baseia. E como um lance do destino, a obra cai nas mãos certas: Spike Lee. Como um Cyrano de Bergerac social (tirando a estória de amor), o grande cineasta dá a volta por cima e faz um dos seus melhores trabalhos. Acessível e provocativo, o diretor usa e abusa do seu estilo para imprimir um discurso para as minorias não se renderem, e também expor a mudança estratégica da tenebrosa organização racista: a política. E também cutuca o racismo exposto nos filmes americanos. Dessa forma a sua conclusão é arrebatadora e um tapa na cara da sociedade americana - e também para o resto do planeta pois semear o ódio ao próximo é universal. Lamentável e ao mesmo tempo um dos filmes mais obrigatórios da temporada.

sexta-feira, fevereiro 01, 2019

Tinta Bruta

(Brasil, 2018)
Direção: Filipe Matzembacher e Márcio Reolon
Elenco: Shico Menegat, Bruno Fernandes, Guega Peixoto, Sandra Dani.

"Porto Alegre é um aterro e há qualquer momento pode desmoronar!". Essa frase dita por uma personagem de Tinta Bruta retrata bem a condição do seu protagonista, Pedro. Pedro é jovem tímido, frágil e apresenta uma postura corporal que reflete bem a sua aversão social. Vítima constante de homofobia e prestes a sofrer uma penalização por ter atacado o seu algoz, Pedro perde o sentido de tudo em sua vida; exceto quando faz shows eróticos na internet na qual lambuza o seu corpo de tinta neon.
Os diretores Filipe Matzembacher e Márcio Reolon realizam uma obra porrada sobre homofobia e suas consequências (e outras manifestações de preconceito) com uma propriedade desconcertante. Com cenas pesadas, fortes, a dupla de cineastas não polpa o público de expor um universo deprimente, decadente - a capital gaúcha totalmente desprovida de seu glamour (e os seus habitantes fazem questão de ir embora) - mas mesmo assim há espaço para a beleza que envolvem o corpo tão maltratado e imerso a dor, se transformando um escudo contra todo esse sofrimento. E o ator principal, Shico Menegat, é um achado em um papel difícil que exige muito da postura e gestos.
E mesmo quieto, Pedro abre a boca e deixa uma verdade inconveniente no ar: "se eu cometesse suicídio, os outro seriam penalizados?". Todos nós sabemos da resposta, e essa passividade da sociedade é o combustível para tanta dor a uma parcela da sociedade. Mas o filme é otimista e mostra que diante de um mundo sombrio existe cores de tinta neon que fazem o corpo pulsar.