sexta-feira, agosto 25, 2023

Festival de Gramado 2023


Nos dias 11 a 19 de agosto realizou-se o festival de cinema brasileiro mais badalado do país: o Festival de Gramado. E nesta edição sem a competição latina, a atenção foi para o cinema brasileiro em que seis filmes entraram em competição. Angela de Hugo Prata, biografia da famosa socialite dos anos 70 vitima de feminicídio; O Barulho da Noite de Eva Pereira que narra uma criança testemunha a desestabilização de sua família; e Uma Família Feliz de Jose Eduardo Belmonte que aborda uma mãe foram obras que não fizeram burburinho no festival.
Em compensação Mussum, O Filmis de Silvio Guindane, biografia do famoso comediante e sambista chamou bastante atenção a ponto de levar 06 Kikitos incluindo o prêmio máximo. Outros destaques foram: Mais Pesado é o Céu de Petrus Cariry em que um casal perseguido pelo passado perambula pelas estradas; e Tia Virginia de Fabio Meira que narra encontro entre irmãs para discutir quem cuidará dos pais idosos.
Fora da competição ocorreu a estréia nacional do badalado documentário Retratos Fantasmas, novo filme do mestre Kleber Mendonça Filho que faz uma lição de amor aos cinemas de rua - e sai do festival com força para o Oscar 2024.

***

A lista dos vencedores do Festival de Gramado 2023:

LONGAS BRASILEIROS:

Melhor Longa-Metragem Brasileiro: Mussum, O Filmis de Silvio Guindane
Melhor Filme em Longa-Metragem Brasileiro– Prêmio da Critica: Tia Virginia de Fábio Meira
Melhor Filme do Júri Popular – Prêmio Especial do Júri: Mussum, O Filmis de Silvio Guindane
Prêmio Especial do Júri: Ana Luiza Rios - Mais Pesado é o Céu
Melhor Direção:  Petrus Cariry - Mais Pesado é o Céu
Melhor Ator: Aílton Graça - Mussum, O Filmis
Melhor Atriz: Vera Holz- Tia Virgínia
Melhor Ator Coadjuvante: Yuri Marçal - Mussum, O Filmis
Melhor Atriz Coadjuvante: Neusa Borges - Mussum, O Filmis
Desenho de Som: Rubem Vladés - Tia Virgínia
Melhor Trilha Musical: Max de Castro - Mussum, O Filmis
Melhor Direção de Arte: Ana Mara Abreu - Tia Virgínia
Melhor Montagem: Firmino Holanda e Petrus Cariry - Mais Pesado é o Céu
Melhor Fotografia: Petro Cariry - Mais Pesado que o Céu
Melhor Roteiro: Fábio Meira - Tia Virgínia

domingo, agosto 20, 2023

Destaque nos Cinemas

ASTEROID CITY

(EUA, 2023) de Wes Anderson.
Comédia dramática. Nos EUA dos anos 1950, uma pacata cidade tem a sua rotina alterada por causa de uma convenção e de outros acontecimentos.




FALE COMIGO
(Talk To Me, Austrália, 2023) de Danny Philippou e Michael Philippou
Terror. Ao se envolver com uma brincadeira sobrenatural, jovem se arrisca demais e mortos começam a assombrá-la.

terça-feira, agosto 15, 2023

Lançamentos nos Streamings

CLEO DAS 5 ÀS 7
(Cleo de 5 à 7, França, 1962) de Agnès Varda
Mubi
Drama. Ansiosa pelo resultado de um exame médico, a cantora Cleo decide andar pelas ruas de Paris.


ERA UMA VEZ NA AMERICA
(Once Upon a Time in America, Itália/EUA, 1984) de Sergio Leoni
Mubi
Drama. Retrato de um grupo de mafiosos que atuou na comunidade italiana de Nova Iorque no período de 1900 a 1960.



FLORES RARAS
(Brasil, 2013) de Bruno Barreto
Netflix
Drama. No Brasil dos anos de 1950 acontece um improvável romance entre uma renomada arquiteta e uma famosa poetisa americana.



GUARDIÓES DA GALAXIA VOL. 3
(The Guardions of the Galaxy Vol. 3, EUA, 2023) de James Gunn
Disney+
Aventura. Peter Quill e equipe tem uma nova missão: salvar a vida de Rocket.


HISTÓRIA REAL
(The Straight Story, EUA, 1999) de David Lynch
Mubi
Drama. Após receber a mensagem que o seu irmão esta prestes a morrer, homem idoso decide visitá-lo usando um trator como meio de locomoção.



O HOMEM IDEAL
(Ich Bin Dein Mensch, Alemanha, 2021) de Maria Schrader
HBO Max
Comédia dramática. Mulher decide participar de uma excêntrica experiência: ser a companheira afetiva de um robô criado para ser um parceiro humano.


MEDUSA DELUXE
(Inglaterra, 2022) de Thomas Hardiman
Mubi
Suspense. Participantes de um concurso se penteados exóticos decidem descobrir a identidade de um assassino que matou uma pessoa no evento.



O PANTANO
(La Ciénaga, Argentina/Espanha, 2001) de Lucrecia Martel
Mubi
Drama. A rotina de duas famílias que vivem em um intenso verão no interior da Argentina.



A PROFESSORA DE PIANO

(La Pianiste, Áustria/França, 2001) de Michael Haneke
Mubi
Drama. Professora de piano tem uma relação intensa com um aluno que gosta de perversão.



TROPA DE ELITE
(Brasil, 2007) de José Padilha
Amazon Prime
Policial. Capitão do BOPE é designado a combater a violência e o tráfico de drogas em uma comunidade do Rio de Janeiro.

VIVER
(Living, Inglaterra, 2022) de Oliver Hermanus
HBO Max
Drama. Burocrata servidor público leva um baque em sua vida após ser diagnosticado com uma doença fatal.

quinta-feira, agosto 10, 2023

Atração Mortal

(Heathers, EUA, 1988)
Direção: Michael Lehmann
Elenco: Winona Ryder, Christian Slater, Shannen Doherty, Lisanne Falk.

Veronica é uma adolescente que entrou no grupo de garotas mais descolado (e maldoso) da escola. Ao aderir ao grupo, ela se sente mais emponderada e também mais desconectada em seu ambiente (escolar, familiar). Com  a chegada de um novo aluno em sua escola chamado J.D., Veronica sente uma imediata atração pela sua figura segura (e imprevisível) do rapaz. Mas essa nova relação, Veronica descobre que J. D. apresenta um comportamento atípico que fascina e repele.
Clássico cult dos anos de 1980 em que a indigesta combustão entre filme de adolescência e uma certa perversão acabou chamando atenção com o decorrer do tempo. Aqui o diretor Michael Lehman faz uma mistura maluca de As Patricinhas de Bervely Hills, Teorema e O Clube da Luta (como se isso fosse possível mas ao meu ver o cineasta conseguiu a façanha). Atração Mortal liquidifica o filme highschool americano dos anos de 1990 com um traço mais doentio em seu enredo expondo o pior do ser humano (já de cara quando começa a se tornar maduro). 
Aos olhos de hoje seria impensável uma obra dessas sendo realizada ao tocar em temas muitos sensíveis como a violência nas escolas - particularmente os atentados de alunos usando armas de fogo. E expondo de forma explícita a inconsequência dessa fase da vida. O humor do filme que na época soaria engraçado, cool mas hoje daria um sorriso tenso e nervoso em virtude das ações que a protagonista faz e a frieza de D. J.
Atração Mortal é uma obra perturbadora pois mostra que os jovens estão próximos de um ambiente que mistura bullying, violência, a busca pela identidade e a ausência total de responsáveis a formação de jovens. E no mundo atual de hoje em que as redes sociais também se transforma em uma arma mortífera, o filme é um ótimo exemplo de debater sobre responsabilidade social, e uma forma de diminuir a pressão sobre seres que ainda não amadureceram em relação ao futuro e as decisões da vida.

sábado, agosto 05, 2023

Barbie

(EUA, 2023)
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Margot Robin, Ryan Gosling, America Ferrera, Kate McKinnon.

No mundo perfeito da Barbielândia, as Barbies dominam o mundo enquanto os Kens são mero coadjuvantes. E neste universo somos apresentados a Barbie esteriotipada que vive em sintonia com as outras Barbies de diferentes padrões estéticos(e de comportamento). Mas um dia, esta Barbie começa a se comportar de forma estranha (fala da morte e até do surgimento de estrias) e a forma de reverter a situação é ir ao mundo real para encontrar o humano que está por trás disso. Mas a companhia inesperada de um Ken cria a maior confusão.
O mundo está de rosa. Com uma campanha fantástica da Warner, Barbie surpreende pelo fenômeno que criou (e que ajudou o oponente Opperheimer a atrair um grande público). Mas se o espectador esperava um filme bobo sobre a boneca mais famosa do mundo, a atriz/diretora/roteirista Greta Gerwig (cada vez mais influente em Hollywood) descartou essa visão num piscar de olhos. Aqui, Barbie chama a atenção pela ousadia de fugir do lugar comum dessas produções e enfrentar os paradigmas e dilemas que o produto causou/causa ao se transformar num símbolo de padrão de beleza (loira, branca, alta e magra) e aproveita a deixa quando a criadora da boneca - a Mattel - fez várias versões da boneca atuando em diversas profissões para focar na autonomia e independência feminina. 
Outro ponto positivo do filme é o visual incrível do mundo da Barbie em que as cores pastéis (o rosa e o azul bebê) explodem na tela criando um ar lúdico e surpreendentemente psicodélico; aliás o seu humor recorda as produções do fim da década de 1960. Outro destaque vai para a ótima atuação da Margot Robin totalmente à vontade no papel-título enquanto Ryan Gosling rouba a cena (igual ao seu personagem) como o nada bobo Ken ao humanizar o papel mais difícil do filme.
No entanto não acho o melhor trabalho da diretora; considero Adoráveis Mulheres o seu ponto alto mas em Barbie fica evidente uma cineasta madura, ousada e extremamente segura no seu taco. Aqui ela não teve freios e abusou da criatividade para fazer críticas ao mundo em relação as minorias e a insensibilidade das corporações.
O filme tem boas sacadas graças a ótima sintonia da dupla Robie e Gosling; a crítica forte e direta a Mattel e ao patriarcado. Mas tem quedas consideráveis em virtude da gama de temas que explora que vai do machismo, corporativismo e até identidade. Também não engoli a presença do insuportável Will Ferrell na sua atuação padrão; e a participação fraca do sumido Michael Cera como o boneco Alan (um personagem fora da curva que poderia ter sido melhor explorado).
Em um mundo em que se discute a igualdade de salário de homens e mulheres, Barbie chega no momento certo para debater os direitos das mulheres. E como Jordan Peele que sempre foca o racismo em suas obras, Gerwig insere um olhar feminino e pautas feministas em seus filmes, e neste blockbuster ela viu a oportunidade perfeita para conversar não sobre uma boneca fútil e sua vida perfeita, e sim sobre o empoderamento feminino. Aqui ela foi mais explicita e direta possível sobre o assunto até por vivermos em um mundo em que as pessoas desviam o real senso crítico da obra de acordo com o seu ponto de vista mais torto - que o diga Não Olhe Para Cima de Adam McKay em que os criticados (os negacionistas) viram no filme uma crítica a ciência. E com total firmeza em suas convicções a diretora não deixou espaços para visões deturpadoras...mas sem perder a graça e a delicadeza.

terça-feira, agosto 01, 2023

Oppenheimer

(EUA/Inglaterra, 2023)
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Emily Blunt, Matt Damon.

J. Robert Oppenheimer é um prodígio da física na primeira metade do século 20 ocasionando na sua participação em vários projetos científicos até ser escalado para uma missão pioneira mas moralmente dúbia: a bomba atômica. Com a briga armamentista na Segunda Guerra Mundial, o seu trabalho se torna fundamental para afugentar possíveis países inimigos dos EUA. Mas com o início da Guerra Fria, Oppenheimer se opõe a sua criação, e ao mesmo tempo se torna persona non grata pelos figurões da política estadunidense, particularmente o senador Lewis Strauss.
Christopher Nolan está no panteão de grandes realizadores de Hollywood atualmente ao brincar constantemente com as leis da física (Origem, Tenet) e o uso inteligente e intrigante de montar uma estória (Amnésia). E em Oppenheimer, o cineasta britânico foi feliz ao mesclar o trabalho técnico de Durkink, o didatismo de Interestelar, e o virtuosismo narrativo de O Grande Truque de uma forma bastante eficiente e orgânica. O seu ponto alto é o trabalho de som fantástico em que o efeito sonoro é presente em toda a narrativa e se mistura com a ótima trilha sonora de Ludwig Göransson causando tensão sem parar. O que poderia soar como um teleteatro, Nolan usa ao seu favor a tensão e o uso ininterrupto da trilha sonora ou de efeitos sonoros. O diretor aqui faz uma espécie de ópera biográfica. E este detalhe se torna um calcanhar de Aquiles pois têm momentos em que achei esse recurso desnecessário pois distrai e tira o foco dos diálogos (a cena íntima entre Cillian Murphy e Florence Pugh). Aqui o diretor demonstrou uma certa falta de timing ao uso da trilha sonora. E também achei um pouco de mau gosto a cena da comemoração da experiência bem-sucedida com uma música patriótica no fundo; me coloquei na pele dos japoneses que podem se sentir total desconforto com este ato.
Oppenheimer é um trabalho técnico feito para fazer bonito no Oscar. Outro destaque é a interessante edição de Jennifer Lame. Com uma grande gama de personagens e de atos, o diretor dividiu a narrativa em dois pontos de vista em que o vai e vem do tempo pode ser exaustivo além de verborrágico. No entanto este detalhe foi eliminado pela dinâmica dos atos.  E para facilitar a compreensão do público, o diretor elaborou a narração em um jogo de cores entre o colorido ponto de vista do protagonista com o preto e branco opressor do antagonista em um ótimo trabalho de fotografia do sempre competente Hoyte van Hoytema.  
Não dá para falar do filme sem mencionar no duelo de titãs entre Cillian Murphy e Robert Downey Jr. Enquanto Robert surpreende em um papel frio e maniqueísta; Murphy descama um personagem complexo que vive vários dilemas em sua vida através de uma atuação contida. As expressões corporais e o olhar que revela curiosidade, egocentrismo e desorientação. 
Para quem gosta de biografia e história é um prato cheio. E em Oppenheimer, Nolan faz uma particular adaptação de Frankenstein de Mary Shelley; em que o criador da bomba atômica se excita com a sua criação para no fim ser assombrado, punido com o seu poder destruidor. Pena que no fim o diretor não foi fundo, denso na derrocada psicológica. Mas isso é demonstrado na forma como o personagem é apresentado: um egocêntrico controlador mas... que leva uma rasteira nas suas intenções.