terça-feira, dezembro 31, 2019

Filmes da Década: 2010 - 2019

O ano de 2019 chegou ao fim, e inevitavelmente a década de 2010 também. Por ocasião do momento, defini neste último ano uma lista do que mais me agradou ou chamou atenção neste período. Importante informar que essa relação de filmes pode mudar com o passar do tempo mas por enquanto bati o martelo as obras citadas (e apresentadas em ordem alfabética) abaixo:


A BRUXA
(The Witch, EUA, 2015) de Robert Eggers
Se tem um gênero que se deu bem nessa década foi o terror. Do comercial ao mais cerebral, A Bruxa se destaca pelo clima sufocante, a espetacular fotografia, uma diabólica trilha sonora e um final arrasador que aborda culpa cristã e feminismo. De espantar que este seja o primeiro trabalho de Robert Eggers. Que venha os próximos.




14 ESTAÇÕES DE MARIA
(Kreuzweg, Alemanha, 2014) de Dietrich Brüggermann
O cineasta alemão Dietrich Brüggermann não é conhecido pelo público e pouco mencionado pela crítica, mas na minha visão o mesmo surpreendeu ao realizar uma obra extremamente singular e pertubadora sobre a fé. Filmado em impressionantes 14 takes, a obra mostra a via crucis de uma garota católica alemã que enfrenta os dilemas universais de todo adolescente misturado a uma radical determinação religiosa que deixa o público em dúvida sobre os limites da crença. Um filme que merece ser descoberto.

INCÊNDIOS
(Incendies, Canadá, 2010) de Denis Villeneuve
Pontapé de uma das carreiras mais interessantes do cinema atual, o canadense Denis Villeneuve sabe como poucos juntar um domínio de narrativa com enredos intricados. E Incêndios é uma síntese desse estilo ao contar a estória de um casal de irmãos que decidem investigar o doloroso passado de sua mãe. Um belo filme que mistura o melodrama em uma obra repleta de camadas.




INSTINTO MATERNO
(Pozitia Copilului, Romênia, 2013) de Calin Peter Netzer
Um dos melhores cinemas da atualidade, a Romênia chama a atenção ao explorar a realidade crua e as marcas deixadas pela guerra fria. E não seria diferente neste filme que aborda a luta de uma mãe que usa todas as suas armas para livrar o filho da cadeia. E a atriz Luminita Gheorghiu está um furação, uma leoa destemida que faz de tudo para proteger a cria. Dessa forma valores distorcidos, maternidade, corrupção, poder da burguesia, temas tão brasileiros que o diretor Calin Peter Netzer expõe com maestria, e faz questão de mostrar que é universal. Uma visão triste da humanidade.

MANCHESTER À BEIRA-MAR
(Manchester by the Sea, EUA, 2016) de Kenneth Lonergan
Lee Chandler é um homem calado mas de uma natureza violenta descontrolada. E quando mais conhecemos esse ser brutal mais nos aproximamos de um animal ferido. O diretor Kenneth Lonergan comanda de uma forma precisa a dor e a culpa que carregamos nas costas, e esse sentimento é reforçado pelo trabalho magistral de Casey Affleck, além de uma tocante participação da sempre ótima Michelle Williams. Aquele filme que ti desarma ao falar das nossas próprias vulnerabilidades.

MELANCOLIA
(Melancholia, Dinamarca, 2011) de Lars von Trier
No lançamento de Melancolia, Lars von Trier disse que o seu filme pertence ao subgênero catástrofe porque na sua opinião a depressão é o fim do mundo, é o fim de tudo. Com a bela atuação de Kirsten Dunst e a linda abertura reforça a desordem mental, a perda do controle, a entrega a sentimentos doidos. Um clássico de uma cineasta que é tudo menos convencional.

PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN
(We Need to Talk About Kevin, Inglaterra, 2011) de Lynne Ramsay
A diretora Lynne Ramsay tem uma visão pessoal sobre a violência. Tilda Swinton é uma camaleoa que vai fundo na caracterização. Misture tudo isso e surge uma obra impar sobre elementos tão opostos: maternidade e a maldade. Uma obra perturbadora sobre um mundo mais afundado ao caos e falta de humanidade. Para ver e refletir sempre.

QUE HORAS ELA VOLTA?
(Brasil, 2015) de Anna Muylaert
Retrato da ascensão social da classe baixa/média no inicio da década, a obra de Anna Muylaert é um belo drama sobre a saída do casulo de uma mulher submissa as convenções sociais. E de quebra tem a magnífica atuação de Regina Casé que transborda humanidade a uma pessoa que geralmente estaria amargurada pelo destino. Um clássico do cinema brasileiro.




A SEPARAÇÃO
(Jodaeiye Nader az Simin, Irã, 2011) de Asghar Farhadi
Um casal em rota de colisão. Ela quer se mudar para os EUA em busca de oportunidade para a família. Ele não quer deixar o pai sozinho que sofre de Mal de Alzheimer. Além desse embate outros fatos inesperados acontecem nesse lindo melodrama de Asghar Farhadi sobre as doloridas consequências de uma separação. E pra matar tem um final de cortar o coração.



SOB A PELE
(Under the Skin, Inglaterra, 2013) de Jonathan Glazer
Uma alienígena em formato de uma mulher sexy chega a Escócia para seduzir homens solitários que servem como alimento para um ser. Mas no decorrer da missão, a "estranha" muda. Com muitos efeitos visuais práticos e a melhor trilha sonora da década (de Mika), o ótimo cineasta Jonathan Glazer realiza uma experiência sensorial incrível sobre sentimentos tão antagônicos como solidão e humanidade. Uma obra provocativa, reflexiva.



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Diante de tantas obras significativas nesta década que estabeleci uma lista representando uma menção honrosa deste período (apresentada em ordem alfabética):

O ABRIGO (Take Shelter, EUA, 2011) de Jeff Nichols
AMOR (Amour, Áustria, 2012) de Mikael Haneke
A CAÇA (Jagten, Dinamarca, 2012) de Thomas Vinterberg
120 BATIMENTOS POR MINUTO (120 Battements par Minute, França, 2017) de Robin Campillo
FORÇA MAIOR (Force Majeure, Suécia, 2014) de Ruben Östlund
O IRLANDÊS (The Irishman, EUA, 2019) de Martin Scorsese
TINTA BRUTA (Brasil, 2018) de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon
TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS (Loong Boonmee Raleuk Chat, Tailândia, 2010) de Apichatpong Weerasethakul
TRAMA FANTASMA (Phantom Thread, EUA, 2017) de Paul Thomas Anderson
TWIN PEAKS: O RETORNO (EUA, 2017) de David Lynch

quarta-feira, dezembro 25, 2019

Nota do Blog - Melhores Filmes do Ano

O fim de ano chegou e vale ressaltar como 2019 teve uma safra excelente de filmes e, principalmente, obras que representam o amadurecimento de mestres como Almodóvar, Scorsese e Tarantino. Como sempre lanço uma nota de agradecimento pelas visitas/comentários ao Blog Super8, e abaixo a apresento a relação dos destaques do ano.

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MELHORES FILMES DE 2019:

Atlantique (Senegal) de Mati Diop
Bacurau (Brasil) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Dor e Glória (Espanha) de Pedro Almodóvar
O Farol (EUA) de Robert Eggs
O Irlandês (EUA) de Martin Scorsese
Midsommar - O Mal Não Espera a Noite (EUA) de Ari Aster
Monos (Colômbia) de Alejandro Landes
O Paraíso Deve Ser Aqui (Palestina) de Elia Suleiman
Parasita (Coréia do Sul) de Joon-ho Bong
O Retrato de uma Jovem em Chamas (França) de Celine Sciamma


DESEJO A TODOS UM FELIZ NATAL 
E UM ÓTIMO ANO NOVO

domingo, dezembro 15, 2019

Destaque nos cinemas

AS GOLPISTAS
(Hustlers, EUA, 2019) de Lorene Scafaria
Drama. Para sobreviver a crise financeira, um grupo de strippers seduzem e roubam os cartões de crédito das vários homens.





ENTRE FACAS E SEGREDOS
(Knives Out, EUA, 2019) de Rian Johnson
Suspense. Detetive é contratado para descobrir a identidade do assassino de um famoso e excêntrico escritor.








UMA MULHER ALTA
(Dylda, Rússia, 2019) de Kantemir Balagov
Drama. Duas mulheres tentam retornar ao cotidiano após experiências traumáticas da Segunda Guerra Mundial.






O PARAÍSO DEVE SER AQUI
(It Must Be Heaven, Palestina/França, 2019) de Elia Suleiman
Comédia dramática. Cineasta palestino viaja pelo mundo e constata que os problemas de seu país reflete em outros lugares.




O CONTO DAS TRÊS IRMÃS
(Kiz Kardesler, Turquia/Alemanha, 2019) de Elmin Alper
Drama. Numa vila pobre do interior da Turquia, três irmãs lutam por um futuro melhor.

terça-feira, dezembro 10, 2019

O Iluminado

(The Shinning, EUA, 1980)
Direção: Stanley Kubrick
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Durvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers

Não tem nada melhor que rever um clássico na tela de uma cinema - particularmente de uma obra do mestre Kubrick que soube narrar com cadência a loucura, a solidão e principalmente o horror da violência doméstica. Se o livro de Stephen King narra um hotel mal-assombrado; Kubrick vai além ao focar uma família em rota de desestruturação.
O Iluminado é uma super-produção que deixou marcas na cultura pop. O design de produção fantástico que explora cada canto do local tornando memorável o Hotel Overlock. A inesquecível trilha sonora de Wendy Carlos e Rachel Elkind, uma cacofonia de sons que parece ter saído direto do além. E a atuação mais visceral de Jack Nicholson que abraça o exagero sem cerimônia ao dar vida a um homem que carrega em si a pertubação de uma frustração e a insanidade descontrolada. Com uma narrativa na medida - o que pode afugentar a platéia atual - O Iluminado não envelheceu pois enfatiza em um tema atual: o feminicídio, a violência familiar. E nesse contexto, o filme expõe com maestria o horror psicológico das casas fechadas, algo tão pouco explorado no cinema de terror. Se os fantasmas assustam, assustam; mas o ser humano é pior que muito ectoplasma por ai. Clássico absoluto.

quinta-feira, dezembro 05, 2019

Coringa

(Jocker, EUA, 2019)
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquin Phoenix, Zazie Beetz, Robert DeNiro, Frances Conroy

Uma das notícias mais bizarras dos últimos anos foi a escolha de Todd Phillips para dirigir o icônico personagem da DC Comics, Coringa. Mais conhecido por dirigir comédias, o cineasta surpreende no clima sombrio e ao impor um ar de filme da década de 1970 especialmente nos clássicos Taxi Drive e Rede de Intrigas (ambos de 1976 e que abordam distúrbio mental, decadência moral, má influencia da mídia). E Phillips foi mais feliz ainda ao escalar o sempre surpreendente Joaquin Phoenix que está totalmente à vontade como protagonista; livre para fazer o seu show (raro num blockbuster um ator usar com competência a sua expressão vazia e o seu corpo esquelético ao dar vida a um homem que abraça o caos depois de anos de descaso público (falta de tratamento medico) e maus-tratos da sociedade. Infelizmente o diretor trouxe consigo alguns cacoetes de suas obras cômicas o que diminuiu o potencial de tensão e pertubação (a montagem da cena da entrevista final entre Phoenix e Robert DeNiro) mas não diminuiu o brilho graças ao ótimo design de produção e a bela fotografia de Lawrence Sher. E acho uma bobagem - e marketing - considerar o filme perigoso para o público. Afinal vivemos num mundo comandado por figuras lamentáveis como Trump e Bolsonaro que ao enaltecerem um discurso de ódio fazem questão de rachar, dividir, separar as pessoas por simples interesse próprio. Como diria Pedro Almodóvar na exibição do filme Dor e Gloria em Cannes: "Trump abriu as portas dos loucos de cada pais." E um desses loucos é personificado pelo Coringa. Um filme atual, perturbador e reflexivo.

domingo, dezembro 01, 2019

Greta

(Brasil, 2019)
Direção: Armando Praça
Elenco: Marco Nanini, Denise Weinberg, Démick Lopes, Greta Sttar

Pedro é um enfermeiro amargurado à exceção é a sua grande amizade com a transexual Daniela (que está à beira da morte) e sua obsessão pela diva Greta Garbo. Perto de se aposentar, ele arrisca seu destino ao ajudar e se envolver sentimentalmente com um criminoso.
Brevidade da vida, e principalmente sonhos; estes são os temas explorados pelo ótimo Greta em que o diretor Armando Praça demonstra uma impressionante segurança ao imprimir uma vida que caminha para a desilusão como é o caso do protagonista, uma atuação magnífica de Marco Nanini que poe doçura e peso no personagem além de uma ótima química com Denise Weinberg, excelente como Daniela. Sem trilha sonora e usando de câmera estática e movimentos lentos, o cineasta é hábil em esconder as minúcias do roteiro até chegar a uma ótima e inesperada conclusão.

segunda-feira, novembro 25, 2019

Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2019

A 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2019 composta pelos jurados Beto Brant, Lisandro Alonso, Maria de Medeiros e Xénia Maingot premiaram System Crasher da alemã Nora Fingstheidt (representante da Alemanha ao Oscar 2020), e Dente de Leite da australiana Shannon Murphy. Já o público escolheu o sul-coreano vencedor da Palma de Ouro em Cannes (o favorito ao Oscar de melhor filme internacional) Parasita de Joon-hoo Bong, e Pacificado de Paxton Winters (uma co-produção Brasil/EUA).

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A lista dos vencedores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2019:


Prêmio do Júri - Melhor Filme: System Crasher (Alemanha) de Nora Fingscheidt; e Dente de Leite (Austrália) de Shannon Murphy

Prêmio do Júri - Melhor Documentário: Honeyland (Macedônia) de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov

Prêmio do Público - Melhor Filme Internacional: Parasita (Coréia do Sul) de Joon-hoo Bong

Prêmio do Público - Melhor Documentário Internacional: A Grande Muralha Verde (Inglaterra) de Jared P. Scott

Prêmio do Público - Melhor Filme Brasileiro: Pacificado de Paxton Winters

Prêmio do Público - Melhor Documentário Brasileiro: Chorão: Marginal Alado de Felipe Novaes

Prêmio da Crítica - Melhor Filme Internacional: Honeyland (Macedônia) de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov

Prêmio da Crítica - Melhor Filme Brasileiro: Aos Olhos de Ernesto de Ana Luiza Azevedo

sexta-feira, novembro 15, 2019

Destaques nos cinemas

O RELATÓRIO
(The Report, EUA, 2019) de Scott Z. Burns
Drama. Agente da CIA se encarrega de realizar um relatório sobre as torturas realizadas pelo governo dos EUA após o 11 de setembro.





PARASITA
(Gisaengchung, Coréia do Sul, 2019) de Joon-ho Bong
Drama. Uma família pobre se aproxima de um clã burguês resultando em situações imprevisíveis.




FORD VS FERRARI
(EUA, 2019) de James Mangold
Drama. Dois profissionais do automobilismo se juntam para criar um veiculo da Ford capaz de tirar a vitória da Ferrari em uma corrida.





SYNONIMES
(Israel/Alemanha/França, 2019) de Nadav Lapid
Drama. Jovem israelense foge dos conflitos de seu país e vai parar em Paris com a ajuda de um dicionário.




O IRLANDÊS
(The Irishman, EUA, 2019) de Martin Scorsese
Drama. Homem de vida dupla (caminhoneiro e pistoleiro) é o principal suspeito do desaparecimento de um renomado sindicalista.

domingo, novembro 10, 2019

Sócrates

(Brasil, 2018)
Direção: Alex Morrato
Elenco: Christian Malheiros, Tales Ordakji, Jayme Rodrigues, Rosane Paulo

Sócrates é um jovem de 15 anos que acaba de perder a mãe. Sozinho no mundo, o pobre garoto luta para sobreviver em um mundo que lhe tira todas as oportunidades de uma vida digna.
É inegável não fazer comparações entre Sócrates e Moonlight - Sob a Luz do Luar: ambos são protagonizados por negros, gays e pobres. Mas se o filme oscarizado é um drama intimista cheio de simbologia; a obra brasileira abraça o realismo com a câmera inquieta o tempo todo expondo a urgência de seu protagonista. E o ator Christian Malheiros revela um imenso carisma e a garra necessária para dar vida a um ser que enfrentará um universo cheio de oportunidade e ao mesmo tempo obstáculos difíceis de ultrapassar. A obra de Alex Morrato também aborda o corte brutal do cordão umbilical entre mãe e filho no qual este tenta se impor após a perda da única pessoa importante de sua vida. Bonito filme sobre obstinação, marginalização e a brutal entrada no mundo dos adultos. 

terça-feira, novembro 05, 2019

Pássaros de Verão

(Pájaros de Verano, Colômbia/México/França/Dinamarca, 2018)
Direção: Cristina Gallego e Ciro Guerra
Elenco: José Acosta, Jhon Narváez, Natalia Reyes, Carmiña Martinez

No interior da Colômbia em meados da década de 1960, vive uma antiga comunidade com língua e costumes próprios. Mas a sua paz é posta em cheque quando a tribo entra no crescente comércio do tráfico de drogas dos EUA.
Filmes sobre o tráfico de entorpecentes existe aos montes mas a dupla colombiana Cristina Gallego e Ciro Guerra foi original e criativa ao expor a beleza dos rituais primitivos - não sabia que existia região árida na Colômbia - e o horror da ganância humana. E ironia: reforça a tese que o tráfico de drogas explodiu graças ao capitalismo e a demanda americana.
Pássaros de Verão demonstra o surgimento de um cinema colombiano em franca ascensão ao mesclar a beleza da sua natureza, as diferentes etnias e os seus problemas sociais (em especial o comércio das drogas) tão bem representados em Monos e Abraço da Serpente (indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro). Com uma produção impecável em especial ao trabalho excepcional de som, Pássaros de Verão é uma bela surpresa sobre a extinção de velhas culturas em nome do dinheiro e poder.

sexta-feira, novembro 01, 2019

Ad Astra - Rumo às Estrelas

(EUA, 2019)
Direção: James Gray
Elenco: Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Ruth Negga, Donald Sutherland

Roy McBride é um exemplar astronauta que recebe uma peculiar tarefa: ir a Netuno pois este planeta está lançando radiação ao espaço afetando a vida na Terra. E o mais bizarro, o seu pai - um brilhante astronauta desaparecido em uma missão espacial - pode estar por trás desse acontecimento.
Mais uma vez o ótimo cineasta James Gray abre o seu leque de criatividade e faz uma interessante ficção cientifica (mas que num fundo é um drama particular). O filme é um híbrido entre Gravidade somado ao estilo do cineasta Terrence Malick. Nesse ponto o filme perde um pouco o brilho em conta do excesso da narração em off do Brad Pitt (atuação excelente). Mas a obra é um show no quesito visual com um ótimo design de produção, mas o destaque fica pela som e a ótima trilha sonora climática de Max Richter. Ad Astra - Rumo às Estrelas se distancia de tantas aventuras espaciais vazias e abraça a ficção científica como um meio para falar da solidão e da desconstrução da figura paterna. Um bom filme.

sexta-feira, outubro 25, 2019

Festival de Toronto 2019

O Festival de Toronto 2019 chegou com uma ótima seleção de filmes inéditos; e também de filmes que fizeram sucesso no Festivais de Veneza/Cannes/Berlin/Sundance, reforçando o seu poder nas premiações de final de ano. Por isso que foi surpreendente o festival ter premiado uma obra acusada pela imprensa estadunidense de apologia ao nazismo, a comédia-dramática Jojo Rabbit (EUA/Alemanha) de Taiki Waititi que conta a estória de um garoto alemão que tem como melhor amigo imaginário Adolf Hitler. O Brasil marcou presença com a estréia de Três Verões de Sandra Kogut que não chamou muito atenção da imprensa canadense ao relatar a busca da ascensão de uma caseira.. Outros destaques do festival foram: A Beautiful Day in the Neighborhood de Marielle Heller (EUA) que fala da amizade entre um jornalista e um ícone da TV estadunidense; Our Lady of the Nile de Atiq Rahimi (Ruanda) em que numa Ruanda dividida, garotas estudam num conceituado internato católico; Waves de Trey Edwards Shuits (EUA) que exibi o relacionamento amoroso de dois casais; The Barefoot Emperor de Jessica Woodworth e Peter Brosens (Bélgica) que relata o rei da Bélgica sendo internado em um sanatório da Croácia; The Friend de Gabriela Coperthwaile (EUA) no qual um rapaz ajuda um amigo que está cuidando da esposa com câncer terminal; e Entre Facas e Segredos de Rian Johnson (EUA) que conta a estória de um detetive investiga a misteriosa morte de um escritor mestre em suspense.

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A lista dos vencedores do Festival de Toronto 2019:

Prêmio da Audiência: Jojo Rabbit (EUA/Alemanha) de Taiki Waititi (1º lugar); História de um Casamento (EUA) de Noah Baumbach (2º lugar); Parasite (Coréia do Sul) de Boog Joon-ho (3º lugar)

Documentário: The Cave (Síria/Dinamarca/Alemanha/EUA/Qatar) de Feras Fayyad

Seleção Midnight: El Hoyo (Uruguai) de Galder Gaztelu-Urrutia

Filme Canadense: Antigone de Siphie Deraspe

Plataforma do TIFF 2019: Martin Eden (Itália/França/Alemanha) de Pietro Marcello

terça-feira, outubro 15, 2019

Destaque nos cinemas

CORINGA
(Joker, EUA, 2019) de Todd Phillips
Drama. A trajetória da transformação do comediante fracassado Arthur Fleck para o representante do caos Coringa.



GRETA
(Brasil, 2019) de Armando Praça
Drama. Um solitário e carente enfermeiro gay se envolve sentimentalmente com um criminoso, e ao mesmo tempo cuida de uma amiga transexual adoentada.




LUNA
(Brasil, 2019) de Cris Azzi
Drama. Duas colegas do colégio tem o seu namoro em cheque quando uma foto íntima de uma delas é publicada na internet.

quinta-feira, outubro 10, 2019

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite

(EUA/Suécia, 2019)
Direção: Ari Aster
Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, Vilheim Blomgren, Will Poulter

Dani é uma garota emocionalmente instável que passa por uma tragédia familiar somado a uma crise com o seu namorado. Diante de tanta desgraça, Dani e o seu namorado (e os seus amigos) vão ao interior da Suécia para participar de uma estranha festividade local.
O segundo longa de Ari Aster é uma grata surpresa pois bebe do seu primeiro filme, Hereditário, ao usar um drama familiar como um estopim para um terror dolorido filmado em locações internas, mas depois segue um caminho próprio quando foca na Suécia em que a luz solar, a natureza rupestre torna tudo belo...e pesado, visceral e chocante. E não se engane pela linda fotografia de Pawel Pogorzelsgi, o filme não mede esforços para torturar o público com a sua violência extremamente gráfica e cenas repugnantes. Para quem gosta de gore, vai se deliciar. E a obra ainda ganha um plus da ótima atuação de Florence Pugh que está estupenda numa personagem delicada. E se em Hereditário, Aster mostra competência num terror "tradicional" sobre doenças genéticas; em Midsommar, o mesmo é hábil em um horror mais fora da caixa sobre os malefícios de um relacionamento amoroso tóxico.

sábado, outubro 05, 2019

Chicuarotes

(México, 2019)
Direção: Gael Garcia Bernal
Elenco: Benny Emmanuel, Gabriel Carbajal, Daniel Giménez Cacho, Dolores Heredia

Cagalera é um jovem delinquente que vive num bairro carente da Cidade do México sem qualquer perspectiva de um futuro melhor. Não estuda, é homofóbico, sofre abuso do pais alcoólatra, e por fim tem uma ideia besta para mudar de rumo: sequestrar o filho de um homem influente da região.
O ator Gael Garcia Bernal estréia na direção em um realístico melodrama nos moldes do excelente Cafarnaum. Mas se o contundente drama de Nadine Labaki é um relato emocionante de um garoto em busca de sua humanidade e identidade; Chicuarotes força a barra ao expor um rapaz tolo que só faz bobagem. Dessa forma, Cagalera é um infeliz que a gente sabe que vai se dar mal a qualquer hora. Mesmo que Chicuarotes fuja do melodrama, infelizmente cai numa abordagem simples porém sem cativar muito o público em alguns momentos (amizade entre Cagalera e Moloteco), e em outros pesa a mão (o final). Enfim uma estréia regular mas que pode surpreender com um bom roteiro em mãos.

terça-feira, outubro 01, 2019

Bacurau

(Brasil/França, 2019)
Direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Elenco: Barbara Colen, Sonia Braga, Silvero Pereira, Udo Kier

O cinema brasileiro nunca brilhou tanto como em 2019; que ironia do destino. Divino Amor, Deslembro, No Coração do Mundo, Pacarrete, A Vida Invisível faria a felicidade em qualquer pais. E eis que surge um exótico Bacurau, uma consistente salada de gêneros (ficção cientifica/suspense/western) que aborda com fervor resistência e a falta de humanidade. No futuro não muito distante, Bacurau, vilarejo do oeste de Pernambuco, luta para não sumir do mapa. Saber mais do enredo estragaria as surpresas que o filme reserva mas a dupla Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles são extremamente felizes ao realizar um filme raivoso e atual ao incluir a cultura nordestina como um elemento de oposição a um mundo que caminha cada vez mais ao ódio e a indiferença. Como em Divino Amor, o Brasil do futuro é um cenário perturbador de um governo autoritário que enfia goela abaixo da população uma ideologia ou ações nada contingentes aos termos democráticos ou liberdade individual. Bacurau é um ótimo simbolo político de luta e esperança contra um mundo que beira a um retrocesso humano/social.

quarta-feira, setembro 25, 2019

Festival de Veneza 2019

No fim de agosto começou um dos festivais mais tradicionais de cinema: O Festival de Veneza 2019. E a edição atual demonstrou uma programação fraca em que as polêmicas foram mais comentadas que os filmes. Assim, o júri presidido pela cineasta argentina Lucrecia Martel surpreendeu e premiou a obra mais comentada do festival: Coringa. É a primeira vez que uma adaptação de uma HQ ganha tamanho reconhecimento. Outra polêmica: Roman Polanski. O celebrado cineasta francês lança um dos seus melhores filmes, J´Acusse, que retrata o caso real de um militar judeu acusado injustamente de traição a pátria (uma alusão sobre o próprio Polanski). Já o cinema nacional surpreendeu ao ganhar o Prêmio da Crítica Independente com o documentário da viúva de Hector Babenco, Barbara Paz, Babenco: Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: ParouOutros destaques do festival: o tcheco The Painted Bird de Vaclav Marhoul que chocou o festival com a sua violência gráfica sobre um garoto que testemunha os horrores da Segunda Guerra Mundial; o estadunidense Historia de um Casamento de Noah Baumbach, um retrato agridoce sobre um casamento; A Lavanderia (EUA) de Steven Soderbergh que mostra os EUA como um paraíso fiscal; e a ficção cientifica Ad Astra (EUA) de James Gray que mostra Brad Pitt em busca de seu pai que desapareceu numa missão espacial.

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A lista dos vencedores do Festival de Veneza 2019:


Leão de Ouro: Coringa (EUA) de Todd Phillips

Grande Prêmio do Júri: J´Acusse (França/Inglaterra/Polônia) de Roman Polanski

Melhor Direção: Roy Andersson - About Endlessness (Suécia/Noruega/Alemanha)


Melhor Ator: Luca Marinelli - Martin Eden (Itália/França)

Melhor Atriz: Ariane Ascaride - Gloria Mundi (França)

Melhor Roteiro: Yonfan - Nº 07 Cherry Lane (Hong Kong)

Prêmio Especial do Júri: La Mafia Non è Piú Quella di una Volta (Itália) de Franco Maresco

Prêmio Marcello Mastroianni de Revelação: Toby Wallace - Babyteeth (Austrália)

domingo, setembro 15, 2019

Destaque nos cinemas

PETERLOO
(Inglaterra, 2018) de Mike Leigh
Drama. História real dos soldados ingleses que atacaram uma manifestação popular pacífica pró-democracia.




A VIDA INVISÍVEL
(Brasil, 2019) de Karim Ainouz
Drama. Duas irmãs estão sempre conectadas mesmo que geograficamente estejam distantes.




AD ASTRA - RUMO ÀS ESTRELAS
(EUA, 2019) de James Gray
Ficção Cientifica. Engenheiro busca o paradeiro de seu pai que desapareceu em uma missão espacial.




SÓCRATES
(Brasil, 2018) de alex moratto
Drama. Um jovem negro gay tenta sobreviver a periferia barra-pesada do litoral paulista.

terça-feira, setembro 10, 2019

Era uma Vez em...Hollywood

(Once Upon a Time in...Hollywood, EUA, 2019)
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie, Al Pacino

Incrível coincidência assistir Sem Destino antes de Era uma Vez em...Hollywood pois ambos retratam os EUA no ano de 1969 com um olhar melancólico. Se no clássico de Dennis Hooper é uma crônica sobre a utópica busca da liberdade; o filme de Tarantino é uma brincadeira divertida sobre a indústria de Hollywood, e um suspense inquietante sobre os últimos momentos da atriz Sharon Tate, o que recorda também Crepúsculos dos Deuses de Billy Wilder. E como todo filme de Tarantino, o roteiro é sensacional com diálogos afiados que segura o ritmo em uma edição mais calma. O ponto negativo é ausência de uma trilha sonora instrumental (uma marca do diretor); Tarantino usa e abusa de canções da época. O elenco está soberbo com destaque para a incrível química de um neurótico Leonardo DiCaprio e o controlador de passado nebuloso Brad Pitt. Mas o grande destaque é o seu inacreditável design de produção que é uma verdadeira viagem do túnel do tempo. E se a presença etérea de Sharon Tate dividiu opiniões, eu achei válido a proposta do Tarantino de transformar a atriz em um símbolo do fim da geração paz e amor. Não é o melhor filme do diretor mas aqui o mesmo demonstra amadurecimento e controle absoluto sobre o seu estilo inconfundível. Pena que este seja o penúltimo obra do mestre.

quinta-feira, setembro 05, 2019

Sem Destino

(Easy Rider, EUA, 1969)
Direção: Dennis Hopper
Elenco: Peter Fonda, Dennis Hopper, Jack Nicholson, Luke Askew

Sem Destino é um clássico estadunidense que foi lançado no momento em que o cinema dos EUA se distanciava da ilusão escapista hollywoodiana e buscava o realismo mainstream em virtude das mudanças sociais e politicas dos anos 60.
Wyatt e Billy recebem um dinheirão do tráfico de drogas e decidem gastar a grana andando em suas motos sem destino pelas estradas dos EUA.
Com uma linda fotografia do mestre László Kovaács que explora tanto a grande diversidade natural dos EUA como o experimentalismo nas cenas alucinógenas. Não tem como não se empolgar com a ótima seleção de músicas daquela época; uma inteligente escolha pois a obra não tem trilha sonora instrumental. E lógico que a estréia do ator Dennis Hopper na direção realça o trabalho do seu elenco com destaque absoluto para Jack Nicholson à vontade no papel de uma advogado nada convencional. Sem Destino vai além de um bom roadie movie; é uma crônica de um EUA diverso (dos hippies liberais a caipiras raivosos); da busca da liberdade, e por fim um melancólico retrato do fim da contracultura.

domingo, setembro 01, 2019

Vermelho Sol

(Rojo, Argentina/Brasil/França/Alemanha, 2018)
Direção: Benjamim Naishtat
Elenco: Dario Grandinetti, Andrea Frigerio, Alfredo Castro, Diego Cremonesi.

Em uma pacata província da Argentina, fatos obscuros acontecem: um renomado advogado, Cláudio, se envolve em um crime; pessoas importantes fogem do lugar; um colega da filha de Cláudio desaparece; e por fim a presença de um policial de Buenos Aires deixa tudo mais tenso. Estamos em 1975.
O diretor Benjamim Naishtat usa e abusa da estética do cinema da década de 70 como zooms, câmeras estáticas, a fotografia amarelada (do brasileiro Pedro Sotero) e a perturbadora trilha sonora de Vincent van Warmerman. Vale destacar também que Vermelho Sol recorda A Fita Branca de Michael Haneke ao analisar o ovo da serpente da política fascista. Se o governo se torna autoritário, parece que essa mudança influencia o comportamento dos civis. Assim, o filme critica a ditadura com outros olhos por isso que a obra não é tão fácil de digerir ao expor a fragilidade política como motor para o medo e atitudes impensáveis as pessoas que a principio são exemplo de postura na sociedade. Um filmaço argentino, e um tapa na cara para quem brinca com o fascismo.

domingo, agosto 25, 2019

Festival de Gramado 2019

O Festival de Gramado 2019 começou com a primeira exibição nacional de Bacurau, Prêmio do Juri do Festival de Cannes, e com um intenso debate sobre a frágil instabilidade do cinema brasileiro em tempo bolsonarista.
Sobre a competição oficial, o festival apresentou uma lista de filmes interessantes na qual quem dominou os holofotes foi o drama cearense Pacarrete de Allan Deberton (no interior do Ceara, uma professora de dança aposentada deseja realizar uma apresentação em um evento) que abocanhou incríveis 08 Kikitos. Outros destaques foram Raia 4 de Emiliano Cunha (conta um triangulo amoroso adolescente); O Homem Cordial de Iberê Carvalho (um cantor é perseguido por um crime que não cometeu); e Hebe - A Estrela do Brasil de Mauricio Farias (biografia da famosa apresentadora).
Já na seção de filmes latinos o representante da Costa Rica, El Despertar de las Hormigas de Antonella Sudasassi (uma senhora reflete sobre a sua vida) e o chileno Perro Bombas de Juan Caceres (expõe a xenofobia no Chile) dividiram a atenção dos jurados e saíram com os principais prêmios neste segmento.

***

A lista dos vencedores do Festival de Gramado 2019:

LONGAS BRASILEIROS:

Melhor Longa-Metragem Brasileiro: Pacarrete de Allan Deberton  
Melhor Filme em Longa-Metragem Brasileiro– Prêmio da Critica: Raia 4
Melhor Filme do Júri Popular – Prêmio Especial do Júri: Pacarrete de Allan Deberton
Prêmio Especial do Júri: 30 Anos Blues de Andradina Azevedo e Dida Andrade
Melhor Direção:  Alan Deberton - Pacarrete
Melhor Ator: Paulo Miklos - O Homem Cordial
Melhor Atriz: Marcélia Cartaxo - Pacarrete
Melhor Ator Coadjuvante: João Miguel - Pacarrete
Melhor Atriz Coadjuvante: Carol Castro - Veneza; e Soia Lira - Pacarrete
Desenho de Som: Rodrigo Ferrante e Cauê Custódio - Pacarrete
Melhor Trilha Musical: Sascha Kratzel - O Homem Cordial
Melhor Direção de Arte: Tulé Peake - Veneza
Melhor Montagem: Joana Collier e Fernanda Krumel - Hebe - A Estrela do Brasil
Melhor Fotografia: Edu Rabin - Raia 4
Melhor Roteiro: Allan Deberton, André Araujo, Natalia Maia e Samuel Brasileiro - Pacarrete

LONGAS LATINOS:

Melhor Longa-Metragem Estrangeiro: El Despertar de las Hormigas (Costa Rica) de Antonela Sudasassi

Prêmio Especial do Júri: El Despertar de las Hormigas (Costa Rica) de Antonela Sudasassi

Melhor Filme do Júri Popular: Perro Bomba (Chile) de Juan Caceres

Melhor Direção: Juan Caceres,- Perro Bomba (Chile)

Melhor Ator: Fernando Arze - Muralla (Bolívia)

Melhor Atriz: Julieta Diaz - La Forma de las Horas (Argentina)

Melhor Fotografia: Bernardo Antonaccio - En El Pozo (Uruguai)

Melhor Roteiro: Rafael Antonaccio - En El Pozo (Uruguai)

quinta-feira, agosto 15, 2019

Destaques nos cinemas

BACURAU
(Brasil/França, 2019) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Suspense. Após a morte de sua moradora mais antiga, a população da cidade de Bacurau testemunha fatos bizarros no seu cotidiano.







ERA UMA VEZ EM...HOLLYWOOD
(Once Upon Time in a Hollywood, EUA, 2019) de Quentin Tarantino
Drama. Na Los Angeles de 1969, um astro da TV contata várias pessoas para migrar a sua carreira para o cinema.


NO CORAÇÃO DO MUNDO
(Brasil, 2018) de Gabriel Martins e Maurilio Martins
Drama. No interior de Minas Gerais, um delinquente tenta, junto com sua namorada e uma amiga, realizar um bem-sucedido assalto.




VERMELHO SOL
(Rojo, Argentina/Brasil/Alemanha/França, 2018) de Benjamin Naishtat
Drama. Na Argentina da década de 70, um detetive chega em uma pequena cidade pacata tirando o sossego da sua população.

sábado, agosto 10, 2019

Deslembro

(Brasil/França, 2018)
Direção: Flávia Castro
Elenco: Jeanne Boudier, Eliane Giardini, Sara Antunes, Hugo Abranches.

Em um ano em que o cinema brasileiro lança uma safra excelente de filmes, o presidente da república exige um "filtro" nas produções nacionais; um nome chique para denominar censura. E nessa turbulência chega aos cinemas o belo, sensível e necessário Deslembro. Primeira ficção de Flávia Castro - e autobiográfico - o filme acompanha Joana, uma adolescente brasileira que vive exilada em Paris mas que é obrigada a retornar ao Brasil com a chegada da anistia no fim da década de 1970. Mas a sua vinda ao Rio de Janeiro a faz reviver memórias doloridas em relação ao seu pai, um desaparecido político. Assim, Deslembro é um símbolo das marcas e cicatrizes que as ditaduras produzem seja em adultos ou crianças. E também aborda a falta de diálogo e de repassar as gerações o que representou a ditadura militar no Brasil; diferente da Argentina e Chile que não cansa de abordar o tema. Dessa forma, Joana representa um país que quer esquecer o passado em virtude de uma dor imensurável, mas o "deslembrar" é um artificio perigoso pois pode sugerir memórias criadas como as recordações "positivas" da ditadura e essa ilusão pode influenciar a chegada de um governo autoritário no horizonte. Deslembro é um símbolo de um terrível ciclo político que o Brasil experimenta de tempos em tempos, e que devemos buscar uma ruptura. Um filme essencial para debater política e memória.

segunda-feira, agosto 05, 2019

Divino Amor

(Brasil/Uruguai/França/Dinamarca/Noruega, 2018)
Direção: Gabriel Mascaro
Elenco: Dira Paes, Júlio Machado, Teca Pereira, Emílio de Mello.

Em 2027, o Brasil vive sob um governo autoritário extremamente controlador, burocrático, conservador e um forte viés religioso (uma clara alusão ao governo ideológico do Bolsonaro não é uma mera coincidência). Esses dados simbolizam a vida da servidora de um cartório, Joana, que abraça a causa "divina" de reaproximar casais em processo de divorcio, ao mesmo tempo, a sua fê no seu matrimônio é abalada na dificuldade de engravidar.
O terceiro filme de Gabriel Mascaro mostra a evolução e a ousadia de um cineasta mais seguro em seu estilo - os movimentos de câmera continua calmos e bem trabalhados - e a frieza das interpretações recordam o grego Yorgos Lanthimos (O Lagosta vem a mente). Dira Paes arrebenta numa atuação serena ao dar vida a uma mulher que se entrega de corpo e alma em suas convicções religiosas. A trilha sonora de DJ Dolores lembra demais o som dos filmes de Nicolas Winding Refn. Outro destaque é a bela fotografia de Diego Garcia que sabe usar sombras e ao mesmo tempo luzes neon azul claro e rosa claro em sua paleta simbolizando as cores que representa a seita de Joana, como também o desejo da protagonista de ter um filho.
Divino Amor é o filme mais comercial de Mascaro mas mesmo assim não é uma obra fácil pelo seu polêmico e enigmático final, e por alertar uma nação que cada dia se aproxima da realidade escrita por 1984 de George Orwell mas com uma forte crítica ao poder da religião. Uma triste parábola do uso excessivo da fé para a busca de uma felicidade utópica e inexistente.

quinta-feira, agosto 01, 2019

O Profissional

(Léon, França, 1994)
Direção: Luc Besson
Elenco: Jean Reno, Natalie Portman, Gary Oldman, Danny Aiello.

Em um prédio decadente de Nova Iorque, um assassino profissional fere um importante código de sua categoria ao "adotar" uma garota espevitada única, sobrevivente de uma chacina comandada por um policial corrupto e psicótico.
Em seu primeiro filme falado em inglês, o queridinho dos franceses dos anos 80 e 90, Luc Besson trabalha em um terreno conhecido (ação, violência) nos moldes de Subway (1985) e Nikita - Criada para Matar (1990). Enfatizando mais a estória, os personagens e o ritmo ao invés de focar no visual e nas extravagâncias "publicitárias" da época (auge de Adrien Lynne, Tonny Scott), O Profissional se torna em sua melhor obra ao realizar um filme bem amarrado e com atuações marcantes de um doidão Gary Oldman e especialmente da Natalie Portaman que rouba todas as cenas em seu debut encarnando uma Lolita ávida por vingança. Também gostei bastante da trilha sonora de Eric Serra que usa a música árabe em sua composição. Uma pena que Besson não tenha sido feliz nos seus filmes posteriores após essa grata surpresa.

segunda-feira, julho 15, 2019

Destaques nos cinemas

UM HOMEM FIEL
(L´Homme Fidéle, França, 2018) de Louis Garrel
Drama. Rapaz com um relacionamento amoroso estável tem um affair com uma ex (e complicada) namorada.





MIDSOMMAR - O MAL NÃO ESPERA A NOITE
(EUA, 2019) de Ari Aster
Terror. Um casal vai para um festival de verão na Suécia e inesperados fatos bizarros ocorrem no local.

quarta-feira, julho 10, 2019

Dor e Glória

(Dolor y Gloria, Espanha, 2019)
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Asier Etxeandia, Leonardo Sbaraglia, Penélope Cruz.

Ultimamente o cinema de Pedro Almodóvar deu uma decaída - mesmo que eu tenha gostado de Julieta (2016) - em conta de humor envelhecido ou num trabalho raso. Mas em seu último filme, Dor e Glória, o mestre realiza uma obra autobiográfica e finalmente retorna ao vigor de antes. Com ar de 8 e 1/2 de Fellini mas com uma explosão de cores tipica do diretor (a cozinha do protagonista tem azulejo azul claro com armário vermelho vivo), Dor e Glória relata um cineasta de sucesso mas assombrado por dores físicas e mentais (uma clara conexão mal resolvida com a sua mãe; as dores amorosas; e as cobranças da carreira). Com sua competência habitual, Almodóvar realiza um filme até pudico sem as suas habituais provocações, o que pode frustrar os seus fãs mas o seu tom contido dá espaço suficiente para o seu elenco brilhar, especialmente Antonio Banderas que mesmo numa atuação reservada demonstra carisma e carinho como o alter-ego Salvador Mallo. Ao abordar memórias e velhice, Dor e Glória não é uma oba-prima como Fale com Ela ou Tudo Sobre Minha Mãe mas não faz feio diante de cenas poderosas como os diálogos com a mãe envelhecida, e no monólogo sobre as decepções do amor.