segunda-feira, outubro 25, 2021

Festival de Toronto 2021

 

Quando o Festival de Toronto se aproxima é sinal que a temporada dos festivais se finaliza...e inicia o período das premiações e especulações sobre o Oscar. E nesta edição, filmes consagrados em festivais de Veneza, Cannes e Berlim estiveram presentes e alguns conseguiram sair da cidade canadense com algum prêmio como foi o caso de Power of the Dog, prêmio de direção em Veneza confirmando a crescente força de Jane Campion nesta temporada, e o cult francês vencedor da Palma de Ouro em Cannes, Titane. Mas o prêmio máximo na edição 2021 foi para o drama em preto-e-branco autobiográfico do cineasta irlandês Kenneth Branagh chamado Belfast. Outros filmes que chamaram a atenção foram - e que não participaram de outro festival - foi a produção estadunidense The Humans de Stephen Karan sobre um jovem casal que recebe a visita de familiares no dia de ação de graças; o britânico Benedicia de Terence Davies, biografia do poeta Siegfried Sassoon.


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A lista dos vencedores do Festival de Toronto 2021:

Prêmio da Audiência: Belfast (Reino Unido) de Kenneth Brangh (1º lugar); Scarborough (Canadá) de Sasha Nakhai e Rich Williamson (2º lugar); The Power of the Dog (Nova Zelândia) de Jane Campion (3º lugar)

Documentário: The Rescue (EUA/Reino Unido) de Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin

Seleção Midnight: Titane (França) de Julia Ducournau

quarta-feira, outubro 20, 2021

Destaques nos cinemas

O HOMEM QUE VENDEU SUA PELE

(The Man Who Sold His Skin, Tunísia, 2020) de Kaouther Ben Hania
Drama. Para sobreviver na Europa, um refugiado sírio aceita a proposta de um artista de ter as suas costas tatuado como uma obra de arte.




O ÚLTIMO DUELO

(The Last Duel, EUA/Inglaterra, 2021) de Ridley Scott
Drama. Na idade média, um duelo atiça a França entre um cavaleiro e um escudeiro, este acusado de violar a esposa do cavaleiro.



DUNA
(Dune, EUA/Canadá/Hungria, 2021) de Denis Villeneuve
Ficção científica. Em futuro distante, um planeta chamada Duna contém uma substância milagrosa que gera conflito com outros povos. 

sexta-feira, outubro 15, 2021

Lançamentos nos Streamings

CAPITÃO PHILLIPS
(Captain Phillips, EUA, 2013) de Paul Greengrass
Star Plus
Drama. Navio cargueiro dos EUA é sequestrado por piratas da Somália quando se aproxima da costa africana. 



CLUBE DA LUTA
(Fight Club, EUA, 1999) de David Fincher
Netflix
Suspense. Homem que tem uma vida monótona vê a sua realidade mudar quando participa de um clube em que os participantes lutam boxe entre si.


CORINGA
(Joker, EUA, 2019) de Todd Phillips
Telecine Play
Drama. Homem emocionalmente vulnerável em conta de uma estranha síndrome vai mergulhando em uma espiral de loucura que alimenta o caos em sua cidade.

CRY MACHO: O CAMINHO PARA REDENÇÃO
(EUA, 2021) de Clint Eastwood
HBO Max
Drama. Peão de rodeio aposentado tem a sua última missão: transportar o filho de seu antigo chefe do México para os EUA.




GUERRA AO TERROR
(The Hurt Locker, EUA, 2008) de Kathryn Bigelow
Netflix
Drama. Veterano da guerra do Iraque, especialista em desarmar bombas, não consegue lidar com o cotidiano quando volta aos EUA.



O LADO BOM DA VIDA
(Silver Linners Playbook, EUA, 2012) de David O. Russell
Star Plus
Comédia dramática. Homem que tenta a normalidade após um tempo em uma clinica psiquiátrica se apaixona por uma jovem bonita e problemática.

MALIGNO
(Malignant, EUA, 2021) de James Wan
HBO Max
Terror. Após a morte do marido, mulher tem estranhas visões que terminam em violentos assassinatos.


MIB: HOMENS DE PRETO
(Men is Black, EUA, 1997) de Barry Sonnenfeld
Star Plus
Ficção cientifica. Jovem entra numa agência de espionagem nada convencional: caçam alienígenas que quebram a estabilidade entre os homens.



MINARI: EM BUSCA DA FELICIDADE
(EUA, 2020) de Lee Isaac Chung
Amazon Prime
Drama. Nos anos de 1980, uma família de coreanos se muda para o interior dos EUA como desejo de viver o sonho americano.



O RESGATE DO SOLDADO RYAN
(Saving Private Ryan, EUA, 1998) de Steven Spielberg
Netflix
Guerra. No fatídico Dia D, expõe a visão dos estadunidenses sobre a invasão da Normandia na França.




VERÃO DE 55
(Eté 85, França, 2020) de François Ozon
Telecine Play
Drama. Aproveitando o verão de 1985, jovem é atraído por um rapaz que lhe salvou de um afogamento no mar.

domingo, outubro 10, 2021

No Ritmo do Coração

(CODA, EUA, 2021)
Direção: Siân Heder
Elenco: Emilia Jones, Marlee Matlim, Eugenio Derbez,Trou Kotsur.

Ruby é uma jovem adolescente e caçula de uma família de deficientes auditivos e a única que não apresenta deficiência o que a torna a interprete de sua família na vida pessoal e financeira (vivem da pesca). Prestativa com os seus deveres, Ruby decide arriscar em uma grande paixão até então desconhecida de todos: a música. E esse sonho gera conflitos em sua casa pois a sua família depende da caçula para sobreviver.
Mesmo ganhando um titulo sofrível aqui no Brasil (o original é CODA que tem dois significados: filho de pais surdos; e conclusão de uma composição musical) é um filme que vale a pena conferir pela gama de temas explorados. Aborda o preconceito com os deficientes que ainda são ridicularizados e até isolados. E mesmo que Ruby não seja deficiente ela sofre junto com a família tornando vitima constante de bulliyng na escola (e um certo distanciamento em casa por ser a única "normal"). O filme conversa também a respeito do sacrifício em nome da família pelo fato da protagonista estar sempre a disposição da família a ponto desta abusar e sufocar Ruby. E por fim, o filme defende a educação como um instrumento vital e importante para a realização profissional.
Com um roteiro e direção inspirado e correto de Siân Heder em seu segundo longa-metragem, o destaque fica com a montagem de Geraud Brisson que consegue costurar essa mistura de temas e deixar tudo fluido, orgânico. Mas a diretora tem boa visão para grandes momentos como a comovente cena em que mostra a apresentação da Ruby sob o ponto de vista dos pais surdos.
No Ritmo do Coração recorda muito o padrão Disney com o estilo leve - por isso que a diretora tentou distanciar essa visão com os vários palavrões mas a obra é comportada - mas isso não torna o filme menor. Esse ar de filme família se mistura com filme adolescente o que remente muito a John Hughes mas de uma maneira dócil e feminina, e também ganha pontos por não se resvalar ao melodrama. Uma obra delicada sobre sonhos e sacrifícios.

terça-feira, outubro 05, 2021

Nomadland

(EUA, 2020)
Direção: Chloé Zhao
Elenco:  Frances McDormand, David Strathairn, Linda May, Swankie.

Uma pequena cidade do interior dos EUA foi criada por uma grande empresa. Mas esta não aguenta o baque da crise econômica de 2008 e vai a falência. Como a cidade e os seus habitantes dependem totalmente da empresa, a região deixou de existir. E aqui começa a jornada de um de seus habitantes: Fern.
Após perder o marido, Fern é obrigada a desocupar o seu lar de 30 anos. E a solução da protagonista é comprar uma van - que ela chama carinhosamente de Vanguarda - e viver na estrada e nos empregos que ela encontra no caminho. Mas a sua jornada é mais enriquecedora com as pessoas que cruzam o seu destino. Assim, o estilo de vida nômade se torna uma nova razão de viver.
A cineasta Chloé Zhao volta ao terreno do docudrama no mesmo formato do seu filme anterior, o ótimo Domando o Destino. E o seu estilo cai como uma luva na adaptação do livro de Jessica Bruder. Com a mão delicada, a cineasta toca em assuntos pertinentes que vai além da fronteira dos EUA: fala da falta de assistência social aos vulneráveis (emprego está difícil e a aposentadoria mal dar para viver); a cultura dos nômades, expondo a solidariedade entre os praticantes, e também o desapego aos bens materiais; e aborda a vida solitária nas estradas reforçada pela introspectiva montagem da diretora (o que pode afugentar o público no inicio do filme).
O filme de Zhao também é uma contundente critica ao capitalismo focando na decepção das pessoas a um sistema que explora e no fim só distribui migalhas. E isso pode explicar a razão da ascensão de políticos populistas que criam uma imagem de salvador mas que são mera ilusões.
Além do bom roteiro da própria Zhao, o filme engrandece graças a bela fotografia de Joshua James Richards que registra a vasta e variada natureza dos EUA: das terras congeladas do norte a aridez do sul, e pulando para o litoral verde e úmido. Outro destaque é a linda trilha sonora de Ludovido Einaudi que causa um tremendo impacto emocional mas sem cair no melodrama. É ao mesmo tempo tocante e delicado.
Nomadland não fala apenas sobre uma mulher que decide virar a página da sua vida quando percebe que tudo que ela tinha é passageiro. Vai além. É uma pessoa que entra nesse universo em busca de uma nova conexão. Um elo entre ela e as pessoas e o ambiente ao seu redor. Mesmo aos 60 anos e com força e disposição para trabalhar e viver plenamente, o que importa é a troca de energia e não o seu acúmulo. 
Por isso que a grande estrela do filme é a Frances McDormand. E aqui a atriz está um colosso. Se ela é sempre marcada por personagens fortes e de pulso firme, em Nomadland ela acrescenta um lado humano e delicado em sua composição. Com a vivência na estrada e a entrada e saída de pessoas em seu destino expõe sua fragilidade e isso vai moldando a sua própria humanidade. E com uma conclusão otimista e humanista, a diretora faz um belo filme sobre uma mulher e sua jornada da autodescoberta, a importância de viver intensamente, e o desapego aos bens materiais.

sexta-feira, outubro 01, 2021

Maligno

(Malignant, EUA, 2021)
Direção: James Wan
Elenco: Annabelle Wallis, Maddie Hasson, George Young, Jacqueline McKenzie

James Wan realmente gosta do terror. É neste gênero que ele parece sentir mais a vontade a ponto de criar duas franquias que impulsionaram o horror nos últimos anos. No entanto, o seu estilo tradicional faz a alegria de um público que anseia por uma convencional cascata de susto. Mas em Maligno, ele tenta fugir dessa fórmula com um enredo mais "intricado"...mas admito que a nova empreitada não deu muita liga. Aqui está mais com cara de filme que quase se resvala para o cinemão B.
Em 1992, uma cientista se depara com uma estranha criatura que está aniquilando todos os funcionários de um hospital. A estória dá uma salto abrupto no tempo para os dias atuais e nos deparamos com a enfermeira Madison, grávida e que vive em um relacionamento abusivo. Após uma briga que resulta em um sério machucado na cabeça de Madison, os dois são atacados por uma estranha criatura que surge na casa. Ele morre, ela sobrevive. Diante de um ataque tão misterioso, a polícia começa a suspeitar da protagonista que apresenta um estranho comportamento: ela informa que tem visões de assassinatos que tem relação com as pessoas que aparecem no início do filme.
Maligno remete a uma metáfora sobre como lidar com os demônios interiores que encaramos e que as vezes parece nos apossar e nos controlar. Mas aqui James Wan parece dividir a narrativa em dois momentos ilustrando uma certa auto reverencia aos seus grandes sucessos como o início à lá Invocação do Mal (a casa mal assombrada) e depois descamba para Jogos Mortais (as reviravoltas violentas e sanguinolentas que se distanciam do sobrenatural e também do apelo sádico do filme de 2004). A fotografia escura de Michael Burgess representa bem a sempre chuvosa e nublada Seatlle como também cai como uma luva para deixar o filme mais soturno e sombrio; e importante destacar o uso de cores fortes (o vermelho, o azul) em cenas pontuais remetendo o terror italiano da década de 1970. Já a trilha sonora de Joseph Bishara tem os seus bons momentos - no entanto tem alguns acordes que lembra demais trilha de seriado de televisão.
Com uma premissa aparentemente interessante, Wan elabora no terço final do filme um plot twist surreal em que fará com que o público goste ou odeie - simplesmente uma conclusão absurda e quem "comprar" a ideia poderá se divertir mais. Infelizmente não foi o meu caso que achei tão tola que não levei o filme a sério e me deixei levar pelo piloto automático. O que é uma pena pois o filme tem pontos altos como a atuação da atriz Annabelle Wallis que consegue dar verdade a personagem tornando-a tridimensional e ao mesmo tempo imprimir todas as suas angústias; e Wan faz um bom trabalho de câmera.- ele elabora ótimas sequências e fantásticos movimentos de câmera (como a cena da Madison correndo na casa sob o ponto de vista de cima).