sábado, março 25, 2023

Oscar 2023

 


2022 foi um ano especial. Após a tempestade causada pela pandemia, muitos consideraram que o cinema estava com os dias contados pois o público só comparecia a sala dos cinemas para conferir o embate entre Marvel e DC Comics. Mas o duelo das duas flopou com o estrondoso sucesso de Top Gun: Maverick e Avatar: O Caminha da Água. E a aventura de Tom Cruise e James Cameron foram agraciados com importantes indicações ao Oscar mas não tinham força para competir com os três filmes da temporada: Os Falbemans, Os Banshees de Inisheran, e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Mas na hora da premiação - que aliás foi agradável e e teve um bom ritmo - o drama de Spielberg e McDonagh foram engolidos por um adversário inesperado: o alemão Nada de Novo no Front. O filme de Edward Berger surpreendeu com 4 vitórias em categorias importantes em que desbancou super produções de Hollywood. Mas a noite mesmo foi do independente A24 que entrou na história com os inesperados 7 Oscars para Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. O filme de Daniel Kwan e Daniel Scheneirt surpreendeu a crítica e o público ao dar gás justamente ao tema batido nos filmes da Marvel: o multiverso. Mas com um vigor e criatividade extremamente singular.


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A lista dos vencedores do Oscar 2023:


MELHOR FILME: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
MELHOR FILME INTERNACIONAL: Nada de Novo no Front (Alemanha)
MELHOR FILME EM ANIMAÇÃO: Pinóquio de Guillermo Del Toro
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Navalny
MELHOR CURTA-METRAGEM: Como Cuidar de um Bebê Elefante
MELHOR DIREÇÃO: Daniel Kwan e Daniel Scheneirt (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
MELHOR ATOR: Brendan Fraser (A Baleia)
MELHOR ATRIZ: Michelle Yeoh (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Ke Huy Quan (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Jamie Lee Curtis (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Entre Mulheres
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
MELHOR FOTOGRAFIA: Nada de Novo no Front
MELHOR MONTAGEM: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Nada de Novo no Front
MELHOR FIGURINO: Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
MELHOR TRILHA SONORA: Nada de Novo no Front
MELHOR CANÇÃO: RRR
MELHOR SOM: Top Gun: Maverick
MELHOR EFEITOS VISUAIS: Avatar: o Caminho da Água
MELHOR MAQUIAGEM: A Baleia
MELHOR CURTA-METRAGEM EM DOCUMENTÁRIO: An Irish Goodbaye
MELHOR CURTA-METRAGEM EM ANIMAÇÃO: O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo

segunda-feira, março 20, 2023

Destaque nos cinemas

CLOSE
(Bélgica, 2022) de Lukas Dhont
Drama. Dois adolescentes tem a sua amizade rompida em virtude da perversidade da sociedade.





NOITES ALIENIGENAS
(Brasil, 2022) de Sérgio de Carvalho
Drama. Três amigos de infância se reencontram adultos no Acre e testemunham a chegada das facções criminosas que vieram de outros estados.

quarta-feira, março 15, 2023

Lançamentos nos Streamings

BELA VINGANÇA
(Promising Young Woman, 2020, Inglaterra/EUA) de Emerald Fennell
Star+
Drama. Garota se faz de bêbada para caçar homens que abusam de mulheres indefesas.

O ENIGMA DE OUTRO MUNDO
(The Thing, EUA, 1982) de John Carpenter
Netflix
Ficção Cientifica. Um ser alienígena surge em uma estação na Antártida gerando caos e morte. 



O FANTÁSTICO SR. RAPOSO
(The Fantastic Mr. Fox, EUA, 2009) de Wes Anderson
HBO Max
Animação. Uma família de raposos tem a paz rompida quando o patriarca se deixa levar pelos seus instintos.



HOLY SPIDER
(Dinamarca/Suécia/Alemanha, 2022) de Ali Abbasi
MUBI
Drama. Jornalista investiga uma série de assassinatos de prostitutas no interior do Irã que são acobertados pelas autoridades locais.



O HOMEM QUE CAIU NA TERRA

(The Man Who Feil to Earth, Inglaterra, 1976) de Nicolas Roeg
MUBI
Ficção Cientifica. Alienígena humanoide chega a Terra para salvar seu planeta mas se apaixona por uma terráquea.



JOGO PERVESO

(Blue Steel, EUA, 1989) de Katrhym Bigelow
MUBI
Policial. Policial novata se torna a próxima vítima de um assassino.




NO LIMITE DO AMANHÃ
(Edge of Tomorrow, EUA, 2014)  de Doug Liman
HBO Max
Ficção cientifica. No futuro, um recruta fica preso no tempo após ser atacado por alienígenas.


TERRA EM TRANSE
(Brasil, 1967) de Glauber Rocha
MUBI
Drama. Jornalista faz campanha politica para um candidato mas se decepciona pelo o grau de corrupção na política.




TITANIC
(EUA, 1997) de James Cameron
Star+
Drama. No famoso transatlântico, a rica Rose e o pobre Jack vivem uma estória de amor até surgir uma tragédia.



TRIÂNGULO DA TRISTEZA
(Triangle of Sadness, Suécia/Inglaterra, 2022) de Rubem Östlund
Amazon Prime
Drama. Casal de modelos embarca num cruzeiro lotado de ricos e um destino incerto.

sexta-feira, março 10, 2023

A Baleia

(The Whale, EUA, 2022)
Direção: Darren Aronofsky
Elenco: Brendan Fraser, Sadie Sink, Hong Chau, Samantha Morton.

Charlie é um professor de literatura que vive recluso em casa por causa de uma situação peculiar: sofre de obesidade mórbida. Com o apoio da amiga e enfermeira Liz, Charlie é diagnosticado com sérios problemas de saúde mas o professor decide se aproximar da filha que está distante pois a mãe nunca suportou o fato dele ter se separado para manter um relacionamento com outro homem. Mas a junção dos problemas de saúde e dos ataques da filha, Charlie entra numa espiral de dor, culpa e impulso destrutivo.
O ótimo cineasta Darren Aronofsky tinha tudo para brilhar na adaptação da peça de Samuel D. Hunter, mas aqui realiza o seu filme mais banal. Aqui o diretor tem dificuldade de sair das armadilhas de um teleteatro. Filmado exclusivamente no apartamento de Charlie, o diretor pisa na bola ao comandar a produção. É evidente que o cenário representa a prisão física e mental do protagonista mas a fotografia escura de Matthew Libatique não sai do óbvio e o design de produção de Mark Friedberg não é inventiva ao traduzir o inferno de Charlie. Mais uma vez fica evidente a inspiração do diretor a Roman Polanski, em particular a Repulsa ao Sexo. Mas aqui o pesadelo psicológico da Catherine Deneuve vira um melodrama rasgado sob a regência da surpresa total Brendan Fraser. Jogado ao ostracismo, o astro dos anos de 1990 surpreende ao dar dignidade em um personagem problematizado (dividiu o público como obra gordofóbica ou drama denso sobre a homofobia). Importante frisar que a maquiagem ajudou bastante no trabalho do ator. Outro ponto alto é a dobradinha com a Hong Chau no papel da Liz. No entanto, a personagem da Sadie Sink como a filha de Charlie é irritante demais e unidimensional a ponto de tirar o foco do drama do protagonista.
Se em A Mãe o diretor caprichou na condução em um único ambiente tornando tudo instigante e caótico; em A Baleia (uma alusão ao clássico da literatura Moby Dick - um trocadilho  que pode soar como provocação) Aronofsky aparece no piloto automático e no final descamba para o dramalhão. E o que resta é a atuação convincente de Fraser que se desnuda de verdade ao mostrar que fisicamente está longe dos tempos de A Múmia; mas a expressão facial demostra sensibilidade ao expressar as angústias de um homem que já perdeu a fé em si mesmo.

domingo, março 05, 2023

Pearl

(EUA, 2022)
Direção: Ti West
Elenco: Mia Goth, David Corenswet, Tandi Wright, Amelia Reid.

No auge da pandemia da gripe espanhola em 1918, a jovem Pearl vive sozinha na fazenda de sua família mas tem o sonho de ser artista de cinema. Mas a sua ambição vira pó com a autoritária e possessiva mãe, uma imigrante alemã que prefere o isolamento para se proteger da xenofobia e da pandemia. Solitária, Pearl amplia o seu mórbido hábito de matar animais, e a sua raiva passa a se descontrolar a ponto de por risco a todas as pessoas ao seu redor.
Fazendo parte de uma trilogia mesmo antes do lançamento do primeiro filme (demostrando o entusiasmo da A24), o cineasta Ti West ganha carta branca para brincar com o gênero de terror. E pelo que foi demonstrado em Pearl, o diretor mostra coragem em explorar caminhos diversos em cada obra. Se no primeiro filme, X: A Marca da Morte, é um típico slasher e que bebe na fonte de O Massacre da Serra Elétrica; em Pearl, o diretor dá uma nova guinada e aqui faz um bom estudo de personagem sobre o passado da idosa psicopata do primeiro filme. Mas o filme se sobressai pela atuação antológica da revelação Mia Goth que aqui demonstra uma força da natureza doida e imprevisível. Uma "muita aparente" jovem dócil e inocente mas que é uma sociopata desequilibrada que recebe o impulso graças ao tratamento rígido e cruel da mãe carrasca. O diretor surpreende com os lindos enquadramentos da fazenda (o mesmo cenário explorado do primeiro filme que era mais sujo e sinistro) que torna o local bucólico e lírico. Aqui, a fazenda tem ares de O Mágico de Oz em que a Pearl seria uma versão maluca e diabólica da Dorothy (até o cachorrinho Totó é substituido por um assustador crocodilo).
Pearl é umas das grandes surpresas do ano ao mesclar a atuação poderosa de Mia Goth com um grande estudo de personagem (algo raro no gênero de terror).

quarta-feira, março 01, 2023

Os Banshees de Inisherin

(Irlanda/EUA, 2022)
Direção: Martin McDonagh
Elenco: Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry Condon, Barry Keoghan.

Em plena guerra civil na Irlanda na década de 1920, uma pacata vila localizada em uma ilha tem a sua rotina alterada por um fato peculiar: Padraic e Colm são amigos de longa data até que um dia este último decide terminar a amizade. A justificativa: o convívio com o Padraic é pura perda de tempo; não acrescenta em nada e é um empecilho para coisas mais relevantes como compor uma música. Padraic fica chocado com a atitude do seu agora ex-amigo mas não desiste do elo o que gera consequências inesperadas entre os mais próximos dos dois.
Após o sensacional Três Anúncios para um Crime em que aborda temas pesados como o feminicídio e a vingança com um encaminhamento imprevisível misturado como humor ácido e muita violência, o cineasta Martin McDonagh volta as origens, a Irlanda, com um tema peculiar: as consequências de um fim de uma amizade ou amizade tóxica. Mas aqui o filme tem um tom de fábula em que até os animais tem um papel importante como no caso da jumentinha, o animal de estimação do protagonista. E nesta vila cheia de rochas e uma natureza serena mas com perigosas encostas abriga uma sociedade aparentemente pacata e que novidade é coisa rara. Por isso que o fim da amizade entre Padraic e Colm causa um burburinho daqueles, e também uma reflexão: O que é ser simpático? O que é mais importante: a banalidade da vida ou a busca por uma realização para ser registrada na história?
Uma boa sacada do diretor foi usar o seu argumento como uma crítica à guerra. Afinal muitos conflitos nascem de fatos banais como um fim de de uma amizade. Mas aqui o roteiro cirúrgico mescla relações humanas, o tom bucólico e pastoril do local, e consequências imprevisíveis (e uma dose de violência e humor típico do diretor). E um filme de Martin McDonagh não poderia ser o mesmo sem ser um estudo de personagem. Aqui, além de Padraic e Colm, também ganham peso a irmã racional de Padraic, que não vê futuro nenhum na vila, e o jovem inconsequente Dominic, que só pensa em sexo. Assim, os quatro atores brilham e são um destaque à parte deste filme que apresenta uma bonita trilha sonora de Carter Buwell que ressoa o tom de contos de fadas, e a bela fotografia de Ben Davis com tom mais sombreado que realça a bela natureza local. Com um visual que remete ao clássico O Sétimo Selo, Os Banshees de Inisherin é a obra mais pausada, calma de McDonagh mas que sua delicadeza e o roteiro muito bom ilumina indagações pertinentes em um mundo em que a humanidade cada vez mais se desentende (mesmo que a tecnologia nos faça estarmos mais próximos do que nunca). Como diria o título de um filme do Wim Wenders: Tão Longr, Tão Perto.