quinta-feira, agosto 20, 2020

Destaques nos cinemas

 EM VIRTUDE DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, INFELIZMENTE, AS EXIBIÇÕES DOS FILMES FORAM INTERROMPIDAS E AS SALAS DE CINEMA FECHADAS TEMPORARIAMENTE.

domingo, agosto 09, 2020

A Morte Passou por Perto

(Killer´s Kiss, EUA, 1955)
Direção: Stanley Kubrick
Elenco: Jamie Smith, Irene Kane, Frank Silveira, Mike Dana

Sempre defendo que o diretor tem o direito de errar em seus primeiros filmes, mas o genial Stanley Kubrick pisou feio na bola em A Morte Passou por Perto. Primeiro, é um drama romântico com pegada de suspense sobre um boxeador fracassado que se envolve com uma dançarina que é amante de um homem perigoso (um enredo estranho na filmografia do mestre). Nesse quesito, o filme é um melodrama muito ruim em virtude de um roteiro desastroso com diálogos rasos ancorado a uma narração em off que trata o público como um idiota (não é pra menos que o diretor não usa essa técnica nos seus projetos posteriores). Outro recurso explorado que Kubrick eliminou futuramente foi o flashback que aqui serve mais para encher linguiça. E pra matar, o final é lamentável. Mesmo diante desses percalços, o diretor já ousava nas tomadas e movimentos de câmera - aqui e acolá tomadas únicas - e a fotografia bem elaborada (do próprio diretor). Como um suspense, A Morte Passou por Perto é uma melosa estória de amor de dois derrotados que buscam um lugar ao sol. Definitivamente não lembra nada do que seria Kubrick nos anos seguintes.

terça-feira, agosto 04, 2020

Noites de Cabíria

(Le Notti di Cabiria, Itália/França, 1957)
Direção: Federico Fellini
Elenco: Giulietta Masina, François Périer, Franca Mazi, Amedeo Nazzari

Cabíria é uma mulher que sonha em casar, ser dona de casa, ter filhos...mas o simples fato de ser meretriz e se envolver com homens de estampa duvidosa torna o seu desejo em uma melancólica desilusão.
Noites de Cabíria representa o pontapé inicial do estilo inconfundível do mestre Fellini e uma espécie de embrião para a sua obra-prima A Doce Vida: o descontentamento da protagonista com a desigualdade social de Roma com a vida miserável dos pobres em terrenos baldios, e a burguesia em sua redoma de vidro com os seus dilemas fúteis. Com uma galeria de personagens, Fellini se distancia do realismo e abraça uma crônica sobre a Cidade Eterna em que o cômico aparece lado a lado com o amargo. E o filme não seria o mesmo sem a inesquecível atuação de Giulietta Masina que com um jeito maroto sabe dosar perfeitamente a decepção do destino e a fagulha de esperança. Simplesmente uma Carlitos de saias. Assim, Noites de Cabíria é um lindo drama chapliniano sobre uma prostituta com coração de ouro, bondosa, pura mas que luta constantemente com uma realidade que a joga pra baixo. E ainda de quebra tem o final mais lindo do cinema. Inesquecível.

sábado, agosto 01, 2020

Doutor Jivago

(Doctor Zhivago, EUA, 1965)
Direção: David Lean
Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Geraldine Chaplin, Rod Steiner

Não é nada convidativo assistir um melodrama histórico de mais de três horas de duração, certo? Mas confie em um mestre especialista neste quesito. Assim, David Lean faz um filmaço sobre o turbulento nascimento de uma nação: a União Soviética. Baseado no clássico da literatura de Boris Pasternak, o filme é a biografia do médico Yuri Jivago em que através de seus olhos testemunha a insatisfação do povo perante o império de czar Nicolau; o surgimento da revolução russa (fim da propriedade privada); e os conflitos internos dos "camaradas" ávidos por poder.
E se tratando de David Lean, a produção é um deleite. A fotografia espetacular de Freddie Young; a clássica trilha sonora de Maurice Jarre (com o famoso Tema de Lara). O diretor estava inspiradíssimo nos movimentos de câmera, além de contar com o ótimo roteiro de Robert Bolt. Mas o que mais me impressionou foi a incrível edição de Norman Savage que imprimiu um ritmo perfeito; é aquele filme que as três horas de duração passam voando e que você quer mais. Até a controvérsia participação de Alec Guiness como um parente do protagonista, Yevgraf Jivago, e sua narrativa em off poderia prejudicar a obra mas Lean e o roteirista perceberam que era necessário pois é esse personagem que relata a vida do protagonista. Doutor Jivago é um lindo filme sobre transformações sociais e uma crítica perturbadora sobre o autoritarismo (em de qual posição está esteja).