terça-feira, maio 25, 2021

Oscar 2021


Com o atraso de 02 meses, a Academia finalmente premia os melhores do ano de 2020, um período conturbadíssimo para o cinema. Com as salas de exibição vazias, o Oscar abraçou de vez os filmes independentes e obras produzidas por streamings (que hoje se transformaram em estúdios de cinema) em razão do deslocamento das exibições dos blockbusters para o segundo semestre de 2021 quando os EUA tiverem enfrentado a pandemia. Com esse cenário, a premiação foi uma das mais democráticas dos últimos anos premiando uma cineasta chinesa na categoria de direção (a barbada do ano) para Chloe Zhao (Nomadland); a sul-coreana Yun-jung Youn para atriz coadjuvante por Minari (será um reflexo do sucesso de Parasita?); e a grande vencedora da noite, Frances McDormand, a primeira mulher a ganhar o Oscar de atriz (sua terceira estatueta) e como produtora. E muitos que diziam que nesta edição finalmente a Netflix levaria o Oscar de melhor filme quebrou a cara. A grande plataforma de streaming investiu pesado na campanha de Os 7 de Chicago mas o filme de Aaron Sorkin saiu de mãos vazias. Na categoria de filme internacional, o dinamarquês Druk - Mais uma Rodada ganhou como era esperado mesmo com a surpreendente ascensão do bósnio Quo Vadis, Aida?. Mas a surpresa da noite foi a categoria de melhor ator que indicava a vitória previsível de Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues) até Joaquin Phoenix informar que o veterano Anthony Hopkins ganhou o prêmio por Meu Pai produzindo um enceramento mais bizarro desde a confusão de La La Land: Cantando Estações e Moonlight: Sob a Luz do Luar.

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A lista dos vencedores do Oscar 2021:

MELHOR FILME: Nomadland
MELHOR FILME INTERNACIONAL: Druk - Mais uma Rodada (Dinamarca)
MELHOR FILME EM ANIMAÇÃO: Soul
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Professor Polvo
MELHOR CURTA-METRAGEM: Dois Estranhos
MELHOR DIREÇÃO: Chloe Zhao (Nomadland)
MELHOR ATOR: Anthony Hopkins (Meu Pai)
MELHOR ATRIZ: Frances McDormand (Nomadland)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Daniel Kaluuya (Judas e o Messias Negro)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Yun-jung Youn (Minari)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Meu Pai
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Bela Vingança
MELHOR FOTOGRAFIA: Mank
MELHOR MONTAGEM: O Som do Silêncio
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Mank
MELHOR FIGURINO: A Voz Suprema do Blues
MELHOR TRILHA SONORA: Soul
MELHOR CANÇÃO: Judas e o Messias Negro
MELHOR SOM: O Som do Silêncio
MELHOR EFEITOS VISUAIS: Tenet
MELHOR MAQUIAGEM: A Voz Suprema do Blues
MELHOR CURTA-METRAGEM EM DOCUMENTÁRIO: Colette
MELHOR CURTA-METRAGEM EM ANIMAÇÃO: Se Acontecer Algo Te Amo

quinta-feira, maio 20, 2021

Destaques nos cinemas

CAROS CAMARADAS: TRABALHADORES EM LUTA

(Dorogie Tovarishci, Rússia, 2020) de Andrey Konchalovskiy
Drama. Na União Soviética de 1962, grupo de trabalhadores entra em greve gerando uma atitude inesperada do Partido Comunista.




CRUELLA
(EUA, 2021) de Craig Gillespie
Fantasia. A trajetória de uma das vilãs mais icônicas da Disney, a inimiga dos dálmatas Cruella.

sábado, maio 15, 2021

Lançamento nos Streamings

A MULHER DA JANELA
(The Woman in the Windom, EUA, 2021) de Joe Wright
Netflix
Suspense. Mulher que vive reclusa em seu apartamento tem como passatempo observar a vizinhança até ser testemunha de uma cena brutal.

ARMY OF THE DEAD: INVASÃO EM LAS VEGAS
(Army of the Dead, EUA, 2021) de Zack Snyder
Netflix
Terror. Em uma Las Vegas infestada por zumbis, uma equipe é designada a roubar milhões de doláres em um cassino desativado.

segunda-feira, maio 10, 2021

Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre

(Never Rarely Sometimes Always, EUA/Inglaterra, 2020)
Direção: Eliza Hittman
Elenco: Sidney Flanigan, Talia Ryder, Théodore Pellerin, Ryan Eggold

Em um exame de gravidez, a protagonista do filme Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre recebe uma estranha argumentação da médica a respeito do teste de gravidez: quando consta negativo pode ser negativo ou positivo; quando aparece positivo é sempre positivo. Esse é aparentemente mais um dilema da complicado vida de Automn, uma garota de 17 anos que ainda vive no hormônio da adolescência, e em constante conflito com os pais (especialmente o padrasto). Mas o seu mundo vira de ponta cabeça quando descobre uma indesejada gravidez, e a única pessoa que lhe entende e estende a mão para a realização de um aborto escondido é a sua prima Skylar.
Os conflitos da adolescência sempre foram o norte na carreira da cineasta Eliza Hittman, e aqui ela é muito bem-sucedida ao mesclar sensibilidade e feminismo em um tema tão polêmico: o aborto. Em outras mãos o filme poderia se tornar pesado, mas a visão da diretora demonstra uma delicadeza em expor um momento doloroso de uma garota que não precisa de um bebê, e sim de ajuda emocional para lidar com os traumas que carrega - isso fica mais evidente na cena mais marcante do filme que é a resposta ao questionário que dá título a obra. Aqui é presente o mal-estar, o incômodo nos olhares, nos gestos e principalmente no toque dos homens em seus corpos; a cineasta faz questão de focar os toques em closes fechados através da fotografia crua e realista de Hélène Louvart (a mesma do brasileiro A Vida Invisível) em que a câmera está sempre próxima das protagonistas para sentirmos a agonia dessas mulheres. A trilha sonora de Julia Holter é sutil e misturada ao som ambiente dando mais imersão ao momento. Mas é a atuação de Sidney Flanigan e Talia Ryder que são a base do sucesso do filme. A química entre as duas é tão boa que elas conseguem se comunicar através dos gestos e olhares mesmo que sejam distintas: Autumn é fechada, triste e fragilizada; e Skylar é esperta, alegre e compreensiva. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre é um delicado quase "roadmovie" que vai além de defender o aborto; é sobre pessoas feridas que suportam, carregam diversos abusos...mas aqui a protagonista tem a sorte de ter uma grande amiga pra lhe dar apoio.

quarta-feira, maio 05, 2021

A Assistente

(The Assistant, EUA, 2019)
Direção: Kitty Green
Elenco: Julia Garner, Noah Robbins, Jon Orsini, Matthew Macfadyen

Em uma madrugada escura e gelada, uma jovem assistente de uma produtora de cinema (Jane) é a primeira a abrir a firma, onde coloca tudo em ordem para agradar o seu chefe e colegas, desde as atividades administrativas até a limpeza e organização do local. E isso é só o início do pesadelo que é a rotina dura e difícil de seu trabalho.
A Assistente é um filme reflexivo sobre exploração e abusos cometidos em uma organização. Aqui, a protagonista é uma jovem ingênua, inexperiente, dando os seus primeiros passos no mercado de trabalho e se ver jogada numa jaula de leões em que os seus colegas de trabalho são grosseiros e tolos; o chefe a maltrata mesmo que este esteja longe de ser uma pessoa correta (Jane não suporta a ideia de mentir para a esposa do chefe pois este pula a cerca); e até o gestor de pessoas que lhe arranjou o atual emprego é um babaca insensível.
Ao assistir ao filme de Kitty Green, o cinema-denúncia do mestre britânico Ken Loach vem a mente mas a cineasta pincela com tintas feministas o total desconforto de uma jovem de futuro brilhante mas que se desencanta com um ambiente machista e opressivo em que Jane é uma mera marionete. Uma garota vulnerável que enfrenta o mundo sozinha, longe da família e sem amigos para alcançar o sonho da realização profissional. Dessa forma, o mundo atual de Jane é frio, asséptico e mecânico muito bem explorado pela bela fotografia de Michael Latham. Até a trilha sonora de Tamar-Kali é tímida mas predominando o silêncio angustiante. Mas o destaque vai para a atriz Julia Gardner que consegue imprimir uma impressionante vulnerabilidade, demonstrando um mal-estar asfixiante neste ambiente, além de enfatizar características peculiares da personagem como ser antissocial, contida, de poucas palavras. Gardner consegue passar as emoções no gesto e no olhar. Um olhar ora frio ora desesperador.
Assim, A Assistente é uma denúncia de uma realidade que é mais comum que a gente imagina; um pesadelo organizacional que faz o vulnerável se diminuir ao ponto de se tornar invisível de si mesma.

sábado, maio 01, 2021

Eu Me Importo

(I Care a Lot, EUA/Inglaterra, 2020)
Direção: J Blakeson
Elenco: Rosamund Pike, Eiza González, Dianne Wiest, Peter Dinklage.

Na pandemia da Covid-19, uma parte da sociedade não tem pudor em defender a economia e deixar a população - especialmente os vulneráveis como os idosos - em segundo plano...afinal todos vão morrer. Essa afirmativa tenebrosa e desumana reflete bem a comédia de humor negríssimo Eu Me Importo. E o seu humor politicamente incorreto já dá as caras pelo título irônico.
Aqui Marla Grayson é uma mulher ambiciosa ao extremo que decide buscar riqueza chefiando um sistema corrupto de curadoria de idosos. Os velhinhos mais indefesos são as vitimas preferenciais para que a "respeitada curadora" e cia se abdiquem dos seus bens e pertences. Mas os seus planos começam a ruir quando ela encontra a vitima perfeita mas perigosa: Jennifer Peterson.
O quarto filme do cineasta britânico J Blakeson é uma ótima e triste crítica a indústria da curadoria de idosos (algo que nunca passou pela minha cabeça), e também uma poderosa metáfora sobre a falta de humanidade que o Estado trata aos mais fracos (da crise econômica de 2008 a pandemia de Covid-19). No entanto, o filme vai além e na sua segunda parte foca no jogo de gato e rato entre a protagonista e uma organização criminosa. Neste ponto o público é pego torcendo para Marla mesmo que ela esteja longe de ser uma pessoa exemplar. Aliás, desde de A Garota Exemplar, a atriz Rosamund Pike se tornou especialista em personagens que adoramos odiar, e aqui ela dá um show. Mas o destaque vai para a sumida Dianne Wiest maravilhosa num papel atípico. 
Marla é uma anti-heroína que poderia muito bem representar um ícone feminista se não fosse a sua ambição desenfreada por dinheiro associado a um sistema em sua volta que a incentiva e que em determinados aspectos lhe é favorável, afinal dinheiro é tudo. Assim, Marla é uma mulher de seu tempo...tempo desumano e tenebroso. Eu Me Importo é uma comédia para rir e refletir sobre a busca de um tratamento justo e respeitável aos mais velhos.