segunda-feira, maio 10, 2021

Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre

(Never Rarely Sometimes Always, EUA/Inglaterra, 2020)
Direção: Eliza Hittman
Elenco: Sidney Flanigan, Talia Ryder, Théodore Pellerin, Ryan Eggold

Em um exame de gravidez, a protagonista do filme Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre recebe uma estranha argumentação da médica a respeito do teste de gravidez: quando consta negativo pode ser negativo ou positivo; quando aparece positivo é sempre positivo. Esse é aparentemente mais um dilema da complicado vida de Automn, uma garota de 17 anos que ainda vive no hormônio da adolescência, e em constante conflito com os pais (especialmente o padrasto). Mas o seu mundo vira de ponta cabeça quando descobre uma indesejada gravidez, e a única pessoa que lhe entende e estende a mão para a realização de um aborto escondido é a sua prima Skylar.
Os conflitos da adolescência sempre foram o norte na carreira da cineasta Eliza Hittman, e aqui ela é muito bem-sucedida ao mesclar sensibilidade e feminismo em um tema tão polêmico: o aborto. Em outras mãos o filme poderia se tornar pesado, mas a visão da diretora demonstra uma delicadeza em expor um momento doloroso de uma garota que não precisa de um bebê, e sim de ajuda emocional para lidar com os traumas que carrega - isso fica mais evidente na cena mais marcante do filme que é a resposta ao questionário que dá título a obra. Aqui é presente o mal-estar, o incômodo nos olhares, nos gestos e principalmente no toque dos homens em seus corpos; a cineasta faz questão de focar os toques em closes fechados através da fotografia crua e realista de Hélène Louvart (a mesma do brasileiro A Vida Invisível) em que a câmera está sempre próxima das protagonistas para sentirmos a agonia dessas mulheres. A trilha sonora de Julia Holter é sutil e misturada ao som ambiente dando mais imersão ao momento. Mas é a atuação de Sidney Flanigan e Talia Ryder que são a base do sucesso do filme. A química entre as duas é tão boa que elas conseguem se comunicar através dos gestos e olhares mesmo que sejam distintas: Autumn é fechada, triste e fragilizada; e Skylar é esperta, alegre e compreensiva. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre é um delicado quase "roadmovie" que vai além de defender o aborto; é sobre pessoas feridas que suportam, carregam diversos abusos...mas aqui a protagonista tem a sorte de ter uma grande amiga pra lhe dar apoio.

Nenhum comentário: