quarta-feira, maio 05, 2021

A Assistente

(The Assistant, EUA, 2019)
Direção: Kitty Green
Elenco: Julia Garner, Noah Robbins, Jon Orsini, Matthew Macfadyen

Em uma madrugada escura e gelada, uma jovem assistente de uma produtora de cinema (Jane) é a primeira a abrir a firma, onde coloca tudo em ordem para agradar o seu chefe e colegas, desde as atividades administrativas até a limpeza e organização do local. E isso é só o início do pesadelo que é a rotina dura e difícil de seu trabalho.
A Assistente é um filme reflexivo sobre exploração e abusos cometidos em uma organização. Aqui, a protagonista é uma jovem ingênua, inexperiente, dando os seus primeiros passos no mercado de trabalho e se ver jogada numa jaula de leões em que os seus colegas de trabalho são grosseiros e tolos; o chefe a maltrata mesmo que este esteja longe de ser uma pessoa correta (Jane não suporta a ideia de mentir para a esposa do chefe pois este pula a cerca); e até o gestor de pessoas que lhe arranjou o atual emprego é um babaca insensível.
Ao assistir ao filme de Kitty Green, o cinema-denúncia do mestre britânico Ken Loach vem a mente mas a cineasta pincela com tintas feministas o total desconforto de uma jovem de futuro brilhante mas que se desencanta com um ambiente machista e opressivo em que Jane é uma mera marionete. Uma garota vulnerável que enfrenta o mundo sozinha, longe da família e sem amigos para alcançar o sonho da realização profissional. Dessa forma, o mundo atual de Jane é frio, asséptico e mecânico muito bem explorado pela bela fotografia de Michael Latham. Até a trilha sonora de Tamar-Kali é tímida mas predominando o silêncio angustiante. Mas o destaque vai para a atriz Julia Gardner que consegue imprimir uma impressionante vulnerabilidade, demonstrando um mal-estar asfixiante neste ambiente, além de enfatizar características peculiares da personagem como ser antissocial, contida, de poucas palavras. Gardner consegue passar as emoções no gesto e no olhar. Um olhar ora frio ora desesperador.
Assim, A Assistente é uma denúncia de uma realidade que é mais comum que a gente imagina; um pesadelo organizacional que faz o vulnerável se diminuir ao ponto de se tornar invisível de si mesma.

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