sexta-feira, dezembro 31, 2021

Nota do Blog - Os Melhores Filmes do Ano

O ano de 2021 finalmente termina com o retorno gradual do público nos cinemas, além de uma boa safra de filmes - ainda um reflexo do caos de 2020 em que muitos filmes ficaram na gaveta aguardando dias melhores. E os melhores cineastas da atualidade não vacilaram e entregaram belas obras como Spielberg, Sciamma, Campion, Almodóvar, Farhadi, Baker, Anderson e o simplesmente Joe.  E belas surpresas como Ducornau e Hamaguchi. E o cinema brasileiro retornou tímido mas entregou um Muritiba intrigante e otimista. E que assim venha 2022.

***

MELHORES FILMES DE 2021:

Amor, Sublime Amor (EUA) de Steven Spielberg
O Ataque dos Cães (Nova Zelândia) de Jane Campion
Belfast (Inglaterra) de Kenneth Branagh
Deserto Particular (Brasil) de Aly Muritiba
Drive My Car (Japão) de Ryusuke Hamaguchi
Fuga (Dinamarca) de Jonas Poher Rasmussen
Um Herói (Irã) de Asghar Farhadi
Licorice Pizza (EUA) de Paul Thomas Anderson
Mães Paralelas (Espanha) de Pedro Almodóvar
Memoria (Colômbia) de Apichatpong Weerasethakul
Pequena Mamãe (França) de Céline Sciamma
A Pior Pessoa do Mundo (Noruega) de Joachin Trier
Red Rocket (EUA) de Sean Baker
Titane (França) de Julia Ducournau

Menção honrosa: Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina) de Jasmila Zbanic





FELIZ NATAL 
E UM ÓTIMO ANO NOVO
(E CONTINUANDO COM OS CUIDADOS E CAUTELA A RESPEITO DA PANDEMIA).

segunda-feira, dezembro 20, 2021

Destaques nos Cinemas

KING RICHARD: CRIANDO CAMPEÃS

(EUA, 2021) de Reinaldo Marcus Green
Drama. A obstinação de um pai em querer transformar as suas filhas em verdadeiras campeãs do tênis (um esporte majoritariamente elitista branco).




AMOR, SUBLIME AMOR

(West Side Story, EUA, 2021) de Steven Spielberg
Musical. Na Nova Iorque da década de 1950, um americano e uma latina se apaixonam em meio aos conflitos de duas gangues rivais.




MATRIX: A RESSUREIÇÃO

(The Matrix Ressurections, EUA, 2021) de Lana Wachowski
Ficção científica. Após o fim da guerra entre humanos e máquinas, Neo vive na Matrix totalmente alienado da realidade.




BENEDETTA

(França/Holanda, 2021) de Paul Verhoeven
Drama. Na Itália do século 17, uma freira tem visões perturbadoras que a faz aproximar de uma noviça o que inicia em um tórrido caso de amor.



O HOMEM IDEAL
(Ich bin dein Mensch, Alemanha, 2021) de Maria Schrader
Comédia. Cientista cria um robô semelhante ao ser humano para uma provocativa missão: torná-la feliz.

quarta-feira, dezembro 15, 2021

Lançamentos nos Streaming

ATAQUE DOS CÃES
(The Power of the Dog, Nova Zelândia/EUA, 2021) de Jane Campion
Netflix
Drama. A relação de dois irmãos é conturbada com a chegada da nova esposa de um deles.



BEING THE RICARDOS 
(EUA, 2021) de Aaron Sorkin
Amazon Prime Video
Drama. No auge do sucesso, o famoso casal da TV americana da década de 1950, Lucille Ball e Desi Arnaz tentam resolver a sua crise matrimonial e as suas carreiras.



BELA VINGANÇA
(Promissing Young Woman, Inglaterra/EUA, 2020) de Emerald Fennell
Telecine Play
Suspense. Jovem apresenta uma dupla vida: de dia é uma comum garçonete; a noite caça homens se fazendo de bêbada.



A CHEGADA
(Arrive, EUA, 2016) de Denis Villeneuve
Star Plus
Ficção cientifica. Uma professora de linguística é contratada por militares para comunicar com extraterrestres que subitamente apareceram no planeta.



CLUBE DE COMPRAS DALLAS
(Dallas Byers Club, EUA, 2013) de Jean-Marc Vallée
Star Plus
Drama. Um mero eletricista rude luta pela sua sobrevivência após ser diagnosticado com HIV em 1985.



A FILHA PERDIDA
(The Lost Daughter, EUA, 2021) de Maggie Gyllenhaal
Netflix
Drama. Uma senhora passa férias na Europa e fica obcecada por uma jovem e sua filha o que a faz refletir sobre sua vida.



GAROTA EXEMPLAR
(Gone Girl, EUA, 2014) de David Fincher
Star Plus
Suspense. Por trás de um casamento perfeito, marido é o principal suspeito do desaparecimento de sua esposa.



JOHN WICK 3 - PARABELLUM
(EUA, 2019) de Chad Stahelski
Telecine Play
Ação. Após matar um importante membro do crime organizado, John Wick é alvo de perigosos pistoleiros.


O IMPOSSIVEL
(The Impossible, EUA/Espanha, 2012) de Juan Antonio Bayona
Star Plus
Drama. Família de férias na Tailândia tenta sobreviver a um dos maiores desastres da natureza: o grande tsunami de 2004.


LA LA LAND - CANTANDO ESTAÇÕES
(EUA, 2016) de Damien Chazelle
Star Plus
Musical. A estória de amor entre um músico e uma atriz em uma Los Angeles de conto de fadas.


UM LINDO DIA DA VIZINHANÇA
(Beautiful Day in the Neighborhood, EUA, 2019) de Marriele Heller
Amazon Prime Video
Drama. Um jornalista faz uma matéria entrevistando um famoso apresentador de um programa infantil e desse encontro nasce uma grande amizade. 


A MÃO DE DEUS
(É Stata la Mano di Dio, Itália, 2021) de Paolo Sorrentino
Netflix
Drama. Na década de 1980, um jovem vive um turbilhão de emoções: da chegada do ídolo do futebol Maradona a uma tragédia familiar.


1917
(Inglaterra/EUA, 2019) de Sam Mendes
Amazon Prime Video
Guerra. Nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial, dois soldados britânicos tem a difícil missão de atravessar o território inimigo para salvar a vida de colegas que correm perigo de vida.



NÃO OLHE PRA CIMA
(Don´t Look Up, EUA, 2021) de Adam Mckay
Netflix
Comédia. Dois desconhecidos astrônomos descobrem que um grande asteroide esta em direção a Terra - o que viram chacota por todos.




O QUARTO DE JACK
(Room, EUA, 2015) de Lenny Abrahamson
Star Plus
Drama. Mae e filho vivem em um minúsculo quarto isolado de todo mundo. 




O SACRIFICIO DO CERVO SAGRADO
(Killing of a Sacred Deer, EUA/Inglaterra, 2017) de Yorgos Lanthimos
HBO Max
Suspense. A vida de um renomado cirurgião é virada do avesso quando inicia uma amizade com um misterioso rapaz.

sexta-feira, dezembro 10, 2021

Identidade

(Passing, EUA/Inglaterra, 2021)
Direção: Rebecca Hall
Elenco: Tessa Thompson, Ruth Negga, Andre Holland, Bill Camp.

Em um dia quente de verão na Nova Iorque da década de 1920, a dona de casa Irene demonstra total desconforto em uma livraria rodeada de brancos. Para aliviar a tensão se desloca para uma casa de chá e lá se esbarra em uma antiga amiga chamada Claire. Desse reencontro, Irene não se sente nada agradável ao ver a vida que sua amiga vive: de cabelos platinados e casada com um branco rico que não esconde ser racista (ele não considera a esposa uma negra). Do reencontro problemático, Irene se distancia da amiga mas esta insiste em lhe contatar, e esta segunda oportunidade revela um olhar mais aguçado sobre Claire (que sente a necessidade de se conectar com as suas origens), e da própria Irene (uma mulher forte e decidida mas que aqui se revela insegura com relação ao futuro dos seus filhos).
Uma das revelações do Festival de Sundance 2021, Identidade impressiona por várias virtudes e a sua principal qualidade se chama Rebecca Hall. Atriz inglesa de prestigio, surpreende ao comandar a adaptação da obra de Nella Larsen. O filme apresenta um tom teatral mas que a diretora consegue superar essa adversidade graças as ótimas tomadas de câmera. Rebecca Hall de novata tem uma pegada de uma veterana. Outro ponto altíssimo da produção é o trabalho em simbiose entre a diretora e a fotografia soberba do espanhol Eduard Grau que aumenta a qualidade pois em certos momentos cada frame parece um lindo quadro. Outra curiosidade: de início o elaborado preto-e-branco da fotografia parece esconder, disfarçar os traços raciais das protagonistas o que de cara a imagem se torna um elemento que condiz com a temática do filme e até mesmo do seu titulo. Outro achado é o belíssimo design de produção de Nora Mendis que ajuda o público a embarcar no delicado contexto.
Além da parte técnica, o elenco arrebenta especialmente a ótima dupla formada entre Tessa Thompson e Ruth Negga (esta rouba a cena) dando vida a duas mulheres sensíveis que escondem e trazem a tona as dores da segregação racial. Enquanto a Irene de Tessa Thompson é politizada, consciente do que é ser negro nos EUA - no entanto surpreende ao apresentar uma decisão tipicamente materna mas que não condiz com a sua personalidade quando cria uma bolha de normalidade para os seus filhos; já Ruth Negga esbanja uma sensualidade melancólica no papel de Claire, uma mulher negra criada por brancos mas que vive no meio termo entre as raças tornando-a um ser vulnerável, frágil, e inseguro.
O debut de Rebecca Hall impressiona pois mesmo sendo branca, ela revela propriedade para falar do racismo mas com um contexto focado na minoria afinal ela está falando de mulheres em que independentemente da raça sofreram e ainda sofrem com o preconceito e o descaso de uma sociedade patriarcal. Mas aqui a diretora traz uma indagação: o que é ser negro, branco? Por um momento, a fotografia cria essa ilusão de ótica mas os anseios de Irene e Claire jogam na tela a dor de serem tratadas com insignificância. E através de um roteiro elegante e coeso, a diretora trata tanto os personagens como o público com sensibilidade, sem cair no melodrama. Uma ótima surpresa na safra de 2021.

domingo, dezembro 05, 2021

Noite Passada em Soho

(Last Night in Soho, Inglaterra/EUA, 2021)
Direção: Edgar Wright
Elenco: Thomasin McKenzie, Anya Taylor-Joy, Terence Stamp, Diana Rigg

Na projeção de Noite Passada em Soho, fiquei surpreso (e até encantado) com o uso de canções e números musicais em um filme de terror psicológico!!! Em seu filme anterior, o empolgante Em Ritmo de Fuga, o diretor Edgar Wright também usa uma ótima coletânea de músicas que encaixa perfeitamente nas cenas de perseguição típica do gênero de ação. Conclusão: será uma trilogia musical que brinca com gêneros distintos? Pelo menos o diretor consegue explorar terrenos com muita criatividade.
Aqui vai o resumo de Noite Passada em Soho. Eloise é uma jovem que concretiza um sonho: estudar moda em uma conceituada universidade de Londres. Sob os cuidados da avó, esta não gosta da ideia da neta sozinha e demonstra que Eloise esconde algo. Mesmo assim, a protagonista se muda para a capital da Inglaterra. Mas a chegada a república é pesada com a estranha figura de um homem de comportamento hostil e obsceno, além dos atritos com a colega de quarto nada receptiva. Com o clima tenso, ela decide se mudar para uma quitinete. E neste local - inusitadamente - ela consegue voltar ao tempo e realizar uma outra fantasia sua: vivenciar a Londres da década de 1960. E nesse ambiente, ela conhece Sandy, uma garota sexy que sonha em ser cantora. Mas este desejo vai enveredando por caminhos nebulosos.
Com um trabalho fantástico de design de produção de Marcus Rowland, o filme realmente consegue levar o público a efervescência cultural de Londres na década de 1960, um período revolucionário na moda, música e costumes. E esse universo cai como uma luva para Wright elaborar ótimas tomadas de câmera em conjunto com a montagem de Paul Machliss que sempre se encontra na quinta marcha. Outro destaque é a psicodélica fotografia de Chung-hoon Chung que usa e abusa de cores neon em muitos cenas reforçando a atmosfera de sonho (ou pesadelo?) o que recorda o barroquismo de Suspiria. Mas o filme bebe direto da fonte do clássico Repulsa ao Sexo (lançado no ano que o filme de Wright se passa). Em Noite Passada em Soho relata uma garota retraída com traumas familiares, além de esconder um estranho dom tornando-a a vítima perfeita para o bullying. Aqui a obra envereda para o terror da desvalorização da mulher tanto por parte dos homens na década de 1960, como pelas próprias mulheres
como é o caso da colega do curso de moda Jocasta que trata mal a protagonista.
Com um ótimo material em mãos, o diretor faz um bom trabalho mas não chega no mesmo nível do filme anterior pois percebo uma certa preocupação no estilo o que distancia de outros filmes consagrados no horror atual tanto na linguagem como na imagem como A Bruxa e Midsommar: O Mal Não Espera a Noite. Mas para quem busca bons sustos, o filme é uma boa pedida.

quarta-feira, dezembro 01, 2021

Amor, Sublime Amor

(West Side Story, EUA, 2021)
Direção: Robert Wise e Jerome Robbins
Elenco: Natalie Wood, Richard Beymer, Rita Moreno, George Chakiris

Assisti Amor, Sublime Amor na minha adolescência e confesso que o filme não me encantou. Pelo contrário, achei chato e maçante. Resumo da ópera: não estava preparado para conferir o filme na sua totalidade. E com a aproximação da versão de Steven Spielberg (que agora me preocupa) dei mais uma chance a este musical tão falado e admirado. Pois bem, mordi minha língua. Que filmaço! Antes não tinha reparado na força e criatividade dos seus realizadores nesta singular obra que usa um enredo batido (Romeu e Julieta de novo!!!) mas de uma forma revigorante, energética além de inserir criticas sociais pertinentes.
No subúrbio de Nova Iorque da década de 1960, brancos e a comunidade latina não conseguem se entender numa situação representada pela rincha entre duas gangues: a americana Jets e a porto-riquenha Sharks. E esse caldeirão prestes a explodir ganha mais um combustível: o branco Tony se apaixona pela irmã do chefe dos Sharks, Maria.
Amor, Sublime Amor inicia com uma linda abertura em que a câmera sobrevoa Nova Iorque partindo de Manhattan expondo prédios, ruas assimétricas até chegar no subúrbio pobre onde vivem os protagonistas. Assim, o grande Robert Wise (A Noviça Rebelde) realiza um musical com veia cinematográfica, e com a ajuda primordial do seu co-diretor e coreógrafo Jerome Robbins, ambos criam fantásticos movimentos de câmera que hora acompanham os atores, em outros momentos brinca com a posição do elenco na cenografia. Ótimo uso de efeitos óticos como no primeiro encontro de Maria e Tony. Aqui a dupla Wise e Robbins realizam um musical que mais dançado do que cantado gerando cenas de impacto como os 15 minutos iniciais em que não existe dialogo e sim uma coreografia que expõe a rotina do bairro e joga de cara o conflito das gangues. Confesso que o inteligente uso da cenografia e danças me chamou muita atenção e não lembro de um outro filme que use esse recurso (penso que o britânico Os Sapatinhos Vermelhos (1948) também usou o mesmo artifício mas não assisti ao filme de Michael Powell e Emeric Pressburger).
Outro destaque é o show da parte técnica. O fantástico casamento entre a fotografia quente e iluminada de Daniel L. Fapp e a direção de arte de Boris Leven e Victor A. Gangelin que recria em estúdio o subúrbio é o suficiente para a dupla de diretores encenarem belas cenas. A montagem de Thomas Stanford também tem um papel importante ao imprimir uma energia contagiante ao filme.
E a Natalie Wood e Robert Beymer estão bem como "Julieta e Romeu" mas é a dupla de latinos Rita Moreno e George Chakiris que roubam a cena com a energia e sensualidade à flor da pele.
Amor, Sublime Amor é mais uma adaptação do clássico de Shakespeare mas que se sobressai pela criatividade, vigor e pujança e por tocar no dedo em feridas ainda atuais como a violência urbana, a xenofobia, o ódio (a polícia faz pouco caso com as desavenças o que alimenta mais esse segregacionismo). E de quebra tem um final tocante e emocionante. Vencedor merecidamente de 10 Oscars incluindo melhor filme e direção, Amor, Sublime Amor é um clássico atemporal que dar um pontapé inicial ao musical adulto em que anos mais tarde seria dominado pelo mestre Bob Fosse.