domingo, setembro 20, 2020

Festival de Veneza 2020

O ano de 2020 não está sendo fácil para o mundo...pior ainda para o cinema. Após o cancelamento do Festival de Cannes, os italianos não perderam a esperança e decidiram realizar o Festival de Veneza, o primeiro a ser feito na pandemia. Por conta dessa situação insólita, o grande festival teve que modificar as exibições dos filmes, o que desmotivou a exibição dos filmes dos grandes estúdios e diminuiu a qualidade das produções. No entanto, o festival presidido neste ano pela atriz australiana Cate Blachett investiu pesado em obras dirigidas por mulheres e no fim o prêmio máximo foi parar nas mãos, merecidamente, da cineasta chinesa radicada nos EUA Chloé Zhao com o comovente Nomadland, drama sobre uma viúva que tenta sobreviver após a crise econômica de 2008. Com poucos destaques na competição, o que atraiu os holofotes foi a ótima estréia do mestre espanhol Pedro Almodóvar na língua inglesa com o curta-metragem A Voz Humana. Outras obras que chamaram atenção foram o canadense Pierces of a Woman de Kornél Mundruczó (aborda o luto de uma mulher após perder o filho no parto) e o russo Dear Comrades de Andrei Konchalovsky que reproduz um caso real de uma mulher que se desencanta com o comunismo soviético por causa do desaparecimento de sua filha depois de presenciar um massacre civil promovido pelo governo de Moscou.

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A lista dos vencedores do Festival de Veneza 2020:


Leão de Ouro: Nomadland (EUA) de Chloé Zhao

Grande Prêmio do Júri: New Order (México/França) de Michel Franco

Melhor Direção: Kiyoshi Kurosawa - Wife of a Spy (Japão)

Melhor Ator: Pierfrancesco Favino - Padrenostro (Itália)

Melhor Atriz: Vanessa Kirby - Pieces of a Woman (EUA/Canadá)

Melhor Roteiro: Chaitanya Tamhane - The Disciple (Índia)

Prêmio Especial do Júri: Dear Comrades (Rússia) de Andrei Konchalovsky

Prêmio Marcello Mastroianni de Revelação: Rouhollah Zamani - Sun Children (Irã)

terça-feira, setembro 15, 2020

Destaques nos cinemas

EM VIRTUDE DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, INFELIZMENTE, AS EXIBIÇÕES DOS FILMES FORAM INTERROMPIDAS E AS SALAS DE CINEMA FECHADAS TEMPORARIAMENTE.

quinta-feira, setembro 10, 2020

Julieta dos Espíritos

(Giulietta degli Spiriti, Itália/França, 1965)
Direção: Federico Fellini
Elenco: Giulietta Masima, Mario Pisu, Valentina Cortese, Sandra Milo.

Em 08 e 1/2, Fellini aborda o caos criativo de um cineasta que também é um marido infiel pincelado em um delirante preto e branco. No seu filme seguinte o mestre italiano cria um gancho deixado no clássico de 1963 e aborda a crise existencial de uma esposa após descobrir infidelidade do esposo. E assim nasce Julieta dos Espíritos, uma obra reconhecida pelo seu visual psicodélico - o primeiro filme colorido de Fellini - em que as cores fortes e vibrantes saltam para as telas em conjunto ao belo trabalho de design de produção e um figurino de luxo (Almodóvar ficaria em êxtase!) impulsionando um tom de sonho e pesadelo. Ao confrontar um presente incerto (fim do casamento?), Julieta mergulha de cabeça em memórias que guardam dramas familiares e o peso da criação católica como uma variante madura de Dorothy andando pelo Mágico de Oz. E a grande Giulietta Masima surpreende em uma atuação contida, um semblante triste mas sempre com um sorriso encantador. Engraçado constatar como Fellini era antenado as novas tendências. A Doce Vida mostrava inquietação social com viés político; Julieta dos Espíritos é um drama feminino imerso a cultura pop, a psicodelia e ao surrealismo. Não é um dos melhores filmes do diretor mas é um produto que encaixa perfeitamente ao estilo felliniano.

sábado, setembro 05, 2020

Graças a Deus

(Grâce à Dieu, França, 2018)
Direção: François Ozon
Elenco: Melvil Poupaud, Denis Ménochet, Swann Arlaud, Eric Caravaca.

François Ozon é um cineasta francês conhecido pelo seu estilo provocativa como Swimming Pool - À Beira da Piscina e Dentro de Casa. Mas ao abordar a pedofilia na Igreja Católica, o diretor surpreende ao pisar no freio perante a um material estritamente polêmico. E inesperadamente o tom contido faz bem ao filme ao focar os traumas e a luta por justiça das vítimas e ainda alfineta a hipocrisia das pessoas próximas dos protagonistas que prefere "deixar pra trás" essa terrível experiência para não provocar a ira da sociedade e da Igreja. Com uma pegada mais realista, Ozon faz uma obra condizente, adequada que reflete a coragem que as pessoas tem hoje de expor as suas fragilidades e empeitar de frente os seus algozes e poderosos. E diante de tantas narrativas, o destaque fica com a ótima montagem de Laure Gardette que nunca perde o ritmo. E Graças a Deus mostrar algo inusitado: homens, religiosos, brancos e héteros como minoria. Pensando melhor, este fato talvez seja provocativo o bastante especialmente para um cineasta gay como é o caso de Ozon. Mas isso só reforça o fato que injustiças e abusos não escolhe raça, sexo, religião, ideologia. O importante é denunciar.

terça-feira, setembro 01, 2020

O Inquilino

(The Tenant, EUA/França, 1976)
Direção: Roman Polanski
Elenco: Roman Polanski, Isabelle Adjani, Melvin Douglas, Shelley Winters.

Foi com a famosa Trilogia do Apartamento que lançou Roman Polanski como um mestre do suspense e terror. O cineasta francês sabe como poucos explorar a loucura humana através do senso de isolamento mais a convivência em um lugar minusculo; abordando desde traumas sexuais (Repulsa ao Sexo) a maternidade (O Bebê de Rosemary). Em O Inquilino, o diretor vai além e ousa ao se colocar como interprete principal o que deixa tudo íntimo. Conhecido por um turbulento histórico pessoal, Polanski escancara ao dar vida a um jovem francês, polonês de criação, que retorna a Paris e decide morar em um prédio velho e decrépito habitado por pessoas mais estranhas ainda. Pra quem é cinéfilo se diverte ao ver o diretor brincar com a sua persona associado a temas tão indigestos como obsessão, loucura, perda de identidade (e ousadamente brinca com o transexualismo). E o trabalho do mestre da fotografia Sven Nykvist ajuda bastante no tom soturno deixando tudo mais depressivo, insano. Como ator, o diretor surpreende pela naturalidade em frente as câmeras mas o filme é marcado pelo ótimo final surpreendente. Um dos melhores filmes de Polanski.