quinta-feira, maio 25, 2023

Festival de Cannes 2023

 


Nos dias 16 a 27 de maio - como nas edições anteriores - iniciou o festival mais importante do mundo (além de charmoso), o Festival de Cannes. Presidido pelo cineasta sueco vencedor da Palma de Ouro 2022 Ruben Östlund. Nesta edição, a competição oficial pela Palma de Ouro foi acirrada com bons filmes. Assim, o premio máximo foi parar nas mãos de uma cineasta francesa, Justine Triet, que como a sua colega Julie Ducornau que ganhou dois anos atrás pelo perturbador Titane, o intrigante filme Anatomy of a Fall conta a estória de um crime em que a principal testemunha é uma criança cega. Um dado curioso foi que o cinema estadunidense saiu de mãos vazias (algo raro) na premiação. Os grandes destaques da competição foram: o britânico The Zone of the Interest de Jonathan Glazer que aborda uma família que vive ao lado de um campo de concentração na Alemanha da Segunda Guerra Mundial; o japonês Monster de Hirokazu Koreeda que conta a estória de uma cidade que vive o caos após uma "banal" briga de escola; o estadunidense May December de Todd Haynes exibe um casal que revive o pesadelo do passado com a chegada de uma atriz; o finlandês Falen Leaves de Aki Kaurismaki que mostra um casal tentando se conectar em uma noite em Helsinque; o estadunidense Asteroid City de Wes Anderson que conta a estória de uma pequena cidade que sedia um evento e coisas estranhas acontecem.

Já fora da competição, o destaque absoluto foi para a exibição do estadunidense Killers of the Flower Moon em que o mestre Martin Scorsese foi muito aplaudido ao se arriscar no gênero do western. A obra fala dos assassinatos em uma área indígena no início do século XX.O filme saiu de Cannes direto para a lista dos favoritos ao Oscar 2024.

E o cinema brasileiro fez bonito com Flor do Buriti de João Salaviza e Renée Nader Messora sobre a resistência de uma tribo indígena aos constantes ataques sofridos nos últimos 80 anos levou o prêmio de melhor equipe da mostra 'Um Certo Olhar'. E Kleber Mendonça Filho exibiu o documentário fora de competição Retratos Fantasmas sobre os cinemas de rua de Recife que recebeu com boas críticas na riviera francesa.

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A lista dos vencedores do Festival de Cannes 2023:

Palma de Ouro: Anatomy of a Fall (França) de Justine Triet
Grande Prêmio do Júri: The Zone of Interest (Inglaterra) de Jonathan Glazer
Prêmio do Júri: Fallen Leaves (Finlândia) de Aki Kaurismaki 
Melhor Direção: Tran Anh Hung - La Passion de Dodin Bouffant (França)
Melhor Roteiro: Hirokazu Koreeda - Monster (Japão)
Melhor Atriz: Merve Dizdar - Anout By Grasses (Turquia)
Melhor Ator: Koji Yakusho - Perfect Days (Alemanha/Japão)
Câmera D´Or (melhor filme de estreia): Inside the Yellow Cocoon Shell (Vietnã) de Thien An Pham

sábado, maio 20, 2023

Destaques nos cinemas

GUARDIÕES DA GALAXIA VOL. 3
(Guardians of the Galaxy Vol. 3, EUA, 2023) de James Gunn
Aventura. Peter Quills e companhia se fixam em um novo lar e as suas novas aventuras poderá desestabilizar a desajustada equipe.



A PEQUENA SEREIA
(The Little Mermaid, EUA, 2023) de Rob Marshall
Fantasia. Ao se apaixonar por um príncipe, a sereia Ariel faz um pacto para ser tornar humana o que causará consequências inesperadas.

segunda-feira, maio 15, 2023

Lançamentos nos Streamings

APOCALYPSE NOW
(EUA, 2019) de Francis Ford Coppola
Mubi
Drama. No auge da Guerra do Vietnã, militar é convocado a encontrar um coronel que enlouqueceu.







BLUE VALENTINE
(EUA, 2010) de Derek Cianfrance
HBO Max
Drama. Com o casamento em ruinas, casal tenta uma nova chance ao recordar os momentos mais marcantes da relação.






HOLY MOTORS
(França, 2012) de Leos Carax
Mubi
Drama. Homem se faz passar por vários personagens em decorrer de um dia.





O INSULTO
(L´insulte, Líbano, 2017) de Ziad Doueiri
Mubi
Drama. Em virtude de um insulto incendeia a rixa entre um cristão e um mulçumano em Beirute.







LUA DE PAPEL
(Paper Moon, EUA, 1973) de Peter Bogdanovich
HBO Max
Comédia. As aventuras de uma jovem órfã e um vigarista que vivem de golpes no auge da crise econômica de 1929.





MELANCOLIA
(Melancholia, Dinamarca/Suécia, 2011) de Lars von Trier
Mubi
Drama. Uma festa de casamento acontece em um momento em que a Terra esáa em risco com a colisão com um outro planeta.






MEU PAI
(Father, Inglaterra/França, 2020) de Florian Zeller
Netflix
Drama. Idoso começa a questionar a sua vida ao perceber as constantes mudanças do seu dia a dia







MULHOLLAND DRIVE
(EUA, 2001) de David Lynch
Mubi
Suspense. Jovem atriz ajuda uma mulher a descobrir a sua identidade após perder a memória.





NOITES ALIENIGENAS
(Brasil, 2022) de Sérgio de Carvalho
Netflix
Drama. Três amigos se reencontram quando facções de São Paulo se instalam em Rio Branco.





PARASITA
(Gisaengchung, Coréia do Sul, 2019) de Joon-hoo Bong
HBO Max
Drama. Jovem pobre se aproxima de uma família rica com a intenção de subir de vida




QUANTO MAIS QUENTE MELHOR
(Some Like It Hot, EUA, 1959) de Billy Wilder
HBO Max
Comedia. Para fugir da máfia, dupla de músicos se fingem de mulher e de serem integrantes de uma banda feminina.





RETORNO A HOWARD' S END
(Howard´s End, Inglaterra, 1992) de James Ivory
Mubi
Drama. No início do século XX, duas irmãs que vivem de renda tem sua relação estremecida com o casamento de uma delas.

quarta-feira, maio 10, 2023

O Desprezo

(Le Mépris, França, 1963)
Direção: jean-luc godard
Elenco: Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Jack Palance, Fritz Lang.

Em meio a produção de uma adaptação cinematográfica do clássico Odisseia de Homero, o roteirista Paul contata constantemente com o produtor estadunidense e o diretor alemão do filme, mas o foco principal é o seu casamento com Camille. Esta é uma mulher voluptuosa e sensual que aos poucos vai se distanciando sentimentalmente de sue marido até sentir total desprezo com a sua presença.
Se no seu primeiro e icônico filme Acossado, o cineasta Godard entrou para a história do cinema com uma visão e técnica revolucionária e inovadora; em O Desprezo ele literalmente despreza tudo aquilo que ele criou em 1960, e faz um filme com um visual e conceito "convencional" com muitas aspas. A câmera na mão, a fotografia em preto e branco crua e real, a montagem inquieta de Acossado é substituída pela elegância dos movimentos de câmera e longos planos sequências em belos lugares do litoral da Itália. A fotografia colorida em que as cores fortes explodem na tela (até as estátuas históricas italianas tem cores) acrescentada pelo bonito design de produção. Destaque para a ótima trilha sonora composta por música clássica que dar um charme todo especial a obra e torna tudo mais belo e complacente (o que é o oposto da relação de Paul e Camille; um belo casal por fora mas total desconexo por dentro).
Se o seu visual é o seu ponto forte, achei o roteiro o seu calcanhar de Aquiles. Confesso que não curto filmes que abordam conflitos amorosos com a clássica DR chata e desnecessária (depende) em que o casal vive se agredindo, gritando e aqui o diretor cai nessa armadilha. Brigitte Bardot tem uma boa atuação mas realmente a sua beleza - e a exposição de seu corpo e nudez em muitas cenas - eclipsa a tela (e acho isso um resumo do que seja O Desprezo: uma ode ao belo). E como Gordad, aqui o diretor parece se aproxima mais  na fonte do mestre italiano Michelangelo Antonioni que estava estourando na época entre a critica e os cinéfilos. Mas diferente do mestre da incomunicabilidade que sabia traduzir a indiferença através das imagens, o enfant terrible do cinema francês chuta o balde e sempre coloca Bardot e Piccoli em estado de ebulição. Mas é a sua narrativa visual que chama mais a atenção.

sexta-feira, maio 05, 2023

Close

(Bélgica, 2022)
Direção: Lukas Dhont
Elenco: Eden Dambrine, Gustav De Waele, Emilie Dequenne, Léa Drucker.

Léo e Remi são dois grandes amigos (quase irmãos) na faixa dos 12 anos de idade. Após o término das férias de verão, eles retornam a rotina das aulas. Mas logo no primeiro dia letivo a semente da discórdia é lançada: os seus colegas questionam se os dois são um casal. Os dois negam mas Léo sente um tremendo desconforto a ponto de abalar a sua linda amizade com Remi.
O cineasta belga Lukas Dhont inicia a sua promissora carreira comentando temas que mescla relações humanas com sexualidade com bastante afinidade. Em seu primeiro filme, Girl, Dhont aborda a transexualidade de forma madura, sensível e real; e agora em Close a visão do diretor continua precisa e delicada ao falar da homofobia, masculinidade tóxica e até mesmo (de forma bastante sutil) da maldade humana.
No início de Close, Léo e Remi correm solto numa plantação de flores em uma representação máxima da liberdade até tudo ir por terra quando se deparam com os seres humanos. O cenário idílico e bucólico se contrasta com a confusão e o caótico ambiente escolar. Essa divergência é usada na linda fotografia e colorida de Frank van den Eeden que explora as quatro estações do ano com muita iluminação enfatizando o papel da natureza nas relações humanas e informar na narrativa a mudança do tempo. 
A dupla  Eden Dambrine e Gustav De Waele dão um show como os protagonistas mas é o primeiro que fica com o papel mais difícil e não vacila ao saber transmitir os sentimentos dúbios, a culpa, a dor da perda pelo olhar e pela postura.
O roteiro sensível e respeitoso de Dhont também chama atenção ao tocar em temas sensível e encontro eco de que a homofobia não ataca somente as minorias - mas é devastador para qualquer pessoa. E se o patriarcado dá as caras em países dito civilizados como a Bélgica, imagine em outras regiões como no Brasil que tem muito a evoluir. Close também é um retrato da culpa, da dor sob a ótica infantil e inocente - e reforça que que esse sentimento é universal e não escolhe vitima -seja de que idade for.

segunda-feira, maio 01, 2023

Beau Tem Medo

(Beau is Afread, EUA, 2023)
Direção: Ari Aster
Elenco: Joaquin Phoenix, Nathan Lane, Amy Ryan, Patti LuPone.

Beau é um homem solitário na casa dos quarenta anos de idade mas que demonstra instabilidade emocional agravada com a estranha relação com a sua própria mãe. Para piorar, Beau mora numa rua decadente (e em um prédio paupérrimo) em que o caos e a violência andam juntos piorando o estado mental do protagonista. Mas quando Beau recebe a notícia da morte da mãe, o seu mundo desaba e ele corre contra o tempo para o funeral o que é sempre interrompido ao cruzar com uma galeria de pessoas e situações terríveis.
Logo na abertura o filme mostra o nascimento de Beau com muita dor e sofrimento. Este é somente um aperitivo que está por vir ao destino do protagonista. Se o público achou Midsommar - O Mal Não Espera a Noite pesado e sufocante, o diretor Ari Aster dobra aposta com Beau Tem Medo e faz um filme perturbador sobre relações familiares disfuncionais (minha opinião). E de terror, Beau Tem Medo é um pesadelo, um drama psicológico com os dois pés no surreal. E definitivamente é um filme para quem tem saúde mental em dia pois pode soltar gatilhos emocionais.
Aqui, Ari Aster carrega a mão no surrealismo quase beirando o universo de Charlie Kaufman; e foi nessa intenção que o diretor perdeu o controle. Se o seu início apresenta o seu melhor momento, Aster inventa de esticar a corda a ponto de as três horas de duração se tornar arrastado, e as várias mudanças de tom só atrapalha que ajuda. É aquele filme que cada espectador elabora uma visão particular sobre o enredo - mas isso nem sempre é positivo. E o seu ponto alto do filme é a entrega absoluta de Joaquin Phoenix que dá vida a um homem torturado, perdido mas é a Patti LuPone que rouba a cena como a mãe do protagonista (numa atuação que justifica todos os traumas do protagonista). Destaque também para o criativo design de produção.
Beau Tem Medo é um sufocante e dolorido filme sobre angústia, caos - algo que o diretor sabe imprimir com primor - mas a longa duração se transformou num tiro do pé pois o enredo tem tantas camadas que o senso negativo se mistura com a desorientação; e confesso que tem momentos que senti vontade de desligar o cérebro e assistir no piloto automático. Aster fez aqui o seu Alice no Pais das Maravilhas, melhor Alice no Pais do Terror.