quarta-feira, maio 10, 2023

O Desprezo

(Le Mépris, França, 1963)
Direção: jean-luc godard
Elenco: Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Jack Palance, Fritz Lang.

Em meio a produção de uma adaptação cinematográfica do clássico Odisseia de Homero, o roteirista Paul contata constantemente com o produtor estadunidense e o diretor alemão do filme, mas o foco principal é o seu casamento com Camille. Esta é uma mulher voluptuosa e sensual que aos poucos vai se distanciando sentimentalmente de sue marido até sentir total desprezo com a sua presença.
Se no seu primeiro e icônico filme Acossado, o cineasta Godard entrou para a história do cinema com uma visão e técnica revolucionária e inovadora; em O Desprezo ele literalmente despreza tudo aquilo que ele criou em 1960, e faz um filme com um visual e conceito "convencional" com muitas aspas. A câmera na mão, a fotografia em preto e branco crua e real, a montagem inquieta de Acossado é substituída pela elegância dos movimentos de câmera e longos planos sequências em belos lugares do litoral da Itália. A fotografia colorida em que as cores fortes explodem na tela (até as estátuas históricas italianas tem cores) acrescentada pelo bonito design de produção. Destaque para a ótima trilha sonora composta por música clássica que dar um charme todo especial a obra e torna tudo mais belo e complacente (o que é o oposto da relação de Paul e Camille; um belo casal por fora mas total desconexo por dentro).
Se o seu visual é o seu ponto forte, achei o roteiro o seu calcanhar de Aquiles. Confesso que não curto filmes que abordam conflitos amorosos com a clássica DR chata e desnecessária (depende) em que o casal vive se agredindo, gritando e aqui o diretor cai nessa armadilha. Brigitte Bardot tem uma boa atuação mas realmente a sua beleza - e a exposição de seu corpo e nudez em muitas cenas - eclipsa a tela (e acho isso um resumo do que seja O Desprezo: uma ode ao belo). E como Gordad, aqui o diretor parece se aproxima mais  na fonte do mestre italiano Michelangelo Antonioni que estava estourando na época entre a critica e os cinéfilos. Mas diferente do mestre da incomunicabilidade que sabia traduzir a indiferença através das imagens, o enfant terrible do cinema francês chuta o balde e sempre coloca Bardot e Piccoli em estado de ebulição. Mas é a sua narrativa visual que chama mais a atenção.

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