quinta-feira, abril 25, 2024

Festival de Berlim 2024

 



Nos dias 15 a 25 de fevereiro aconteceu o primeiro grande festival do ano, o Festival de Berlim. Nesta edição o festival foi presidido pela atriz queniana Lupita Nyong´o. Os demais membros são: o cineasta americano Brady Corbett a cineasta de Hong Kong Ann Hui, a cineasta alemão Christian Petzold, o diretor espanhol Albert Serra, a atriz e cineasta italiana Jasmine Trinca, e a escritora ucraniana Oksana Zabuzhko. E este eclético júri cedeu o Urso de Ouro encontrou uma seleção morna de filmes na competição oficial e no fim entregou o prêmio máximo - mais uma vez - para um documentário francês. A obra de Mati Diop, Dahomey, levou o Urso de Ouro com ao relatar a França devolvendo tesouros históricos de Benin que foram saqueados no século 19. Outros destaques da mostra foram: o iraniano My Favorite Cake de Maryam Moghaddam, um drama de uma senhora viúva que descobre a verdade sobre o marido; o alemão The Devil´s Bath de Veronika Franz e Severin Fiala, um terror singular sobre um casal que perdeu a conexão; o alemão Langue Étrangère de Claire Burger que relata a paixão de uma jovem francesa por um alemão; o alemão In Liebe, Eure Hilde de Andreas Dresen sobre um grupo de resistência alemã contra o nazismo; e o grego Arcadia de Yorgos Zois que expõe um casal de médicos que viajam para o deserto. Já o Brasil fez bonito no festival como não se via nos últimos anos e saiu da Berlinare com prêmios como o caso de Cidade; Campo de Juliana Rojas que aborda o êxodo rural e urbana do Brasil atual - vencedor do prêmio de direção na mostra Encontros; Dormir de Olhos Abertos de Nele Wohlatz que mostra Recife sob o olhar de dois asiáticos - vencedor do prêmio FIPRESCI; e Betânia de Marcelo Botta que aborda a natureza idílica dos Lenções Maranhenses na rotina das pessoas.

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A lista dos vencedores do Festival de Berlim 2024:

Urso de Ouro de Melhor Filme: Dahomey (França) de Mati Diopi

Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri): A Traveler´s Needs (Coreia do Sul) de Hong Sang-soo

Urso de Prata de Melhor Diretor: Nelson Carlos de Los Santos Arias - Pepe (Republica Dominicana)

Urso de Prata de Melhor Interpretação: Sebastian Stan - A Diferrent Man (EUA)

Urso de Prata de Melhor Interpretação Coadjuvante: Emily Watson - Small Things Like These (Irlanda)

Urso de Prata de Melhor Roteiro: Sterben (Alemanha) de Matthias Glasner

Urso de Prata - Prêmio do Júri: The Empire (França) de Bruno Dumont

sábado, abril 20, 2024

Destaques nos cinemas

GUERRA CIVIL
(Civil War, EUA/Inglaterra, 2024) de Alex Garland
Ficção cientifica. Uma equipe de jornalistas cobrem uma nova guerra civil dos EUA.



RIVAIS
(Challengers, EUA, 2024) de Luca Guadagnino
Comédia. A relação de um tenista em ascensão e sua treinadora ganha um combustível inesperado com a aparição de um outro tenista.

segunda-feira, abril 15, 2024

Lançamentos nos streamings

A COMILANÇA
(La Grande Bouffe, França, 1973) de Marco Ferreri
Mubi
Drama. Quatro amigos se reúnem em uma mansão com um único propósito: comer até morrer.


CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ
(The Naked Gun: From The Files of Police Squad!, EUA, 1988) de Jim Abrahams, Jerry Zucker e David Zucker
Paramount+
Comédia. Policial abobalhado é encarregado de descobrir quem está tramando o assassinato da rainha da Inglaterra.

DIAS PERFEITOS
(Perfect Days, Japão, 2023) de Win Wenders
Mubi
Drama. Servente japonês surpreende a todos pela visão ativa e positiva sobre a vida.


GLÓRIA
(eua, 1980) de john cassavetes
Mubi
Policial. Um garoto e sua vizinha são caçados por mafiosos em Nova Iorque por saberem demais sobre a máfia.


KISS-ASS QUEBRANDO TUDO
(Kiss-Ass, Inglaterra/EUA, 2010) de Matthew Vaughn
Globoplay
Comédia. Estudante decide personificar um herói mascarado para lutar pela justiça - mas as coisas não saem como esperado.



OPPENHEIMER
(EUA, 2023) de Christopher Nolan
Amazon Prime
Drama. Biografia do polêmico físico Robert Oppenheimer, mais conhecido como o pai da bomba atômica.


O PACIENTE INGLÊS
(The English Patient, EUA/Inglaterra, 1996) de Anthony Minguella
Netflix
Drama. Na Segunda Guerra Mundial, enfermeira cuida e escuta as lembranças de um paciente inglês vítima de um grave acidente.




O PODEROSO CHEFÃO
(The Godfather, EUA, 1973) de Francis Ford Coppola
Netflix
Drama. Os dramas familiares e a vida perigosa da família de mafiosos, Corleone.



PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN
(We Need to Talk About Kevin, Inglaterra/EUA, 2011) de Lynne Ramsay
Mubi
Drama. Mãe reflete sobre a criação de seu filho após este cometer um atentado que matou várias pessoas numa escola.


SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO
(December May, EUA, 2023) de Todd Haynes
Amazon Prime
Drama. Para interpretar uma mulher real e polêmica, uma atriz ambiciosa entra em contato com a própria biógrafa gerando consequências inesperadas.

TODOS NÓS DESCONHECIDOS
(All of Us Strangers, Inglaterra/EUA, 2023 ) de Andrew Haigh
Star+
Drama. Solitário roteirista busca inspiração no seu doloroso passado enquanto se relaciona com um vizinho.

quarta-feira, abril 10, 2024

Todos Nós Desconhecidos

(All of Us Strangers, Inglaterra/EUA, 2023)
Direção: Andrew Haigh
Elenco: Andrew Scott, Paul Mescal, Claire Foy, Jamie Bell.

Adam é um roteirista a beira dos 40 anos de idade que vive em prédio novo e tecnológico ao redor de Londres. Lá, chama atenção do único inquilino, Harry. De início Harry tenta uma aproximação com o Adam que não é correspondido. Mas o que atrai a atenção do protagonista é o seu passado. Ao achar uma foto velha ele encontra a antiga casa de sua família e lá - como um passe de mágica - reencontra os pais que morreram quando ele tinha 12 anos. O encontro é marcado por alegrias e traumas do passado.
Todos Nós Desconhecidos é uma livre adaptação do romance de Taichi Yamada e aqui o diretor Andrew Haigh acertou no alvo. Aqui a melancolia se junta ao surreal na medida certa ao mostrar os passos de um ser que perdeu a conexão ao mundo (longe da cidade, longa das pessoas) mas que sente uma tremenda necessidade de se encaixar (ficar com o Harry). Aqui os sentimentos são dúbios e o diretor filma com um vigor impressionante.
Responsável pela série da HBO, Looking, Haigh aborda pessoas desconectas ao mundo; seres a procura do conforto perante a solidão. Por isso que a fotografia escura de Jamie Ramsay pode incomodar no início mas no decorrer da narrativa faz todo sentido ao expor um mundo tanto exterior como o próprio interior do protagonista (um ser fragilizado pela vida) que busca por uma redenção que parece nunca vir.
O filme apresenta uma ótima seleção de músicas que mostra o melhor do pop britânico dos anos de 1980 a 1990. Destaque para a ótima dupla Andrew Scott, Paul Mescal que apresenta uma ótima química - em especial Andrew Scott que dá um show ao expor todo o peso do personagem Adam na tela.
Aberto a interpretações, Todos Nós Desconhecidos é um drama doloroso que faz refletir como é difícil e nos encaixamos a sociedade (e a pressão que a sociedade impõe aos "excluídos"). E essa exigência abre dores, lacunas irreversíveis. E o final é de cortar o coração...ou não. Um filmaço sobre a falta de conexão e a busca desenfreada ao pertencimento. Andrew Haigh faz uma espécie de A Vida Invisível sob a ótica gay. Assim, Todos Nós Desconhecidos é um símbolo para a geração gay que viveu nos anos 1980 e 1990, e os personagens Adam e Harry refletem a terrível sensação de uma época em que a falta de visibilidade e o forte preconceito marcaram emocionalmente a comunidade gay.

sexta-feira, abril 05, 2024

Ficção Americana

(American Fiction, EUA, 2023)
Direção: Cord Jefferson
Elenco: Jeffrey Wright, Sterling K. Brown, Erika Alexander, Issa Rae.

Monk é um professor de literatura de gênio difícil e um escritor de uma carreira que ainda não decolou. Diante de uma rotina nada interessante, os seus dias de sossego (se é que ele tem um!) terminam em virtude de uma cadeia de acontecimentos. Após o luto da morte repentina de sua irmã, ele se vê como o único responsável pela sua mãe que sofre de mal de Alzheimer já que o irmão caçula não demonstra interesse em dar suporte. E na carreira, ele escreve um livro cheio de estereótipos sobre o negro que inesperadamente se torna um sucesso literário.
Com uma longa carreira de sucesso na televisão, o cineasta e roteirista Cord Jefferson estreia com o pé direito no cinema com o ótimo e corrosivo Ficção Americana, adaptação do livro de Percival Everett. Pela falta de experiência, Jefferson reproduz alguns cacoetes da televisão mas isso não diminui a força do seu corajoso argumento. Aqui ele joga na tela todo o racismo velado na sociedade e em especial no mundo das artes. O intelectual Monk expõe que uma parcela do mundo ainda trata e retrata a minoria com pena e compaixão (violência, pobreza, a visão do gueto) - ao invés de incentivar e publicar uma população pulsante e que não pertence ao estereótipo comum (mesmo que o racismo seja uma realidade). E o diretor sabe dosar isso com a exposição do protagonista em uma família desestruturada (algo humanamente comum) e que ainda vive a sombra de um pai que já morreu mas que parece mais vivo do que nunca.
Além do roteiro afiado e sem medo de tocar o dedo na ferida (com muito humor), a trilha sonora de Laura Karpman é uma delícia. Mas o seu ponto forte é o ótimo elenco. Jeffrey Wright dá um show no papel de um homem decepcionado pela carreira e completamente distante da família disfuncional. Sterling K. Brown rouba a cena como o irmão que busca a sua identidade tardiamente e joga na tela o sentimento de dubiedade quer existe na família. 
Ficção Americana é uma comédia dramática corrosiva sobre uma outra vertente do preconceito. Em que o preconceito escancarado é substituído por uma intolerância velada em que a sociedade acha que basta dar vozes a minorias e não buscar uma forma de igualar todos. o filme de Cord Jerffeson é uma inusitada combinação do humor de Billy Wilder e a provocação do Spike Lee.

segunda-feira, abril 01, 2024

Zona de Interesse

(The Zone of Interest, Inglaterra/EUA, 2023)
Direção: Jonathan Glazer
Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller, Lili Falk, Imogen Kogge.

Na Alemanha da Segunda Guerra Mundial, o comandante Rudolf Höss e sua esposa Hedwig apresentam a vida perfeita, moram em uma casa grande e o seu quintal verde cheio de plantas. Com uma rotina banal e frívola, a família Höss vive de forma plena, sem preocupações mas existe um detalhe importante e altamente mórbido. Ao lado da casa se encontra o local de trabalho de Rudolf, o terrível Campo de Concentração de Auschwitz.
Não é fácil sair do cinema após assistir ao filme Zona de Interesse. O desconforto misturado a desorientação me atingiu em cheio pois a obra parece se dividir em dois. Primeiro, uma parte visual que mescla a bela natureza em contraponto a casa do protagonista que soa como um lugar assombrado - uma redoma da rotina perfeita de uma família mas o comportamento antissemita é um show de humor mórbido e deprimente. Segundo, o som que escutamos - tanto para os personagens como o público - são os ecos tenebrosos do campo de concentração. O som horripilante casado com a trilha sonora de Mica Levi é um detalhe que não passa por despercebido. 
Zona de Interesse traduz com força a banalidade do mal; o de entender como uma boa parte da população como a alemã (uma sociedade "avançada") aceitou realizar massacres. Aqui, o casal de protagonistas se preocupa com o bem estar da família, com o futuro dos filhos; algo humano. No entanto, focando mais na vida do casal percebemos que ele é um comandante que só pensa na logística para aperfeiçoar a indústria da morte que virou os campos. Já a esposa, a coisa não é diferente. Ela só pensa na casa, como colocar as plantas para esconder o campo ao lado (esteticamente nada bonito); além de torturar os empregados (judeus escravos). Na medida que o horror ao lado se intensifica, a loucura de Rudolf e Hedwig cresce na mesma medida. O mal é uma energia que se auto alimenta. Por isso que o diretor Jonathan Glazer teve a liberdade de inserir um pouco de humanidade no meio do filme ao introduzir uma garota que esconde alimentos para os judeus - usando imagens em preto e branco em contraponto ao horror colorido da rotina dos protagonistas. Esse é o único ponto de respiro que o público sentirá em toda metragem do filme. Fora isso, Glazer realiza um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos ao usar o sensorial como elemento narrativo para sentimos a natureza fria e cruel da natureza humana. Já um dos melhores filmes do século - uma força cinematográfica como poucas.