quarta-feira, agosto 25, 2021

Festival de Gramado 2021

 


Nos dias 13 a 21 de agosto realizou-se o festival de cinema brasileiro mais badalado do país: o Festival de Gramado. E neste ano a pandemia atrapalhou mais uma vez a exibição e a premiação mas não impediu a sua realização com destaque na categoria nacional para três longas. Mais uma vez o cinema pernambucano leva o prêmio máximo com Carro Rei de Renata Pinheiro, uma ficção cientifica sobre um jovem que se comunica com os carros; do Paraná a ótima fase de Aly Muritiba com Jesus Kid, sobre um escritor em decadência que tem a chance de se redimir ao escrever um roteiro; e  de São Paulo O Novelo de Claudia Pinheiro que relata os conflitos de cinco irmãos com o surgimento do pai ausente.
Na seção dos filmes estrangeiros, o destaque foi para La Teoria De Los Vidrios Rotos (Argentina/Uruguai/Brasil) de Diego Fernández Pujol, um conto sobre um especialista em seguros que vive numa cidade cheia de mistérios; e Planta Permanente (Argentina/Uruguai) de Ezequiel Radusky sobre uma faxineira que ao ganhar um desafio no seu trabalho atrai a ira de uma colega.

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A lista dos vencedores do Festival de Gramado 2021:

LONGAS BRASILEIROS:

Melhor Longa-Metragem Brasileiro: Carro Rei de Renata Pinheiro
Melhor Filme em Longa-Metragem Brasileiro– Prêmio da Critica: A Primeira Morte de Joana de Cristiane Oliveira
Melhor Filme do Júri Popular – Prêmio Especial do Júri: O Novelo de Claudia Pinheiro
Prêmio Especial do Júri: Matheus Nachtergaele - Carro Rei
Melhor Direção:  Aly Muritiba - Jesus Kid
Melhor Ator: Nando Cunha - O Novelo
Melhor Atriz: Glória Pires - A Suspeita
Melhor Ator Coadjuvante: Leandro Daniel Colombo - Jesus Kid
Melhor Atriz Coadjuvante: Bianva Byington - Homem Onça
Desenho de Som: Guile Martins - Carro Rei
Melhor Trilha Musical: DJ Dolores - Carro Rei
Melhor Direção de Arte: Karen Araújo - Carro Rei
Melhor Montagem: Tula Anagnostopoulos - A Primeira Morte de Joana
Melhor Fotografia: Bruno Polidoro - A Primeira Morte de Joana
Melhor Roteiro: Aly Muritiba - Jesus Kid

LONGAS LATINOS:

Melhor Longa-Metragem Estrangeiro: La Teoria De Los Vidrios Rotos (Argentina/Uruguai/Brasil) de Diego Fernández Pujol

Prêmio Especial do Júri: Planta Permanente
 (Argentina/Uruguai) de Ezequiel Radusky

Melhor Filme do Júri Popular
La Teoria De Los Vidrios Rotos (Argentina/Uruguai/Brasil) de Diego Fernández Pujol

Melhor Filme Jurí Popular: 
Planta Permanente (Argentina/Uruguai) de Ezequiel Radusky

sexta-feira, agosto 20, 2021

Destaques nos cinemas

 A LENDA DE CANDYMAN
(Candyman, EUA, 2021) de Nia DaCosta
Terror. Casal que trabalha no ramo das artes se muda para um condomínio de luxo que esconde segredos sobrenaturais 




NUNCA MAIS NEVARÁ

(Masaysta, Polônia, 2020) de Malgorzata Szumowska e Michal Englert
Comédia dramática. A chegada de um massagista ucraniano carismático altera a rotina dos habitante poloneses de um condomínio 



KING KONG EM ASUNCIÓN

(Brasil, 2020) de Camilo Cavalcante
Drama. Em sua ultima missão, velho pistoleiro embarca numa viagem a América do Sul e reflete sobre sua vida.




PIEDADE
(Brasil, 2021) de Claudio Assis
Drama. A pequena cidade de Piedade tem a sua rotina alterada com a instalação de companhia de petróleo na região.



O ESQUADRÃO SUICIDA
(The Suicide Squad, EUA, 2021) de James Gunn
Ação. Uma instituição pública designa pessoas insanas e perigosas para realizar missões de alto risco.

domingo, agosto 15, 2021

Lançamentos nos Streamings

AQUELES QUE ME DESEJAM A MORTE

(Those Who Wish Me Dead, EUA, 2021) de Taylor Sheridan
HBO Max
Suspense. Bombeira traumatizada protege garoto que esta sendo perseguido por assassinos que mataram os seus pais.



BECKETT

(EUA, 2021) de Ferdinando Cito Filomarino
Netflix
Ação. Turista estadunidense na Grécia corre para a embaixada dos EUA em busca de proteção.



DRUK - MAIS UMA RODADA
(Dinamarca/Suécia/Holanda, 2020) de Thomas Vinterberg
Telecine Play
Drama. Quatro professores frustrados participam de uma estranha experiência: ingerem uma quantidade de álcool diariamente para melhorar a rotina.



DUAS RAINHAS

(Mary Queen of Scots, Inglaterra, 2018) de Josie Rourke
Netflix
Drama. O retorno de Mary Stuart a Escócia abala a monarquia da rainha Elizabeth gerando uma feroz luta pelo poder.



VIÚVA NEGRA

(Black Widow, EUA, 2021) de Cate Shortland
Disney+
Ação. A famosa integrante dos vingadores tenta se esconder do governo dos EUA enquanto lida com o seu tempestuoso passado.

terça-feira, agosto 10, 2021

Freaky - No Corpo de um Assassino

(EUA, 2020)
Direção: Christopher Landon
Elenco: Vince Vaugh, Kathryn Newton, Celeste O'Connor, Misha Osherovich

Ao serem perseguidos por um psicopata, o adolescente Joshua solta uma frase cinematográfica para a sua colega Nyla: "eu sou gay, você é negra...ferrou!". Metalinguagem à parte, o filme Freaky - No Corpo de um Assassino é mais uma assinatura do diretor Christopher Landon que vem se especializando na combinação inusitada do terror com a comédia. Se no seu filme anterior, A Morte Lhe Dá Parabéns, ele mesclava humor e horror com a protagonista revivendo sempre o mesmo dia (que é o dia da sua morte) como em Feitiço do Tempo e a série Boneca Russa; em Freaky a citação são as comédias da Disney, Seu Eu Fosse Minha Mãe e Sexta-Feira em Apuros (e porque não o brasileiro Seu Eu Fosse Você) mas aqui o sangue e a violência gráfica corre solta.
O filme inicia no dia 11, quarta-feira, em que dois casais de adolescentes estão sozinhos passando a noite na mansão de uma das adolescentes. E são abruptamente assassinados por um mascarado e que aproveita a ocasião para roubar uma adaga asteca.
No dia seguinte, somos apresentados a protagonista Millie. Esta é uma colegial as vésperas de entrar na universidade mas ainda guarda o luto por ter perdido o pai a um ano. Mesmo convivendo com uma família prestativa (mas que ainda processa a perda patriarcal) e amigos afetuosos (os citados Joshua e Nyla) a rotina colegial é "aborrescente": sofre bullying de uma patricinha, é rejeitada por um garoto popular, e ganha a antipatia do seu professor. Mas a escola vira do avesso com a notícia da morte dos quatro adolescentes. Millie, Joshua e Nyla atribuem a autoria a lenda viva do carniceiro de Blissfield.
Após uma atividade extracurricular como mascote do time de futebol, Millie aguarda a mãe lhe buscar mas esta a esqueceu (bebeu demais) e é perseguida pelo carniceiro. O vilão ataca Millie usando o antigo punhal mas é salva pela sua irmã que é policial.
Em uma sexta-feira 13, Millie acorda em sua casa mas esta não é a nossa protagonista e sim o carniceiro que apossou em seu corpo. A verdadeira Millie acorda em um local sujo, caindo aos pedaços e descobre que está no corpo do vilão.
Freaky é uma engraçada mistura de slasher com comédias sobre de troca de corpos que cita uma enxurrada de filmes como Pânico (a brincadeira metalinguística), Halloween (o monstro aterrorizando adolescentes), O Massacre da Serra Elétrica (a morte do professor). Outro êxito da produção é a ótima atuação da Kathryn Newton que é convincente na meiguice da Millie como na postura fria e agressiva do carniceiro. Mas é Vince Vaugh que assusta como vilão e está hilário na pele de uma adolescente energética e amedrontada e que sempre está no lugar errado, na hora errada, uma saudável brincadeira hitchcockiana. A boa montagem de Ben Baudhuin com ritmo frenético e o roteiro bem sacado do próprio diretor que no meio do fim brinca com os clichês mesmo que a conclusão seja previsível e force a barra em alguns momentos como a descoberta da maldição. Mesmo assim Landon aprofunda mais o seu estilo de terrir e não se deixa levar a sério (ótimo uso da canção clássica Whatever Will Be, Will Be (Que Sera Sera) na chegada do vilão a escola atraindo os olhares em virtude do ataque) apresentando uma mão boa para um filme pipoquinha perfeito para uma sessão de cinema sem compromisso (pena que foi lançado na pandemia inviabilizando a sua exibição nas salas de exibição).

quinta-feira, agosto 05, 2021

Tony Manero

(Chile, 2008)
Direção: Pablo Larraín
Elenco: Alfredo Castro, Amparo Noguera, Hector Morales, Paola Lattus.

Em uma sessão de cinema, Raul Peralta se emociona na cena do filme Os Embalos de Sábado à Noite em que Tony Manero interpretado por John Travolta se revolta pelos seus pais quererem controlar o seu destino. Essa cena aparentemente banal resume bem a natureza do filme (escapismo e autoritarismo) do sempre ótimo Pablo Larraín. E aqui ele bebe da fonte do Lars von Trier captando o pior da natureza humana.
Na Santiago do Chile de 1978 sob a mão de ferro da ditadura de Pinochet entrou na onda a febre das discotecas graças ao sucesso midiático do filme de John Badham. E essa moda pega em cheio o protagonista, um homem já na casa dos 50 anos que de tanto assistir o filme se autodenomina Tony Manero. Participa de programas de televisão, dança em uma casa de show clandestina e miserável. Mas aqui tem um homem que esconde uma psicopatia que aparece em momentos inesperados (matar uma senhora para roubar um televisor; assassinar os funcionários de um cinema por causa da saída de cartaz do seu amado filme).
Com uma atuação arrebatadora de Alfredo Castro, o ator chileno dá vida a um sujeito calado, frio, observador mas com um olhar distante que se transmuta em maldade por segundos. E o desequilíbrio de Raul é calculadamente exposto pelo Larrain e o fotografo Sergio Armstrong. Através de uma paleta escura e crua calcada no realismo, a dupla também enfatiza o lado psicológico do personagem. Nas cenas realizadas nas ruas de Santiago, Raul e a câmera sempre estão em movimento - correndo, tenso, nervoso, acuado. Já nos ambientes internos, a câmera na mão sempre se mostra próxima do protagonista; quando se distancia a imagem fica borrada, desfocada. Outro acerto da produção foi a ausência de trilha sonora o que torna a obra seca e sem sentimentos.
Tony Manero retrata a loucura autoritária institucional que impulsiona a maldade dos civis (não é mera coincidência que vejo essa realidade no Brasil de 2021). Larrain faz um tenso e perturbador estudo de personagem de um homem envolvido pelo mal que perdeu a noção da realidade e identidade, e ao mesmo tempo demonstra a arte como elemento alienante, uma fuga de uma realidade opressora e violenta.

domingo, agosto 01, 2021

O Discreto Charme da Burguesia

(Le Charme Discret de la Bourgeoisie, França, 1972)
Direção: Luis Buñuel
Elenco: Fernando Rey, Jean-Pierre Cassel, Stéphane Audran, Delphine Seyrig.

Um grupo de amigos da alta burguesia liderados pelo embaixador de um país da América Latina, Rafael Acosta,  vão a uma casa de um casal de conhecidos para uma confraternização. Mas os convidados erram a data do evento - o encontro aconteceria no o dia seguinte. Em virtude do mal entendido, os convidados decidem ir embora para jantar em um restaurante e chamam a anfitriã que aceita. No restaurante, os amigos são tratados de forma seca e estes começam a desconfiar do estabelecimento em virtude do preço e da total falta de clientes...até descobrirem que está acontecendo um funeral no local. E os caros amigos saem do restaurante totalmente desconfortáveis com a situação. A narrativa dá um salto para a sala do embaixador Acosta que aceita um novo encontro com os amigos mas sem antes atirar com um rifle vários brinquedos que estão na calçada da embaixada com a intenção de assustar a vendedora (ou uma comunista).
É nessa atmosfera de descontração e desconforto que o mestre surrealista Luis Buñuel faz um painel perturbador da burguesia que é interpretado como o antigo provérbio maria vai com as outras. Um grupo social que vive regado a muito martíni no conforto da realidade mas que adormece envolta de pesadelos que incluem prisão, humilhação e até fuzilamento. Aqui ninguém tem escapatória: são burgueses ironizando a falta de classe dos pobres; é o bispo que deseja ser jardineiro após a reforma institucional da Igreja Católica; militares que perdem a razão - particularmente um soldado que vê e sonha com gente morta (se o filme fosse atual juraria que é uma piada com O Sexto Sentido).
O Discreto Charme da Burguesia é um filme extremamente frio e lento, o que afugentaria o público atual. Aqui os fatos acontecem e mudam de direção desafiando a plateia sobre os acontecimentos inesperados. Sem dúvida o estilo anárquico de Buñuel recorda o senso criativo do cinema da Coréia do Sul. Mas se o mestre espanhol sempre alfineta temas recorrentes como estado, igreja, sociedade com o pulso de um cirurgião metódico e calculista; os coreanos usam o inesperado e a mistura surreal de gêneros com uma pegada ágil para criticar tudo o que vem pela frente...das relações humanas até a cultura pop.
Assistindo O Discreto Charme da Burguesia lembra o clássico coreano Parasita, mas a linguagem lenta, fria e hermética do espanhol vai na contramão do ritmo frenético da obra de Bong Joon-ho. Mas são formas de expressão diferentes que tem objetivo único de surpreender o público com um senso de humor sofisticado e culto sobre a hipocrisia da sociedade que infelizmente é universal aos nossos olhos.