domingo, agosto 01, 2021

O Discreto Charme da Burguesia

(Le Charme Discret de la Bourgeoisie, França, 1972)
Direção: Luis Buñuel
Elenco: Fernando Rey, Jean-Pierre Cassel, Stéphane Audran, Delphine Seyrig.

Um grupo de amigos da alta burguesia liderados pelo embaixador de um país da América Latina, Rafael Acosta,  vão a uma casa de um casal de conhecidos para uma confraternização. Mas os convidados erram a data do evento - o encontro aconteceria no o dia seguinte. Em virtude do mal entendido, os convidados decidem ir embora para jantar em um restaurante e chamam a anfitriã que aceita. No restaurante, os amigos são tratados de forma seca e estes começam a desconfiar do estabelecimento em virtude do preço e da total falta de clientes...até descobrirem que está acontecendo um funeral no local. E os caros amigos saem do restaurante totalmente desconfortáveis com a situação. A narrativa dá um salto para a sala do embaixador Acosta que aceita um novo encontro com os amigos mas sem antes atirar com um rifle vários brinquedos que estão na calçada da embaixada com a intenção de assustar a vendedora (ou uma comunista).
É nessa atmosfera de descontração e desconforto que o mestre surrealista Luis Buñuel faz um painel perturbador da burguesia que é interpretado como o antigo provérbio maria vai com as outras. Um grupo social que vive regado a muito martíni no conforto da realidade mas que adormece envolta de pesadelos que incluem prisão, humilhação e até fuzilamento. Aqui ninguém tem escapatória: são burgueses ironizando a falta de classe dos pobres; é o bispo que deseja ser jardineiro após a reforma institucional da Igreja Católica; militares que perdem a razão - particularmente um soldado que vê e sonha com gente morta (se o filme fosse atual juraria que é uma piada com O Sexto Sentido).
O Discreto Charme da Burguesia é um filme extremamente frio e lento, o que afugentaria o público atual. Aqui os fatos acontecem e mudam de direção desafiando a plateia sobre os acontecimentos inesperados. Sem dúvida o estilo anárquico de Buñuel recorda o senso criativo do cinema da Coréia do Sul. Mas se o mestre espanhol sempre alfineta temas recorrentes como estado, igreja, sociedade com o pulso de um cirurgião metódico e calculista; os coreanos usam o inesperado e a mistura surreal de gêneros com uma pegada ágil para criticar tudo o que vem pela frente...das relações humanas até a cultura pop.
Assistindo O Discreto Charme da Burguesia lembra o clássico coreano Parasita, mas a linguagem lenta, fria e hermética do espanhol vai na contramão do ritmo frenético da obra de Bong Joon-ho. Mas são formas de expressão diferentes que tem objetivo único de surpreender o público com um senso de humor sofisticado e culto sobre a hipocrisia da sociedade que infelizmente é universal aos nossos olhos.

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