segunda-feira, maio 30, 2022

Festival de Cannes 2022

 


Nos dias 17 a 28 de maio - como nas edições anteriores - iniciou o festival mais importante do mundo (além de charmoso), o Festival de Cannes. Presidido pelo ator francês Vincent Lindon a competição oficial pela Palma de Ouro foi acirrada com bons filmes mas não apresentou nenhuma obra-prima o que fez com que o júri desse mais atenção aos filmes mais provocativos. E nessa linha de raciocínio, o sueco Ruben Östlund levou a cobiçada Palma de Ouro após levar o mesmo prêmio cinco anos atrás pela incômoda comédia (e o filme mais aplaudido do festival) Triangle of Sadness em que conta a estória de uma viagem de navio em que a tripulação é composta por magnatas hipócritas. Outros destaques da competição foram: o canadense Crimes of the Future de David Cronenberg, um perturbador conto futurista sobre uma sociedade que se adaptou as mudanças no DNA humano; o belga Tori and Lokita dos Irmãos Dardenne conta a estória de dois jovens africanos que buscam por melhores condições de vida em uma Europa cada vez mais desumana; o estadunidense Armageddon Time de James Gray que aborda uma família em busca de melhores condições na Nova Iorque da era Ronald Reagan; o sul-coreano Broker de Hirokazu Kore-eda que comenta um peculiar sistema alternativo de adoção de crianças na Coréia do Sul; e o romeno R.M.N. de Cristian Mungiu sobre um romeno que retorna a Transilvânia após viver anos na Alemanha.

Já fora da competição, a Austrália fez a festa com os seus legítimos representantes. Elvis de Baz Luhurmann, biografia do rei do rock aplaudida e aclamada; e Three Thousand Years of Longing de George Miller, adaptação do conto de A. S. Byatt em que no hotel de Istambul, uma mulher libera um gênio que está dentro de uma lâmpada e as consequências inesperadas deste ato.

E tocando o assunto cinema brasileiro, infelizmente o Brasil não encaminhou nenhuma obra explicitando o desaparelhamento da nossa cultura no governo Bolsonaro. Pelo menos o festival exibiu em formato remasterizado e em 4K um das nossas maiores obras Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) de Glauber Rocha.

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A lista dos vencedores do Festival de Cannes 2022:

Palma de Ouro: Triangle of Sadness (Suécia) de Ruben Östlund
Grande Prêmio do Júri: Stars at Noon (França) de Claire Denis; e Close (Bélgica) de Lukas Dhont
Prêmio do Júri: Le Otto Montagne (Bélgica/Itália) de Charlotte Vandermeersch e Felix van Groeningen; e EO (Polônia) de Jerzy Skolimowski
Melhor Direção: Park Chan-Wook - Decision to Leave (Coréia do Sul)
Melhor Roteiro: Tarik Saleh - Boy From Heaven (Egito)
Melhor Atriz: Zar Amir Ebrhimi - Holy Spider (Irâ)
Melhor Ator: Song Kang Ho - Broker (Coréia do Sul)
Câmera D´Or (melhor filme de estreia): War Pony (EUA) de Gina Gammel e Riley Keough
Premio Especial de 75 anos de Cannes: Tori et Lokita (Bélgica) de Luc e Jean-Pierre Dardenne

sexta-feira, maio 20, 2022

Destaques nos cinemas

DOUTOR ESTRANHO NO MULTIVERSO DA LOUCURA
(Doctor Strange in the Multiverse of Madness, EUA, 2022) de Sam Raimi
Aventura. Com a abertura do multiverso, Doutor Estranho e aliados precisam travar uma batalha a um perigoso vilão usando várias realidades paralelas.

TOP GUN: MAVERICK
(EUA, 2022) de Joseph Kosinski
Aventura. Após trinta anos de serviço como piloto de caça da marinha, Maverick se torna responsável em ensinar aos novos recrutas a sua habilidade na aviação.

domingo, maio 15, 2022

Lançamentos nos Streamings

BINGO: O REI DAS MANHÃS
(Brasil, 2017) de Daniel Rezende
HBO Max
Drama. Proibido de revelar sua identidade ao apresentar um programa infantil de enorme sucesso, artista se frusta por ser obrigado a se manter no anonimato.


A ÉPOCA DA INOCÊNCIA
(The Age of Innocence, EUA, 1993) de Martin Scorsese
HBO Max
Drama. Na conservadora Nova Iorque do fim do século 19, aristocrata recém casado ver o seu coração balançar com a aproximação da prima de sua esposa.



ERA UMA VEZ NA AMÉRICA
(Once Upon a Time in America, EUA/Itália, 1984) de Sergio Leone
Star+
Drama. Através de David "Noodles", acompanhamos a vida de um grupo de garotos ítalo americanos que viram gangsters na Nova Iorque violenta e amoral no decorrer do século 20.

O FAROL
(The Lighthouse, EUA, 2019) de Robert Eggs
Netflix
Terror. Jovem aceita trabalhar em um farol solitário em uma região remota e se depara com um colega misterioso e os segredos do local.



O HOMEM DUPLO
(A Scanner Darkly, EUA, 2006) de Richard Linklater
HBO Max
Ficção científica. No futuro, o policial Bob Arctor testemunha o governo dos EUA intensificar a guerra contra as drogas usando métodos questionáveis.

JFK: A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR
(EUA, 1991) de Oliver Stone
Star+
Drama. Após o assassinato do presidente Kennedy, promotor investiga o caso e descobre relatos e ações de pessoas perigosas e importantes.




LA LA LAND: CANTANDO ESTAÇÕES
(EUA, 2016) de Damien Chazelle
Star+
Musical. Um músico e uma atriz namoram e buscam o sucesso profissional em uma Los Angeles dos sonhos. 




LOS ANGELES - CIDADE PROIBIDA
(L. A. Confidential, EUA, 1997) de Curtis Hanson
Star+
Policial. Na Los Angeles da década de 1950, três policias se juntam para combater a corrupção local que é alimentada pela elite.




PARA MINHA AMADA MORTA
(Brasil, 2015) de Aly Muritiba
Netflix
Suspense. Fotógrafo viúvo descobre gravações de sua esposa que revelam um lado de sua amada que ele desconhecia. 




O PODEROSO CHEFÃO
(The Godfather, EUA, 1972) de Francis Ford Copolla
Amazon Prime
Drama. Chefe do crime organizado, Don Corleone, é vitima de uma emboscada e o seu filho caçula, Michael, busca vingança.




O PODEROSO CHEFÃO - PARTE II
(The Godfather - Part II, EUA, 1974) de Francis Ford Copolla
Amazon Prime
Drama. A ascensão e queda da família Corleone ao contar a estória de Don Corleone e Michael o substituindo após a sua morte.



O PODEROSO CHEFÃO DE MARIO PUZO - O DESFECHO - A MORTE DE MICHAEL CORLEONE
(Mario Puzo´s The Godfather, CODA: The Death of Michael Corleno, EUA, 2020) de Francis Ford Copolla
Amazon Prime
Drama. Nova montagem do filme de 1990 que reconta o trágico e decadente fim do mítico chefão da máfia Michael Corleone.

terça-feira, maio 10, 2022

Downton Abbey II: Uma Nova Era

(Downton Abbey: A New Era, Inglaterra, 2022)
Direção: Simon Curtis
Elenco: Maggie Smith, Hugh Bonneville, Jim Carter, Dominic West.

Em 1928, dois acontecimentos tiram o sossego do lar dos Crawley. Primeiro, a família recebe com desconfiança a notícia de que a matriarca, Violet Crawley, herdou de graça a muito tempo uma vila na charmosa Riviera Francesa. Segundo, a família aceita - a contragosto inicialmente - a proposta de um produtor de cinema em emprestar a mansão como cenário e locação de um filme.
Fenômeno da televisão na década passada, Downton Abbey é na verdade uma espécie de releitura do último grande filme do mestre Robert Altman, O Assassinato em Gosford Park (2001). Para ser mais exato, o roteirista de Gosford Park, Julian Fellowes, é o criador da série mas que aqui deixou de lado o suspense à lá Agatha Christie e focou nas mudanças políticas e sociais na Europa do início do século XX, particularmente na relação entre patrão e empregado. No entanto, esta nova investida cinematográfica perdeu graça pois transformou os personagens trabalhadores em mero fantoche, e o drama do patrão em uma bobagem. A produção continua impecável com um design de produção e figurino de encher os olhos. O elenco está bem como de costume mas aqui abriram terreno para Maggie Smith brilhar já que a sua língua continua afiada associada a um fato do passado que expõe a sua vulnerabilidade. O que chama a atenção é que a produção deixou de lado o contexto político e social do fim dos anos 1920 e relata a transição do cinema mudo para o cinema falado. O tema cinema pode ser interessante mas o filme perdeu o caminho ao anular um dos seus principais pilares: o drama da classe trabalhadora e os seus dilemas antes da crise econômica de 1929 e consequentemente o início dos primeiros sinais da Segunda Guerra Mundial. No fim da sessão matou a saudade para quem curtia a série (como foi o meu caso) mas depois a obra caiu no esquecimento pois focou em uma mixagem de tramas bobas ao invés de retratar um momento importante da história do século XX.

quinta-feira, maio 05, 2022

Medida Provisória

(Brasil, 2022)
Direção: Lázaro Ramos
Elenco: Alfred Enoch, Taís Araújo, Seu Jorge, Adriana Esteves.

Após a abolição da escravatura em 1888 e o fim da monarquia, a Nova República tinha uma preocupação: se os escravos libertos entrassem na justiça solicitando reparo pelos anos de maus tratos? E olhando o passado, o ator Lázaro Ramos estreia na direção lançando este questionamento e trilhando mais na provocação sobre um tema em que o Brasil atual se aproxima de seu triste passado em que negros continuam menosprezados e brancos indiferentes. Como diria o poeta Cazuza: "vivemos em um museu de grande novidade. O tempo não para."
No Brasil em um futuro não tão distante, os negros ou os que tem melanina acentuada são mais incisivos em relação aos seus direitos. Como resposta,  a elite ou os brancos incomodados publicam uma medida provisória das mais absurdas: o de devolver os negros brasileiros para o continente africano. E nesse cenário surreal encontramos o advogado Antônio, a sua esposa médica Capitu, e o seu cunhado o jornalista André que resistem ao ato do governo.
Caminhando a mesma trilha do seu colega na direção, Wagner Moura, que lançou o político Mariguella, o ator Ramos faz um filme comercial, de fácil assimilação mas que incomoda bastante pois vivemos um momento histórico em que o racismo no Brasil - e talvez no mundo inteiro - escancarou de vez. E Medida Provisória tem sua importância ao provocar, dialogar com um mundo em que o anormal virou o novo normal. E o diretor demonstra habilidade na condução da narrativa mas confesso que fiquei perdido em algumas cenas em virtude do exagero de cortes como na cena em que Capitu dança ao som de Elza Soares. E também senti um incômodo na segmentação entre o protagonista (Antônio) e a antagonista (Isabel interpretada pela Adriana Esteves) que deixa um ar de novela com a definição de um mocinho e vila na trama. Mas o elenco dá conta do recado com destaque para um carismático Seu Jorge, mostrando desenvoltura com o senso de humor. De forma bastante comercial (padrão Globo Filmes), Ramos faz um filme que cutuca uma ferida exposta para a grande massa...mas que nas mãos de um cineasta mais corajoso e ousado a porrada seria maior, o impacto seria mais contundente. Mas isso não tira o mérito da obra do diretor, e espero que a sua veia provocativa ganhe impulso para os seus próximos projetos para uma reflexão necessária a um tema em que a humanidade teima em não virar a página.

domingo, maio 01, 2022

A Lenda de Candyman

(Candyman, EUA, 2021)
Direção: Nia DaCosta
Elenco: Yahya Abdul-Mateen II, Teyonah Parris, Colman Domingo, Tony Todd.

Pressionado para expor novos trabalhos em uma galeria, um artista plástico com bloqueio criativo finalmente encontra uma inspiração para a sua arte: a lenda urbana de um homem chamado Candyman que mata quem evoca o seu nome cinco vezes em frente ao espelho. E o terrível passado da lenda atormenta a vida de Anthony a ponto de estabelecer um macabro rastro de morte em quem ousa se interessar pelo sinistro mito urbano.
Releitura do cultuado filme de terror da década de 1990, O Mistério de Candyman, é perfeito para a proposta de um dos queridinhos do gênero horror da atualidade, Jordan Peele, que aqui produz e roteiriza: o terror social. O cargo de direção ficou com a Nia DaCosta (em seu segundo trabalho). E diferente da protagonista branca de 1992 que estuda a lenda urbana; na nova versão apresenta um artista plástico que enfrenta o mundo competitivo e esnobe das galerias de arte...critica que recorda o ótimo The Square: A Arte da Discórdia. Mas o seu foco espelha nos traumas gerados na relação racial nos EUA, e como isso é passado de geração a geração. A horripilante morte (aqui representado por uma criativa animação) de Daniel Robitaille/Candyman simboliza a crueldade dos assassinatos de negros que ainda assombra gerações...não é pra menos que aqui são os brancos que brincam com a lenda urbana; diferente dos personagens negros que veem no sobrenatural algo "familiar". E na invocação do terror, a diretora foi feliz ao criar o clima de mistério usando os cenários urbanos sem ser clichê mas com bastante sangue. A arquitetura de Chicago com os seus arranha-céus modernos e hi-tech escondem conjuntos residenciais decadentes e cheios de mistério. Assim, a diretora segue fiel a cartilha do produtor em explorar o terror sempre focando nas questões raciais/sociais, um tema que gera desconforto e isso é algo que incomoda mais do que uma mansão meramente assombrada.