quinta-feira, maio 05, 2022

Medida Provisória

(Brasil, 2022)
Direção: Lázaro Ramos
Elenco: Alfred Enoch, Taís Araújo, Seu Jorge, Adriana Esteves.

Após a abolição da escravatura em 1888 e o fim da monarquia, a Nova República tinha uma preocupação: se os escravos libertos entrassem na justiça solicitando reparo pelos anos de maus tratos? E olhando o passado, o ator Lázaro Ramos estreia na direção lançando este questionamento e trilhando mais na provocação sobre um tema em que o Brasil atual se aproxima de seu triste passado em que negros continuam menosprezados e brancos indiferentes. Como diria o poeta Cazuza: "vivemos em um museu de grande novidade. O tempo não para."
No Brasil em um futuro não tão distante, os negros ou os que tem melanina acentuada são mais incisivos em relação aos seus direitos. Como resposta,  a elite ou os brancos incomodados publicam uma medida provisória das mais absurdas: o de devolver os negros brasileiros para o continente africano. E nesse cenário surreal encontramos o advogado Antônio, a sua esposa médica Capitu, e o seu cunhado o jornalista André que resistem ao ato do governo.
Caminhando a mesma trilha do seu colega na direção, Wagner Moura, que lançou o político Mariguella, o ator Ramos faz um filme comercial, de fácil assimilação mas que incomoda bastante pois vivemos um momento histórico em que o racismo no Brasil - e talvez no mundo inteiro - escancarou de vez. E Medida Provisória tem sua importância ao provocar, dialogar com um mundo em que o anormal virou o novo normal. E o diretor demonstra habilidade na condução da narrativa mas confesso que fiquei perdido em algumas cenas em virtude do exagero de cortes como na cena em que Capitu dança ao som de Elza Soares. E também senti um incômodo na segmentação entre o protagonista (Antônio) e a antagonista (Isabel interpretada pela Adriana Esteves) que deixa um ar de novela com a definição de um mocinho e vila na trama. Mas o elenco dá conta do recado com destaque para um carismático Seu Jorge, mostrando desenvoltura com o senso de humor. De forma bastante comercial (padrão Globo Filmes), Ramos faz um filme que cutuca uma ferida exposta para a grande massa...mas que nas mãos de um cineasta mais corajoso e ousado a porrada seria maior, o impacto seria mais contundente. Mas isso não tira o mérito da obra do diretor, e espero que a sua veia provocativa ganhe impulso para os seus próximos projetos para uma reflexão necessária a um tema em que a humanidade teima em não virar a página.

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