quinta-feira, novembro 25, 2021

Mostra de Cinema de São Paulo 2021

 


Nos dias xx de outubro a 03 de novembro realizou (de forma híbrida, sessões online e presenciais) a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2021. O júri composto por Beatriz Seigner, Carla Caffe e Joel Zito Araújo premiaram Clara Sola da sueca Nathalie Álvarez Mesén. O público aprovou o brasileiro Urubus de Claudio Borrelli e Onoda - 10 Mil Noites na Selva do francês Arthur Harari. Mas o grande chamariz da Mostra foram os destaques nos principais festivais. De Cannes vem a sensação Titane da francesa Julia Ducournau; o elogiado A Crônica Francesa do americano Wes Anderson; e o super comentado Um Herói do iraniano Asghar Farhadi. Do Festival de Veneza chega o terror particular Noite Passada em Soho do britânico Edgar Wright; e o representante do Brasil no Oscar 2022, Deserto Particular de Aly Muritiba.


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A lista dos vencedores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2021:


Prêmio do Júri - Melhor Filme: Clara Sola (Suécia, Costa Rica e Bélgica) de Nathalie Álvarez Mesén

Prêmio do Público - Melhor Filme Internacional: Onoda - 10 Mil Noites na Selva (França, Japão, Alemanha, Bélgica, Itália e Camboja) de Arthur Harari

Prêmio do Público - Melhor Documentário Internacional: Summer of Soul (...ou, Quando a Revolução Não pôde Ser Televisionada  (EUA) de Ahmir Questlove

Prêmio do Público - Melhor Filme Brasileiro: Urubus de Cláudio Borrelli 

Prêmio do Público - Melhor Documentário Brasileiro: O Melhor Lugar do Mundo É Agora de Caco Ciocler

Prêmio da Crítica - Melhor Filme Internacional: O Compromisso de Hasan (Turquia) de Semih Kaplanoglu

Prêmio da Crítica - Melhor Filme Brasileiro: Urubus de Cláudio Borrelli

sábado, novembro 20, 2021

Destaques nos Cinemas

MARIGUELLA

(Brasil, 2019) de Wagner Moura
Drama. História do deputado Carlos Mariguella que se opôs a ditadura militar brasileira ao se transformar em um guerrilheiro.




NOITE PASSADA EM SOHO

(Last Night in Soho, Inglaterra, 2021) de Edgar Wright
Terror. Estudante de moda se fascina tanto com a Londres da década de 1960 que consegue voltar ao tempo...mas com consequências sombrias.

A CRÕNICA FRANCESA

(The French Dispatch, EUA, 2021) de Wes Anderson
Comedia dramática. Na França do século XX, um jornal americano chamado A Crônica Francesa relata estórias singulares da região.




CASA GUCCI

(House of Gucci, EUA, 2021) de Ridley Scott
Drama. Biografia de uma importante família italiana que se destacou no mundo da moda e das páginas policiais.





DESERTO PARTICULAR

(Brasil, 2021) de Aly Muritiba
Drama. Um policial com a carreira em risco em Curitiba joga tudo para o alto ao se enveredar pelo sertão baiano para encontrar uma pessoa que conheceu virtualmente.



MEDIDA PROVISÓRIA
(Brasil, 2021) de Lázaro Ramos
Drama. No Brasil do futuro, dois homens se escondem das autoridades após o governo federal criar uma medida obrigando todos os negros brasileiros a retornarem a África.

segunda-feira, novembro 15, 2021

Lançamentos nos Streamings

ANTES DO PÔR DO SOL
(Before Sunset, EUA, 2004) de Richard Linklater
HBO Max
Drama. Após um breve e inesquecível encontro 09 anos atrás, Celine e Jesse se reencontram novamente em Paris 




OS BONS COMPANHEIROS
(Goodfellas, EUA, 1990) de Martin Scorsese
HBO Max
Drama. Biografia do mafioso Henry Hill, um americano ítalo-irlandês que encontrou a glória e a decadência no mundo da máfia de Nova Iorque.


DOUTOR SONO
(Doctor Sleep, EUA, 2019) de Mike Flanagan
Telecine Play
Terror. Após sobreviver a traumática infância, Dan Torrance se envolve em uma aventura sobrenatural envolvendo uma garota que tem os mesmos poderes que o dele.


DUNA
(Dune, EUA, 2021) de Denis Villeneuve
HBO Max 
Ficção cientifica. No futuro distante, uma guerra intergaláctica inicia quando vários povos lutam pelo controle de um planeta rico de uma substancia vital nas viagens espaciais.




O FAROL
(The Lighthouse, EUA, 2019) de Robert Eggs
Amazon Prime
Terror. Jovem de passado misterioso chega em uma ilha para trabalhar em um insólito farol e entra em choque com o funcionário local.



IDENTIDADE
(Passing, EUA, 2021) de Rebecca Hall
Netflix
Drama. O encontro de duas mulheres negras que apresentam um comportamento distinto a respeito do preconceito racial em plena década de 1920 nos EUA.


QUE HORAS ELA VOLTA?
(Brasil, 2015) de Anna Muylaert
Netflix
Drama. Jovem decide morar com a mãe, uma empregada doméstica, o que desestabiliza a rotina da casa da patroa.




SHANG-CHI E A LENDA DOS DEZ ANÉIS
(Shang-Chi and The Legend of the Ten Rings, EUA, 2021) de Destin Daniel Cretton
Disney Plus 
Aventura. Um lutador de artes-marciais é assombrado pelo passado quando encontra uma organização chamada de Dez Anéis.

TICK, TICK...BOOM

(EUA, 2021) de Lin-Manoel Miranda
Netflix
Musical. Jovem tem o desejo de se tonar um grande compositor mas a difícil realidade torna esse sonho distante.



VINGANÇA & CASTIGO

(The Harder They Fall, EUA, 2021) de Jeymes Samuel
Netflix
Faroeste. A saída de um criminoso da cadeia faz com que um bandido e sua trupe o cace em busca de vingança. 

quarta-feira, novembro 10, 2021

First Cow - A Primeira Vaca da América

(EUA, 2019)
Direção: Kelly Reichardt
Elenco: John Magaro, Orion Lee, Toby Jones, Scott Sherpherd

Nos dias atuais, um cachorro fareja algo estranho na beira de um rio e a sua dona descobre a ossada de duas pessoas. A estória dá uma salto no tempo e volta para o século 19 expondo um jovem cozinheiro, Cookie Figowitz, desbravando a costa oeste dos EUA. E no caminho ele se depara com o chinês King-Lu. Do inusitado encontro nasce uma amizade mas King-Lu se entusiasma com o talento de Cookie para a realização de doces. E esse empreendimento ganha força com a chegada da primeira vaca na região.
O filme da estadunidense Kelly Reichardt é uma clara demonstração que menos é mais. Com uma produção pequena ela faz um filme grande e ambicioso. Aqui ela realiza um pequeno raio x do processo de expansão dos EUA. Um tema que poderia muito bem descambar para o faroeste. Mas se neste gênero o conflito surge na luta de um protagonista e antagonista; em First Cow o conflito existe mas é com outro intuito: sobreviver a um ambiente hostil, degradante. A diretora foca no contexto histórico do inicio da criação dos EUA com a chegada do homem branco; a fronteira sem lei que foi a costa oeste americana; e a convivência nem sempre pacifica com outras etnias vale estrangeiros e indígenas.
A obra  usa um estilo mais naturalista ao expor a realidade daquela época. Assim, a fotografia de Chris Blauvelt enaltece a natureza (a floresta densa, úmida, e fria) e a rusticidade das casas (as vilas decrepitas cheias de lama). E a trilha sonora de William Tyler apresenta uma partitura delicada e tímida.
O elenco também reflete o estilo "econômico" típico de uma produção independente o que dá mais autenticidade a obra como é o caso da boa atuação da dupla John Magaro e Orion Lee. Lee reencarna o chinês esperto e ambicioso que descobre no dom de confeitaria de Cookie a oportunidade perfeita para sair da miséria. Já Magaro representa um personagem que o seu semblante calmo esconde um ser deslocado ao se enveredar por um lugar que de fato não lhe pertence.
First Cow - A Primeira Vaca da América fala do poder da amizade; do empreendedorismo; e politicamente aborda um estado que não acolhe os mais necessitados privilegiando a elite como é o caso do reverendo, dono da única vaca da região.
Com um ritmo lento e contemplativo, o que pode afugentar o público desacostumado a este formato mas se este conseguir embarcar na estória se encantará com a simplicidade que a diretora usa ao recriar o nascimento de uma nação. Um filme encantador.

sexta-feira, novembro 05, 2021

Meu Pai

(The Father, Inglaterra/França, 2020)
Direção: Florian Zeller
Elenco: Anthony Hopkins, Olivia Colman, Olivia Williams, Rufus Sewell.

Nos primórdios do cinema, a principal referência aos realizadores era o teatro. Por ser uma arte recém-criada, a linguagem cinematográfica foi surgindo aos poucos. Mas por ironia da vida, quase sempre as adaptações de peças teatrais enfatizam mais a linguagem teatral gerando teleteatros. Já na década de 1970, Hollywood se surpreendeu pelo enorme sucesso de bilheteria de Love Story e começou uma enxurrada de filmes sobre doenças que sempre caiam no melodrama carregado. Pois um autor de teatro francês, Florian Zeller, em seu debut, mistura teatro e mal de Alzheimer e surpreende por fazer uma obra CINEMATOGRAFICA e sem cair no piegas.
Anne é a filha única que cuida de seu pai, Anthony, um engenheiro aposentado que sofre de alto estágio de demência. Mesmo tentando manter a mente sã, Anthony está totalmente desorientado do tempo e das pessoas próximas que lhe acolhem o que gera transtorno para a sua filha que fica no embate entre lhe dar suporte ou o encaminhar para um asilo.
O filme Meu Pai apresenta duas visões de quem sofre em conta da demência. a vitima que luta para continuar a viver mas totalmente imerso na desorientação da realidade. E a filha do doente que testemunha a descida ao inferno do ente querido e ao mesmo tempo fica dividida entre os cuidados do pai e a sua vida particular.
Sob o ponto de vista técnica, a obra de Zeller chama atenção pela brilhante direção de arte de Peter Francis que transforma o apartamento em um labirinto refletindo o caos mental de Anthony tornando a imediata imersão do público na cabeça do protagonista. A montagem delicada e intricada de Yorgos Lamprinos sabe conduzir os devaneios do personagem de Anthony Hopkins.
E como um cineasta maduro e perspicaz, a fantástica estréia de Florian Zeller na direção chama atenção ao adaptar a sua própria peça e surpreende ao pegar uma narrativa teatral e transformá-la perfeitamente em uma obra cinematográfica. E esse tipo de filme exige um elenco afiado - e a dupla Anthony Hopkins e Olivia Colman dão um show. Os dois representam a dor em ficar sozinho. Ela que carrega o fardo de cuidar do pai cada vez mais o que se transforma numa responsabilidade pesada demais. Já o pai é um homem controlador que se desespera por justamente perder esse senso além do temor da solidão (sem esposa, a outra filha morta). E Hopkins dá um show particular no final de partir o coração. Meu Pai é uma dolorosa experiência sobre a demência tanto por parte da vítima como nas pessoas mais próximas.

segunda-feira, novembro 01, 2021

Minari - Em Busca da Felicidade

(EUA, 2020)
Direção: Lee Isaac Chung
Elenco: Steven Yeun, Ye-Ri Han, Alan S. Kim, Yuh-Jung Youn.

Minari é uma planta comestível muita usada na culinária coreana e utilizada nos mais variados pratos. De fácil cultivo, basta plantar em áreas úmidas que cresce rápido. E é esta versatilidade que alimenta a família de Jacob Yi em sua estadia nos EUA.
Em meados da década de 1980, uma família de coreanos larga a Ásia e parte para a zona rural do Arkansas nos EUA em busca do mítico sonho americano. Mas quando chegam no lugar nos deparamos com um casal em constante atrito: o marido Jacob sonha enriquecer através do agronegócio; a esposa Monica prefere a zona urbana em virtude do filho caçula sofrer sérios problemas cardíacos.
Minari é um filme autobiográfico do diretor estadunidense Lee Isaac Chung que relata a sua infância nos EUA. E com um olhar aguçado e sensível aborda o poder da família, a gama em passar por obstáculos e principalmente de preservar as raízes (por isso a força da natureza é tão representativa no filme). Aqui, a ótima direção e roteiro de Chung foca no drama familiar em que os membros tentam lidar com diferentes visões sobre a sua sobrevivência em um país tão distinto e surpreendentemente acolhedor. Assim, o filme ganha pontos ao expor a chegada de uma nova cultura mas sem cair no óbvio tema da xenofobia. Em Minari, o interior dos EUA é retratado como uma comunidade receptiva e acolhedora - aqui existe uma rara união entre os coreanos e americanos que lhe confere um sopro de bondade tanto por parte das pessoas como a própria natureza da região. Não é de estranhar que a produção tenha caprichado na sua parte técnica. A linda fotografia de Lachlan Milne que mostra a natureza da região como um Jardim do Édem. Já a etérea trilha sonora de Emile Mosseri amplifica um senso contemplativo na estória.
Mas o ponto alto é a rica galeria de personagens cativantes incluindo até o ajudante americano de religiosidade exacerbada numa demonstração da versatilidade do ator Will Paxton. E a dupla Steven Yeun e Ye-Ri Han expõe uma ótima química ao imprimir o contraste entre o marido sonhador e a esposa mais realista. Mas não tem como se encantar com a dupla emocionante formada entre o travesso neto David e a avó não muito convencional Soon-ja interpretada pela coreana Yuh-Jung Youn que mereceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante ao dar vida a uma senhora esperta e ao mesmo tempo amorosa.
Minari é belo filme sensível e emocionante sobre as adversidades da vida, o poder do núcleo familiar, a importância e a força das nossas origens culturais e também uma contemplativa narrativa sobre o poder da natureza sobre as pessoas.