terça-feira, abril 25, 2023

Festival de Berlim 2023

 


Nos dias 16 a 26 de fevereiro aconteceu o primeiro grande festival do ano, o Festival de Berlim. Nesta edição o festival foi presidido pela atriz estadunidense Kristen Steward. Os demais membros são: a atriz iraniana Golshifteh Farahani, a diretora alemã Valeska Grisebach, o diretor romeno Radu Jude, a produtora estadunidense Francine Maisler, a diretora espanhola Carla Simón e o diretor chinês Johnnie To. E este eclético júri cedeu o Urso de Ouro de melhor filme para o único documentário da seleção, o francês Sur I'Adamant de Nicolas Philibert que conta a estória de uma clínica psiquiátrica localizada em um barco no meio de Paris. Os outros destaques são: a animação japonesa Suzume de Makoto Shinkai sobre um jovem casal que prevê desastres; o estadunidense Past Lives de Celine Song que conta a estória de dois amigos de infância que se reencontram quando estão adultos; o português Mal Viver de João Cantijo que aborda o convívio amargo de várias mulheres em um família; o francês Le Grand Chariot de Phillipe Garrel que conta a estória de uma família que trabalha com marionetes; e o alemão Afire de Christian Petzold que relata a difícil vida de quatro pessoas que estão isoladas em virtude de um incêndio na floresta. O Brasil esteve presente com alguns longas e curtas metragens, com destaque para o curta alagoano Infantaria de Lais Santos de Araújo que ganhou o Prêmio Especial do Júri Internacional na mostra Generation 14plus.

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A lista dos vencedores do Festival de Berlim 2023:

Urso de Ouro de Melhor Filme: Sur I´Adamant (França/Japão) de Nicolas Philibert

Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri): Roter Himmel (Alemanha) de Christian Petzold

Urso de Prata de Melhor Diretor: Philippe Garrel - Le Grand Chariot (França)

Urso de Prata de Melhor Interpretação: Sofía Otero - 20.000 Especies de Abejas (Espanha)

Urso de Prata de Melhor Interpretação Coadjuvante: Thea Ehre - Bis ans Ende der Nacht (Alemanha)

Urso de Prata de Melhor Roteiro: Music (Alemanha/França/Sérvia) de Angela Schanelec

Urso de Prata - Prêmio do Júri: Mal Viver (Portugal) de João Canijo

quinta-feira, abril 20, 2023

Destaque nos cinemas

AIR: A HISTÓRIA POR TRÁS DA LOGO
(EUA, 2023) de Ben Affleck
Drama. Para alavancar suas vendas, a empresa Nike faz esforço para que o grande jogador de basquete Michael Jordan participe do marketing.



BROKER - UMA NOVA CHANCE

(Coreia do Sul, 2022) de Hirokazu Koreeda
Drama. Um grupo de pessoas recebem, anonimamente, uma caixa que é usada por mulheres que abandonam seus filhos recém-nascidos.



BEAU TEM MEDO
(Beau is Afraid, EUA, 2023) de Ari Aster
Drama. A jornada de um grande empreendedor e sua vida repleta de alegrias e tristezas.

sábado, abril 15, 2023

Lançamentos nos Streamings

CLOSE
(Bélgica, 2022)  de Lukas Dhont
Mubi
Drama. Ao entrar na adolescência, dois garotos tem a sua singela e franca amizade posta em cheque.

O DESPREZO

(Le Mépris, França, 1963) de Jean-Luc Godard
Mubi
Drama. Ao trabalhar na adaptação do clássico Odisseia, um roteirista percebe que o seu casamento começa a ruir.

DOGVILLE
(Dinamarca/EUA/Alemanha, 2003) de Lars von Trier
Mubi
Drama. Uma pequena cidade recepciona a chegada de uma mulher mas aos poucos os seus cidadãos começam a abusar desta.


MOONAGE DAYDREAM
(EUA/Alemanha, 2022) de Brett Morgen
HBO Max
Documentário. Biografia peculiar de um dos artistas mais influentes da cultura pop de todos os tempos: David Bowie.


A NOITE

(La Notte, Itália, 1961) de Michelangelo Antonioni
Mubi
Drama. Casados a dez anos, casal vai a uma festa e nesta confraternização percebem o fim do relacionamento.


PEQUENA MAMÃE
(Petite Maman, França, 2021) de Céline Sciamma
HBO Max
Drama. Após a morte da avó, garotinha vai na casa de infância de sua mãe e faz amizade com uma peculiar menina.

segunda-feira, abril 10, 2023

Holy Spider

(Dinamarca/Alemanha, 2022)
Direção: Ali Abbasi
Elenco: Zar Amir Ebrahimi, Mehdi Bajestani, Arash Ashtiani, Alice Rahimi.

Em uma cidade sagrada do Irã chamada Mexede, uma série de assassinatos de prostitutas acontece chamando a atenção da jornalista Raihmi. Esta percebe a mão invisível da polícia para não investigar e dar um basta na situação sem imaginar que o monstro que está por trás disso é um homem comum que acha um ato religioso matar mulheres pecadoras.
Após a estreia no Festival de Cannes 2022, no qual ganhou - com mérito - o prêmio de melhor atriz para Zar Amir Ebrahimi, iniciou no Irã uma inédita manifestação de mulheres contra a opressão feminina. As mulheres criaram coragem para combater a obrigação no uso do véu pois representa os abusos e os maus-tratos - e que no filme de Ali Abbase o psicopata usa a vestimenta (ou será uma corrente?) para matar suas vítimas.
Assim, Holy Spider (baseado em uma história real) se tornou um legítimo representante das manifestações ao escancarar um sistema político, social e principalmente religioso que controla, manipula, abusa as mulheres (vide donas de casa, jornalistas a prostitutas). Aqui a protagonista e o antagonista se cruzam várias vezes mostrando que o terror está no lado constantemente.
Holy Spider (sagrada aranha), mostra a versatilidade do cinema do iraniano radicado dinamarquês Ali Abbasi; um cineasta que recorda o cinema de Lars von Trier por causar impacto mas sem a mão pesada do diretor de Dogville. Abbasi é aquele cineasta que prepara o terreno cuidadosamente durante toda a projeção do filme até passar a rasteira no público na sua conclusão. Observação importante: o filme apresenta uma (próxima e distante rsrs) ligação com o seu filme anterior Border (que eu adoro pela sua estranheza). Se este é uma fantasia sobre uma mulher de imagem grotesca mas com um dom particular; em Holy Spider é um drama realista sobre um homem comum que pensa que tem uma missão divina (que no fundo é horripilante).
A dupla de atores formada por Zar Amir Ebrahimi e Mehdi Bajestani é ótima pois sabem demonstrar força, coragem e desorientação em cena. Destaque para a ótima trilha sonora de Martin Juel Dirkov que aumenta o tom sombrio da cidade e a perturbação do antagonista, e o tom de perigo para a protagonista.
E não dá para falar do filme do Abbasi sem ficar impactado como seu final. Uma conclusão que aterroriza pois o que se passa no Irã não é regional, é global. Existe um sistema que ganha forças para aumentar a opressão não somente as mulheres mas também as outras minorias. Um modos operanti que em que o Estado, sociedade e religião passam de geração a geração uma visão distorcida e maligna sobre o papel de cada pessoa em uma busca por controle e submissão. Uma realidade comum em países tão distintos como o Irã e o Brasil.

quarta-feira, abril 05, 2023

O Homem Elefante

(The Elephant Man, EUA, 1980)
Direção: David Lynch
Elenco: Anthony Hopkins, John Hurt, John Gielgud, Anne Bancroft.

Na Londres do século 19, o médico Frederick se encontra em um circo de horrores e depara em um evento que choca a todos: a exibição do homem elefante. Ao ver a criatura - um homem chamado John Merrick - Frederick fica impactado e sensibilizado com a situação do pobre homem a ponto de levá-lo para o hospital para curá-lo de uma bronquite e se livrar dos maus-tratos do seu "dono". Mas a relação dos dois vai além de médico e paciente e se aprofunda a ponto de virar amizade e respeito mútuo - diferente do tratamento de outras pessoas que tratam John como uma aberração da natureza.
Primeiro e único drama (ao lado de História Real) do rei do surrealismo estadunidense David Lynch mostra toda  a competência e sensibilidade de um mestre de verdade. Com um visual próximo de seu primeiro longa metragem, Eraserhead (1977) Lynch brinda com uma narrativa mais convencional mas deixa a sua marca em algumas cenas perturbadoras. E a produção do filme é simplesmente um luxo a começar pela bela fotografia expressionista de Freddie Francis que expõe uma Inglaterra decadente, suja. O design de produção é impecável na reconstituição de época e a tocante trilha sonora de John Morris.
O Homem Elefante é um lindo e tocante filme que aborda a fé na ciência e a esperança de dias melhores. A ótima dupla Antthony Hopkins e John Hurt dão um show em que o médico Frederick representa a ciência humanizada e sensível que é um anjo na vida sofrida de Merrick que sempre foi tratado como um animal pela sociedade. E aqui o filme demonstra uma triste atualidade: a falta de sensibilidade ao próximo. Hoje vivemos em um mundo em que a ciência é atacada e vilanizada por muita gente que defende um discurso preconceituoso, ignorante como ocorre no filme. Também aborda um tema triste mas real no Brasil: o trabalho escravo. O Homem Elefante é um belo filme sobre a esperança e a fé no próximo em um mundo que nos puxa cada vez para baixo.

sábado, abril 01, 2023

Triângulo da Tristeza

(Triangle of Sadness, Suécia/Inglaterra, 2022)
Direção: Ruben Östlund
Elenco: Harris Dickinson, Charlbi Dean, Dolly de Leon, Woody Harelson.

O casal de modelos Carl e Yaya tentam salvar o relacionamento fútil ao embarcar em um grande iate. Os outros tripulantes desta embarcação são figuras bilionárias da Europa que tentam desfrutar de dias de sossego. A tripulação é completada com os funcionários do iate que tem a obrigação de agradar a elite. O que ninguém esperava é um capitão alcóolatra e um mar revolto neste pacote. E com a natureza agindo, ninguém escapa de sua força.
Logo na introdução, o filme usa a publicidade de empresas de moda para demonstrar um comentário sobre a divisão de classes sociais. E também joga de cara a misoginia e por fim a influência do poder no caráter das pessoas. Resumo da ópera: o novo filme de Ruben Östlund retorna ais tramas de seus filmes anteriores (Square - A Arte da Discórdia e Força Maior) e também ao seu estilo que o consagrou: uma visão impiedosa do ser humano com um humor venenoso. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes 2022 (pela segunda vez consecutiva), Östlund carimba o seu nome entre os medalhões do cinema mundial - e também atraiu o desapontamento de muitos críticos e cinéfilos que acham que o seu estilo está dando sinais de esgotamento. Realmente, os seus filmes anteriores são melhores mas pessoalmente gosto muito do seu trabalho e aqui apresenta um humor afiado alinhado a nossa realidade: a discursão entre um estadunidense socialista e um russo capitalista (bipolaridade política); o Carl exigindo igualdade na hora de rachar as contas com a namorada (a polêmica do ator Caio Castro vem à tona o que torna mais divertido para os brasileiros); e claro a já clássica cena do banquete no iate. O elenco está ótimo com destaque para a filipina Dolly de Leon que ganha muita relevância na parte final para concluir com chave de outo. Triângulo da Tristeza é uma sátira mordaz sobre o poder vide em um relacionamento amoroso ou social; e ao mesmo tempo uma gozação sobre uma elite que perdeu a noção da realidade ou humanidade a sua volta.