segunda-feira, abril 10, 2023

Holy Spider

(Dinamarca/Alemanha, 2022)
Direção: Ali Abbasi
Elenco: Zar Amir Ebrahimi, Mehdi Bajestani, Arash Ashtiani, Alice Rahimi.

Em uma cidade sagrada do Irã chamada Mexede, uma série de assassinatos de prostitutas acontece chamando a atenção da jornalista Raihmi. Esta percebe a mão invisível da polícia para não investigar e dar um basta na situação sem imaginar que o monstro que está por trás disso é um homem comum que acha um ato religioso matar mulheres pecadoras.
Após a estreia no Festival de Cannes 2022, no qual ganhou - com mérito - o prêmio de melhor atriz para Zar Amir Ebrahimi, iniciou no Irã uma inédita manifestação de mulheres contra a opressão feminina. As mulheres criaram coragem para combater a obrigação no uso do véu pois representa os abusos e os maus-tratos - e que no filme de Ali Abbase o psicopata usa a vestimenta (ou será uma corrente?) para matar suas vítimas.
Assim, Holy Spider (baseado em uma história real) se tornou um legítimo representante das manifestações ao escancarar um sistema político, social e principalmente religioso que controla, manipula, abusa as mulheres (vide donas de casa, jornalistas a prostitutas). Aqui a protagonista e o antagonista se cruzam várias vezes mostrando que o terror está no lado constantemente.
Holy Spider (sagrada aranha), mostra a versatilidade do cinema do iraniano radicado dinamarquês Ali Abbasi; um cineasta que recorda o cinema de Lars von Trier por causar impacto mas sem a mão pesada do diretor de Dogville. Abbasi é aquele cineasta que prepara o terreno cuidadosamente durante toda a projeção do filme até passar a rasteira no público na sua conclusão. Observação importante: o filme apresenta uma (próxima e distante rsrs) ligação com o seu filme anterior Border (que eu adoro pela sua estranheza). Se este é uma fantasia sobre uma mulher de imagem grotesca mas com um dom particular; em Holy Spider é um drama realista sobre um homem comum que pensa que tem uma missão divina (que no fundo é horripilante).
A dupla de atores formada por Zar Amir Ebrahimi e Mehdi Bajestani é ótima pois sabem demonstrar força, coragem e desorientação em cena. Destaque para a ótima trilha sonora de Martin Juel Dirkov que aumenta o tom sombrio da cidade e a perturbação do antagonista, e o tom de perigo para a protagonista.
E não dá para falar do filme do Abbasi sem ficar impactado como seu final. Uma conclusão que aterroriza pois o que se passa no Irã não é regional, é global. Existe um sistema que ganha forças para aumentar a opressão não somente as mulheres mas também as outras minorias. Um modos operanti que em que o Estado, sociedade e religião passam de geração a geração uma visão distorcida e maligna sobre o papel de cada pessoa em uma busca por controle e submissão. Uma realidade comum em países tão distintos como o Irã e o Brasil.

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