quinta-feira, dezembro 31, 2020

Nota do Blog - Melhores Filmes do Ano

Finalmente chega ao fim o fatídico ano de 2020, um ano que não deixará saudade em virtude da pandemia do Covid-19. Se as nossas vidas foram afetadas, no cinema o efeito foi devastador a ponto dos streamings se transformarem de vez na nova rota dos filmes. Mesmo diante desse cenário tenebroso o ano apresentou uma seleção considerável de bons filmes.

***

MELHORES FILMES DE 2020:

Another Round (Dinamarca) de Thomas Vinterberg
Collective (Romênia) de Alexander Nanau
First Cow (EUA) de Kelly Reichardt
Minari (EUA) de Lee Isaac Chung
Não Há Mal Algum (Irã) de Mohammad Rasoulof
Never Gonna Snow Again (Polônia) de Malgorzata Szumowska e Michal Englert
Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (EUA) de Eliza Hitman
Nomadland (EUA) de Chloe Zao
Soul (EUA) de Pete Docter e Kemp Powers
The Father (Inglaterra) de Florian Zeller





FELIZ NATAL 
E UM ÓTIMO ANO NOVO
(E CONTINUANDO COM OS CUIDADOS E CAUTELA A RESPEITO DA PANDEMIA).

terça-feira, dezembro 15, 2020

Destaques nos cinemas


FREAKY - NO CORPO DE UM ASSASSINO
(EUA, 2020) de Christopher Landon
Comédia. Em virtude de um feitiço, adolescente tenta desfazer a maldição ao perceber que o seu corpo foi trocado com um psicopata.




TODOS OS MORTOS

(Brasil, 2020) de Caetano Gotardo e Marco Dutra
Drama. Na São Paulo de 1899, uma ex-escrava e uma família burguesa decadente lutam por um futuro melhor.




MULHER MARAVILHA 1984

(Wonder Woman 1984, EUA, 2020) de Patty Jenkins
Fantasia. No auge da Guerra Fria em 1984, a heroína combate dois inimigos: um magnata da mídia e uma antiga aliada.

quinta-feira, dezembro 10, 2020

Um Estranho no Ninho


(One Flew Over the Cuckop´s Nest, EUA, 1975)
Direção: Milos Forman
Elenco: Jack Nicholson, Louise Fletcher, Will Sampson, Brad Dourif

Saído da antiga Tchecoslováquia, o cineasta Milos Forman ganhou um presentão ao adaptar o livro de Ken Kesey. A sua escalação não foi em vão pois o diretor conhecia muito bem o que é viver em um sistema politico autoritário. E a estória de McMurphy, um condenado que pensa que vai escapar de sua pena ao se fazer de louco e ser internado num hospício comandado por uma enfermeira sádica cai como uma luva sobre o que é viver num mundo opressivo. Diretamente o filme faz uma poderosa critica sobre o tratamento desumano nas clinicas psiquiátricas em que profissionais da saúde de má índole tem liberdade total para destruir vidas. Com um enredo desses necessita-se de um duelo de titãs no elenco. Assim, mesmo que Jack Nicholson dê um show como um elemento que desestabiliza a ordem no manicômio; quem rouba a cena é a surpresa Louise Fletcher que com um gesto e um olhar dissemina uma frieza e uma falta de humanidade poucas vezes vista no cinema - não sei porquê essa personagem, a enfermeira Ratched, é tão pouco divulgado pois quando ela entra em cena sentimos que coisa boa não virá. Com um final de cortar o coração, Um Estranho do Ninho mereceu o Oscar de melhor filme em 1975 (mas admito que Um Dia de Cão é mais filme) ao abordar o horror do autoritarismo em nossas vidas.

sábado, dezembro 05, 2020

Halloween - A Noite do Terror


(EUA, 1978)
Direção: John Carpenter
Elenco: Jamie Lee Curtis, Donald Pleasence, Charles Cyphers, Nancy Kyes

No fatídico dia das bruxas de 1978, jovens são mortos por um psicopata que fugira de um manicômio. Com um fiapo de estória, um novato cineasta John Carpenter usa ao máximo o seu talento e criatividade para transformar Halloween - A Noite do Terror em algo além de um clássico; criou um subgênero de terror - o slasher - que até hoje está presente em muitos filmes do horror. E se não fosse o bastante o diretor foi extremamente feliz ao criar tensão com as longas tomadas de câmera (como a clássica cena que abre o filme) e o uso mínimo de cortes. Outro fato curioso é a exposição mínima de sangue, o filme tem cenas fortes mas é tão bem conduzido que a falta de cenas sangrentas não atrapalha a experiência. E não dá para falar deste clássico sem mencionar a inesquecível trilha sonora do próprio diretor que entrou para a história do cinema. E foi com essa obra que a novata Jamie Lee Curtis se tornou a rainha do grito por suas várias aparições em filmes de terror. Se A Felicidade Não Compra de Franz Capra é um filme obrigatório no natal; Halloween é a representação máxima do dia das bruxas, e sua exibição nessa data o torna uma obra atemporal sempre referenciada e discutida. Um dos melhores filmes do gênero sem dúvida.

terça-feira, dezembro 01, 2020

Entre Facas e Segredos


(Knives Out, EUA, 2019)
Direção: Rian Johnson
Elenco: Ana de Armas, Daniel Craig, Christopher Plummer,Chris Evans 

Um detetive é contratado para descobrir a verdade por trás da duvidosa morte do famoso escritor de livros de mistério, Harlan Thrombey, em virtude do comportamento excêntrico de seus familiares que parecem esconder segredos. Com um enredo batido - Agatha Christie que o diga - o cineasta Rian Johnson surpreende e joga na tela um delicioso filme de mistério que flerta com um ótimo senso de de humor graças ao roteiro afiado do próprio diretor em conjunto a excelente montagem de Bob Ducsay que surpreende o público com as reviravoltas. E a cereja do bolo vem na sua conclusão ao elaborar uma guinada em seu enredo para criar uma corajosa crítica ácida e contundente dos EUA da era Trump. E o elenco estrelar brilha mas é a novata Ana de Armas que rouba o espetáculo pelo seu protagonismo. Entre Facas e Segredos é uma bela surpresa ao usar o estilo literário de Agatha Christie como alegoria de um triste panorama politico e social atual dos EUA, algo que a própria dama do mistério nunca se atreveu a realizar.

sexta-feira, novembro 20, 2020

Festival de Gramado 2020

O Festival de Gramado 2020 iniciou com um mes de atraso em virtude da pandemia e nesta edição atípica dois filmes brasileiros se destacaram na competição e na premiação. O grande vencedor do festival foi o pernambucano King Kong em Asunción de Camilo Cavalcante que conta a estória da despedida de um matador de aluguel em sua última missão ganhou 04 Kikitos. Outro destaque foi o carioca Um Animal Amarelo de Felipe Bragança (sobre um cineasta falido que busca o passado de sua família) que também ganhou 04 Kikitos.
Já na seção de filmes latinos a Colômbia e o Uruguai fizeram bonito respectivamente com La Frontera de David David (conta a estória de uma índia que vive que assaltos na fronteira entre Colômbia e Venezuela) e El Gran Viaje al Pais Pequeño de Mariana Viñoles (relata a chegada de refugiados sírios no Uruguai).

***

A lista dos vencedores do Festival de Gramado 2020:

LONGAS BRASILEIROS:

Melhor Longa-Metragem Brasileiro: King Kong em Asunción de Camilo Cavalcante
Melhor Filme em Longa-Metragem Brasileiro– Prêmio da Critica: Um Animal Amarelo de Felipe Bragança
Melhor Filme do Júri Popular – Prêmio Especial do Júri: King Kong em Asunción de Camilo Cavalcante
Prêmio Especial do Júri: Por Que Você Não Chora? de Cibele Amaral
Melhor Direção:  Ruy Guerra - Aos Pedaços
Melhor Ator: Andrade Júnior - King Kong em Asunción
Melhor Atriz: Isabel Zuaa - Um Animal Amarelo
Melhor Ator Coadjuvante: Thomás Aquino - Todos os Mortos
Melhor Atriz Coadjuvante: Alaíde Costa - Todos os Mortos
Desenho de Som: Bernado Uzeda - Aos Pedaços
Melhor Trilha Musical: Salloma Salomão - Todos os Mortos; e Shaman Herrera - King Kon em Asunción
Melhor Direção de Arte: Dian Salem Levy - Um Animal Amarelo
Melhor Montagem: Eduardo Gripa - Me Chama Que Eu Vou
Melhor Fotografia: Pablo Baião - Aos Pedaços
Melhor Roteiro: Felipe Bragança - Um Animal Amarelo

LONGAS LATINOS:

Melhor Longa-Metragem Estrangeiro: La Frontera (Colômbia) de David David

Prêmio Especial do Júri: 
El Gran Viaje al Pais Pequeño (Uruguai) de Mariana Viñoles

Melhor Filme do Júri Popular:
El Gran Viaje al Pais Pequeño (Uruguai) de Mariana Viñoles

Melhor Direção: Mariana Viñoles - El Gran Viaje al Pais Pequeño (Uruguai)

Melhor Ator: Anibal Ortiz - Matar a un Muerto (Paraguai)

Melhor Atriz: Daylin Vega Moreno e Sheila Monterola - La Frontera (Colômbia)

Melhor Fotografia: Nicolas Trovato - El Silencio del Cazador (Argentina)

Melhor Roteiro: David David - La Frontera (Colômbia)

domingo, novembro 15, 2020

Destaques nos cinemas


TRANSTORNO EXPLOSIVO
(System Crasher, Alemanha, 2019) de Nora Fingscheidt.
Drama. Garota órfã de nove anos tem dificuldade de arranjar uma família para adotá-la em conta de sua personalidade rebelde.



CASA DE ANTIQUIDADES
(Brasil/França, 2020) de João Paulo Miranda Maria
Drama. Um senhor negro se muda para uma região preconceituosa em que o único conforto presente é a sua nova casa.

terça-feira, novembro 10, 2020

O Bebê de Rosemary


(Rosemary´s Baby, EUA, 1968)
Direção: Roman Polanski
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Sidney Blackmer, Ruth Gordon

Se tem um cineasta especialista no embate realidade e imaginação este é o mestre francês Roman Polanski. Uma prova disso é o genial O Bebê de Rosemary, o segundo filme da famosa trilogia do apartamento. Enquanto o primeiro filme da trilogia, Repulsa ao Sexo, aborda traumas sexuais e o último, O Inquilino, remete a crise de identidade e xenofobia; O Bebê de Rosemary faz um aterrorizante comentário sobre trauma cristã, maternidade e misoginia (o incômodo da presença masculina já explorado em Repulsa ao Sexo). Adaptação da obra de Ira Levin, o filme conta a estória de Rosemary, uma jovem recém-casada que se muda para um apartamento dos sonhos e finalmente consegue engravidar. Mas o que seria um momento maravilhoso se torna um pesadelo sem fim. Focado na personagem principal, Polanski brinca com o catolicismo ao criar uma mulher atormentada por uma rígida criação católica que por ironia do destino lhe impõe um destino cruel (não é coincidência que ela tenha um nome tão angelical, Rosa Maria). E a obra é marcada pela melhor atuação da carreira de Mia Farrow que sabe transmitir o terror de que algo ruim está acontecendo; mesmo assim a veterana Ruth Gordon rouba a cena como a vizinha "simpática". Outro destaque vai para a ótima trilha sonora de Krzysztof Komeda, uma canção de ninar diabólica. O Bebê de Rosemary é um clássico do terror sobre uma mulher que tem a sua maior experiência de vida sendo roubado: a maternidade.

quinta-feira, novembro 05, 2020

Lindinhas (Mignonnes)


(Mignonnes, França, 2020)
Direção: Maimouna Doucouré
Elenco: Fathia Youssouf, Medina El Aidi, Esther Gohourou, Ilanah

Mesmo premiado em vários festivais, o filme Lindinhas me chamou atenção quando o governo brasileiro e entidades conservadoras decidiram barrar a sua exibição alegando que o filme apresenta "má conduta" ao erotizar as crianças. E após assistir o filme percebi que a estréia da cineasta francesa Maimouna Doucouré também faz essa crítica. A dança erótica criada pela protagonista Amy de 11 anos é somente uma válvula de escape de um turbilhão de sentimentos que a criança está passando e não tem nenhum responsável por perto para dar suporte. E nesse momento, a diretora aborda pais ausente (a mãe de Amy está desolada com casamento de seu marido com outra mulher); a influência negativa da internet (Amy assiste conteúdo impróprio escondida); a protagonista não tem limites (rouba o celular do primo e um pingente de uma senhora, prejudica uma colega da escola). E a dança da garota realmente incomoda porque na cabeça dela o que ela faz é normal mas para um adulto é chocante. Ao enfatizar o erotismo, Doucouré acerta ao ser direta como uma espécie de um puxão de orelha que a diretora faz ao mundo de hoje especialmente aos pais que deixam os filhos soltos demais. Assim, Lindinhas é um bom filme - classificado para 16 anos - que tem o seu público-alvo os pais que devem ficar mais atentos, alertas aos filhos nessa era digital.

domingo, novembro 01, 2020

O Sétimo Selo


(Det Sjunde Inseglet, Suécia, 1957)
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: Max von Sydom, Gunnar Björnstrand, Bengt Ekerot, Nils Poppe.

O clássico O Sétimo Selo entrou para história do cinema e da cultura pop ao dar forma a figura da morte, por isso que este filme é o mais famoso da carreira do mestre Bergman. Mas a obra tem outros atributos que surpreende até pra quem conhece a filmografia do cineasta sueco como o seu hilário senso de humor que contrasta com o tom místico e existencial que o filme propõe.
Na Idade Média, um cavaleiro das cruzadas retorna para sua terra natal e testemunha a barbárie da peste negra e encontra com a morte. Esta lhe dar uma trégua temporária ao aceitar uma partida de xadrez com o cavaleiro. O Sétimo Selo foi realizado após Morangos Silvestres, e os dois filmes tem uma breve conexão ao falar da brevidade da vida. No entanto, O Sétimo Selo apresenta um comentário poderoso sobre como vivemos em um mundo da encenação. Bergman expõe a via dupla da espetacularização: enquanto a arte (o teatro) entretém a vida com a alegria, o idílico e o mundano; a religião criar um show fúnebre, pesado até mesmo diabólico (uma mulher é levada a morte acusada de trazer a peste, uma óbvia alusão a Inquisição). Assim faz todo o sentido o filme criar um rosto a morte pois a humanidade faz de tudo um espetáculo. Dessa forma a obra expõe a imortalidade da arte, seja a usando para o bem ou para o mal.

terça-feira, outubro 20, 2020

Festival de Toronto 2020

Após pegar o embalo do tradicional Festival de Veneza, chega a vez do celebrado Festival de Toronto 2020 que teve que se adaptar a nova realidade com a pandemia. Com exibições presenciais e online de filmes, o festival canadense consagrou de vez obras que receberam ótimas críticas em Veneza como Pieces of a Woman de Kornél Mundruczo e One Night in Miami de Regina King. E assim, o grande vencedor do festival italiano, Nomadland de Chloé Zhao saiu com o prêmio máximo em Toronto se tornando o franco favorito na temporada de premiações. Outro fato curioso: o festival premiou obras dirigidas por mulheres (Nomadland; One Night in Miami; e Beans) mostrando que em 2021 o ano será delas. Outros destaques do festival: a animação irlandesa Wolfwalkers de Tomm Moore e Ross Stewart que relata a aventura de pai e filha que vão a floresta caçar lobos; e o drama húngaro Preparations to Be Together for an Unknown Period of Time de Lili Horváth que conta a estória de uma médica que retorna a Hungria para viver uma paixão.


***

A lista dos vencedores do Festival de Toronto 2020:

Prêmio da Audiência: Nomadland (EUA) de Chloé Zhao (1º lugar); One Night in Miami (EUA) de Regina King (2º lugar); Beans (Canadá) de Tracey Deer (3º lugar)

Documentário: Inconvenient Indian (Canadá) de Michelle Latimer

Seleção Midnight: Shadow In The Cloud (EUA/Nova Zelândia) de Roseanne Liang

quinta-feira, outubro 15, 2020

Destaques nos cinemas


TENET
(EUA/Inglaterra, 2020) de Christopher Nolan
Ficção cientifica. Homem trabalha no campo da espionagem que tem como principal arma o uso do tempo real.

sábado, outubro 10, 2020

Morangos Silvestres


(Smultronstället, Suécia, 1957)
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: Victor Sjöstrom, Ingrid Thulin, Bibi Andersson, Gunnar Björnstrand.

Um professor de medicina aposentado tem um dia atípico: irá receber uma condecoração sobre os seu serviços prestados. Mas horas antes de receber a homenagem ele reflete sobre a sua vida enquanto cruza com várias pessoas.
Morangos Silvestres é a primeira obra-prima do mestre Bergman que faz um antológico trabalho sobre a brevidade da vida e memória. Mas a obra é tão contundente que me arrisco a dizer que o tema principal do filme seja o estudo da consciência e as relações familiares. Aqui, o professor Isak reflete sobre os atos e escolhas que fez na vida e que isso se materializou em um homem frio e egoísta (algo que ele não acreditava) e o pior, a sua austereza foi transmitida para o seu filho da mesma forma que o protagonista apresenta perfil próximo da sua mãe, mostrando um comportamento que passa de geração em geração. Surpreendentemente, este road-movie reflexivo não perde a atualidade e o vigor graças ao ritmo ágil e o seu tom leve e cômico comprovando que para ser profundo não é necessário ser extremamente lento e contemplativo.

segunda-feira, outubro 05, 2020

Crepúsculo dos Deuses

(Sunset Boulevard, EUA, 1950)
Direção: Billy Wilder
Elenco: William Holden, Gloria Swanson, Erich Von Strohein, Nancy Olson

Billy Wilder é um gênio espirituoso consagrado em deliciosas comédias como Quanto Mais Quente Melhor e Se Meu Apartamento Falasse e também no drama como Farrapo Humano. Inusitadamente a sua obra máxima é o drama noir Crepúsculo dos Deuses, uma crítica ferrenha ao sistema dos estúdios de Hollywood. Aqui o diretor austríaco escancara o tratamento descartável de antigas estrelas que caíram no esquecimento em virtude da traumática transição do cinema mudo com falado. Narrado por um roteirista morto - antes do fim trágico - este é contratado para escrever uma nova versão de Salomé que servirá como retorno triunfal da estrela do cinema mudo Norma Desmond. Loucura, obsessão, dominação são alguns temas que Wilder explora na luta para se manter vivo no ecossistema de Hollywood. O diferencial é um incrível roteiro recheado de frases que entraram para a história do cinema. Até a introdução serviu de inspiração para a abertura de Beleza Americana. Mas o filme não é o mesmo sem atuação da vida de Gloria Swanson, antiga estrela do cinema mudo, que aqui deve ter lavado a alma uma interpretação over mais perfeita de uma artista que perdeu o senso de realidade e que busca uma glória a muito tempo esquecida e distante. Uma obra-prima sobre a decadência artística e o jogo cruel que Hollywood impõe aos trabalhadores que ajudaram a consagrar a terra do cinema.

quinta-feira, outubro 01, 2020

Instinto Selvagem

(Basic Instint, EUA, 1992)
Direção: Paul Verhoeven
Elenco: Michael Douglas, Sharon Stone, George Dzundza, Jeanne Tripplehorn.

Em 1992, Instinto Selvagem fez muito barulho (e ótima bilheteria) em virtude das cenas de perseguição de carros, das tórridas cenas de sexo, e principalmente por apresentar uma personagem abertamente bissexual (acredite, era novidade na época). Passados quase 30 anos (como tempo passa voando), o filme de Paul Verhoeven envelheceu mal graças ao roteiro apelativo e previsível, o sexo é risível, a apagada atuação de Michael Douglas, e como explicar o ridículo final (evidente a mão dos produtores na conclusão). Os poucos pontos positivos a respeito da apuração da morte de um famoso que envolve um investigador e uma suspeita predadora sexual é a boa trilha sonora de Jerry Goldsmith e a atuação de Sharon Stone (que virou estrela com a famosa cena do interrogatório). Copiando descaradamente o clássico Um Corpo Que Cai - a estória se passa em São Francisco, Sharon Stone está a cara de Kim Novak, o jogo de gato e rato entre os dois protagonistas - definitivamente Verhoeven não teve a habilidade de um Brian DePalma ao homenagem Alfred Hitchcock nesta produção. Anos depois o diretor de Robocop corrigiria essa falha com o ótimo e provocativo suspense Elle.

domingo, setembro 20, 2020

Festival de Veneza 2020

O ano de 2020 não está sendo fácil para o mundo...pior ainda para o cinema. Após o cancelamento do Festival de Cannes, os italianos não perderam a esperança e decidiram realizar o Festival de Veneza, o primeiro a ser feito na pandemia. Por conta dessa situação insólita, o grande festival teve que modificar as exibições dos filmes, o que desmotivou a exibição dos filmes dos grandes estúdios e diminuiu a qualidade das produções. No entanto, o festival presidido neste ano pela atriz australiana Cate Blachett investiu pesado em obras dirigidas por mulheres e no fim o prêmio máximo foi parar nas mãos, merecidamente, da cineasta chinesa radicada nos EUA Chloé Zhao com o comovente Nomadland, drama sobre uma viúva que tenta sobreviver após a crise econômica de 2008. Com poucos destaques na competição, o que atraiu os holofotes foi a ótima estréia do mestre espanhol Pedro Almodóvar na língua inglesa com o curta-metragem A Voz Humana. Outras obras que chamaram atenção foram o canadense Pierces of a Woman de Kornél Mundruczó (aborda o luto de uma mulher após perder o filho no parto) e o russo Dear Comrades de Andrei Konchalovsky que reproduz um caso real de uma mulher que se desencanta com o comunismo soviético por causa do desaparecimento de sua filha depois de presenciar um massacre civil promovido pelo governo de Moscou.

***

A lista dos vencedores do Festival de Veneza 2020:


Leão de Ouro: Nomadland (EUA) de Chloé Zhao

Grande Prêmio do Júri: New Order (México/França) de Michel Franco

Melhor Direção: Kiyoshi Kurosawa - Wife of a Spy (Japão)

Melhor Ator: Pierfrancesco Favino - Padrenostro (Itália)

Melhor Atriz: Vanessa Kirby - Pieces of a Woman (EUA/Canadá)

Melhor Roteiro: Chaitanya Tamhane - The Disciple (Índia)

Prêmio Especial do Júri: Dear Comrades (Rússia) de Andrei Konchalovsky

Prêmio Marcello Mastroianni de Revelação: Rouhollah Zamani - Sun Children (Irã)

terça-feira, setembro 15, 2020

Destaques nos cinemas

EM VIRTUDE DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, INFELIZMENTE, AS EXIBIÇÕES DOS FILMES FORAM INTERROMPIDAS E AS SALAS DE CINEMA FECHADAS TEMPORARIAMENTE.

quinta-feira, setembro 10, 2020

Julieta dos Espíritos

(Giulietta degli Spiriti, Itália/França, 1965)
Direção: Federico Fellini
Elenco: Giulietta Masima, Mario Pisu, Valentina Cortese, Sandra Milo.

Em 08 e 1/2, Fellini aborda o caos criativo de um cineasta que também é um marido infiel pincelado em um delirante preto e branco. No seu filme seguinte o mestre italiano cria um gancho deixado no clássico de 1963 e aborda a crise existencial de uma esposa após descobrir infidelidade do esposo. E assim nasce Julieta dos Espíritos, uma obra reconhecida pelo seu visual psicodélico - o primeiro filme colorido de Fellini - em que as cores fortes e vibrantes saltam para as telas em conjunto ao belo trabalho de design de produção e um figurino de luxo (Almodóvar ficaria em êxtase!) impulsionando um tom de sonho e pesadelo. Ao confrontar um presente incerto (fim do casamento?), Julieta mergulha de cabeça em memórias que guardam dramas familiares e o peso da criação católica como uma variante madura de Dorothy andando pelo Mágico de Oz. E a grande Giulietta Masima surpreende em uma atuação contida, um semblante triste mas sempre com um sorriso encantador. Engraçado constatar como Fellini era antenado as novas tendências. A Doce Vida mostrava inquietação social com viés político; Julieta dos Espíritos é um drama feminino imerso a cultura pop, a psicodelia e ao surrealismo. Não é um dos melhores filmes do diretor mas é um produto que encaixa perfeitamente ao estilo felliniano.

sábado, setembro 05, 2020

Graças a Deus

(Grâce à Dieu, França, 2018)
Direção: François Ozon
Elenco: Melvil Poupaud, Denis Ménochet, Swann Arlaud, Eric Caravaca.

François Ozon é um cineasta francês conhecido pelo seu estilo provocativa como Swimming Pool - À Beira da Piscina e Dentro de Casa. Mas ao abordar a pedofilia na Igreja Católica, o diretor surpreende ao pisar no freio perante a um material estritamente polêmico. E inesperadamente o tom contido faz bem ao filme ao focar os traumas e a luta por justiça das vítimas e ainda alfineta a hipocrisia das pessoas próximas dos protagonistas que prefere "deixar pra trás" essa terrível experiência para não provocar a ira da sociedade e da Igreja. Com uma pegada mais realista, Ozon faz uma obra condizente, adequada que reflete a coragem que as pessoas tem hoje de expor as suas fragilidades e empeitar de frente os seus algozes e poderosos. E diante de tantas narrativas, o destaque fica com a ótima montagem de Laure Gardette que nunca perde o ritmo. E Graças a Deus mostrar algo inusitado: homens, religiosos, brancos e héteros como minoria. Pensando melhor, este fato talvez seja provocativo o bastante especialmente para um cineasta gay como é o caso de Ozon. Mas isso só reforça o fato que injustiças e abusos não escolhe raça, sexo, religião, ideologia. O importante é denunciar.

terça-feira, setembro 01, 2020

O Inquilino

(The Tenant, EUA/França, 1976)
Direção: Roman Polanski
Elenco: Roman Polanski, Isabelle Adjani, Melvin Douglas, Shelley Winters.

Foi com a famosa Trilogia do Apartamento que lançou Roman Polanski como um mestre do suspense e terror. O cineasta francês sabe como poucos explorar a loucura humana através do senso de isolamento mais a convivência em um lugar minusculo; abordando desde traumas sexuais (Repulsa ao Sexo) a maternidade (O Bebê de Rosemary). Em O Inquilino, o diretor vai além e ousa ao se colocar como interprete principal o que deixa tudo íntimo. Conhecido por um turbulento histórico pessoal, Polanski escancara ao dar vida a um jovem francês, polonês de criação, que retorna a Paris e decide morar em um prédio velho e decrépito habitado por pessoas mais estranhas ainda. Pra quem é cinéfilo se diverte ao ver o diretor brincar com a sua persona associado a temas tão indigestos como obsessão, loucura, perda de identidade (e ousadamente brinca com o transexualismo). E o trabalho do mestre da fotografia Sven Nykvist ajuda bastante no tom soturno deixando tudo mais depressivo, insano. Como ator, o diretor surpreende pela naturalidade em frente as câmeras mas o filme é marcado pelo ótimo final surpreendente. Um dos melhores filmes de Polanski.

quinta-feira, agosto 20, 2020

Destaques nos cinemas

 EM VIRTUDE DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, INFELIZMENTE, AS EXIBIÇÕES DOS FILMES FORAM INTERROMPIDAS E AS SALAS DE CINEMA FECHADAS TEMPORARIAMENTE.

domingo, agosto 09, 2020

A Morte Passou por Perto

(Killer´s Kiss, EUA, 1955)
Direção: Stanley Kubrick
Elenco: Jamie Smith, Irene Kane, Frank Silveira, Mike Dana

Sempre defendo que o diretor tem o direito de errar em seus primeiros filmes, mas o genial Stanley Kubrick pisou feio na bola em A Morte Passou por Perto. Primeiro, é um drama romântico com pegada de suspense sobre um boxeador fracassado que se envolve com uma dançarina que é amante de um homem perigoso (um enredo estranho na filmografia do mestre). Nesse quesito, o filme é um melodrama muito ruim em virtude de um roteiro desastroso com diálogos rasos ancorado a uma narração em off que trata o público como um idiota (não é pra menos que o diretor não usa essa técnica nos seus projetos posteriores). Outro recurso explorado que Kubrick eliminou futuramente foi o flashback que aqui serve mais para encher linguiça. E pra matar, o final é lamentável. Mesmo diante desses percalços, o diretor já ousava nas tomadas e movimentos de câmera - aqui e acolá tomadas únicas - e a fotografia bem elaborada (do próprio diretor). Como um suspense, A Morte Passou por Perto é uma melosa estória de amor de dois derrotados que buscam um lugar ao sol. Definitivamente não lembra nada do que seria Kubrick nos anos seguintes.

terça-feira, agosto 04, 2020

Noites de Cabíria

(Le Notti di Cabiria, Itália/França, 1957)
Direção: Federico Fellini
Elenco: Giulietta Masina, François Périer, Franca Mazi, Amedeo Nazzari

Cabíria é uma mulher que sonha em casar, ser dona de casa, ter filhos...mas o simples fato de ser meretriz e se envolver com homens de estampa duvidosa torna o seu desejo em uma melancólica desilusão.
Noites de Cabíria representa o pontapé inicial do estilo inconfundível do mestre Fellini e uma espécie de embrião para a sua obra-prima A Doce Vida: o descontentamento da protagonista com a desigualdade social de Roma com a vida miserável dos pobres em terrenos baldios, e a burguesia em sua redoma de vidro com os seus dilemas fúteis. Com uma galeria de personagens, Fellini se distancia do realismo e abraça uma crônica sobre a Cidade Eterna em que o cômico aparece lado a lado com o amargo. E o filme não seria o mesmo sem a inesquecível atuação de Giulietta Masina que com um jeito maroto sabe dosar perfeitamente a decepção do destino e a fagulha de esperança. Simplesmente uma Carlitos de saias. Assim, Noites de Cabíria é um lindo drama chapliniano sobre uma prostituta com coração de ouro, bondosa, pura mas que luta constantemente com uma realidade que a joga pra baixo. E ainda de quebra tem o final mais lindo do cinema. Inesquecível.

sábado, agosto 01, 2020

Doutor Jivago

(Doctor Zhivago, EUA, 1965)
Direção: David Lean
Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Geraldine Chaplin, Rod Steiner

Não é nada convidativo assistir um melodrama histórico de mais de três horas de duração, certo? Mas confie em um mestre especialista neste quesito. Assim, David Lean faz um filmaço sobre o turbulento nascimento de uma nação: a União Soviética. Baseado no clássico da literatura de Boris Pasternak, o filme é a biografia do médico Yuri Jivago em que através de seus olhos testemunha a insatisfação do povo perante o império de czar Nicolau; o surgimento da revolução russa (fim da propriedade privada); e os conflitos internos dos "camaradas" ávidos por poder.
E se tratando de David Lean, a produção é um deleite. A fotografia espetacular de Freddie Young; a clássica trilha sonora de Maurice Jarre (com o famoso Tema de Lara). O diretor estava inspiradíssimo nos movimentos de câmera, além de contar com o ótimo roteiro de Robert Bolt. Mas o que mais me impressionou foi a incrível edição de Norman Savage que imprimiu um ritmo perfeito; é aquele filme que as três horas de duração passam voando e que você quer mais. Até a controvérsia participação de Alec Guiness como um parente do protagonista, Yevgraf Jivago, e sua narrativa em off poderia prejudicar a obra mas Lean e o roteirista perceberam que era necessário pois é esse personagem que relata a vida do protagonista. Doutor Jivago é um lindo filme sobre transformações sociais e uma crítica perturbadora sobre o autoritarismo (em de qual posição está esteja).

segunda-feira, julho 20, 2020

Destaque nos cinemas

EM VIRTUDE DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, INFELIZMENTE, AS EXIBIÇÕES DOS FILMES FORAM INTERROMPIDAS E AS SALAS DE CINEMA FECHADAS TEMPORARIAMENTE.

sexta-feira, julho 10, 2020

Trama Macabra

(Family Plot, EUA, 1976)
Direção: Alfred Hitchcock
Elenco: Barbara Harris, Karen Black, Ed Lauter, Bruce Dern

Último filme do mestre do suspense, Trama Macabra é uma divertida comédia disfarçada de suspense sobre uma vigarista que se faz de vidente para dar um golpe em uma idosa rica mas que nem imagina na enrascada que se meteu.
Diferente dos seus filmes anteriores que flertava a guerra fria ou personagens psicologicamente perturbados, aqui Hitchcock realiza uma obra sem nenhuma ambição e conduz o enredo de uma forma despretensiosa. Fica claro que o diretor se divertiu na realização deste projeto a começar por várias cenas de suspense que ele faz questão de transformar em comédia (a cena do carro desgovernado na estrada; o sequestro do bispo). Até o elenco cai de cabeça no nonsense; e tudo fica mais delicioso com o evidente ar típico da década de 1970. Trama Macabra está longe ser um dos melhores filmes de Hitchcock mas cumpre muito bem o papel de um bom passatempo em uma sessão da tarde descompromissada.

domingo, julho 05, 2020

Fale com Ela

(Hable con Ella, Espanha, 2002)
Direção: Pedro Almodôvar
Elenco: Javier Cámara, Dario Grandinetti, Leonor Watling, Rosario Flores

Só Almodôvar para realizar um insólito drama romântico em que dois casais tem um destino comum: as amadas estão no hospital em coma vegetativo. Se o mestre espanhol é reverenciado pelos seus personagens femininos, em Fale com Ela a sua atenção é totalmente voltada na amizade entre o maduro e sensível Marco e o atencioso e ingênuo (nem tanto) enfermeiro Benigno (que nome!). Com uma linda produção em que a fotografia de Javier Aguirresarobe é almodovianamente colorida e a bela composição da trilha sonora de Alberto Iglesias integra com canções brasileiras (com direito a participação especial de Caetano Veloso).
Vencedor merecidamente do Oscar de melhor roteiro original, Almodóvar vai além em expor a falta de diálogo entre amantes. Fale com Ela aborda solidão, desilusão, amizade e as voltas que o destino faz de um jeito que só o Almodóvar é capaz de narrar. Provocante e reflexivo.

quarta-feira, julho 01, 2020

Eraserhead

(EUA, 1977)
Direção: David Lynch
Elenco: Jack Nance, Charlotte Stewart, Allen Joseph, Jeanne Bates

Poucos são os cineastas que conseguem imprimir seu estilo logo no seu primeiro filme. E o grande David Lynch se enquadra perfeitamente na afirmação acima pois Eraserhead é a síntese de sua marca em toda a sua filmografia: imagens bizarras, cenas de palco, década de 1950, apurado trabalho de som. Se inserisse esse filme no meio da terceira temporada de Twin Peaks faria total sentido pois o DNA singular de Lynch salta aos olhos mesmo passado quarenta anos. E se a estória de um homem apático que se relaciona com uma garota que deu cria a um ser estranhíssimo não faz sentido (poderia ser uma alegoria sobre a paternidade?), essa sempre foi a essência do diretor - que também é artista plástico - em que a sensação é mais importante que um simples contar de história. Se a o mestre Buñuel usou com brilhantismo o surreal como arma para alfinetar a hipocrisia da sociedade; Lynch bebe na mesma fonte como combustão para suas obsessões pessoais para brincar com a própria linguagem cinematográfica.

sábado, junho 20, 2020

Destaques nos cinemas

EM VIRTUDE DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, INFELIZMENTE, AS EXIBIÇÕES DOS FILMES FORAM INTERROMPIDAS E AS SALAS DE CINEMA FECHADAS TEMPORARIAMENTE.

quarta-feira, junho 10, 2020

Fora de Série

(Booksmart, EUA, 2019)
Direção: Olivia Wilde
Elenco: Beanie Feldstein, Kaitlyn Dever, Skyler Gisondo, Billie Lourd

Raro assistir a uma comédia nesses últimos anos - e mais ainda quando é uma boa comédia. Fora de Série pertence a última afirmação acima. Estranhamente o filme passou despercebido nos cinemas mas a estreia da atriz Olívia Wilde na direção é uma grata surpresa recordando o cinema adolescente de John Hughes mas com uma pegada atual e um discurso feminista sobre empoderamento e amizade bastante válido. Mas o ponto forte do filme é o carisma impressionante das personagens principais que cativam o público ao dar vida a duas garotas nerds que decidem se entregar a diversão (festa) antes de ingressar a universidade. Divertido e com cenas hilárias, Wilde manteve a segurança em não cair no grotesco e assim entrega um filme que deixaria John Hughes orgulhoso.

sexta-feira, junho 05, 2020

Nascido em Quatro de Julho

(Born on the Fourth in July, EUA, 1989)
Direção: Oliver Stone
Elenco: Tom Cruise, Willem Dafoe, Kyra Sedgwick, Frank Whaley

Nascido em Quatro de Julho faz parte da trilogia do Vietnã que fez a fama do diretor Oliver Stone (veterano de guerra) na década de 1980. Se no seu primeiro filme, Platoon, o cineasta relata de forma crua e dramática os horrores do combate; em Nascido em Quatro de Julho, Stone adiciona no caldo o desencanto patriótico. Adaptação da biografia de Ron Kovic, um jovem nacionalista que decide lutar pelo seu país e retoma da guerra marcado por traumas e feridas eternas (virou paraplégico).
O diretor faz um bonito trabalho mas poderia ter ido mais fundo na desilusão do mítico american way of life. E a ótima produção às vezes atrapalha no que Stone quer focar: a fotografia de Robert Richardson é linda mais plástica demais; e a atuação de Tom Cruise convence mais a terrível maquiagem desvia a atenção. Contendo ótimas cenas dramáticas aqui e acolá, e uma ágil edição e uma trilha sonora tocante, Nascido em Quatro de Julho é um bom exemplo sobre o despertar da consciência política. Pena que Stone forçou a mão em alguns momentos.

segunda-feira, junho 01, 2020

A Hora da Estrela

(Brasil, 1985)
Direção: Suzana Amaral
Elenco: Marcelia Cartaxo, José Dumont, Tamara Taxman, Fernanda Montenegro

Macabéa é uma solitária mulher de 19 anos mas com a mentalidade de menina de 10 anos: ingênua, doce, virgem. Mas nem tanto. Não tem higiene, mentalmente lerda, feia e doida pra namorar. Uma das obras mais famosas de Clarice Lispector, A Hora da Estrela, quem diria, recorda Forrest Gump. Mas se o filme gringo usava o protagonista para fazer uma insólita revisão da história dos EUA; a obra brazuca tem menos ambição e abraça um humor peculiar e perverso sobre um ser que não tem vez em uma grande metrópole. Como um peixe fora d'água, a narrativa foca o esforço de Macabéa (nome vem de uma promessa dos pais falecidos) por um lugar ao sol mas a  chance é mínima por ser rodeada de urubus. Com um bom roteiro, este é até o momento a melhor adaptação de Lispector no cinema graças a carismática atuação de Marcelia Cartaxo (tocante o seu jeito abobalhado). Pena que a trilha sonora de Marcus Vinicius seja bem datada (recorda os filmes exibidos no extinto Cine Trash) mas fora isso A Hora da Estrela é um bom filme sobre a busca por mudanças - e suas consequências.

sexta-feira, maio 15, 2020

Destaques nos cinemas

EM VIRTUDE DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, INFELIZMENTE, AS EXIBIÇÕES DOS FILMES FORAM INTERROMPIDAS E AS SALAS DE CINEMA FECHADAS TEMPORARIAMENTE.

domingo, maio 10, 2020

O Homem que Virou Suco

(Brasil, 1981)
Direção: João Batista de Andrade
Elenco: José Dumont, Célia Maracujá, Denoy de Oliveira, Ruth Escobar

Um homem tem a sua vida transformado em um inferno ao ser confundido por um foragido da justiça é um tema muito explorado na literatura e cinema. E a sua representação máxima no cinema brasileiro é o ótimo O Homem que Virou Suco. A obra de João Batista de Andrade é uma pérola chapliana extremamente atual e em certos momentos um tapa na cara ao expor sem a menor cerimônia a xenofobia do sul do Brasil em relação aos imigrantes do norte. A triste saga de Deraldo, um poeta sonhador da Paraíba que se muda para São Paulo em busca de uma nova vida mas a pauliceia desvairada demonstra o seu poder destruidor. O filme mostra o contraste social em que os burgueses aparecem em festas, no topo de um edifício em construção; enquanto os pobres vivem na miséria e explorados no ambiente de trabalho. O Homem que Virou Suco é um filme frenético ao expor um homem lutando por sua identidade (ele não tem RG) em um mundo que faz questão de tirar toda a sua razão de existência. E a atuação de José Dumont é fantástica pois o ator demonstra uma incrível naturalidade ao dar vida a um homem avido pela vida e que não tem medo de briga. Uma pérola desconhecida que merece ser descoberta.




terça-feira, maio 05, 2020

O Poço

(El Hoyo, Espanha, 2019)
Direção: Galder Gaztelu-Urrutia
Elenco: Ivan Massagué, Zorion Eguileor, Antonia San Juan, Emilio Buale

Em tempos de quarentena da epidemia do coronavírus a Netflix foi oportunista - e sábia - ao inserir no seu catálogo a ficção científica/terror espanhola O Poço que fez burburinho em vários festivais em que participou. O filme de estréia de Galder Gaztelu-Urrutia relata um homem que aceita participar de uma secreta experiência: ficar preso em uma torre em que todo mês as cobaias são escaladas em se hospedar em diferentes andares. E todos se alimentam de um pomposo banquete através de uma mesa móvel que desce verticalmente dos primeiros andares até os últimos. Quem está nos primeiros andares se beneficia da comida farta mas quando a mesa desce mais a alimentação fica escassa gerando selvageria e caos aos presos. Fica óbvio a crítica social da obra mas a mesma é inteligente ao elaborar um tenebroso estudo sobre a humanidade e a falta de solidariedade no sistema em que vivemos. E Urrutia consegue inserir no texto elementos bíblicos e até mesmo brinca com o clássico da literatura Dom Quixote (o livro faz companhia ao protagonista). Com uma produção modesta mas muito bem feita, O Poço é um interessante raio-x da sociedade; um sistema que não se comove com o próximo, e que não percebe que todos estão no mesmo poço, no mesmo buraco. Um filme reflexivo e interessante.

sexta-feira, maio 01, 2020

Alien: Covenant

(EUA/Inglaterra, 2017)
Direção: Ridley Scott
Elenco: Michael Fassbender, Katherine Waterston, Billy Crudup, Danny McBride.

Alien é um ser extraterreno de natureza indestrutível que tem um grande potencial de se transformar em uma arma letal em mãos erradas. A premissa acima vale para a intenção de Ridley Scott em ganhar dinheiro de qualquer maneira com a saga Alien. Se a Fox tinha a inteligente estratégia de escalar cineastas de estilos diferentes para imprimir uma visão singular sobre o monstro; a partir de Prometheus, Scott volta ao comando e o negócio desanda de vez ao investir em dois pontos. Primeiro, a prepotência. Scott criou um ar filosófico a ficção científica mas perdeu a mão ao deixar pontos soltos em uma narrativa confusa. Segundo, a repetição. A fórmula dos aliens caçando humanos se desgastou diante de tantas sequências. Assim, Alien: Covenant representa um dos piores filmes da carreira - irregular diga de passagem - do cineasta britânico. Uma pena pois o design de produção e impecável e a fotografia soturna do Dariusz Wolski é belíssima; algo a esperar de um filme de um diretor que tem no currículo Blade Runner - O Caçador de Androides, Thelma & Louise e Alien - O 8º Passageiro. Mas o roteiro fraquíssimo transformou em pó a esperança de um reboot interessante. Uma lástima.

segunda-feira, abril 20, 2020

Destaques nos cinemas

EM VIRTUDE DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, INFELIZMENTE, AS EXIBIÇÕES DOS FILMES FORAM INTERROMPIDAS E AS SALAS DE CINEMA FECHADAS TEMPORARIAMENTE.

quarta-feira, abril 15, 2020

Festival de Berlim 2020

O Festival de Berlim 2020 começa altamente politizado e o júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons não foge a cartilha e premia obras com teor estritamente polêmico como a pena de morte,  tema do iraniano There Is No Evil que ganhou o Urso de Ouro de melhor filme, e o estadunidense Never Rarely Sometimes Always obra pró-aborto que levou o Urso de Prata. Os outros destaques desta edição foram: o estadunidense First Cow considerado o melhor filme do festival, um faroeste original sobre a amizade entre um americano e um chinês; o sul-coreano The Woman Who Ran que mostra a veia criativa e original do cinema do momento ao expor a rotina de várias mulheres; o novo desenho da Pixar Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, um retorno a ideias originais e agraciado com ótimas criticas; o francês Effacer l'Historique, comédia sobre o medo da exposição da mídia; e o alemão Undine, um drama romântico sobre uma mulher que não esquece o seu ex.
Já o Brasil fez bonito com destaque para a consagração de Caru Alves de Sousa com o drama Meu Nome é Bagdá, relato sobre um grupo de garotas skatistas que ganhou o Grand Prix da Mostra Generation 14Plus; e Cidade Pássaro de Matias Mariani que conta a estória de um músico nigeriano que busca o seu irmão em São Paulo.

***

A lista dos vencedores do Festival de Berlim 2020:

Urso de Ouro de Melhor Filme: There Is No Evil (Irã) de Mohammad Rasoulof
Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri): Never Rarely Sometimes Always  (EUA) de Eliza Hittman
Urso de Prata de Melhor Diretor: Hong Sang-Soo - The Woman Who Ran (Coréia do Sul)
Urso de Prata de Melhor Ator: Elio Germano - Hidden Away (Itália)
Urso de Prata de Melhor Atriz: Paula Beer - Undine (Alemanha)
Urso de Prata de Melhor Roteiro: Favolecce (Itália)
Urso de Prata - Melhor Contribuição Artística: Jurgen Jurges (diretor de fotografia) de DAU. Natasha (Rússia)
Urso de Prata - 70ª Edição: Effacer I´historique (França) de Benoit Delépine e Gustav Kervern

sexta-feira, abril 10, 2020

8 e 1/2

(Otto e Mezzo, Itália, 1963)
Direção: Federico Fellini
Elenco: Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Sandra Milo, Claudia Cardinale.

Como uma espécie de continuação de A Doce Vida, Fellini vai mais fundo em sua persona e escancara de vez ao revelar toda a sua intimidade. A começar pelo título, aqui temos um  famoso cineasta internado em um spa/clinica após uma crise em meio às filmagens de seu oitavo e meio filme. E como um mágico, o mestre mistura fantasia e existencialismo com uma segurança impressionante. A começar pela linda fotografia de Gianni Di Venanzo que usa um preto e branco que ressalta o realismo misturado ao onírico. E a energética trilha sonora de Nino Rota brinca com a linguagem cinematográfica. Mas se a princípio o filme fala da pressão nos bastidores do cinema no qual o seu enredo se passa quase todo que inteiramente no spa e no set de filmagem, Fellini amplia o leque e torna 8 e 1/2 em uma potente alegoria sobre memória, culpa e a falta de amor materno (em que A Doce Vida, o diretor revela distanciamento com o pai) através do esforço incrível do editor Leo Cattozzo que superou as expectativas ao mesclar com maestria o caos presente e os fatos traumáticos do passado. Com um final otimista e emocionante, Fellini é sempre uma prova de que depois da tempestade vem a calmaria.

domingo, abril 05, 2020

A Doce Vida

(La Dolce Vita, Itália, 1960)
Direção: Federico Fellini
Elenco: Marcello Mastroianni, Yvonne Furneaux, Anita Ekberg, Alan Cuny

Antes de ser cineasta, o mestre Fellini foi jornalista em Roma. E com essa bagagem, o diretor criou o mítico A Doce Vida. Um super charmoso Marcello Mastroianni entra no rol dos grandes atores ao personificar o auto ego do diretor; um paparazzi sedutor especializado em matérias sensacionalistas, e observando o vazio e o desespero dos romanos, além de testemunhar burgueses na orgia sem repressão. Roma de Fellini é devasso e sagrado. Mas com um toque pessoal é um no fantástico - graças aos impressionantes movimentos de câmera em que vários personagens pulam para a tela - o diretor não tem medo de expor os seus medos, imperfeições e mostra os seus problemas familiares (a ausência do pai), o tédio, a melancolia e o senso de deslocamento como Marcello infeliz com a sua profissão; a namorada desequilibrada;  a atriz sueca sinônimo de beleza mas que é mal tratada pelo amante; o amigo que simboliza a maturidade e a sensatez mas que tem um fim trágico. Em A Doce Vida as pessoas precisam representar algo que não lhe convém para poder viver. Roma é um caldeirão de pessoas, culturas que fascina aos mais desavisados mas por dentro mostra seres se esforçando para sair dos seus casulos. Sem dúvida um filme que representa toda a inquietação que foi a década de 60. Aos olhos de hoje não é um filme fácil mas indispensável e atual ao imprimir a loucura da sociedade de uma forma original.

quarta-feira, abril 01, 2020

Jóias Brutas

(Uncut Gems, EUA, 2019)
Direção: Benny Safdie e Josh Safdie
Elenco: Adam Sandler, Idina Menzel, Julia Fox, Kevin Garnett

É muita coragem abrir um filme com imagens de um exame proctológico do protagonista - o que leva a crer que o personagem principal, Howard Ratner, vai fazer merda no decorrer do filme. É esse é o principal mote dramático: Ratner é um homem que vive sobre o tesão do risco sem medir consequências e sem se portar com todos a sua volta.
Com um roteiro ágil, os irmãos Safdie recordam demais da adrenalina de alguns filmes de Martin Scorsese (que é o produtor executivo do filme) como Depois de Horas e Os Bons Companheiros. Mas o destaque do filme vai para a energética montagem de Benny Safdie e Ronald Bronstein que deixa o público sem fôlego (um absurdo a sua não indicação ao Oscar) e a atuação explosiva de Adam Sandler que já demonstrara que é um bom ator quando quer e aqui ele arrebenta ao humanizar um ser homem sem escrúpulo algum. Com um ar realista, os irmãos Safdie sabe manipular a platéia que se pega torcendo por Ratner mesmo que ele nunca pare de fazer merda.

sexta-feira, março 20, 2020

Festival de Sundance 2020

O mês de janeiro é o pontapé para o primeiro grande festival do ano: Sundance.  Na competição ótimos filmes foram exibidos como o autobiográfico Minari de Lee Isaac Chung (EUA) em que na década de 1980, uma família de coreano tenta o sonho americano no Arkansas. Esta foi a obra mais aclamada do festival e abocanhou vários prêmios. Outros destaques: Promising Young Woman de Carey Mulligan (Reino Unido/EUA) em que a própria diretora, a atriz Carey Mulligan, dá vida a uma mulher cedendo de vingança contra homens abusadores; Never Rarely Sometimes Always de Eliza Hittman (Reino Unido/EUA) conta a estória de duas adolescentes em busca de aborto em Nova Iorque; Zola de Janicza Bravo (EUA) um roadmovie em que uma stripper passa por situações bizarras em uma viagem para a Flórida; Nine Days de Edson Costa (EUA) uma ficção cientifica dirigida por um brasileiro (e que ganhou o prêmio de roteiro) em que um homem entrevista várias almas em busca de um corpo para retornar a Terra; The Father de Florian Zeller (Reino Unido/EUA) que relata conflito familiar entre pai e filha; The Glorias de Julie Taymor (EUA) é uma biografia da ativista feminista Gloria Steinem.

***

A lista dos vencedores do Festival de Sundance 2020:

FILME AMERICANO:
Prêmio da Audiência: Minari de Lee Isaac Chung
Grande Prêmio do Júri: Minari de Lee Isaac Chung
Prêmio de Diretor: Radha Blacnk - The 40-Year-Old Version
Prêmio de Roteirista Waldo Salt: Edson Oda - Nine Days
Prêmio Especial do Júri: Never Rarely Sometimes Always de Eliza Hittman
Prêmio Especial do Juri para Filme Amador: Shirley de Josephine Decker
Prêmio Especial do Júri para Elenco: Charm City Kings de Angel Manuel Soto

FILME ESTRANGEIRO:
Prêmio da Audiência: Sin Señas Particulares (México/Espanha) de Fernanda Valadez
Grande Prêmio do Júri: Yalda, A Night for Forgiveness (Ira/França/Alemanha/Suíça/Luxemburgo) de Massoud Bakhsh
Prêmio de Diretor: Maïmouna Doucouré - Cuties (França)
Premio Especial do Júri para Atuação: Ben Whishaw - Surge (Reino Unido)
Prêmio Especial do Júri de Melhor Roteiro: Fernanda Valadez e Astrid Rondero - Sin Señas Particulares (México/Espanha)
Prêmio Especial do Júri por Cineasta Visionario: Lemohang Jeremiah Mosese - This Is Not a Burieal, It´s a Resurrection (Lesoto/África do Sul/Itália)

terça-feira, março 10, 2020

A História Oficial

(La Historia Oficial, Argentina, 1985)
Direção: Luis Puenzo
Elenco: Norma Aleandro, Héctor Alterio, Chunchuna Villafañe, Analia Castro.

A História Oficial é um marco não somente do cinema argentino mas do cinema latino-americano por ser o primeiro filme desta região a ganhar o Oscar de melhor filme internacional. Super premiado, a obra portenha é um belo melodrama sobre o despertar político e social de uma mulher (professora de história o que soa até estranho) sobre os terríveis acontecimentos da ditadura argentina. O ótimo roteiro de Luis Puenzo e Aída Bortinik aproveita várias possibilidades do enredo e vai além do político ao abordar uma visão feminina sobre maternidade e os terríveis acontecimentos nos porões da ditadura; fatos estes que forçaram as argentinas irem às ruas em busca de um basta. Com uma produção caprichada, o diretor Luis Puenzo faz um trabalho cuidadoso sobre essa deplorável época; mas a trilha sonora extremamente datada de Maria Elena Walsh e Atilio Stampone e as cenas que acontecem na sala de aula poderiam ser cortadas. Mas a força do filme vem da estupenda atuação da grande atriz Norma Aleandro que sabe extrair verdade especialmente no fim doloroso do filme. E é lamentável em pleno Século 21 ter gente que defende a ditadura e o autoritarismo militar como resposta a determinadas crises políticas, financeiras e sociais.

quinta-feira, março 05, 2020

1917

(Inglaterra/EUA, 2019)
Direção: Sam Mendes
Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong, Andrew Scott.

Nos últimos anos o Oscar premiou cineastas que usaram com maestria longos planos-sequências como Alfonso Cuaron (Gravidade e Roma) e Alejandro Gonzalez Inarritu (Birdman e O Regresso). Assistindo 1917, o diretor Sam Mendes usa e abusa do mesmo artifício mesmo sendo inovador ao realizar um filme de guerra em tempo real e sem a participação direta do protagonista em cenas de batalha. Mas também é só isso. O filme ganharia pontos se usasse diálogos mínimos ao invés de investir em frases rasas fruto de um roteiro fraco em toda sua projeção. No entanto a parte técnica é um primor, especialmente na impactante cena da vila em chamas a noite recordando Andrei Tarkovski. Mas até nesse quesito a fotografia do mestre Roger Deakins copia muito o trabalho do outro mestre Emmanuel Lubezki (especialmente em O Regresso). Assim no decorrer da projeção do filme a obra lembra demais Gravidade em conta de uma - previsível - enxurrada de cenas de grande impacto como a queda do avião e a do protagonista no rio. Mas o pior mesmo é transformar a guerra em um ato excitante o que descaracteriza do propósito de relatar o horror que existe nos combates. Não dá para negar o seu ritmo incessante mas como um filme de guerra, 1917 é um ótimo videogame.