terça-feira, janeiro 25, 2022

Globo de Ouro 2022



O ano de 2021 foi péssimo para o Globo de Ouro. Com uma avalanche de denúncias sobre a HFPA a respeito de suborno e falta de transparência entre os jornalistas afiliados, Hollywood e a mídia em geral simplesmente deram as costas ao primeiro grande prêmio do ano o que gerou o cancelamento da sua cobertura televisionada, além de ser esnobada pela imprensa o que foi um golpe duríssimo a sua credibilidade. Mesmo assim a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood divulgou os seus indicados, e no dia 09/01/2022 anunciou os vencedores via site do Globo de Ouro. No entanto, a lista dos vencedores mostra um pequeno parâmetro do que pode acontecer até a noite do Oscar. Digo isso pois o prêmio teve uma pequena similaridade com os prêmios da crítica americana como foi o caso da consolidação do filme japonês Drive My Car de Ryusuke Hamaguchi como o favorito para o Oscar de melhor filme internacional e com chances reais de fazer bonito no Academy Awards. Merecidamente, Hans Zimmer é o favorito pela ótima trilha sonora de Duna. Outra indicação que é barbada é a Jane Campion como melhor direção por Ataque dos Cães. Do mesmo filme, o ator australiano Kodi Smit-McPhee ganhou quase todos os prêmios como ator coadjuvante reforçando o "poder" do filme neozelandês. Mas o Globo de Ouro também deu gás para o musical Amor, Sublime Amor, com três vitorias importantes. Mesmo que o filme tenha sido um fiasco de bilheteria, a tradição da velha Hollywood e Steven Spielberg em seu melhor em muito tempo podem estragar a festa de Campion e Cia nas próximas premiações.


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A lista dos vencedores do Globo de Ouro 2022:

Melhor Filme - Drama: Ataque dos Cães
Melhor Filme - Comédia: Amor, Sublime Amor
Melhor Direção: Jane Campion (Ataque dos Cães)
Melhor Ator - Drama: Will Smith (King Richard: Criando Campeãs)
Melhor Ator - Comédia: Andrew Garfield (Tick, Tick... Boom!)
Melhor Atriz - Drama: Nicole Kidman (Apresentando os Ricardos)
Melhor Atriz - Comédia: Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor)
Melhor Ator Coadjuvante: Kodi Smit-McPhee (Ataque dos Cães)
Melhor Atriz Coadjuvante: Ariana DeBose (Amor, Sublime Amor)
Melhor Filme Estrangeiro: Drive My Car (Japão)
Melhor Longa em Animação: Encanto
Melhor Roteiro: Belfast
Melhor Trilha Sonora: Duna
Melhor Canção: 007 - Sem Tempo Para Morrer

quinta-feira, janeiro 20, 2022

Destaques nos Cinemas

BELLE

(Ryu to Sobakasu no Hime, Japão, 2021) de Mamoru Hosoda
Animação. Garota tímida consegue se estravar nas redes sociais e com isso ela acaba se encantando e descobrindo os horrores da internet.




LICORICE PIZZA

(EUA, 2021) de Paul Thomas Anderson
Drama. A história de amizade ou amor entre dois jovens na década de 1970 em plena região metropolitana de Los Angeles.



O BECO DO PESADELO
(Nightmare Alley, EUA, 2021) de Guillermo del Toro
Suspense. Em um circo, vigarista aprende truques para possíveis golpes e tem a chance ideal ao conhecer um milionário.

sábado, janeiro 15, 2022

Lançamentos nos Streamings

O EXORCISTA
(The Exorcist, EUA, 1973) de William Friedkin
HBO Max
Terror. Adolescente apresenta um comportamento perturbador a ponto de sua mãe acreditar que a sua filha esteja possuída por um demônio.




ETERNOS
(Eternals, EUA, 2021) de Chloé Zhao
Disney+
Fantasia. Eternos é uma raça de seres imortal responsável em moldar os grandes acontecimentos da historia da humanidade.




O FANTÁSTICO SENHOR RAPOSO
(The Fantastic Mr. Fox, EUA, 2009) de Wes Anderson
HBO Max
Animação. Após anos de civilidade, o Senhor Raposo se cansa de sua vida tranquila e retorna ao seu instinto de caçador.


KING RICHARD: CRIANDO CAMPEÃS
(EUA, 2021) de Reinaldo Marcus Green
HBO Max
Drama. Pai luta a todo custo para realizar um sonho: tornar suas filhas em campeãs do tênis.


A LENDA DO CAVALEIRO VERDE
(The Green Knight, EUA/Canadá/Irlanda, 2021) de David Lowery
Amazon Prime Video
Drama. Na Grã-Bretanha medieval, um homem enfrenta os mais diversos perigos para encontrar o temível cavaleiro verde.





UM LUGAR SILENCIOSO
(A Quiet Place, EUA, 2018) de John Krasinski
Netflix
Suspense. No futuro, a população do planeta é dizimado por estranhas criaturas mas uma família consegue sobreviver ao ataque 




UM LUGAR SILENCIOSO - PARTE 2
(A Quiet Place - Part 2, EUA, 2021) de John Krasinski
Telecine Play
Suspense. Após o confronto com monstros, a família Abbott se separa e depara que as criaturas não são os únicos perigos em seu caminho.




MATRIX RESSURECTIONS
(EUA, 2021) de Lana Wachowski
HBO MAX
Ficção cientifica. Após o fim da guerra entre humanos e maquinas, Neo hiberna em Matrix até surgir uma nova oportunidade para um embate.




NO RITMO DO CORAÇÃO
(CODA, EUA/Canadá/França) de Sian Heder
Amazon Prime Video
Drama. Adolescente fica dividida em estudar musica ou ficar em casa para ajudar a sua família composta por deficientes auditivos.


PIG - A VINGANÇA
(EUA, 2021) de Michael Sarnoski
Telecine Play
Suspense. Homem solitário busca pelo paradeiro do sumiço de seu porco de estimação.


O ÚLTIMO DUELO
(The Last Duel, EUA/Inglaterra, 2021) de Ridley Scott
Star+
Drama. Na França da idade média, um cavaleiro e um escudeiro partem para um duelo após a acusação de estupro da esposa do cavaleiro.



ZODIACO
(Zodiac, EUA, 2007) de David Fincher
HBO Max
Suspense. Jornalista procura a identidade de um psicopata que esta causando terror em San Francisco na década de 1970.

segunda-feira, janeiro 10, 2022

King Richard: Criando Campeãs

(EUA, 2021)
Direção: Reinaldo Marcus Green
Elenco: Will Smith, Aunjanue Ellis, Jon Bernthal, Tony Goldwyn

Richard Williams é um pai de família extremamente humilde que tem uma ideia ambiciosa: treinar as duas filhas gêmeas, Vênus e Serena, para estas se tornarem campeãs do tênis. O obstáculo: eles além de serem pobres, são negros. E tênis é um esporte elitista e majoritariamente para pessoas brancas. Mesmo diante dessa realidade ridícula, Richard não desiste da ideia mesmo que o seu planejamento estratégico seja totalmente incomum neste esporte.
Baseado na estória real das irmãs Williams, aqui a surpresa foca no pai das garotas, um homem tão focado na sua meta que toma decisões inesperadas. Mas o filme não cai na armadilha do pai abusivo. Pelo contrário, o filme de Marcus Green é bastante respeitoso com a figura de Richard Williams ao mostrar o seu lado de pai preocupado com a família mas de métodos não convencionais. Mas é importante esclarecer que as verdadeiras irmãs Williams produziram esse longa.
O grande destaque do filme é o elenco. Pra começar a ótima atuação de Aunjanue Ellis, uma atriz aparentemente desconhecida mas que imprime amorosidade e uma personalidade forte mas sem deixar se abater com a presença do marido. Mas o dono do filme é o astro Will Smith, que tem um charme, uma presença em cena que o público não consegue desgrudar os olhos.
Outro ponto importante é o tema do filme ao abordar que as oportunidades são desiguais. Afinal as irmãs Williams quebraram um tabu em um esporte tão segregacionista; que se tornaram um exemplo para todos ao focar nas dificuldades de entrar em um mundo tão competitivo e muitos vezes injusto, e de superar adversidades consideradas impossíveis.  
Mas o diretor não conseguiu mostrar com clareza e objetividade o funcionamento de uma partida de tênis - este esporte é realmente difícil de filmar. King Richard: Criando Campeãs não é um clássico mas desempenha bem o papel de entretenimento graças a uma edição eficaz da Pamela Martin, ao tema da superação de obstáculos, e principalmente a uma dupla de protagonistas que cativa o espectador.

quarta-feira, janeiro 05, 2022

Casa Gucci

(House of Gucci, EUA/Inglaterra/Itália, 2021)
Direção: Ridley Scott
Elenco: Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jared Leto.

Em mais de quarenta anos de carreira, Ridley Scott já fez de tudo. Trabalhou em vários gêneros, realizou clássicos absolutos como o épico Gladiador, o drama transgressor Thelma & Louise, e especificamente na ficção cientifica com Blade Runner - O Caçador de Andróides e Alien, o 8º Passageiro. E quase arruína a sua carreira com bombas do quilate de Hannibal e o terrível reboot de Alien como Prometheus e Alien: Covenant. O cineasta inglês fez bons filmes baseados em estórias reais como foi o caso de O Gângster, por isso que a expectativa sobre Casa Gucci era grande mas no fim da sessão fiquei com uma sensação que o diretor não sabia do que estava fazendo.
Na Itália da década de 1970, a filha de um proprietário do ramo de transporte, Patrizia Reggiane, conhece por acaso em uma festa Maurizio Gucci, herdeiro da famosa e rica empresa de moda. Do encontro, Patrizia vê neste rapaz que quer se desgarrar dos negócios da família a oportunidade de subir na vida. Ela consegue seduzir e casar com o ingênuo, e na primeira oportunidade sabe persuadir Maurizio a retornar a família com o objetivo de comandar a renomada empresa. No entanto, as suas decisões se tonam motor para desestabilizar de vez a família Gucci.
Casa Gucci chama atenção pela breguisse (figurino, direção de arte e maquiagem bem anos 70 e 80 na milésima potência). Também chama atenção o uso excessivo de músicas em que a edição - preguiçosa diga-se de passagem - transforma em pequenos clipes. Tem de tudo: músicas italianas, David Bowie, Eurythmics, Blondie, George Michael, Tracy Chapman e Luciano Pavarotti. Com certeza, o seu soundtrack é melhor que o filme. E acredite, a edição da veterana Claire Simpson é uma bagunça que eu queria que o filme terminasse logo. Outro detalhe: o filme inicia com a locução da Patrizia para depois não usar recurso o que demonstra logo de cara um certo desleixo.
Não dá para falar do filme sem comentar o fantástico elenco - que se encontra totalmente perdido. A exceção é a Lady Gaga que com sua presença magnética sabe explorar a única personagem que é mais bem construída no roteiro. Ela usa as garras para dar vida a uma mulher esperta, viva mas gananciosa até demais a ponto de abalar a família Gucci e o seu império. Só não sei no que ela viu na cartomante Salma Hayek (desperdiçada) para "iluminar" os caminhos. Falando em desperdício, o resto do elenco é mal aproveitado em virtude do comentado sotaque italiano. Se Al Pacino está familiarizado com a cultura italiana, o seu personagem não é tão forte como aparenta ser (pouco aproveitado). Jeremy Irons não é uma boa opção para papéis latinos (alguém lembra do chileno A Casa dos Espíritos?). Adam Driver tem um personagem interessante pois Maurizio Gucci é um homem que não tinha voz própria, tudo se resumia as decisões da família ou da esposa Patrizia mas aqui o ótimo ator está um pouco apagado. Mas o desastre vai para Jared Leto que mesmo numa maquiagem irreconhecível a canastrice continua a mesma, e fico chocado do povo falar em indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante.
No decorrer de sua metragem, pensei em como Martin Scorsece faria esse filme, o que poderia ser desde uma comédia deliciosa de humor negro ou um drama pesadíssimo. Mas nas mãos de Scott, o filme é uma boa produção para ser exibida no curso de administração ao falar de uma família que não sabe dirigir uma empresa, uma marca de renome internacional que hora vira chacota e em outros momentos conhece a glória. Como falei: um grande desperdício.

sábado, janeiro 01, 2022

Ataque dos Cães

(The Power of the Dog, Nova Zelândia/EUA/Inglaterra, 2021)
Direção: Jane Campion
Elenco: Benedict Cumberbatch, Jesse Plemons, Kirsten Durnst, Kodi Smit-McPhee

Phil e George são dois irmãos ricos que vivem num enorme rancho. Mas os dois tem personalidades totalmente opostas. George é civilizado, educado, elegante. Resumo: um perfeito cavalheiro. Já Phil é hostil, rude, violento, grosso e sujo...além de uma estranha obsessão com um tal de Bronco Henry, o seu mentor falecido. Mas as coisas mudam quando George decide se casar com uma viúva dona de um estabelecimento, Rose. Aí começa os problemas. Phil e Rose não se dão bem logo de cara após o cowboy ter sido totalmente grosseiro com o filho dela, Peter, um jovem sensível e um tanto quanto fascinante e imprevisível. A chegada de Rose e Peter no rancho desestabiliza a rotina do local, particularmente quando Phil usa Peter para torturar Rose e, consequentemente, esta usa a bebida como válvula de escape.
Após um hiato de mais de dez anos, a cineasta neozelandesa Jane Campion realiza o seu retorno triunfal ao cinema nesta adaptação da difícil obra de Thomas Savage. Consagrada nos anos de 1990 por Um Anjo em Minha Mesa e principalmente O Piano (um dos meus filmes favoritos), Campion arrasa neste filme que a cada minuto que passa revela novas surpresas. Através de suas imagens passou pela minha cabeça os filmes O Piano (as paisagens idílicas) até O Segredo de Brokeback Mountain (os cowboys nas montanhas) mas foi em uma das cenas mais arrepiantes que eu vi nos últimos anos (quando Irene treina no seu piano e sente que Phil está por perto), a diretora me deu uma bela voadora. Não sei se deveria abrir o jogo, ou se essa informação é um ingrato spoiler mas mesmo assim vou revelar, e espero não estragar as expectativas. No decorrer da narrativa, percebi que George é o único sã da trama - e o único que fica mais tempo fora do rancho. E o rancho de acolhedor não tem nada; é uma casa grande, antiga e a ótima direção de arte de Grant Major consegue expor uma energia ruim ao local. Resumo: a família Bates de Psicose se sentiria a vontade neste lugar. E por fim tem o personagem de Benedict Cumberbatch, um comboy casca grossa que tem problemas emocionais: a sua vida se resume ao rancho (que ele não larga por nada desse mundo), a sua quase infantil união com o irmão (eles dormem no mesmo quarto em duas camas de solteiro como se tivessem 15 anos de idade), e tem essa estranha fixação com o falecido Bronco Henry. Mais uma vez outro filme de Hitchcock veio a minha mente: Rebecca, A Mulher Inesquecível. Quando o filme termina tenho a incrível constatação que Ataque dos Cães está longe de ser um faroeste intimista, e sim num drama gótico de muita personalidade. Já que além de Phil, George, Irene e Peter, o rancho também é um elemento vivo na estória. Ele tem o poder de dar vida ao Bronco Henry o que deixa Phil perturbado; Irene nunca se sente bem neste local ocasionando no alcoolismo. A linda fotografia de Ari Wegner também sabe explorar o tom sombrio desta "prisão" em contraste as lindas imagens de embasbacar do ambiente externo que a envolve. Cada tomada externa é mais linda que a outra. A trilha sonora orgânica, contida e elegante de Jonny Grenwood (que é a sua marca registrada) causa presença. O único senão do filme foi a edição de Peter Sciberras em que de início divide a narrativa em capítulos para no meio do fim abandonar tal formato. Achei um recurso desnecessário mas que não atrapalha no desenvolvimento do filme. 
E não dá para comentar um elemento importante da obra: o seu elenco. Os atores brilham em seus papéis, em que o destaque vai para a revelação o ator australiano Kodi Smit-McPhee que representa com magnetismo uma pessoa totalmente fora da curva. Também merece os elogios a sofrida caracterização de Kirsten Durnst que não cai no melodrama em um personagem que a cada dia vai se decaindo. E Cumberbatch mostra presença e desenvoltura uma virilidade misturada com insanidade que deixa qualquer um apavorado...como eu fiquei na cena do treino do piano.
No fim, para quem pensa que Campion fez um faroeste intimista, ao meu ver Ataque dos Cães é uma ode a Hollywood clássica; uma perturbadora mistura de Hitchcock com os dramas de Tennessee Williams. E essa estranha mistura é fascinante e sai totalmente da caixinha.