terça-feira, janeiro 30, 2024

Globo de Ouro 2024



Nos primeiros dias de 2024 aconteceu o Globo de Ouro - abrindo as premiações televisionadas do ano 2024 com uma ótima e surpreendente lista de indicados após as mudanças feita pela organização no ano passado. Mesmo assim, a premiação refletiu o principal acontecimento de 2023: o fenômeno Barbenheimer. Os dois filmes lideraram o numero de indicações. No entanto na noite da premiação o filme de Christopher Nolan abocanhou quase tudo tornando Oppenheimer o grande favorito ao Oscar (o que não é surpresa), enquanto as duas vitórias de Barbie (canção e "filme popular") deixou um sorriso amarelo. Já Assassinos da Lua das Flores (o principal adversário de Nolan no Oscar) saiu enfraquecido mesmo com a vitória de Lilly Gladstone em melhor atriz. Mas a decepção mesmo ficou com Zona de Interesse que tinha potencial de ter ganho algo e saiu da festa com as mãos vazias. Já Os Rejeitados e Pobres Criaturas não tem do reclamar ao sair da premiação com duas grandes vitórias para cada. Destacar também a vitória do japonês O Menino e  a Garça em animação. Mas a maior surpresa foi a força do francês Anatomia de uma Queda que levou prêmios importantíssimos como filme estrangeiro (para a ira do comitê francês que tirou o filme no Oscar) e a maior surpresa da noite: o de melhor roteiro desbancando os favoritos Nolan e Scorsese. O filme de Justine Triet está tão em alta que pode mexer no tabuleiro no Oscar.


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A lista dos vencedores do Globo de Ouro 2024:

Melhor Filme - Drama: Oppenheimer
Melhor Filme - Comédia: Pobres Criaturas
Melhor Filme Estrangeiro: Anatomia de uma Queda (França)
Melhor Longa em Animação: O Menino e a Garça
Maior Realização Cinematográfica e em Bilheteria: Barbie
Melhor Direção: Christopher Nolan (Oppenheimer)
Melhor Ator - Drama: Cillian Murphy (Oppenheimer)
Melhor Ator - Comédia: Paul Giamatti (Os Rejeitados)
Melhor Atriz - Drama: Lily Gladstone (Assassino da Lua das Flores)
Melhor Atriz - Comédia: Emma Stone (Pobres Criaturas)
Melhor Ator Coadjuvante: Robert Downey Jr. (Oppenheimer)
Melhor Atriz Coadjuvante: Da´Vine Joy Randolph (Os Rejeitados)
Melhor Roteiro: Anatomia de uma Queda
Melhor Trilha Sonora: Oppenheimer
Melhor Canção: Barbie

sábado, janeiro 20, 2024

Destaques nos cinemas

OS REJEITADOS
(The Holdovers, EUA, 2023) de Alexander Payne
Drama. Nos anos de 1970, um professor megera fica responsável por alunos que ficarão na escola nas festividades de fim de ano.



ERVAS SECAS

(Kuru Otlar Üstüne, Turquia, 2023) de Nuri Bilge Ceylan
Drama. Um professor tenta animar seu colega decepcionado em não conseguir transferência para Istambul.




SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO

(May December, EUA, 2023) de Todd Haynes
Drama. Um casal tem o cotidiano abalado quando uma famosa atriz se aproxima deles para um estudo de caso no novo filme da estrela de cinema



ANATOMIA DE UMA QUEDA

(Anatomie d´une Chute, França, 2023) de Justine Triet
Drama. A morte de um homem põe em cheque a inocência da esposa e a confiança no filho cego.




VIDAS PASSADAS
(Past Lives, EUA, 2023) de Celine Song
Drama. Separados pelo destino, dois amigos se reencontram na vida adulta e essa reunião faz questionar sobre seus destinos.

segunda-feira, janeiro 15, 2024

Lançamentos nos streamings

AMOR
(Amour, Áustria, 2012) de Michael Haneke
Mubi
Drama. Casal idoso tem a sua relação posta em teste com o agravamento do mal de Alzheimer de um dos cônjuges.


FALE COMIGO
(Talk to Me, Austrália, 2022) de Danny e Michael Philippou
Amazon Prime
Terror. Jovens de uma pequena cidade descobrem um inusitado vício: contatar o além através de um artefato.



FRANCES HA
(EUA, 2012) de Noah Baumbach
Mubi
Comédia. Estudante de dança encara as dificuldades e desafios da vida com uma leveza desconcertante.



GILDA
(EUA, 1946) de Charles Vidor
HBO Max
Policial. Na Buenos Aires pós Segunda Guerra Mundial, um apostador se envolve em um perigoso triângulo amoroso.


GOSTO DE SANGUE
(Blood Simple, EUA, 1984) de Ethan e Joel Coen
Mubi
Policial. Após descobrir que a esposa esta tendo um caso, um homem decide vingança mas os planos não saem como desejado.


MOONRISE KINGDOM
(EUA, 201) de Wes Anderson
Star+
Comédia. Nos anos de 1960, uma comunidade surta com a fuga de dois adolescentes apaixonados.


O PRIMEIRO HOMEM
(First Man, EUA, 2018) de Damien Chazelle
Star+
Drama. Biografia do primeiro astronauta a pisar na lua, Neil Armstrong.




SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO
(Scott Pilgrim vs The World, EUA, 2010) de Edgar Wright
Star+
Ação. Jovem conhece a garota dos seus sonhos mas para conquistá-la tem que enfrentar os ex-namorados da musa.


SINDICATO DE LADRÕES
(On The Waterfront, EUA, 1954) de Elia Kazan
HBO Max
Drama. Boxeador fracassado entra em colisão com um sindicato e sofre as consequências pelos atos.


A SOCIEDADE DA NEVE

(La Sociedad de la Nieve, Espanha, 2023) de Juan Antonio Bayona
Netflix
Drama. Time de rúgbi uruguaio luta para sobreviver após o acidente em sua aeronave na Cordilheira dos Andes.

quarta-feira, janeiro 10, 2024

Monster

(Japão, 2023)
Direção: Hirokazu Koreeda
Elenco: Sakura Andô, Soya Kurosawa, Eita Nagayama, Hinata Hiiragi.

Saori é uma jovem viúva que cria o seu filho Minato com o maior amor e carinho. Mas começa a estranhar o comportamento do filho após as chegadas da escola. Cabelo cortado, sem tênis e um machucado no rosto. Averiguando melhor o que está acontecendo, Minato comenta sobre o professor Hori. Com esta informação, Saori vai à escola atrás da verdade mas descobrir o que realmente está acontecendo leva a estórias inesperadas e tocantes.
Depois de vencer a Palma de Ouro em Cannes em 2018 pelo devastador Assunto de Família, Hirokazu Koreeda não para de entregar ótimos filmes em sua filmografia. E Monster é um dos pontos altos de sua carreira. Aqui, o diretor brinda um cinema cheio de camadas em que o enredo não para de surpreender. Uma dica: para quem gostar do iraniano Ashgar Fahadir vai se deleitar com esta tocante obra. E também vai perceber semelhanças com o filme belga Closer. Mas o filme japonês se sobressai pelo trabalho brilhante e complexo do roteiro de Yuji Sakamoto (vencedor em Cannes) em que vai pulando de tema pegando o público de surpresa. Se no início o filme parece abordar a relação de mãe e filho e ao protecionismo estatal (isso mesmo), o enredo dá uma rasteira e envereda sobre outras camadas que vai da falta de humanidade que cerca as crianças. Tudo isso de forma suscita, fluida.
A ótima montagem do próprio diretor que joga ao público como as ações mudam de ponto de vista de acordo com a visão do personagem num vai e vem gerando uma teia que não para de crescer. E cria um mosaico surpreendente e doloroso sobre os fatos narrados. Destaque também para a trilha sonora de Ryuichi Sakamoto - sutil e delicada mas totalmente orgânica ao filme - e com dó no coração que este é o ultimo trabalho do grande mestre japonês.
O elenco é maravilhoso mas é a dupla de crianças que é um assombro. Enquanto Soya Kurosawa sabe demonstrar os conflitos (que pasmem são adultos) com um vigor de veterano; Hinata Hiiragi é uma fofura e todo mundo compreende da empatia de Minato por Eri.
O filme de Horeeda critica a visão japonesa que não é tão distante do restante do mundo. Aqui, ele toca em temas como o machismo perante as mães solteiras, a homofobia, e a omissão de uma organização (aqui representada pela escola) perante a um problema que eles próprios não tem interesse em solucionar.
Monster é a testemunha de como as crianças absorvem os problemas e a visão deprimente dos adultos em relação ao próximo. Aqui, Horeeda expõe personagens que não são o mal em pessoa mas que carregam em si um peso suficiente para se machucar e machucar os outros. O monstro do título são todos nos. É sobre o que a maldade é capaz de fazer em uma vida tão jovem e de longe um dos melhores filmes de 2023.

sexta-feira, janeiro 05, 2024

Folhas de Outono

(Kuolleet Lhdet, Finlândia, 2023)
Direção: Aki Kaurismäki
Elenco: Alma Pöysti, Jussi Vatanem, Janne Hyytiäinen, Nuppu Koive.

Ansa é uma funcionária de um supermercado que tem uma rotina monótona que vai do trabalho sem graça e sua vida pessoal apática (e que ela tenta dar um up escutando músicas em um rádio) até que é demitida por estar roubando comida vencida em seu trabalho. Já Holappa é um peão de obra da construção civil que vive alcoolizado em um trabalho maçante, pesado e desanimado. E em uma escura e nebulosa Helsinque (capital da Finlândia), essas duas vidas solitárias e miseráveis se encontram e algo mudam entre elas - mesmo que a realidade dura (que ganha mais carga com a Guerra da Ucrânia) engula a todos.
O diretor Aki Kaurismäki tem um estilo todo particular que não vacilo em dizer que é o Wes Anderson da Escandinávia. A posição da câmera estática e sem vida, a fotografia escura e letárgico, os personagens que vivem a margem da sociedade finlandesa. As atuações apáticas fazem parte da assinatura do diretor. E aqui ele faz a sua obra-prima. Um filme acessível; uma comédia romântica a sua maneira ao relatar duas almas introvertidas e pobres que descobrem o poder do amor. E como plus uma deliciosa trilha sonora que dá um charme a mais ao filme. O diretor também faz um suscito comentário sobre o medo de uma possível invasão russa a Finlândia em contra ponto a apatia dos personagens.
A dupla de protagonistas Alma Pöysti e Jussi Vatanem (e o resto do elenco também) sabem expor toda a assinatura e estilo do diretor o que torna tudo mais delicioso. E mesmo assim destaque para Pöysti que sabe expressar ternura no papel da Ansa, uma mulher totalmente fechada ao mundo e as pessoas - mas que há algo em seu interior louca pra sair do comum como a busca de um parceiro por exemplo.
Só mesmo Aki Kaurismäki para fazer um filme pra baixo mas que dentro de si tem muita vida pulsando - muita coisa acontecendo debaixo do tapete. Sabe daquela pessoa que você tem pena mas que nem imagina (ou não quer saber!) como ela é de fato. Folhas de Outono é isso. Também é um cinema que mescla alguma sofisticação, leveza em um ambiente tão inóspito. É como ver beleza na escuridão das Fossas Marianas. E isso tudo de uma forma com bastante propriedade e domínio cinematográfico.

segunda-feira, janeiro 01, 2024

Pedágio

(Brasil, 2023)
Direção: Carolina Markowicz
Elenco: Maeve Jinkings, Kauan Alvarenga, Thomas Aquino, Aline Marta Maia.

Suellen é uma cobradora de pedágio em uma estrada que tem a sua vida virada do avesso quando o seu filho adolescente chamado Tiquinho publica vídeos na internet com perfomances que remetem as drag queens. Com a viralização dos vídeos em seu ambiente de trabalho, Suellen faz de tudo para que o filho pare com o comportamento a ponto de escutar os conselhos de uma colega sobre um curso de cura gay. Desesperada, ela entra em uma enrascada para poder matricular o filho no curso.
Pedágio é um raio-x de uma sociedade doente. De pessoas hipócritas que fazem questão de criticar, se intrometer na vida dos outros. E que usam a religião como escada para expor o que tem de pior de si mesmas. Mas quando elas próprias são flagradas em suas falhas tem como resposta: as pessoas não precisam saber de tudo. Ou seja, faço o que eu digo mas não faça o que eu faço.
Aqui a diretora Carolina Markowicz mistura o real, o cru - algo muito palpável na ótima fotografia de Luís Armando Arteaga - mas sem forçar a barra o que abre caminho para um certo senso de humor. E mesmo que ela tente fazer um filme mais comercial não é para todos os gostos. E também faltou um pulso mais forte na narrativa que causasse mais impacto ao público. Nesse aspecto acho isso uma falha da cineasta pois o tema da cura gay tem que ser mais debatido, exposto ao amplo público especialmente em um momento em que tentam anular legalmente o casamente gay e que leis anti-LGBT estão ganhando força dentro e fora do Brasil.
Mas o tom real da narrativa cai bem nas interpretações de Maeve Jinkings e Kauan Alvarenga. Os dois atores reforçam o tom seco e naturalista na relação tempestuosa entre mãe e filho. Eles se amam mas o sentimento é uma mistura turbulenta de uma conexão que hora surge um carinho e em outros momentos da falta de empatia e diálogo. Assim, Pedágio se transforma num interessante estudo de personagem do papel da Maeve Jinkings. Aqui reforça a imagem de uma mulher conservadora que tem o seu ódio alimentado e amplificado por pessoas desprezíveis a sua volta e que estão longe de representa o melhor do seu humano. Algo que vimos bastante em um mundo cada vez mais polarizado em relação aos costumes. E também um mundo em que pautas como cura gay é bastante discutida e criticado (por isso ao meu ver que a diretora optou por um pastor estrangeiro).
Pedágio é uma reflexão sobre intolerância e descobertas - ao mesmo tempo - uma visão sobre uma sociedade que não perdoa o espírito livre das pessoas.