sexta-feira, janeiro 05, 2024

Folhas de Outono

(Kuolleet Lhdet, Finlândia, 2023)
Direção: Aki Kaurismäki
Elenco: Alma Pöysti, Jussi Vatanem, Janne Hyytiäinen, Nuppu Koive.

Ansa é uma funcionária de um supermercado que tem uma rotina monótona que vai do trabalho sem graça e sua vida pessoal apática (e que ela tenta dar um up escutando músicas em um rádio) até que é demitida por estar roubando comida vencida em seu trabalho. Já Holappa é um peão de obra da construção civil que vive alcoolizado em um trabalho maçante, pesado e desanimado. E em uma escura e nebulosa Helsinque (capital da Finlândia), essas duas vidas solitárias e miseráveis se encontram e algo mudam entre elas - mesmo que a realidade dura (que ganha mais carga com a Guerra da Ucrânia) engula a todos.
O diretor Aki Kaurismäki tem um estilo todo particular que não vacilo em dizer que é o Wes Anderson da Escandinávia. A posição da câmera estática e sem vida, a fotografia escura e letárgico, os personagens que vivem a margem da sociedade finlandesa. As atuações apáticas fazem parte da assinatura do diretor. E aqui ele faz a sua obra-prima. Um filme acessível; uma comédia romântica a sua maneira ao relatar duas almas introvertidas e pobres que descobrem o poder do amor. E como plus uma deliciosa trilha sonora que dá um charme a mais ao filme. O diretor também faz um suscito comentário sobre o medo de uma possível invasão russa a Finlândia em contra ponto a apatia dos personagens.
A dupla de protagonistas Alma Pöysti e Jussi Vatanem (e o resto do elenco também) sabem expor toda a assinatura e estilo do diretor o que torna tudo mais delicioso. E mesmo assim destaque para Pöysti que sabe expressar ternura no papel da Ansa, uma mulher totalmente fechada ao mundo e as pessoas - mas que há algo em seu interior louca pra sair do comum como a busca de um parceiro por exemplo.
Só mesmo Aki Kaurismäki para fazer um filme pra baixo mas que dentro de si tem muita vida pulsando - muita coisa acontecendo debaixo do tapete. Sabe daquela pessoa que você tem pena mas que nem imagina (ou não quer saber!) como ela é de fato. Folhas de Outono é isso. Também é um cinema que mescla alguma sofisticação, leveza em um ambiente tão inóspito. É como ver beleza na escuridão das Fossas Marianas. E isso tudo de uma forma com bastante propriedade e domínio cinematográfico.

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