segunda-feira, abril 25, 2022

Oscar 2022



Com a aparente volta a normalidade, a Academia de Cinema de Hollywood tinha tudo para celebrar na cerimonia de 2022 a vida e ao cinema. No entanto, esta edição será marcada como uma desastrosa sucessão de erros. Para início, o Oscar tirou da cerimônia ao vivo a premiação de oito categorias com a intenção de atrair mais audiência na televisão (o que não deu certo). Com a crítica referente a não indicação de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa ao prêmio máximo a Academia inventou em criar uma votação no Twitter que flopou - a audiência escolheu Liga da Justiça rsrs. E se Ataque dos Cães era o grande favorito da noite com 12 indicações e premiadíssimo pela crítica...no fim da premiação saiu quase de mãos abanando; não foi dessa vez que a Netflix finalmente levou o prêmio principal da noite. Com apenas o prêmio de direção, o filme de Jane Campion assistiu de camarote a surpreendente vitória do apenas bonito No Ritmo do Coração (que é da Apple) nos últimos minutos expondo duas tristes constatações: Hollywood não gosta de mexer na "mística" do faroeste (especificamente a homossexualidade como ocorreu O Segredo de Brokeback Mountain, expondo vergonhosamente que os votantes ainda não amadureceram o que é uma lástima); e a Netflix ainda paga pela ousadia de ter esnobado as salas de cinemas antes da pandemia. E falando em salas de cinema, foi justamente neste ponto que o Oscar reconheceu até demais a ficção cientifica Duna com 06 Oscars, afinal o diretor Denis Villeneuve defendeu a exibição com exclusividade do seu filme nos cinemas. Assim, a cerimônia foi uma das mais previsíveis e chata de todos os tempos - mesmo com o corte das oito categorias - mas será marcada por um tapa. A confusão entre Will Smith e Chris Rock roubou a cena vergonhosamente e foi a única coisa que tornou a entrega "inesquecível". Se a Academia queria celebrar o cinema...no fim pareceu enredo de novela mexicana.


***

A lista dos vencedores do Oscar 2022:

MELHOR FILME: No Ritmo do Coração
MELHOR FILME INTERNACIONAL: Drive My Car (Japão)
MELHOR FILME EM ANIMAÇÃO: Encanto
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Summer of Soul
MELHOR CURTA-METRAGEM: The Long Goodbye
MELHOR DIREÇÃO: Jane Campion (Ataque dos Cães)
MELHOR ATOR: Will Smith (King Richard - Criando Campeãs)
MELHOR ATRIZ: Jessica Chastain (Os Olhos de Tammy Faye)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Troy Kotsur (No Ritmo do Coração)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Ariana DeBose (Amor, Sublime Amor)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: No Ritmo do Coração
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Belfast
MELHOR FOTOGRAFIA: Duna
MELHOR MONTAGEM: Duna
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Duna
MELHOR FIGURINO: Cruella
MELHOR TRILHA SONORA: Duna
MELHOR CANÇÃO: 007 - Sem Tempo Para Morrer
MELHOR SOM: Duna
MELHOR EFEITOS VISUAIS: Duna
MELHOR MAQUIAGEM: Os Olhos de Tammy Faye
MELHOR CURTA-METRAGEM EM DOCUMENTÁRIO: The Queen of Basketball
MELHOR CURTA-METRAGEM EM ANIMAÇÃO: The Windshield Wiper

quarta-feira, abril 20, 2022

Destaques nos cinemas

A PIOR PESSOA DO MUNDO

(Verdens Verste Menneske, Noruega/França/Suécia/Dinamarca, 2021) de Joachin Trier
Drama. Narração de 4 anos de uma jovem que se encontra mais indecisa do que nunca sobre o seu futuro.


O HOMEM DO NORTE

(The Northman, EUA/Inglaterra, 2022) de Robert Eggs
Aventura. No século X, um príncipe viking busca vingança após o assassinato de seu pai.





FLEE - NENHUM LUGAR PARA CHAMAR DE LAR
(Dinamarca, 2021) de Jonas Poher Rasmussen
Drama. A comovente história de um homem afegão que foge do talibã e se torna refugiado na Europa.

sexta-feira, abril 15, 2022

Lançamentos nos Streamings

BATMAN
(EUA, 2022) de Matt Reeves
HBO Max
Ação. O cavaleiro das trevas investiga a morte do prefeito de Gotham City e desvenda uma teia de corrupção na cidade.


BOHEMIAN RHAPSODY
(EUA/Inglaterra, 2018) de 
Netflix
Drama. Em meados da década de 1970, uma desconhecida banda inglesa entra para a história a partir do lançamento do álbum Bohemian Rhapsody.



A BRUXA
(The Witch, EUA, 2015) de Robert Eggs
Amazon Prime
Terror. No século 17, uma família estritamente religiosa vive na solidão em uma estranha e pertubadora floresta.



CARRIE, A ESTRANHA
(Carie, EUA, 1976) de Brian DePalma
Amazon Prime
Terror. Garota muito tímida a ponto de ser vítima de bullying na escola descobre que tem poderes tele cinéticos.


HARRY E SALLY - FEITOS UM PARA O OUTRO
(When Harry Met Sally..., EUA, 1989) de Rob Reiner
Amazon Prime
Comédia. Harry e Sally se conhecem numa viagem e a partir desse ponto sempre se encontrarão até descobrir uma afinidade particular.




LOUCA OBSESSÃO
(Misery, EUA, 1990) de Rob Reiner
Amazon Prime
Suspense. Após sofrer um acidente em uma região remota, famoso escritor é socorrido por uma delicada e perturbada mulher.




PRISCILLA, A RAINHA DO DESERTO
(The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert, Austrália, 1944) de Stephan Elliot
Amazon Prime
Comédia. Três drags queens decidem cruzar a Austrália em um ônibus para realizar um show em um lugar bem distante de Sidney.


QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL
(Four Weddings and One Funeral, Inglaterra, 1994) de Mike Newell
Amazon Prime
Comédia. Em cinco eventos um solteirão convicto tem o seu estilo de vida remexido com a chegada de uma americana.


O SILÊNCIO DOS INOCENTES
(The Silence of the Lambs, EUA,1991) de Jonathan Demme
Amazon Prime
Suspense. Estagiária do FBI ganha a oportunidade de dialogar com um perigoso psicopata para descobrir pistas de um assassino em serie que aterroriza uma região. 


THELMA & LOUISE
(EUA, 1991) de Ridley Scott
Amazon Prime
Drama. Duas amigas decidem passar um fim de semana de diversão mas um fato torna-as em procuradas pela polícia.

domingo, abril 10, 2022

Águas Profundas

(Deep Water, EUA/Austrália, 2022)
Direção: Adrian Lyne
Elenco: Ben Affleck, Ana de Armas, Tracy Letts, Dash Mihok.

Alguns meses atrás me questionei por onde andava o polêmico cineasta Adrian Lyne e agora descubro que ele retornou a ativa após um hiato de 20 anos. E volta adaptando uma obra de Patricia Highsmith (Talentoso Ripley, e Carol) o que chama mais atenção e que poderia representar o seu retorno em grande estilo. Só que não.
Vic e Melinda representa um casal perfeito. Belos e bem-sucedidos profissionalmente, uma linda filha sapeca, e um casamento exemplar. No entanto, porém, os dois selam um pacto: Melinda tem carta branca para ter amantes, o que ela faz com gosto e abertamente mas o Vic demonstra sinais de insatisfação ao comportamento da esposa.
Mais uma vez o cineasta inglês retoma ao tom provocativo ao falar do adultério, patrimônio e suas convenções e envereda na sua zona de conforto: um drama erótico com pitadas de suspense. Mas aqui o erotismo é brando (Atração Fatal é mais picante), o drama é frouxo, e o suspense é sonífero.
Ana de Armas está linda mas a personagem é tão insuportável que fica difícil entender a atração que ela exerce nos homens. É só uma mulher que ora faz close e ora faz chilique (até a sua filha de 5 anos de idade parece ser mais madura que a mãe). Já Ben Affleck só faz cara de paisagem ao dar vida a um homem que é aparentemente frio. Lyne não é um ótimo cineasta mas aqui ele se supera e faz o seu pior trabalho mesmo que siga explicitamente a sua cartilha cine bibliográfica: não seguir as normas sociais no casamento (adultério ou casamento aberto) gera terríveis consequências, e sempre a culpa repousa na mulher (aqui piora quando ela é estrangeira reforçando a xenofobia) e o marido é o próprio coitado (algo explorado em Infidelidade). O tempo passou mas a cabeça de Lyne continua estática; diferente do seu colega holandês Paul Vehoeven ao realizar o maravilhoso e provocativo Elle (2016). É uma pena.

terça-feira, abril 05, 2022

Batman

(The Batman, EUA, 2022)
Direção: Matt Reeves
Elenco: Robert Pattinson, Jeffrey Wright, Zoe Kravitz, Paul Dano

Em um mundo se estabilizando após o caos da pandemia, os cinemas tiveram um tremendo baque. Salas fechadas e as abertas sobreviveram com bilheterias pífias até a estreia do Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa em dezembro de 2021. A inesperada e espetacular arrecadação do aracnídeo representou uma sobrevida e sinal de esperança do retorno do público aos cinemas (mesmo que a demanda recaia nas produções da Marvel e DC Comics). A bola da vez é Batman.
Gotham City cada dia que passa se mergulha no caos e violência. O misterioso justiceiro Batman se torna uma das armas para colocar ordem na região (o que parece que não está surtindo efeito). E nas vésperas das eleições municipais acontece o assassinato do atual prefeito, e a polícia e Batman se unem em busca do autor mas quando mais eles investigam o caso descobrem uma teia de corrupção e decadência. A corrupção da elite rola solta e pequenos delinquentes podem virar monstros indestrutíveis.
Batman de Matt Reeves faz parte de uma nova trilogia do homem-morcego em que o seu tom se distancia do estilo espetaculoso de Zack Snyder (graças à Deus) e se aproxima do tom sombrio e realista de Christopher Nolan. Mas aqui Reeves foi mais fundo na visão de Nolan e ousa tornar Batman em uma inesperada mistura de filme noir e western spaguetti!!! - o que é um deleite para os cinéfilos. Aqui a pegada vai de Chinatown e Seven - Os Sete Crimes Capitais com direito a narração em off do protagonista e o clima sufocante do clássico de David Fincher; e as longas tomadas à lá Sergio Leoni ganha impulso admirável graças a operística, grandiloquente e inesquecível trilha sonora de Michael Gianchino que faz o impensável: misturar a música sacra Ave Maria com a banda grunge Nirvana (isso mesmo!!). A fotografia de Greig Fraser também é outro elemento importante na narrativa em que todos os personagens são banhados e se perdem na escuridão. Até as luzes pontuais e fortes em vermelho, amarelo e azul invoca um sentido de alerta constante e não de alívio. E é louvável captarmos a força e a inteligência do Batman para fugir do breu constante graças a bela composição do Robert Pattinson ao incorporar um homem que aceita ser justiceiro não como um senso de justiça e sim um sentido a vida que se delineou com o passar do tempo. Aqui é um filme de super herói em que a escuridão não é somente visível aos olhos mas palpável nos sentimentos através de uma galeria de personagens (ou poderia ser a própria Gotham City) que se corrompeu com a humanidade. Batman não é somente um melhores filmes do ano - e sim uma das maiores surpresas da temporada.

sexta-feira, abril 01, 2022

Belfast

(Inglaterra, 2021)
Direção: Kenneth Branagh
Elenco: Jude Hill, Caitriona Balfe, Jamie Dornan, Ciarán Hinds.

Na Belfast em agosto de 1969, a rotina da vida do garotinho Buddy e sua família é abruptamente afetada pela secular rixa entre católicos e protestantes. Agora uma pequena aula de história. A Irlanda do Norte é um país com população protestante ao contrário da Irlanda majoritariamente de católicos. E as duas religiões sempre tiveram atritos no decorrer dos séculos após a Reforma Protestante. Voltando ao filme. Mesmo sendo protestante, Buddy convive perfeitamente com os católicos da região e leva uma vida absolutamente normal mas o aumento do conflito se tona insustentável e abala a relação dos seus pais.
Baseado em sua infância em Belfast, o cineasta e ator Kenneth Branagh faz um filme que não toca fundo na ferida do conflito, separando a narrativa entre pais preocupados com a violência descontrolada e a vida do protagonista - mais interessado em ser o aluno mais inteligente da sala para impressionar uma colega e as sessões de cinema matinê. Aqui o diretor foi simplório em uma obra que lembra Roma do Alfonso Cuarón (memórias, preto e branco, anos 1970, a instabilidade política e social) mas que faltou aqui algo mais consistente (que vai desde o processo de amadurecimento até a alusão de ser despatriado) e só foca em um garoto que quer se divertir enquanto o mundo ao redor pega fogo.
Assim, o grande destaque do filme fica por conta do elenco e da fotografia. O preto e branco de Haris Zambarloulos elucida bem o tom nostálgico e ao mesmo tempo evoca tempos terríveis, obscuros que aquelas pessoas viveram.
O elenco faz milagre com o roteiro engessado e dessa forma não apresentam cenas memoráveis ou de grande impacto o que atrai para o sapeca ator principal Jude Hill que mostra carisma em um garoto que está mais preocupado em ser uma criança (brincar, assistir filme, estudar) do que propriamente com os conflitos do seu país.
No fim faltou coragem, ousadia ao Branagh para falar mais da história de seu país, a Irlanda do Norte e caiu de cabeça em uma fórmula em que o cinema já viu tantas vezes e de forma mais emocionante como Esperança e Glória (1987) de John Boorman. Até a sua abertura não é muito conivente pois mostra lindas imagens atuais de Belfast como se fosse uma declaração de amor a capital e no fim a cidade é esquecida para observarmos um garoto travesso e suas aventuras.