sexta-feira, março 25, 2022

Festival de Berlim 2022



Nos dias 10 a 20 de fevereiro aconteceu o primeiro grande festival do ano, o Festival de Berlim. Com a assombração da variante Omicron rolando solto no mundo afetou o evento diminuindo os dias de realização, e naturalmente a quantidade de filmes, enfatizando mais obras autorais do que grandes produções. Nesta edição o festival foi presidido por M. Night Shamalan (isso mesmo!) e jurados de peso como o cineasta brasileiro Karim Aïnouz, o produtor tunisiano Saïd Ben Saïd, a cineasta alemã Anne Zohra Berrached, a cineasta zimbabuana Tsitsi Dangarembga, o diretor japonês Ryûsuke Hamaguchi e a atriz dinamarquesa Connie Nielsen. Na premiação, o eclético júri se destacou ao premiar somente mulheres como é o caso da espanhola Carla Simon que levou o Urso de Ouro de melhor filme pelo neo-realista Alcarràs que retrata a última colheita de uma família de agricultores catalães. O curta brasileiro Manhã de Domingo de Bruno Ribeiro recebeu Urso de Prata nesta categoria. O longa brasileiro Fogaréu de Flávia Neves - sobre a elite adotando crianças com alguma deficiência para torná-las em suas empregadas - teve boa repercussão no festival. Os outros destaques do festival foram: o indonésio Before, Now & Then de Kamila Andini sobre uma mulher perseguida pelo regime comunista da Indonésia; o suíço A Pierce of Sky de Michael Koch em que a relação de um casal é abalada pelo câncer do marido; o estadunidense Call Jane de Phyllis Nagy que conta a estória de uma conservadora que se descontrói sobre o aborto; o francês Passengers of the Night de Mikhaël Hers que relata a estória de uma mulher em crise após ser abandonada pelo marido; e o mexicano Manto de Gemas de Natalia Lopéz Gallardo que aborda três mulheres diferentes mas com alguma ligação com o tráfico de drogas.

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A lista dos vencedores do Festival de Berlim 2022:

Urso de Ouro de Melhor Filme: Alcarràs (Espanha) de Carla Simón
Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri): The Novelists Film (Coréia do Sul) de Hong Sangsoo
Urso de Prata de Melhor Diretor: Claire Denis - Avec Amour et Acharnement (França)
Urso de Prata de Melhor Interpretação: Meltem Kaptan - Rabiye Kurnaz vs. George W. Bush (Alemanha)
Urso de Prata de Melhor Interpretação Coadjuvante: Laura Basuki - Before, Now & Then (Indonésia)
Urso de Prata de Melhor Roteiro: Rabiye Kurnaz vs. George W. Bush (Alemanha) de Laila Stieler
Urso de Prata - Prêmio do Júri: Manto de Gemas (México) de Natalia López Gallardo

domingo, março 20, 2022

Destaques nos cinemas

BATMAN

(EUA, 2022) de Matt Reeves
Ação. Na luta contra o crime, o mascarado Batman descobre ligação da máfia com a sua família além do surgimento de um perturbador psicopata.


PEQUENA MAMÃE

(Petite Maman, França, 2021) de Celine Sciamma
Drama. Após a morte da avó, a neta se muda para a casa onde sua mãe cresceu e lá faz uma bela amizade com uma garotinha que é a sua semelhança.

terça-feira, março 15, 2022

Lançamentos nos Streamings

AMOR, SUBLIME AMOR
(West Side Story, EUA, 2021) de Steven Spielberg
Disney+
Musical. Na Nova Iorque dos anos de 1950, uma latina e um branco se apaixonam enquanto o bairro é disputado por duas gangues rivais.




ANÔNIMO
(Nobody, EUA, 2021) de Ilya Naishuller
Telecine Play
Ação. Vítima de uma violência após o ataque de um bandido, homem busca a volta por cima dando uma de justiceiro.



O BEBÊ DE ROSEMARY
(Rosemary´s Baby, EUA, 1968) de Roman Polanski
Amazon Prime
Terror. Com um casamento dos sonhos e a chegada de um filho, mulher vê sua vida se transformar em pesadelo.


O BECO DO PESADELO
(Nightmare Alley, EUA, 2021) de Guillermo del Toro
Star+
Suspense. Homem de passado conturbado ver a sua glória e queda ao se envolver no mundo do charlatanismo.





CIDADE BAIXA

(Brasil, 2005) de Sérgio Machado
Netflix
Drama. Dois amigos de longa data tem a amizade estremecida quando se envolvem com uma stripper.



CLUBE DA LUTA
(Fight Club, EUA, 1999) de David Fincher
Star+
Suspense. Com uma vida apática, homem descobre uma nova razão de viver ao participar de um clube de luta.

A FIRMA
(The Firm, EUA, 1993) de Sidney Pollack
Amazon Prime
Suspense. Jovem advogado pragmático suspeita das práticas jurídicas no escritório de advocacia onde atua.



FRESH
(EUA, 2022) de Mimi Cave
Star+
Suspense. jovem inicia uma relação com um homem que conheceu em uma mercearia sem suspeitar que ele apresenta um gosto um pouco habitual.


FOGO CONTRA FOGO
(Heat, EUA, 1995) de Michael Mann
Star+
Policial. Homem habilidoso em grandes assaltos não imagina que um inteligente policial está em sua cola.




(500) DIAS COM ELA
((500) Days of Summer, EUA, 2009) de Marc Webb
Star+
Comédia. Jovem se apaixona e inicia um romance pela colega de trabalho sem imaginar que está só quer se divertir.



ROCKY, O LUTADOR
(EUA, 1976) de John G. Alvidsen
Amazon Prime
Drama. Um lutador miserável joga todas as suas fichas ao aceitar um combate com um campeão mundial de boxe.

quinta-feira, março 10, 2022

Mães Paralelas

(Madres Paralelas, Espanha, 2021)
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Penelope Cruz, Milena Smit, Aitana Sánchez-Gijón, Rossy de Palma

Em um quarto de um hospital, Janis e Ana estão aguardando a vez de parir. E nesse momento tão íntimo nasce uma conexão entre as duas mulheres que são tão diferentes. Janis é uma mulher de 40 anos, madura, fotógrafa bem-sucedida e que não vê a hora de realizar o sonho da maternidade. Já Ana é o oposto. Ela é uma jovem de 18 anos, insegura e apavorada que vê a gravidez como um peso em sua vida.
O último filme de mestre Almodóvar é um novelão carregado mas que a sua visão faz toda a diferença - como de hábito. Aqui ele retorna a maternidade, tema explorado em seus outros filmes como De Salto Alto, Tudo Sobre Minha Mãe e Volver; mas em Mães Paralelas ele consegue fazer um gancho entre a maternidade, as dores femininas e um triste episódio da história espanhola recente. E justamente é nesta gama de temas que o filme acaba se perdendo pois não é fácil achar um fio condutor que organize de forma orgânica os tópicos distintos.
Sobre a produção o destaque fica para a trilha sonora inconfundível de Alberto Iglesias - contido mas ibérico impossível. Também me chamou a atenção o caprichado design de produção de Antxón Gómez em que a casa de Janis é uma explosão de cores - a extravagancia típica de Almodóvar mas de uma forma mais orgânica e simples, que desnuda quem é a protagonista.
Por fim o show particular de Penélope Cruz em um personagem que recorda um pouco outro trabalho icônico: Volver. Se no filme de 2006, ela retrata uma mulher pobre e simples mas marcada por uma tragedia familiar; aqui, ela dá vida a uma mulher mais madura, vivida e politizada mas que se encontra em uma encruzilhada dolorosa.
Almodóvar revelou que fez esse filme em virtude da atual banalização da sociedade espanhola sobre a Ditadura Franquista. E só esse gênio para conseguir conectar maternidade, história e política de uma forma muito pessoal. Mães Paralelas não é um dos melhores filmes do diretor mas a sua criatividade de juntar temas distintos merece um pouco de atenção, além da grande atuação de Penélope Cruz.

sábado, março 05, 2022

Licorice Pizza

(EUA, 2021)
Direção: Paul Thomas Anderson
Elenco: Alana Haim, Cooper Hoffman, Sean Penn, Bradley Cooper.

Anderson é um mestre em se aventurar em diversos estilos e a qualidade de suas obras é sempre presente. E isso se deve a uma característica marcante do diretor: ele conhece como poucos os seus protagonistas.
Numa fila para tirar fotos para o álbum escolar, o aluno Gary de 15 anos se apaixona instantaneamente por Alana que trabalha na equipe que registra fotos. O garoto não perde tempo e dá uma cantada na garota - que no começo não dá bola por conta da diferença de idade (ela tem 24 anos). Mas depois ela sente uma empatia grande por Gary dando início a uma bela estória que mistura amor e amizade em uma Los Angeles caótica em conta da grande crise de petróleo em 1973.
Ultimamente, Anderson deu vida a seres atormentados como Trama Fantasma, O Mestre, Sangue Negro - filmes que fazem sacudir a cabeça do público mais desavisado. Em Licorice Pizza, o diretor dá uma guinada de 360 graus e revela uma dupla de protagonistas jovens apaixonados mas que nunca consomem a paixão (até porque seria um crime!) mas a narrativa é tão bem construída e os personagens são tão bem escritos que o público torce para que eles fiquem juntos. Afinal Gary é um adolescente muito maduro para a sua idade pois ele tem um grande ímpeto em ganhar dinheiro seja como ator ou como empreendedor. Ele sabe o que quer da vida. Já Alana é uma jovem totalmente perdida em seu caminho, e que não tem a menor ideia sobre o seu futuro.
Outro elemento importante do filme é o tom nostálgico ao retratar a Los Angeles da década de 1970. Com a ausência de celular e rede social, a cidade dos anjos vira palco para as aventuras que a dupla se mete incluindo a politica local e a indústria do entretenimento. De uma forma particular, Anderson faz o seu Era Uma Vez... Hollywood de Quentin Tarantino em que o diretor faz uma declaração de amor a LA através da nostalgia e da relação de amor entre Gary e Alana interpretados com muita garra pela dupla Alana Haim e Cooper Hoffman e que desbancam atores renomados como Sean Penn e Bradley Cooper. Um pequeno resumo sobre Licorice Pizza: um drama leve e gostoso sobre a experiência de se conectar com alguém.

terça-feira, março 01, 2022

O Beco do Pesadelo

(Nightmare Alley, EUA, 2021)
Direção: Guillermo del Toro
Elenco: Bradley Cooper, Rooney Mara, Cate Blachett, Toni Collette

Guillermo del Toro é um mestre da fantasia. Seu cinema mágico é extremamente imaginativo e amplo, e usa ao seu favor a exploração de vários temas e gêneros - algo muito evidente nos seus últimos filmes. Ele brinca com o gótico no regular A Colina Escarlate (2015); faz uma linda e açucarada homenagem ao cinema sci-fi dos anos 1950 no premiadíssimo A Forma da Água (2017); e agora nos deleita com o universo do film noir na refilmagem do clássico O Beco das Almas Perdidas (1947) de Edmund Goulding.
No início da Segunda Guerra Mundial, Stanton Carlisle incendeia uma casa no meio do nada com um cadáver dentro, e andando sem rumo se depara em um circo de horrores típico da época. Lá, testemunha as coisas boas como a paixão platônica pela Molly, uma garota a prova de choque elétrico, e a amizade com Pete, um vigarista  que lhe ensina a arte de enganar as pessoas com a telepatia. Mas fica abismado com o dono do circo em explorar um homem miserável a ponto de torturá-lo para exercer o papel de um monstro selvagem. Após um tempo com a trupe, Stanton decide dar uma nova guinada em sua vida, e  junto com a Molly vão para Nova Iorque. Na cidade maça, a dupla ganha muito dinheiro com os shows de telepatia. No entanto, a atração da dupla chama a atenção da psiquiatra Lilith que vê na habilidade de Stanton a pessoa ideal para aplicar golpes em homens ricos...e perigosos.
Aqui o diretor divide a narrativa em duas linhas. A primeira formada no circo em que o diretor bebe na fonte do clássico Monstros (1932) de Todd Browning, e chama atenção pelos personagens "excêntricos". Aqui o filme abraça um tom mais misterioso mas que não resvala para algo mortal. Na segunda parte, o filme cai de cabeça no cinema noir com direito a femme fatale e personagens ambíguos. O estado de perigo, tensão e mistério é constante.
O filme aborda a maldade e os seus ciclos que vai afundando o protagonista até chegar a um ponto que parece não ter mais volta. Como diria Stanton para a Dr. Lilith: "eu sei que você não presta porque eu também não presto. Combinamos". E falando nos dois personagens, Bradley Cooper e Cate Blachett são os destaques mesmo que eu tenha adorado a primeira parte em que Willem Dafoe rouba a cena como sempre.
E não dá para falar de algum filme do diretor sem comentar a produção. Tudo aqui é caprichado. A fotografia sombria de Dan Laustsen que brinca com o escuro mas destaca o dourado (a ambição do protagonista). O lindo design de produção de Tamara Deverell e Shane Vieau que explora tão bem a magia e a decadência do circo e a frieza mortal da cidade de Nova Iorque. A trilha sonora de Nathan Johnson é tímida mas envolvente que se destaca em momentos precisos.
O Beco do Pesadelo é uma boa fábula sobre a degradação moral; em que o personagem Stanton até recebe de presente uma segunda chance para a redenção mas a sua natureza fala mais alto, e del Toro nos brinda com um universo que só ele é capaz de imprimir o que fascina até o soturno protagonista. Não é o melhor filme da carreira do diretor, Labirinto do Fauno ainda é a sua obra-prima, um deleite aos olhos ao mesclar encanto e uma dolorosa parte da história da Espanha. Mas em O Beco do Pesadelo permite o diretor se conectar mais ao seu clássico de 2006 ao expor uma visão mais realista e pessoal da natureza humana. Espero que o diretor não desvie da rota e continue caminhando na trilha da alma humana - sem perder a sua essência e principalmente a imaginação.