sábado, junho 15, 2019

Destaque nos cinemas

DOR E GLÓRIA
(Dolor y Gloria, Espanha, 2019) de Pedro Almodóvar
Drama. Cineasta recorda de sua vida pessoal e profissional quando passa por uma crise existencial.




GRAÇAS A DEUS
(França/Bélgica, 2019) de François Ozon
Drama. Rapaz decide escrever uma carta alegando que foi abusado sexualmente por um padre mas encontra a Igreja Católica como um obstáculo.







DIVINO AMOR
(Brasil/França, 2019) de Gabriel Mascaro
Drama. Servidora de um cartório tem o hábito de aconselhar casais a não se divorciar mesmo que o seu casamento esteja em crise.

segunda-feira, junho 10, 2019

Lazzaro Felice

(Itália/França/Alemanha/Suíça, 2018)
Direção: Alice Rohwacher
Elenco: Adriano Targiolo, Tommaso Ragno, Alba Rohwacher, Nicoletta Braschi.

Lazzaro é um jovem que vive numa comunidade rural no sul da Itália sobrevivendo como "vassalo" da Marquesa Alfonsina que os explora na plantação de tabaco como se vivesse no século 19, mas a estória se passa nos dias atuais.
Lazzaro Felice é uma pequena surpresa; uma dramédia que aborda a alienação e a exploração como um ciclo atemporal, apartidário e social. Como diria a Marquesa: "todo mundo explora todo mundo". E o filme de Alice Rohwacher se encaixa perfeitamente em uma sessão dupla com o clássico Tempos Modernos (1936) afinal o protagonista de Lazzaro Felice apresenta traços chapliniano; um jovem ingênuo vítima das circunstâncias da vida. Mesmo que perca força na metade final da estória ao introduzir o fantástico, Lazzaro Felice é um filme interessante em que a bondade é um sentimento parecido com um nevoeiro: quando o sol aparece (a realidade) ele se dissipa.

quarta-feira, junho 05, 2019

Border

(Suécia/Dinamarca, 2018)
Direção: Ali Abbasi
Elenco: Eva Melander, Eero Milonoff, Jörgen Thorsson, Viktor Akerblom.

Em um momento que eu estou fugindo das produções da Marvel e DC Comics - me dá tédio - constato que a produção escandinava Border é de certa maneira um originalíssimo e instigante filme de super-herói. Aqui a "heroína" é Tina, uma mulher de feições primitiva e repulsiva mas que tem um faro excepcional que a usa a serviço da sociedade, tem a sua rotina alterada com a chegada de Vore, um homem misterioso que apresenta os mesmos traços da protagonista.
Graças ao bom roteiro, o diretor Ali Abbasi soube dar várias camadas ao expor a saída de Tina de sua confortável bolha: a importante conexão com a natureza (afinal homem é bicho complicado); a maldade (as marcas eternamente vivas para quem é diferente); a moralidade (vale a pena acreditar na sociedade?). Com uma ótima fotografia de Nadim Carlsen que capta belas imagens da floresta, o grande destaque é a impressionante maquiagem de Pamela Goldammer e Göran Lundström (merecidamente indicado ao Oscar) que deixa a atriz Eva Melander mais animalesca, perturbadora e muito humana. Border é um filme que superou as minhas expectativas ao lidar com o desconforto para quem é diferente e a difícil arte de acreditar na humanidade.

sábado, junho 01, 2019

Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos

(Portugal/Brasil, 2018)
Direção: Renée Nader Messora e João Salaviza
Elenco: Henrique Ihjãc Kharô, Raene Kôtô Krahô.

Ihjãc é um jovem índio que vive em sua tribo distante da civilização. Com uma vida estabelecida, o protagonista sofre pela morte do pai e mais ainda pela responsabilidade de suceder o papel de seu pai na comunidade.
Surpreendente filme luso-brasileiro todo falado em dialeto indígena que mostra o índio não como uma figura antropológica; mas sim um ser passando por angústias universalmente humanas. Com uma linda fotografia naturalista da co-diretora Renée Nader Messora, o filme recorda os trabalhos do tailandês Apichatpong Weerasethakul ao mesclar o natural, o sobrenatural e a critica social. E com uma tremenda segurança os diretores portugueses Renée Nader Messora e João Salaviza souberam abordar com esmero temas como luto, o de não ser compreendido, e a pressão de exercer uma função quando não se está preparado. No fim fica a sensação amarga que todo o universo harmonioso encontrado na tribo um dia dissipará com a ameaça branca. Com um futuro triste, o filme se antecipa e vira uma crônica aterradora do governo Bolsonaro e sua falta de projeto humanista.