domingo, agosto 25, 2019

Festival de Gramado 2019

O Festival de Gramado 2019 começou com a primeira exibição nacional de Bacurau, Prêmio do Juri do Festival de Cannes, e com um intenso debate sobre a frágil instabilidade do cinema brasileiro em tempo bolsonarista.
Sobre a competição oficial, o festival apresentou uma lista de filmes interessantes na qual quem dominou os holofotes foi o drama cearense Pacarrete de Allan Deberton (no interior do Ceara, uma professora de dança aposentada deseja realizar uma apresentação em um evento) que abocanhou incríveis 08 Kikitos. Outros destaques foram Raia 4 de Emiliano Cunha (conta um triangulo amoroso adolescente); O Homem Cordial de Iberê Carvalho (um cantor é perseguido por um crime que não cometeu); e Hebe - A Estrela do Brasil de Mauricio Farias (biografia da famosa apresentadora).
Já na seção de filmes latinos o representante da Costa Rica, El Despertar de las Hormigas de Antonella Sudasassi (uma senhora reflete sobre a sua vida) e o chileno Perro Bombas de Juan Caceres (expõe a xenofobia no Chile) dividiram a atenção dos jurados e saíram com os principais prêmios neste segmento.

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A lista dos vencedores do Festival de Gramado 2019:

LONGAS BRASILEIROS:

Melhor Longa-Metragem Brasileiro: Pacarrete de Allan Deberton  
Melhor Filme em Longa-Metragem Brasileiro– Prêmio da Critica: Raia 4
Melhor Filme do Júri Popular – Prêmio Especial do Júri: Pacarrete de Allan Deberton
Prêmio Especial do Júri: 30 Anos Blues de Andradina Azevedo e Dida Andrade
Melhor Direção:  Alan Deberton - Pacarrete
Melhor Ator: Paulo Miklos - O Homem Cordial
Melhor Atriz: Marcélia Cartaxo - Pacarrete
Melhor Ator Coadjuvante: João Miguel - Pacarrete
Melhor Atriz Coadjuvante: Carol Castro - Veneza; e Soia Lira - Pacarrete
Desenho de Som: Rodrigo Ferrante e Cauê Custódio - Pacarrete
Melhor Trilha Musical: Sascha Kratzel - O Homem Cordial
Melhor Direção de Arte: Tulé Peake - Veneza
Melhor Montagem: Joana Collier e Fernanda Krumel - Hebe - A Estrela do Brasil
Melhor Fotografia: Edu Rabin - Raia 4
Melhor Roteiro: Allan Deberton, André Araujo, Natalia Maia e Samuel Brasileiro - Pacarrete

LONGAS LATINOS:

Melhor Longa-Metragem Estrangeiro: El Despertar de las Hormigas (Costa Rica) de Antonela Sudasassi

Prêmio Especial do Júri: El Despertar de las Hormigas (Costa Rica) de Antonela Sudasassi

Melhor Filme do Júri Popular: Perro Bomba (Chile) de Juan Caceres

Melhor Direção: Juan Caceres,- Perro Bomba (Chile)

Melhor Ator: Fernando Arze - Muralla (Bolívia)

Melhor Atriz: Julieta Diaz - La Forma de las Horas (Argentina)

Melhor Fotografia: Bernardo Antonaccio - En El Pozo (Uruguai)

Melhor Roteiro: Rafael Antonaccio - En El Pozo (Uruguai)

quinta-feira, agosto 15, 2019

Destaques nos cinemas

BACURAU
(Brasil/França, 2019) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Suspense. Após a morte de sua moradora mais antiga, a população da cidade de Bacurau testemunha fatos bizarros no seu cotidiano.







ERA UMA VEZ EM...HOLLYWOOD
(Once Upon Time in a Hollywood, EUA, 2019) de Quentin Tarantino
Drama. Na Los Angeles de 1969, um astro da TV contata várias pessoas para migrar a sua carreira para o cinema.


NO CORAÇÃO DO MUNDO
(Brasil, 2018) de Gabriel Martins e Maurilio Martins
Drama. No interior de Minas Gerais, um delinquente tenta, junto com sua namorada e uma amiga, realizar um bem-sucedido assalto.




VERMELHO SOL
(Rojo, Argentina/Brasil/Alemanha/França, 2018) de Benjamin Naishtat
Drama. Na Argentina da década de 70, um detetive chega em uma pequena cidade pacata tirando o sossego da sua população.

sábado, agosto 10, 2019

Deslembro

(Brasil/França, 2018)
Direção: Flávia Castro
Elenco: Jeanne Boudier, Eliane Giardini, Sara Antunes, Hugo Abranches.

Em um ano em que o cinema brasileiro lança uma safra excelente de filmes, o presidente da república exige um "filtro" nas produções nacionais; um nome chique para denominar censura. E nessa turbulência chega aos cinemas o belo, sensível e necessário Deslembro. Primeira ficção de Flávia Castro - e autobiográfico - o filme acompanha Joana, uma adolescente brasileira que vive exilada em Paris mas que é obrigada a retornar ao Brasil com a chegada da anistia no fim da década de 1970. Mas a sua vinda ao Rio de Janeiro a faz reviver memórias doloridas em relação ao seu pai, um desaparecido político. Assim, Deslembro é um símbolo das marcas e cicatrizes que as ditaduras produzem seja em adultos ou crianças. E também aborda a falta de diálogo e de repassar as gerações o que representou a ditadura militar no Brasil; diferente da Argentina e Chile que não cansa de abordar o tema. Dessa forma, Joana representa um país que quer esquecer o passado em virtude de uma dor imensurável, mas o "deslembrar" é um artificio perigoso pois pode sugerir memórias criadas como as recordações "positivas" da ditadura e essa ilusão pode influenciar a chegada de um governo autoritário no horizonte. Deslembro é um símbolo de um terrível ciclo político que o Brasil experimenta de tempos em tempos, e que devemos buscar uma ruptura. Um filme essencial para debater política e memória.

segunda-feira, agosto 05, 2019

Divino Amor

(Brasil/Uruguai/França/Dinamarca/Noruega, 2018)
Direção: Gabriel Mascaro
Elenco: Dira Paes, Júlio Machado, Teca Pereira, Emílio de Mello.

Em 2027, o Brasil vive sob um governo autoritário extremamente controlador, burocrático, conservador e um forte viés religioso (uma clara alusão ao governo ideológico do Bolsonaro não é uma mera coincidência). Esses dados simbolizam a vida da servidora de um cartório, Joana, que abraça a causa "divina" de reaproximar casais em processo de divorcio, ao mesmo tempo, a sua fê no seu matrimônio é abalada na dificuldade de engravidar.
O terceiro filme de Gabriel Mascaro mostra a evolução e a ousadia de um cineasta mais seguro em seu estilo - os movimentos de câmera continua calmos e bem trabalhados - e a frieza das interpretações recordam o grego Yorgos Lanthimos (O Lagosta vem a mente). Dira Paes arrebenta numa atuação serena ao dar vida a uma mulher que se entrega de corpo e alma em suas convicções religiosas. A trilha sonora de DJ Dolores lembra demais o som dos filmes de Nicolas Winding Refn. Outro destaque é a bela fotografia de Diego Garcia que sabe usar sombras e ao mesmo tempo luzes neon azul claro e rosa claro em sua paleta simbolizando as cores que representa a seita de Joana, como também o desejo da protagonista de ter um filho.
Divino Amor é o filme mais comercial de Mascaro mas mesmo assim não é uma obra fácil pelo seu polêmico e enigmático final, e por alertar uma nação que cada dia se aproxima da realidade escrita por 1984 de George Orwell mas com uma forte crítica ao poder da religião. Uma triste parábola do uso excessivo da fé para a busca de uma felicidade utópica e inexistente.

quinta-feira, agosto 01, 2019

O Profissional

(Léon, França, 1994)
Direção: Luc Besson
Elenco: Jean Reno, Natalie Portman, Gary Oldman, Danny Aiello.

Em um prédio decadente de Nova Iorque, um assassino profissional fere um importante código de sua categoria ao "adotar" uma garota espevitada única, sobrevivente de uma chacina comandada por um policial corrupto e psicótico.
Em seu primeiro filme falado em inglês, o queridinho dos franceses dos anos 80 e 90, Luc Besson trabalha em um terreno conhecido (ação, violência) nos moldes de Subway (1985) e Nikita - Criada para Matar (1990). Enfatizando mais a estória, os personagens e o ritmo ao invés de focar no visual e nas extravagâncias "publicitárias" da época (auge de Adrien Lynne, Tonny Scott), O Profissional se torna em sua melhor obra ao realizar um filme bem amarrado e com atuações marcantes de um doidão Gary Oldman e especialmente da Natalie Portaman que rouba todas as cenas em seu debut encarnando uma Lolita ávida por vingança. Também gostei bastante da trilha sonora de Eric Serra que usa a música árabe em sua composição. Uma pena que Besson não tenha sido feliz nos seus filmes posteriores após essa grata surpresa.