segunda-feira, agosto 05, 2019

Divino Amor

(Brasil/Uruguai/França/Dinamarca/Noruega, 2018)
Direção: Gabriel Mascaro
Elenco: Dira Paes, Júlio Machado, Teca Pereira, Emílio de Mello.

Em 2027, o Brasil vive sob um governo autoritário extremamente controlador, burocrático, conservador e um forte viés religioso (uma clara alusão ao governo ideológico do Bolsonaro não é uma mera coincidência). Esses dados simbolizam a vida da servidora de um cartório, Joana, que abraça a causa "divina" de reaproximar casais em processo de divorcio, ao mesmo tempo, a sua fê no seu matrimônio é abalada na dificuldade de engravidar.
O terceiro filme de Gabriel Mascaro mostra a evolução e a ousadia de um cineasta mais seguro em seu estilo - os movimentos de câmera continua calmos e bem trabalhados - e a frieza das interpretações recordam o grego Yorgos Lanthimos (O Lagosta vem a mente). Dira Paes arrebenta numa atuação serena ao dar vida a uma mulher que se entrega de corpo e alma em suas convicções religiosas. A trilha sonora de DJ Dolores lembra demais o som dos filmes de Nicolas Winding Refn. Outro destaque é a bela fotografia de Diego Garcia que sabe usar sombras e ao mesmo tempo luzes neon azul claro e rosa claro em sua paleta simbolizando as cores que representa a seita de Joana, como também o desejo da protagonista de ter um filho.
Divino Amor é o filme mais comercial de Mascaro mas mesmo assim não é uma obra fácil pelo seu polêmico e enigmático final, e por alertar uma nação que cada dia se aproxima da realidade escrita por 1984 de George Orwell mas com uma forte crítica ao poder da religião. Uma triste parábola do uso excessivo da fé para a busca de uma felicidade utópica e inexistente.

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