domingo, abril 25, 2021

Festival de Berlim 2021

 


Em um ano tão atípico, o Festival de Berlim 2021 inicia com grandes mudanças a começar por não ter um tradicional presidente do júri e sim um comitê formado pelos seis últimos diretores que conquistaram o Urso de Ouro como o iraniano Mohammad Rasoulof, o israelense Nadav Lapid, a romena Adina Pintillie, a húngara Ildikó Enyedi, o italiano Gianfranco Rosi e a bosniana Jasmilla Zbanic. Outra novidade é que o festival terá duas fases: a primeira fase em março com a competição online e o anúncio dos vencedores; e a segunda fase em junho acontecerá as exibições dos premiados ao público junto com a entrega dos prêmios.
E mantendo a tradição em ser um festival liberal e moderno, a Berlinale extingue os prêmios dados para melhor ator e atriz e cria um prêmio de interpretação sem distinção de gênero para papel principal e coadjuvante.
Com uma lista que não apresenta filmes estadunidenses na competição, a Europa e a Ásia foram contemplados pelo eclético júri. O prêmio máximo caiu para a obra mais polêmica do festival, o romeno Bad Luck Banging or Loony Porn de Radu Jude, que conta a estória de uma professora que tem um seu sextape vazado na internet. Outras obras que chamaram atenção foram: o francês Petite Maman de Céline Schiamma, um belo conto de fadas sobre o luto; o francês Albatros de Xavier Beauvois, drama sobre um policial em crise após vivenciar um trauma no trabalho; o alemão I´m Your Man de Maria Schrader, uma dramédia sobre uma cientista que cria um robô para ser o seu companheiro afetivo; o húngaro Natural Lights de Dénes Nagy, um drama de guerra de visual requintado; o japonês Wheel of Future and Fantasy de Ryusuke Hamaguchi, uma delicada coletânea de três estória de amor. O Brasil não participou da mostra competitiva mas lançou na mostra Panorama o documentário A Última Floresta de Luís Bolognesi com boas criticas sobre o descaso sobre os povos indígenas do Brasil.

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A lista dos vencedores do Festival de Berlim 2021:

Urso de Ouro de Melhor Filme: Bad Luck Banging or Loony Porn (Romênia) de Radu Jude
Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri): Wheel of Future and Fantasy (Japão) de Ryusuke Hamaguchi
Urso de Prata de Melhor Diretor: Dénes Nagy - Natural Light (Hungria)
Urso de Prata de Melhor Interpretação: Maren Eggert - I´m Your Man (Alemanha)
Urso de Prata de Melhor Interpretação Coadjuvante: Lilla Kizlinger - Forest: I See You Everywhere (Hungria)
Urso de Prata de Melhor Roteiro: Introduction (Coréia do Sul) de Hong Sangsoo
Urso de Prata - Melhor Contribuição Artística: Ybrán Asuad pela montagem de Una Película de Policías (México) de Alonso Ruizpalacios
Urso de Prata - Prêmio do Júri: Mr. Bachmann and His Class (Alemanha) de Maria Speth

terça-feira, abril 20, 2021

Destaques nos cinemas

BELA VINGANÇA
(Promising Young Woman, EUA/Inglaterra, 2020) de Emerald Fennell
Drama. Em virtude de uma traumática acontecimento no passado, mulher se vinga de todos os homens que cruzam o seu destino.



NOMADLAND

(EUA/Alemanha, 2020) de Chlóe Zhao
Drama. Após perder a casa em conta da crise econômica de 2008, viúva cruza os EUA com a sua van e vive a experiência de ser nômade.





QUO VADIS, AIDA?
(Bósnia-Herzegovina, 2020) de Jasmilla Zbanic
Drama. Em plena Guerra da Bósnia na de década de 1990, uma tradutora da ONU faz de tudo para defender a sua família.

quinta-feira, abril 15, 2021

Lançamentos nos Streaming

FUJA
(Run, EUA, 2020) de Aneesh Chaganty
Netflix
Suspense. Adolescente que vive "presa" em casa desconfia que a mãe guarda um terrível segredo.



NUNCA, RARAMENTE, ÀS VEZES, SEMPRE
(Never Rarely Sometimes Always, EUA, 2020) de Eliza Hittman
Telecine Play
Drama. Garota e sua prima decidem viajar juntas cladestinamente para Nova Iorque para realizar um aborto.

sábado, abril 10, 2021

O Poderoso Chefão - Parte III

(The Godfather - Part III, EUA, 1990)
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Diane Keaton, Talia Shire, Andy Garcia.

Após dezesseis anos da continuação do clássico com Marlon Brando, Coppola realiza o último ato da saga da família Corleone. E nesse tempo a carreira do mestre deu uma tremenda guinada. De um cineasta consagrado para um realizador apenas competente. E O Poderoso Chefão - Parte III representa um de seus últimos suspiros perante a crítica e o público; e nessa oportunidade o cineasta de Apocalipse Now não perdeu a mão e faz um belo epilogo...mas inferior em relação aos outros filmes em conta de um romance sem sal entre o sobrinho Vincent e a filha de Michael, Mary (e que destoa ainda mais pela péssima atuação da Sofia Coppola que substituiu Winona Ryder na última hora). Em compensação, o filme cresce quando Al Pacino está em cena. O astro de Um Dia de Cão está soberbo ao reviver em um monstro que pede humanidade (ao seu modo, claro!).
Na Nova Iorque de 1979, Michael Corleone se encontra na sua cidade natal e se reconcilia com a sua família. Relatou laços com a irmã Connie (que nem imagina que ele mandou matar o irmão Fredo); é querida pela filha caçula Mary (que a usa nos negócios); cede a contragosto o desejo do seu primogênito de largar o curso de direito para ingressar na carreira de cantor lírico; e dá passos para uma reaproximação com a ex-esposa Key que agora está casado com outro homem. No campo dos negócios, os Corleone larga os cassinos e a ilegalidade para criar uma entidade filantrópica, a Fundação Michael Corleone, o que atrai o Vaticano. E assim, Michael se torna comendador. Resumo da opera: o monstro busca uma tão desejada paz interior...mas as coisas não são tão simples assim especialmente com a chegada do sobrinho Vincent, filho de Sony.
Se no primeiro filme exibia a entrada da máfia no comércio das drogas; neste expõe a família explorando o mercado financeiro, e de quebra mostra a corrupção nas entidades especialmente na Igreja Católica. Ou seja, aqui Michael encontra a via perfeita para limpar a sua consciência que fica mais pesada com o passar do tempo em conta de sua saúde frágil (apresenta diabetes) a ponto de sofrer alucinações que traduz o seu confronto emocional (a bela cena final da escadaria resume bem esse sentimento). E Coppola repete os cacoetes presentes em toda a trilogia: o longa inicia com uma festa familiar; a presença de signos católicos como a Ordem de São Sebastião, uma procissão, uma confissão, e a eleição do papa; o sobrinho Vincent apresenta a mesma intuição do tio quando o assunto é se safar de emboscada; e até a Diane Keaton fecha ela mesma sozinha a porta quando termina de conversar com o Michael.
A produção dá continuidade ao seu nível altíssimo: o design de produção de Dean Tavoularis é de cair o queixo, e a montagem de Barry Malkin, Lisa Fruchman e Walter Murch é excelente especialmente na longa sequência da ópera mas a mesma é sabotada pela insistência do diretor em inserir um romance desnecessário entre Andy Garcia e Sofia Coppola, e de algumas inconsistências (Bridget Fonda some do nada!) na narrativa. No entanto, nada disso tira o mérito do terceiro capitulo que imprimi com vigor a saga de um homem que encontra em eterno conflito, dilema com a sua natureza bestial e as consequências de viver em um mundo tão nefasto. E de certa forma, Coppola conclui - de forma precipitada - o seu último canto de cisne.

segunda-feira, abril 05, 2021

O Poderoso Chefão - Parte II

(The Godfather - Part II, EUA, 1974)
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Robert Duvall, Diane Keaton, Robert De Niro.

Com a continuação do clássico instantâneo de 1972, Coppola se sentiu mais à vontade neste raio-x de uma família mafiosa que foi fundo no inferno astral do seu verdadeiro astro: Michael Corleone. Aqui, a narrativa se divide explicitamente em dois arcos: o surgimento e ascensão de Vito Corleone, e a queda pessoal de Michael. Se o filme abre com a imagem da poltrona que pertencia ao pai e agora se encontra nas mãos do filho demostrando conexão entre eles, a narrativa shakespeariana só aprofunda o fosso entre eles. Se Vito é um sobrevivente da máfia siciliana na Itália que conseguiu uma segunda chance nos EUA do início do século 20 e se estabiliza no poder da comunidade italiana de Nova Iorque. Michael administra os negócios da família como um peso de uma herança maldita; quanto maior a ascensão dos negócios, maior é o declínio familiar. Após o assassinato do cunhado, a irmã Connie se distancia da família e se afunda numa vida vazia. O irmão Fredo se sente incomodado como poder do irmão mais novo que aflora a sua insegurança, fraqueza e trauma. Mas o estopim mesmo é o conflito com a sua esposa que após sobreviver a um atentado e não suporta mais conviver com Michael.
Coppola foi inteligente e brilhante ao dividir a condução do filme em dois momentos diferentes pois além de aprofundarmos a nossa visão sobre a família (bastante disfuncional diga-se de passagem), ele explora outros temas como a chegada dos estrangeiros nos EUA; o preconceito que o estadunidense branco tem com os italianos; o fim da ditadura batista e o inicio da Revolução Cubana. A ampliação desse leque de tópicos foi essencial para amenizar o padrão e repetições que o diretor importou do filme anterior como a introdução através da festa (se no primeiro filme mostra a união familiar, aqui o contexto é o oposto); a família Corleone tenta sobreviver a violenta luta pelo poder; a presença de rituais católicos como a eucaristia do filho de Michael e uma procissão; mais uma vez Michael sobrevive a um ataque graças a sua intuição; e pasmem, Diane Keaton leva porta na cara de novo. Mas isso não tira o mérito do filme graças ao épico roteiro e o nível altíssimo que a produção apresenta: desde a linda fotografia de Gordon Willis ao design de produção perfeito de Dean Tavoularis, Angelo P. Graham e George R. Nelson associado a mítica trilha sonora de Nino Rota e Carmine Coppola (pai do diretor). E também a montagem de Barry Malkin, Richard Marks e Peter Zinner que souberam conduzir com maestria as duas estórias tão distintas e próximas. O Poderoso Chefão - Parte II é uma prova do talento de Copolla, um realizador que está tão imerso nesse universo que conseguiu expandi-lo ao mesmo tempo conservando o seu tema principal: a de um homem tão mergulhado nos negócios da família (crime) que já se sufocou no mundo das trevas.

quinta-feira, abril 01, 2021

O Poderoso Chefão

(The Godfather, EUA, 1972)
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Marlon Brando, James Caan, Diane Keaton.

Clássico absoluto do cinema e até hoje uma forte referência a cultura pop, O Poderoso Chefão simboliza a era de ouro cinema estadunidense da década de 1970 que com a queda do Código Hays (censura) valorizou um cinema mais autoral mas sem perder o lado comercial. E Coppola representa o carro-chefe dessa era em que neste período só dirigiu obras-primas como A Conversação, Apocalipse Now e O Poderoso Chefão - Parte II. E o início de tudo veio com a adaptação do famoso best-seller de Mario Puzo que registra com tintas realistas os Corleones, uma família mafiosa de Nova Iorque que tenta sobreviver ao instável mundo do crime após o atentado de seu chefe, Don Vito Corleone, E com a baixa do seu patriarca, surge um novo elemento imprevisível, o filho caçula Michael Corleone.
Com a montagem perfeita de William Reynolds e Peter Zinner, o público mal sente as quase três horas de duração de um ritmo incessante que oscila entre as ações da máfia e os conflitos familiares do protagonista. O desenho de produção fantástico na recriação de Nova Iorque após a Segunda Guerra Mundial. A trilha sonora inesquecível do mestre italiano Nino Rota. A fotografia espetacular de Gordon Willis que usa um belo jogo de luzes e sombras somado a uma paleta de cores saturada e envelhecida que dá um charme a mais ao filme.
Marlon Brando está um monstro na caracterização de Don Corleone (que facilmente poderia cair na caricatura com um ator menos experiente), mas é o novato Al Pacino que rouba a cena como o complexo Michael Corleone, um rapaz que a princípio tenta se distanciar da família mas que deixa o sangue siciliano falar mais alto. Uma obra-prima sobre o mundo da máfia e principalmente o registro da transformação de um homem (Michael Corleone) que tinha uma vida sossegada, pacata pela frente (o american way of life) e joga tudo isso para o alto para saciar uma sede de vingança brutal e imprevisível.