sábado, abril 10, 2021

O Poderoso Chefão - Parte III

(The Godfather - Part III, EUA, 1990)
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Diane Keaton, Talia Shire, Andy Garcia.

Após dezesseis anos da continuação do clássico com Marlon Brando, Coppola realiza o último ato da saga da família Corleone. E nesse tempo a carreira do mestre deu uma tremenda guinada. De um cineasta consagrado para um realizador apenas competente. E O Poderoso Chefão - Parte III representa um de seus últimos suspiros perante a crítica e o público; e nessa oportunidade o cineasta de Apocalipse Now não perdeu a mão e faz um belo epilogo...mas inferior em relação aos outros filmes em conta de um romance sem sal entre o sobrinho Vincent e a filha de Michael, Mary (e que destoa ainda mais pela péssima atuação da Sofia Coppola que substituiu Winona Ryder na última hora). Em compensação, o filme cresce quando Al Pacino está em cena. O astro de Um Dia de Cão está soberbo ao reviver em um monstro que pede humanidade (ao seu modo, claro!).
Na Nova Iorque de 1979, Michael Corleone se encontra na sua cidade natal e se reconcilia com a sua família. Relatou laços com a irmã Connie (que nem imagina que ele mandou matar o irmão Fredo); é querida pela filha caçula Mary (que a usa nos negócios); cede a contragosto o desejo do seu primogênito de largar o curso de direito para ingressar na carreira de cantor lírico; e dá passos para uma reaproximação com a ex-esposa Key que agora está casado com outro homem. No campo dos negócios, os Corleone larga os cassinos e a ilegalidade para criar uma entidade filantrópica, a Fundação Michael Corleone, o que atrai o Vaticano. E assim, Michael se torna comendador. Resumo da opera: o monstro busca uma tão desejada paz interior...mas as coisas não são tão simples assim especialmente com a chegada do sobrinho Vincent, filho de Sony.
Se no primeiro filme exibia a entrada da máfia no comércio das drogas; neste expõe a família explorando o mercado financeiro, e de quebra mostra a corrupção nas entidades especialmente na Igreja Católica. Ou seja, aqui Michael encontra a via perfeita para limpar a sua consciência que fica mais pesada com o passar do tempo em conta de sua saúde frágil (apresenta diabetes) a ponto de sofrer alucinações que traduz o seu confronto emocional (a bela cena final da escadaria resume bem esse sentimento). E Coppola repete os cacoetes presentes em toda a trilogia: o longa inicia com uma festa familiar; a presença de signos católicos como a Ordem de São Sebastião, uma procissão, uma confissão, e a eleição do papa; o sobrinho Vincent apresenta a mesma intuição do tio quando o assunto é se safar de emboscada; e até a Diane Keaton fecha ela mesma sozinha a porta quando termina de conversar com o Michael.
A produção dá continuidade ao seu nível altíssimo: o design de produção de Dean Tavoularis é de cair o queixo, e a montagem de Barry Malkin, Lisa Fruchman e Walter Murch é excelente especialmente na longa sequência da ópera mas a mesma é sabotada pela insistência do diretor em inserir um romance desnecessário entre Andy Garcia e Sofia Coppola, e de algumas inconsistências (Bridget Fonda some do nada!) na narrativa. No entanto, nada disso tira o mérito do terceiro capitulo que imprimi com vigor a saga de um homem que encontra em eterno conflito, dilema com a sua natureza bestial e as consequências de viver em um mundo tão nefasto. E de certa forma, Coppola conclui - de forma precipitada - o seu último canto de cisne.

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