segunda-feira, abril 05, 2021

O Poderoso Chefão - Parte II

(The Godfather - Part II, EUA, 1974)
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Robert Duvall, Diane Keaton, Robert De Niro.

Com a continuação do clássico instantâneo de 1972, Coppola se sentiu mais à vontade neste raio-x de uma família mafiosa que foi fundo no inferno astral do seu verdadeiro astro: Michael Corleone. Aqui, a narrativa se divide explicitamente em dois arcos: o surgimento e ascensão de Vito Corleone, e a queda pessoal de Michael. Se o filme abre com a imagem da poltrona que pertencia ao pai e agora se encontra nas mãos do filho demostrando conexão entre eles, a narrativa shakespeariana só aprofunda o fosso entre eles. Se Vito é um sobrevivente da máfia siciliana na Itália que conseguiu uma segunda chance nos EUA do início do século 20 e se estabiliza no poder da comunidade italiana de Nova Iorque. Michael administra os negócios da família como um peso de uma herança maldita; quanto maior a ascensão dos negócios, maior é o declínio familiar. Após o assassinato do cunhado, a irmã Connie se distancia da família e se afunda numa vida vazia. O irmão Fredo se sente incomodado como poder do irmão mais novo que aflora a sua insegurança, fraqueza e trauma. Mas o estopim mesmo é o conflito com a sua esposa que após sobreviver a um atentado e não suporta mais conviver com Michael.
Coppola foi inteligente e brilhante ao dividir a condução do filme em dois momentos diferentes pois além de aprofundarmos a nossa visão sobre a família (bastante disfuncional diga-se de passagem), ele explora outros temas como a chegada dos estrangeiros nos EUA; o preconceito que o estadunidense branco tem com os italianos; o fim da ditadura batista e o inicio da Revolução Cubana. A ampliação desse leque de tópicos foi essencial para amenizar o padrão e repetições que o diretor importou do filme anterior como a introdução através da festa (se no primeiro filme mostra a união familiar, aqui o contexto é o oposto); a família Corleone tenta sobreviver a violenta luta pelo poder; a presença de rituais católicos como a eucaristia do filho de Michael e uma procissão; mais uma vez Michael sobrevive a um ataque graças a sua intuição; e pasmem, Diane Keaton leva porta na cara de novo. Mas isso não tira o mérito do filme graças ao épico roteiro e o nível altíssimo que a produção apresenta: desde a linda fotografia de Gordon Willis ao design de produção perfeito de Dean Tavoularis, Angelo P. Graham e George R. Nelson associado a mítica trilha sonora de Nino Rota e Carmine Coppola (pai do diretor). E também a montagem de Barry Malkin, Richard Marks e Peter Zinner que souberam conduzir com maestria as duas estórias tão distintas e próximas. O Poderoso Chefão - Parte II é uma prova do talento de Copolla, um realizador que está tão imerso nesse universo que conseguiu expandi-lo ao mesmo tempo conservando o seu tema principal: a de um homem tão mergulhado nos negócios da família (crime) que já se sufocou no mundo das trevas.

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