sexta-feira, março 20, 2020

Festival de Sundance 2020

O mês de janeiro é o pontapé para o primeiro grande festival do ano: Sundance.  Na competição ótimos filmes foram exibidos como o autobiográfico Minari de Lee Isaac Chung (EUA) em que na década de 1980, uma família de coreano tenta o sonho americano no Arkansas. Esta foi a obra mais aclamada do festival e abocanhou vários prêmios. Outros destaques: Promising Young Woman de Carey Mulligan (Reino Unido/EUA) em que a própria diretora, a atriz Carey Mulligan, dá vida a uma mulher cedendo de vingança contra homens abusadores; Never Rarely Sometimes Always de Eliza Hittman (Reino Unido/EUA) conta a estória de duas adolescentes em busca de aborto em Nova Iorque; Zola de Janicza Bravo (EUA) um roadmovie em que uma stripper passa por situações bizarras em uma viagem para a Flórida; Nine Days de Edson Costa (EUA) uma ficção cientifica dirigida por um brasileiro (e que ganhou o prêmio de roteiro) em que um homem entrevista várias almas em busca de um corpo para retornar a Terra; The Father de Florian Zeller (Reino Unido/EUA) que relata conflito familiar entre pai e filha; The Glorias de Julie Taymor (EUA) é uma biografia da ativista feminista Gloria Steinem.

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A lista dos vencedores do Festival de Sundance 2020:

FILME AMERICANO:
Prêmio da Audiência: Minari de Lee Isaac Chung
Grande Prêmio do Júri: Minari de Lee Isaac Chung
Prêmio de Diretor: Radha Blacnk - The 40-Year-Old Version
Prêmio de Roteirista Waldo Salt: Edson Oda - Nine Days
Prêmio Especial do Júri: Never Rarely Sometimes Always de Eliza Hittman
Prêmio Especial do Juri para Filme Amador: Shirley de Josephine Decker
Prêmio Especial do Júri para Elenco: Charm City Kings de Angel Manuel Soto

FILME ESTRANGEIRO:
Prêmio da Audiência: Sin Señas Particulares (México/Espanha) de Fernanda Valadez
Grande Prêmio do Júri: Yalda, A Night for Forgiveness (Ira/França/Alemanha/Suíça/Luxemburgo) de Massoud Bakhsh
Prêmio de Diretor: Maïmouna Doucouré - Cuties (França)
Premio Especial do Júri para Atuação: Ben Whishaw - Surge (Reino Unido)
Prêmio Especial do Júri de Melhor Roteiro: Fernanda Valadez e Astrid Rondero - Sin Señas Particulares (México/Espanha)
Prêmio Especial do Júri por Cineasta Visionario: Lemohang Jeremiah Mosese - This Is Not a Burieal, It´s a Resurrection (Lesoto/África do Sul/Itália)

terça-feira, março 10, 2020

A História Oficial

(La Historia Oficial, Argentina, 1985)
Direção: Luis Puenzo
Elenco: Norma Aleandro, Héctor Alterio, Chunchuna Villafañe, Analia Castro.

A História Oficial é um marco não somente do cinema argentino mas do cinema latino-americano por ser o primeiro filme desta região a ganhar o Oscar de melhor filme internacional. Super premiado, a obra portenha é um belo melodrama sobre o despertar político e social de uma mulher (professora de história o que soa até estranho) sobre os terríveis acontecimentos da ditadura argentina. O ótimo roteiro de Luis Puenzo e Aída Bortinik aproveita várias possibilidades do enredo e vai além do político ao abordar uma visão feminina sobre maternidade e os terríveis acontecimentos nos porões da ditadura; fatos estes que forçaram as argentinas irem às ruas em busca de um basta. Com uma produção caprichada, o diretor Luis Puenzo faz um trabalho cuidadoso sobre essa deplorável época; mas a trilha sonora extremamente datada de Maria Elena Walsh e Atilio Stampone e as cenas que acontecem na sala de aula poderiam ser cortadas. Mas a força do filme vem da estupenda atuação da grande atriz Norma Aleandro que sabe extrair verdade especialmente no fim doloroso do filme. E é lamentável em pleno Século 21 ter gente que defende a ditadura e o autoritarismo militar como resposta a determinadas crises políticas, financeiras e sociais.

quinta-feira, março 05, 2020

1917

(Inglaterra/EUA, 2019)
Direção: Sam Mendes
Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong, Andrew Scott.

Nos últimos anos o Oscar premiou cineastas que usaram com maestria longos planos-sequências como Alfonso Cuaron (Gravidade e Roma) e Alejandro Gonzalez Inarritu (Birdman e O Regresso). Assistindo 1917, o diretor Sam Mendes usa e abusa do mesmo artifício mesmo sendo inovador ao realizar um filme de guerra em tempo real e sem a participação direta do protagonista em cenas de batalha. Mas também é só isso. O filme ganharia pontos se usasse diálogos mínimos ao invés de investir em frases rasas fruto de um roteiro fraco em toda sua projeção. No entanto a parte técnica é um primor, especialmente na impactante cena da vila em chamas a noite recordando Andrei Tarkovski. Mas até nesse quesito a fotografia do mestre Roger Deakins copia muito o trabalho do outro mestre Emmanuel Lubezki (especialmente em O Regresso). Assim no decorrer da projeção do filme a obra lembra demais Gravidade em conta de uma - previsível - enxurrada de cenas de grande impacto como a queda do avião e a do protagonista no rio. Mas o pior mesmo é transformar a guerra em um ato excitante o que descaracteriza do propósito de relatar o horror que existe nos combates. Não dá para negar o seu ritmo incessante mas como um filme de guerra, 1917 é um ótimo videogame. 

domingo, março 01, 2020

Retrato de uma Jovem em Chamas

(Portrait de la Jeune Fille em Feu, França, 2019)
Direção: Céline Sciamma
Elenco: Noémie Merlant, Adèle Haenel, Luàna Bajrami, Valeria Golino.

Se em um dos seus primeiros filmes, Tomboy, a diretora Céline Sciamma retrata o cotidiano de um garoto transexual com tintas realistas; em Retrato de uma Jovem em Chamas a cineasta francesa vai além da relação artista e musa; usa o idílico para falar do poder do olhar e a sedução do voyagerismo. Com um design de produção simples mas dentro da proposta da obra (o observar o próximo), o filme arrebata com a linda fotografia de Claire Mathon sugerindo cada take uma moldura - afinal a protagonista Marianne tem a missão de fazer um quadro de Héloise sem a mesma saber (um ato de rebeldia contra um casamento arranjado). E com um mínimo de roteiro, Sciamma foi inteligente ao usar o recurso sonoro de estalos de madeira queimando na fogueira em quase toda projeção do filme para acentuar o jogo de sedução e romance entre as protagonistas. Retrato de uma Jovem em Chamas é um filme particularmente sensível e visualmente esplêndido sobre um mundo tão particular, calcado em detalhes visuais, códigos comportamentais que só as mulheres conseguem decifrar. Uma obra de alma feminina por excelência.