terça-feira, dezembro 31, 2019

Filmes da Década: 2010 - 2019

O ano de 2019 chegou ao fim, e inevitavelmente a década de 2010 também. Por ocasião do momento, defini neste último ano uma lista do que mais me agradou ou chamou atenção neste período. Importante informar que essa relação de filmes pode mudar com o passar do tempo mas por enquanto bati o martelo as obras citadas (e apresentadas em ordem alfabética) abaixo:


A BRUXA
(The Witch, EUA, 2015) de Robert Eggers
Se tem um gênero que se deu bem nessa década foi o terror. Do comercial ao mais cerebral, A Bruxa se destaca pelo clima sufocante, a espetacular fotografia, uma diabólica trilha sonora e um final arrasador que aborda culpa cristã e feminismo. De espantar que este seja o primeiro trabalho de Robert Eggers. Que venha os próximos.




14 ESTAÇÕES DE MARIA
(Kreuzweg, Alemanha, 2014) de Dietrich Brüggermann
O cineasta alemão Dietrich Brüggermann não é conhecido pelo público e pouco mencionado pela crítica, mas na minha visão o mesmo surpreendeu ao realizar uma obra extremamente singular e pertubadora sobre a fé. Filmado em impressionantes 14 takes, a obra mostra a via crucis de uma garota católica alemã que enfrenta os dilemas universais de todo adolescente misturado a uma radical determinação religiosa que deixa o público em dúvida sobre os limites da crença. Um filme que merece ser descoberto.

INCÊNDIOS
(Incendies, Canadá, 2010) de Denis Villeneuve
Pontapé de uma das carreiras mais interessantes do cinema atual, o canadense Denis Villeneuve sabe como poucos juntar um domínio de narrativa com enredos intricados. E Incêndios é uma síntese desse estilo ao contar a estória de um casal de irmãos que decidem investigar o doloroso passado de sua mãe. Um belo filme que mistura o melodrama em uma obra repleta de camadas.




INSTINTO MATERNO
(Pozitia Copilului, Romênia, 2013) de Calin Peter Netzer
Um dos melhores cinemas da atualidade, a Romênia chama a atenção ao explorar a realidade crua e as marcas deixadas pela guerra fria. E não seria diferente neste filme que aborda a luta de uma mãe que usa todas as suas armas para livrar o filho da cadeia. E a atriz Luminita Gheorghiu está um furação, uma leoa destemida que faz de tudo para proteger a cria. Dessa forma valores distorcidos, maternidade, corrupção, poder da burguesia, temas tão brasileiros que o diretor Calin Peter Netzer expõe com maestria, e faz questão de mostrar que é universal. Uma visão triste da humanidade.

MANCHESTER À BEIRA-MAR
(Manchester by the Sea, EUA, 2016) de Kenneth Lonergan
Lee Chandler é um homem calado mas de uma natureza violenta descontrolada. E quando mais conhecemos esse ser brutal mais nos aproximamos de um animal ferido. O diretor Kenneth Lonergan comanda de uma forma precisa a dor e a culpa que carregamos nas costas, e esse sentimento é reforçado pelo trabalho magistral de Casey Affleck, além de uma tocante participação da sempre ótima Michelle Williams. Aquele filme que ti desarma ao falar das nossas próprias vulnerabilidades.

MELANCOLIA
(Melancholia, Dinamarca, 2011) de Lars von Trier
No lançamento de Melancolia, Lars von Trier disse que o seu filme pertence ao subgênero catástrofe porque na sua opinião a depressão é o fim do mundo, é o fim de tudo. Com a bela atuação de Kirsten Dunst e a linda abertura reforça a desordem mental, a perda do controle, a entrega a sentimentos doidos. Um clássico de uma cineasta que é tudo menos convencional.

PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN
(We Need to Talk About Kevin, Inglaterra, 2011) de Lynne Ramsay
A diretora Lynne Ramsay tem uma visão pessoal sobre a violência. Tilda Swinton é uma camaleoa que vai fundo na caracterização. Misture tudo isso e surge uma obra impar sobre elementos tão opostos: maternidade e a maldade. Uma obra perturbadora sobre um mundo mais afundado ao caos e falta de humanidade. Para ver e refletir sempre.

QUE HORAS ELA VOLTA?
(Brasil, 2015) de Anna Muylaert
Retrato da ascensão social da classe baixa/média no inicio da década, a obra de Anna Muylaert é um belo drama sobre a saída do casulo de uma mulher submissa as convenções sociais. E de quebra tem a magnífica atuação de Regina Casé que transborda humanidade a uma pessoa que geralmente estaria amargurada pelo destino. Um clássico do cinema brasileiro.




A SEPARAÇÃO
(Jodaeiye Nader az Simin, Irã, 2011) de Asghar Farhadi
Um casal em rota de colisão. Ela quer se mudar para os EUA em busca de oportunidade para a família. Ele não quer deixar o pai sozinho que sofre de Mal de Alzheimer. Além desse embate outros fatos inesperados acontecem nesse lindo melodrama de Asghar Farhadi sobre as doloridas consequências de uma separação. E pra matar tem um final de cortar o coração.



SOB A PELE
(Under the Skin, Inglaterra, 2013) de Jonathan Glazer
Uma alienígena em formato de uma mulher sexy chega a Escócia para seduzir homens solitários que servem como alimento para um ser. Mas no decorrer da missão, a "estranha" muda. Com muitos efeitos visuais práticos e a melhor trilha sonora da década (de Mika), o ótimo cineasta Jonathan Glazer realiza uma experiência sensorial incrível sobre sentimentos tão antagônicos como solidão e humanidade. Uma obra provocativa, reflexiva.



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Diante de tantas obras significativas nesta década que estabeleci uma lista representando uma menção honrosa deste período (apresentada em ordem alfabética):

O ABRIGO (Take Shelter, EUA, 2011) de Jeff Nichols
AMOR (Amour, Áustria, 2012) de Mikael Haneke
A CAÇA (Jagten, Dinamarca, 2012) de Thomas Vinterberg
120 BATIMENTOS POR MINUTO (120 Battements par Minute, França, 2017) de Robin Campillo
FORÇA MAIOR (Force Majeure, Suécia, 2014) de Ruben Östlund
O IRLANDÊS (The Irishman, EUA, 2019) de Martin Scorsese
TINTA BRUTA (Brasil, 2018) de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon
TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS (Loong Boonmee Raleuk Chat, Tailândia, 2010) de Apichatpong Weerasethakul
TRAMA FANTASMA (Phantom Thread, EUA, 2017) de Paul Thomas Anderson
TWIN PEAKS: O RETORNO (EUA, 2017) de David Lynch

quarta-feira, dezembro 25, 2019

Nota do Blog - Melhores Filmes do Ano

O fim de ano chegou e vale ressaltar como 2019 teve uma safra excelente de filmes e, principalmente, obras que representam o amadurecimento de mestres como Almodóvar, Scorsese e Tarantino. Como sempre lanço uma nota de agradecimento pelas visitas/comentários ao Blog Super8, e abaixo a apresento a relação dos destaques do ano.

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MELHORES FILMES DE 2019:

Atlantique (Senegal) de Mati Diop
Bacurau (Brasil) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Dor e Glória (Espanha) de Pedro Almodóvar
O Farol (EUA) de Robert Eggs
O Irlandês (EUA) de Martin Scorsese
Midsommar - O Mal Não Espera a Noite (EUA) de Ari Aster
Monos (Colômbia) de Alejandro Landes
O Paraíso Deve Ser Aqui (Palestina) de Elia Suleiman
Parasita (Coréia do Sul) de Joon-ho Bong
O Retrato de uma Jovem em Chamas (França) de Celine Sciamma


DESEJO A TODOS UM FELIZ NATAL 
E UM ÓTIMO ANO NOVO

domingo, dezembro 15, 2019

Destaque nos cinemas

AS GOLPISTAS
(Hustlers, EUA, 2019) de Lorene Scafaria
Drama. Para sobreviver a crise financeira, um grupo de strippers seduzem e roubam os cartões de crédito das vários homens.





ENTRE FACAS E SEGREDOS
(Knives Out, EUA, 2019) de Rian Johnson
Suspense. Detetive é contratado para descobrir a identidade do assassino de um famoso e excêntrico escritor.








UMA MULHER ALTA
(Dylda, Rússia, 2019) de Kantemir Balagov
Drama. Duas mulheres tentam retornar ao cotidiano após experiências traumáticas da Segunda Guerra Mundial.






O PARAÍSO DEVE SER AQUI
(It Must Be Heaven, Palestina/França, 2019) de Elia Suleiman
Comédia dramática. Cineasta palestino viaja pelo mundo e constata que os problemas de seu país reflete em outros lugares.




O CONTO DAS TRÊS IRMÃS
(Kiz Kardesler, Turquia/Alemanha, 2019) de Elmin Alper
Drama. Numa vila pobre do interior da Turquia, três irmãs lutam por um futuro melhor.

terça-feira, dezembro 10, 2019

O Iluminado

(The Shinning, EUA, 1980)
Direção: Stanley Kubrick
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Durvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers

Não tem nada melhor que rever um clássico na tela de uma cinema - particularmente de uma obra do mestre Kubrick que soube narrar com cadência a loucura, a solidão e principalmente o horror da violência doméstica. Se o livro de Stephen King narra um hotel mal-assombrado; Kubrick vai além ao focar uma família em rota de desestruturação.
O Iluminado é uma super-produção que deixou marcas na cultura pop. O design de produção fantástico que explora cada canto do local tornando memorável o Hotel Overlock. A inesquecível trilha sonora de Wendy Carlos e Rachel Elkind, uma cacofonia de sons que parece ter saído direto do além. E a atuação mais visceral de Jack Nicholson que abraça o exagero sem cerimônia ao dar vida a um homem que carrega em si a pertubação de uma frustração e a insanidade descontrolada. Com uma narrativa na medida - o que pode afugentar a platéia atual - O Iluminado não envelheceu pois enfatiza em um tema atual: o feminicídio, a violência familiar. E nesse contexto, o filme expõe com maestria o horror psicológico das casas fechadas, algo tão pouco explorado no cinema de terror. Se os fantasmas assustam, assustam; mas o ser humano é pior que muito ectoplasma por ai. Clássico absoluto.

quinta-feira, dezembro 05, 2019

Coringa

(Jocker, EUA, 2019)
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquin Phoenix, Zazie Beetz, Robert DeNiro, Frances Conroy

Uma das notícias mais bizarras dos últimos anos foi a escolha de Todd Phillips para dirigir o icônico personagem da DC Comics, Coringa. Mais conhecido por dirigir comédias, o cineasta surpreende no clima sombrio e ao impor um ar de filme da década de 1970 especialmente nos clássicos Taxi Drive e Rede de Intrigas (ambos de 1976 e que abordam distúrbio mental, decadência moral, má influencia da mídia). E Phillips foi mais feliz ainda ao escalar o sempre surpreendente Joaquin Phoenix que está totalmente à vontade como protagonista; livre para fazer o seu show (raro num blockbuster um ator usar com competência a sua expressão vazia e o seu corpo esquelético ao dar vida a um homem que abraça o caos depois de anos de descaso público (falta de tratamento medico) e maus-tratos da sociedade. Infelizmente o diretor trouxe consigo alguns cacoetes de suas obras cômicas o que diminuiu o potencial de tensão e pertubação (a montagem da cena da entrevista final entre Phoenix e Robert DeNiro) mas não diminuiu o brilho graças ao ótimo design de produção e a bela fotografia de Lawrence Sher. E acho uma bobagem - e marketing - considerar o filme perigoso para o público. Afinal vivemos num mundo comandado por figuras lamentáveis como Trump e Bolsonaro que ao enaltecerem um discurso de ódio fazem questão de rachar, dividir, separar as pessoas por simples interesse próprio. Como diria Pedro Almodóvar na exibição do filme Dor e Gloria em Cannes: "Trump abriu as portas dos loucos de cada pais." E um desses loucos é personificado pelo Coringa. Um filme atual, perturbador e reflexivo.

domingo, dezembro 01, 2019

Greta

(Brasil, 2019)
Direção: Armando Praça
Elenco: Marco Nanini, Denise Weinberg, Démick Lopes, Greta Sttar

Pedro é um enfermeiro amargurado à exceção é a sua grande amizade com a transexual Daniela (que está à beira da morte) e sua obsessão pela diva Greta Garbo. Perto de se aposentar, ele arrisca seu destino ao ajudar e se envolver sentimentalmente com um criminoso.
Brevidade da vida, e principalmente sonhos; estes são os temas explorados pelo ótimo Greta em que o diretor Armando Praça demonstra uma impressionante segurança ao imprimir uma vida que caminha para a desilusão como é o caso do protagonista, uma atuação magnífica de Marco Nanini que poe doçura e peso no personagem além de uma ótima química com Denise Weinberg, excelente como Daniela. Sem trilha sonora e usando de câmera estática e movimentos lentos, o cineasta é hábil em esconder as minúcias do roteiro até chegar a uma ótima e inesperada conclusão.