quinta-feira, dezembro 05, 2019

Coringa

(Jocker, EUA, 2019)
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquin Phoenix, Zazie Beetz, Robert DeNiro, Frances Conroy

Uma das notícias mais bizarras dos últimos anos foi a escolha de Todd Phillips para dirigir o icônico personagem da DC Comics, Coringa. Mais conhecido por dirigir comédias, o cineasta surpreende no clima sombrio e ao impor um ar de filme da década de 1970 especialmente nos clássicos Taxi Drive e Rede de Intrigas (ambos de 1976 e que abordam distúrbio mental, decadência moral, má influencia da mídia). E Phillips foi mais feliz ainda ao escalar o sempre surpreendente Joaquin Phoenix que está totalmente à vontade como protagonista; livre para fazer o seu show (raro num blockbuster um ator usar com competência a sua expressão vazia e o seu corpo esquelético ao dar vida a um homem que abraça o caos depois de anos de descaso público (falta de tratamento medico) e maus-tratos da sociedade. Infelizmente o diretor trouxe consigo alguns cacoetes de suas obras cômicas o que diminuiu o potencial de tensão e pertubação (a montagem da cena da entrevista final entre Phoenix e Robert DeNiro) mas não diminuiu o brilho graças ao ótimo design de produção e a bela fotografia de Lawrence Sher. E acho uma bobagem - e marketing - considerar o filme perigoso para o público. Afinal vivemos num mundo comandado por figuras lamentáveis como Trump e Bolsonaro que ao enaltecerem um discurso de ódio fazem questão de rachar, dividir, separar as pessoas por simples interesse próprio. Como diria Pedro Almodóvar na exibição do filme Dor e Gloria em Cannes: "Trump abriu as portas dos loucos de cada pais." E um desses loucos é personificado pelo Coringa. Um filme atual, perturbador e reflexivo.

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