domingo, maio 26, 2019

Festival de Cannes 2019

Nos dias 14 a 25 de maio deu início ao festival mais charmoso e importante do mundo, o Festival de Cannes. Presidido pelo cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu, a competição oficial pela Palma de Ouro se encheu de velhos conhecidos (Quentin Tarantino, Terrence Malick, Pedro Almodóvar, irmãos Dardenne, Xavier Dolan, Ken Loach) mas foram os novatos que chamaram a atenção como o sul-coreano Parasite de Bong Joon-ho, uma comédia sobre disputas de classes sociais; o francês Portrait of a Lady on Fire de Celine Sciamma um drama de época sobre um relacionamento homossexual no século 18; o palestino It Must be Heaven de Elia Suleiman, uma inesperada comédia em que o próprio cineasta viaja pelo mundo e não vê diferenças entre os países visitados e a sua terra natal. O espanhol Dor e Glória de Pedro Almodóvar também causou frizzon em sua bela autobiografia; o britânico Sorry We Missed You de Ken Loach investe no terreno seguro da critica social e ao liberalismo selvagem inglês e se sai muito bem; e o romeno The Whistlers de Corneliu Porumboi, surpreendeu no enredo de um policial que tem a missão espinhosa de libertar da prisão um empresário corrupto. Já o filme mais controverso da competição foi o britânico Little Joe de Jessica Hausner, uma bizarra mistura de drama e ficção cientifica sobre uma cientista que descobre uma planta que causa felicidade aos humanos. Fora de competição, o filme The Lighthouse de Robert Eggs (sobre dois homens que enlouquecem numa ilha) recebeu as melhores críticas de todo o Festival. E quando o governo Bolsonaro corta verbas para a cultura, o cinema brasileiro brilhou com o radical Bacurau de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (um faroeste místico sobre uma pequena cidade que é atacada por milicianos) que ganhou o Prêmio do Júri; e o belo melodrama A Vida Invisível de Eurídice Gusmão de Karim Aïnouz (o destino de duas irmãs separadas pela família) que conquistou um inédito Prêmio de Melhor Filme na Mostra Um Certo Olhar.

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A lista dos vencedores do Festival de Cannes 2019:

Palma de Ouro: Parasite (Coréia do Sul) de Bong Joon-ho
Grande Prêmio do Júri: Atlantique (Senegal/França/Bélgica) de Mati Diop
Prêmio do Júri: Bacurau (Brasil/França) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles; e Les Misérables (França) de Ladj Ly
Melhor Direção: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne - Young Ahmed (Bélgica/França)
Melhor Roteiro: Céline Sciamma - Portrait of a Lady on Fire (França)
Melhor Atriz: Emily Beecham - Little Joe (Inglaterra/Alemanha/Áustria)
Melhor Ator: Antonio Banderas - Dor e Glória (Espanha)
Prêmio Especial: It Must be Heaven (Palestina/França) de Elia Suleiman
Câmera D´Or (melhor filme de estréia): Nuestras Madres (Guatemala/França/Bélgica) de César Díaz

quarta-feira, maio 15, 2019

Destaques nos cinemas

ANOS 90
(Mid90s, EUA, 2018) de Jonah Hill
Comédia dramática. Na Los Angeles dos anos 90, um adolescente de 13 anos busca por novas experiencias de vida.



AMANDA
(França, 2018) de Mikhaël Hers
Drama. Jovem inexperiente se responsabiliza em cuidar de sua sobrinha pequena após a brutal morte de sua irmã.




DIAS VAZIOS
(Brasil, 2018) de Robney Bruno Almeida
Drama. Casal de adolescentes que vivem no interior de Goiás refletem sobre o seu futuro.

sexta-feira, maio 10, 2019

Mandy: Sede de Vingança

(Bélgica/EUA, 2018)
Direção: Panos Cosmatos
Elenco: Nicolas Cage, Andrea Riseborough, Linus Roache, Bill Duke.

Quem diria que o horror se tornaria, atualmente, no gênero mais criativo do momento. Enquanto James Wan fica rico com o tradicional show de sustos; Jordan Peele cria o terror social; na França surge um terror chocante titulado de New French Extremety; e agora Panos Cosmatos surge com a psicodelia em Mandy: Sede de Vingança.
Com um roteiro simples e batido - um homem em busca de vingança - Mandy aposta em um ritmo lento e principalmente no uso intenso de cores como o vermelho, azul e amarelo o que estabelece belos e estranhíssimos enquadramentos. E a ótima trilha sonora de Jóhann Jóhansson (infelizmente seu último trabalho) é bem anos 80 trazendo toda aquela vibe de Strange Things. Mas o filme não é para todos os gostos pois caminha para os extremos; ora é contido ora é sanguinolento o que justifica perfeitamente a escalação do imprevisível Nicolas Cage, super a vontade no filme. No fim, a produção vale como um divertimento de terror/suspense bem singular ao focar a bestialidade humana e o senso de justiça.

domingo, maio 05, 2019

Suspiria - A Dança do Medo

(Itália/EUA, 2018)
Direção: Luca Guadagnino
Elenco: Dakota Johnson, Tilda Swinton, Mia Goth, Chloë Grace Moretz.

Em 1977, a Alemanha sofria ataques de um grupo terrorista chamado Baader-Meinhof. E no mesmo período, a bailarina americana Susie é aceita numa escola de dança em Berlim no momento em que a instituição passa por situações bizarras após o desaparecimento da bailarina Patricia.
Remake do clássico de Dario Argento, o diretor Luca Guadagnino faz uma nova releitura investindo em tom de pesadelo o que encaixa perfeitamente com o clima politico alemão da época. E se o filme original tinha de colorido e barroco; a nova versão abraça o sombrio e o surreal - os fãs de David Lynch vão se deleitar com essa obra. O diretor e o montador Walter Fasano extraem tensão na medida nos cortes e movimentos de câmera principalmente nas cenas de dança (ótima ideia ao explorar o balé contemporâneo). A trilha sonora de Thom Yorke é quase uma extensão da sonoridade da banda Radiohead mesmo sendo tímida. O ponto negativo é a fotografia sombria demais de Sayombhu Mukdeeprom. Depois do sucesso do delicado Me Chame pelo seu Nome, Guadagnino faz o seu trabalho mais visceral e difícil o que não agradará a todos, mas o italiano soube criar um tom soturno e pesado em um longa de duas horas e meia de duração, o que não é pouca coisa.

quarta-feira, maio 01, 2019

Um Estranho no Lago

(L´Inconnu du Lac, França, 2013)
Direção: Alain Guiraudie
Elenco: Pierre de Ladonchamps, Christophe Paou, Patrick d´Assumçao, Jérôme Chappatte.

Hoje em dia é tão natural assistir filmes com mirabolantes movimentos de câmeras e cortes rápidos que causa espanto quando encaramos o uso excessivo de câmera estática em algumas produções. Mas esse efeito causa um bem danado ao ótimo Um Estranho no Lago - em que a lente fixa acompanha com prazer voyagerista a rotina de Franck, um jovem gay que passa o verão em um lago que é cenário de pegação entre homens.
Sem trilha sonora e filmado totalmente em ambiente externo (o lago é quase um personagem em si), o diretor Alain Guiraudie e o montador Jean-Christophe Hym criam com competência momentos de descontração para depois tudo ficar mais sombrio quando acontece um assassinato no local. As cenas de sexo explicito podem chocar mas é totalmente justificado tanto pelo gosto de ser observado dos seus personagens quanto ao mostrar um grupo de homens que não tem pudor em relação ao sexo - e isso vale especialmente a quantidade de relações sexuais sem preservativo - enfatizando a inconsequência dos seus atos e da realidade. Nesse ponto, o filme pode até ser taxado de moralista mas como a sua estória se passar nos anos de 1980/1990 faz uma clara alusão a AIDS e o tesão na busca pelo perigo, proibido. Um suspense que chama atenção pela impulsão sexual e suas consequências.