sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Festival de Sundance 2022



Com a esperança do retorno da normalidade, a realização do primeiro festival de renome do ano, o Festival de Sundance, foi abalado com a chegada da variante Ômicron reforçando a exibição de filmes no formato digital. A realidade pode ser dura mas o cinema consegue bravamente resistir. E na edição de 2022, o cinema brasileiro faz bonito e chama a atenção com o documentário The Territory de Alex Pritz uma coprodução Brasil/EUA que levou dois prêmios importantes, e aborda a luta da sobrevivência de indígenas sob o governo Bolsonaro. O curta-metragem Uma Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui de Érica Sarmet também foi premiado na categoria dos curtas. E falando em premiação, o festival foi na contramão do ano passado em que No Ritmo do Coração papou tudo, e em 2022 premiou um filme de terror social Nanny de Nikyatu Jusu sobre a vida de uma babá senegalesa que vive em Nova Iorque, e no documentário o polêmico The Exiles de Ben Klein e Violet Columbus, relato sobre a vida de chineses exilados que participaram da manifestação na Praça da Paz Celestial em Pequim em 1989. Os outros destaques do festival foram: After Yang de Kogonada sobre uma família que tem a sua relação abalada quando o seu androide doméstico se encontra com defeito; Cha Cha Real Smooth de Cooper Raiff que aborda um jovem perdido que retorna a sua cidade natal; Resurrection de Andrew Semans é um suspense sobre uma mulher que recebe uma visita inesperada; Brian and Charles de Jim Archer é uma comédia sobre a relação entre um cientista e um robô que ele criou; Emily The Criminal de John Patton Ford relata uma mulher que passa por maus bocados para pagar uma dívida bancária; e Hatching de Hanna Bergholm é uma fábula sobre uma garota que acha em uma floresta um ovo nada normal.


***

A lista dos vencedores do Festival de Sundance 2022:

FILME AMERICANO:
Grande Prêmio do Júri: Nanny de Nikyatu Jusu
Prêmio de Diretor: Janie Dack - Palm Trees and Power Lines
Prêmio de Roteirista Waldo Salt: KD Davila - Emergency
Prêmio Especial do Júri para Visão Artística: Blood de Bradley Rust Gray
Prêmio Especial do Júri para Elenco: 892 de Abi Damares Corbin

FILME ESTRANGEIRO:
Grande Prêmio do Júri: Utama (Bolívia) de Alejandro Loayza Grisi
Prêmio de Diretor: Maryna Er Gorbach - Klondike (Ucrânia)
Premio Especial do Júri para Atuação: Teresa Sánchez - Dos Estaciones (México)
Prêmio Especial do Júri pelo Espírito Inovador: Leonor Will Never Die (Filipinas) de Martika Ramirez Escobar

domingo, fevereiro 20, 2022

Destaques nos cinemas

SEMPRE EM FRENTE
(C´mon C´mon, EUA, 2021) de Mike Mills
Drama. A pedido de sua irmã, jornalista aceita cuidar temporariamente do curioso sobrinho e o embarca para um mundo além de Los Angeles.




BELFAST
(Inglaterra, 2021) de Kenneth Branagh
Drama. O cotidiano de um menino e sua família de trabalhadores na tumultuada Belfast do final de 1960 com os atritos entre católicos e protestantes

terça-feira, fevereiro 15, 2022

Lançamentos nos Streamings

AQUAMAN
(EUA, 2018) de James Wan
HBO Max
Fantasia. Ser que vive no mundo subaquático de Atlântida é responsável pelo futuro de seu povo contra forças externas.





COMO ERA VERDE O MEU VALE
(How Green Was My Valley, EUA, 1941) de John Ford
Star+
Drama. Famílias exploradas no ramo da mineração lutam para que os seus filhos não tenham o memso destino.





A CRÔNICA FRANCESA
(The French Dispatch, EUA, 2021) de Wes Anderson
Star+
Drama. Vários jornalistas expõem suas matérias em um jornal americano que se encontra no interior da França.





EM NOME DO PAI
(In the Name of the Father, Irlanda/Inglaterra, 1993) de Jim Sheridan
Star+
Drama. Delinquente irlandês vai para Londres e é acusado injustamente de participar de um ataque terrorista. 




ERIN BROCKOVICH: UMA MULHER DE TALENTO
(EUA, 2000) de Steven Solderbergh
HBO Max
Drama. Desempregada, Erin descobre o talento na advocacia ao estudar um caso de contaminação de água que afeta várias pessoas.



ESTRELAS ALÉM DO TEMPO
(Hidden Figures, EUA, 2016) de Theodore Melfi
Disney+
Drama. Na corrida espacial dos anos de 1960, três mulheres se destacam na Nasa mas elas têm algo em comum: o preconceito racial por serem negras.



O GRANDE TRUQUE
(The Prestige, EUA, 2006) de Christopher Nolan
HBO Max
Suspense. A rivalidade entre dois ilusionistas sobe quando um deles faz uma apresentação impressionante.


KAGEMUSHA: A SOMBRA DE UM SAMURAI
(Japão, 1980) de Akira Kurosawa
Star+
Drama. No Japão feudal, um lorde morre mas antes de seu falecimento ele ordena que busquem um sósia seu para proteger o seu reino.


LOS ANGELES: CIDADE PROIBIDA
(L. A. Confidential, EUA, 1997) de Curtis Hanson
HBO Max
Policial. Na Los Angeles de 1950, dois policiais se juntam contra a corrupção da cidade dos anjos.


MÃES PARALELAS
(Madres Paralelas, Espanha, 2021) de Pedro Almodóvar
Netflix
Drama. Duas mulheres distintas se encontram por acaso no hospital para parir e nasce uma bela amizade.



A NOITE DO FOGO

(Noche de Fuego, México, 2021) de Tatiana Huezo
Netflix
Drama. Três meninas crescem e testemunhando a crescente violência e estado de guerra no interior do México.



OPERAÇÃO FRANÇA
(The French Connection, EUA, 1971) de William Friedkin
Star+
Policial. Na Nova Iorque de 1970, um detetive desconfia da ligação de um comerciante com o tráfico de drogas.




O PECADO MORA AO LADO
(The Seven Year Itch, EUA, 1955) de Billy Wilder
Star+
Comédia. Após a esposa e o filho viajarem de férias, marido "solteiro" se sente atraído com a nova e voluptuosa vizinha.







O RESGATE DO SOLDADO RYAN
(The Saving Private Ryan, EUA, 1998) de Steven Spielberg
Amazon Prime Video
Guerra. No famoso Dia D em que as tropas americanas invadem a França, um grupo tem a missão de salvar a vida de um soldado americano.



RON BUGADO
(Ron´s Gone Wrong, EUA, 2021) de Sarah Smith e Jean-Phillipe Vine
Disney+
Animação. Garoto muito tímido faz uma grande amizade com um robô que com o tempo apresenta falha no seu funcionamento.



SCARFACE
(EUA, 1983) de Brian DePalma
Amazon Prime Video
Policial. Imigrante cubano chega aos EUA e ver no tráfico de drogas a oportunidade de se tornar o rei de Miami.



O SEXTO SENTIDO
(The Sixth Sense, EUA, 1999) de M. Night Shyamalan
Star+
Suspense. Psicólogo ajuda um garoto vitima de bullying que diz ter um dom para comunicar com os mortos.



O SHOW DE TRUMAN
(The Truman Show, EUA, 1998) de Peter Weir
Amazon Prime Video
Drama. A vida banal de um homem que não suspeita que na verdade é protagonista de um programa de televisão de sucesso.



OS SUSPEITOS
(Prisioners, EUA, 2013) de Denis Villeneuve
Star+
Suspense. O desaparecimento de duas filhas faz aflorar o pior lado de dois casais de amigos além de dificultar o trabalho da polícia.


TARDE DEMAIS PARA ESQUECER
(An Affair in Remember, EUA, 1957) de Leo McCarey
Star+
Drama. Um homem e uma mulher se apaixonam em uma viagem e decidem se reencontrar em Nova Iorque mas o destino prega uma outra peça.

quinta-feira, fevereiro 10, 2022

Spencer

(Inglaterra/EUA/Chile, 2021)
Direção: Pablo Larraín
Elenco: Kristen Stewart, Sally Hawkins, Timothy Spall, Jack Farthing.

Larraín é o cara quando o tema é cinebiografia. Fugindo de fórmulas típicas do gênero (aquela que relata toda a trajetória da personalidade do nascimento a morte), o grande cineasta chileno foca em seus trabalhos algo peculiar nos seus biógrafos como a perseguição da polícia ao Pablo Neruda em Neruda (2016); a vida virada para o avesso de Jackie Kennedy após o atentado do marido em Jackie (2016). Agora a bola da vez é a princesa Diana em Spencer.
Na véspera do natal de 1991, tradicionalmente a família real britânica se reúne na fazenda Sandringham - que parece mais um castelo - para a comemoração natalina. Mas o encontro acontece quando uma bomba está prestes a explodir. O casamento do príncipe Charles com a princesa Diana está por um fio quando o caso extraconjugal do marido vai a tona gerando um tremendo desconforto a princesa, e tensão a família real temendo que a situação piore com algum comportamento imprevisível da princesa.
Spencer é uma biografia com ares de terror à lá O Iluminado de Stanley Kubrick em que a fazenda real inglesa é o cenário que oprime e aterroriza - com direito a alma da personagem histórica Ana Bolena - uma mulher que cansou de interpretar um papel que já não lhe pertence ocasionando em momentos de dor externados através da anorexia e automutilação.
Aqui é um filme de horror em que os vivos assustam mais que os mortos com as suas tarefas e obrigações ingratas; o peso da coroa na cabeça de pessoas que precisam criar uma imagem e ilusão da família perfeita associada ao poder da mídia sempre a espera de uma derrapada da família real.
Como um filme de época britânico, Larraín acerta em cheio na concepção técnica do filme ao se cercar dos melhores do cinema inglês. A começar pela fantástica e sufocante trilha sonora de Jonny Greenwood que ajuda a aumentar o desconforto da protagonista. A fotografia de Claire Mathon que expõe a beleza do castelo e seus artefatos clássicos em contraste a fragilidade da personagem principal. A direção de arte de Stefan Speth em que o cinema inglês sabe fazer de melhor. O figurino de Jacqueline Durran que homenageia os verdadeiros vestidos da princesa.
O grande chamariz da produção é a escalação de Kristen Stewart como a princesa Diana. Fugindo de uma mera cópia da personagem real, Kristen tenta captar a essência da personagem em um importante momento de sua vida, algo similar ao que Natalie Portman fez em Jackie - e o resultado é surpreendente. Mesmo marcada pelo projeto duvidoso Crepúsculo, a atriz mostrou talento e deu a volta por cima graças ao cineasta francês Olivier Assayas que a escalou em Acima das Nuvens (2014) e Personal Shopper (2016). Em Spencer, Kristen sabe traduzir uma mulher que esta totalmente perdida sobre sua vida e que precisa achar forças para escapar da prisão emocional.
Usando a metáfora do faisão, um pássaro belo mas estúpido tornando-o perfeito como um animal de caça se encaixa ao dilema da Diana em que a família real se preocupa mais com as aparências gerando um clima repressor a princesa. Larrain faz um belo filme que capta uma mulher que conseguiu dar a volta por cima e que - ironicamente - hoje é ela que assombra a família real em virtude do carinho e carisma que ela exerceu ao mundo. Um poder, uma força, uma imagem que a família da Rainha Elizabeth até hoje não conseguiu assimilar.

sábado, fevereiro 05, 2022

A Mão de Deus

(È Stata La Mano di Dio, Itália, 2021)
Direção: Paolo Sorrentino
Elenco: Filippo Scotti, Toni Servillo, Teresa Saponangelo, Luisa Raniere.

O filme mais famoso do italiano Sorrentino é o badalado A Grande Beleza. Vencedor de vários prêmios em 2013, incluindo o Oscar de melhor filme internacional, elevou o nome do diretor no panorama do cinema mundial. E realmente o filme é belíssimo com lindas imagens associadas a uma fotografia espetacular de Luca Bigazzi e somado a um estilo que cita e homenageia o grande Fellini. Mas admito que assisti uma única vez - e faz tempo - e a obra tinha algo que me decepcionou. Em outras palavras achei que o diretor foi artificial ao abordar a decadência da elite de Roma à lá A Doce Vida. Como os tempos são outros, sinto que preciso rever a sua obra máxima após assistir A Mão de Deus.
E aqui, o diretor vai a cidade de Nápoles dos anos de 1980 e conta a estória de Fabietto, um jovem saindo da adolescência e dando os primeiros passos para a maturidade com as suas dúvidas comuns a idade (profissão, futuro), e sua relação com a sua família tipicamente italiana. O protagonista tem uma bela relação com os pais e o irmão mais velho - e também expõe os seus parentes divertidos e excêntricos, especialmente a sua tia sensual mas mentalmente instável. Mas a rotina da cidade muda com a chegada do craque do futebol Maradona (também chamado de A Mão de Deus) para o time de Napoli, e ao mesmo tempo, Fabietto terá que suportar uma tragédia pessoal.
A Mão de Deus é baseado nas memórias do diretor em que Sorretino faz uma bela homenagem a cidade de Nápoles com a sua mistura poderosa de sua natureza paradisíaca com a sua arquitetura antiga e contemplativa. E aqui mais uma vez o cineasta faz referência a Fellini (particularmente Amarcord) ao mesclar a beleza de Nápoles com a excentricidade dos personagens, mas de uma forma mais contida do que apresentado em A Grande Beleza, porém o suficiente para tornar o filme solar. Se nas mãos de outro diretor a estória poderia enveredar por um caminho mais triste e melancólico; Sorrentino percorre o caminho mais suave ao introduzir elementos diferentes como é o caso da fascinação dos napolitanos pelo craque Maradona no dia a dia de uma cidade encantada pelo futebol. E até usa ao seu favor a caricatura do típico italiano (fala alto, passional, muita expressão corporal) para tornar a obra um bonito retrato de um jovem que é forçado a amadurecer em virtude das circunstancias da vida. Sinceramente, o público já viu esse filme antes - o diretor não criou algo singular - mas Sorrentino usa ao seu favor a cultura italiana e as lindas locações napolitanas ao falar de um jovem que terá que lidar e descobrir o mundo com as suas próprias pernas. E isso é de encher os olhos.

terça-feira, fevereiro 01, 2022

Apresentando os Ricardos

(Being the Ricardos, EUA, 2021)
Direção: Aaron Sorkin
Elenco: Nicole Kidman, Javier Bardem, J. K. Simmons, Nina Arianda.

A televisão americana na década de 1950 testemunhou um fenômeno midiático: a série cômica I Love Lucy. Uma sitcom que abordava o dia a dia de Lucy Ricardo, uma dona de casa típica da época um pouco peculiar - casada com um músico cubano mas que deseja entrar no showbusiness - gerando ações hilárias da personagem principal. Mas nos seus bastidores as coisas ferviam. A atriz protagonista Lucille Ball comandava a atração com mão de ferro, algo incomum; e fazia e as vezes lutava para aprimorar os roteiros e ter suas ideias aceitas. E para salvar o casamento, incluiu o marido, Desi Amaz, um latino bon-vivant como o seu par romântico na atração. E vários problemas surgem: o tabu da gravidez na televisão americana (Lucille descobriu grávida no início de uma temporada); os atritos no programa; as brigas conjugais; e a acusação de ser integrante do partido comunista em plena caça as bruxas na Guerra Fria.
O diretor Aaron Sorkin vem da televisão com um estilo próprio que encantou a crítica e o público entre 1990 e 2000 com as séries Sports Night e The West Wing: ótima mão para criar longos e inteligentes diálogos; e os seus personagens têm em comum o de usar um senso apurado de sobrevivência para driblar grandes desafios seja o sistema ou o Estado. Infelizmente se ele é consagrado como roteirista, no cargo de diretor, Sorkin tem muito a aprender. Com uma direção fria e um pulso convencional (ecos da televisão), em seu terceiro filme como cineasta, Sorkin tinha tudo para arrebentar pois aborda os bastidores da televisão dos anos 1950, mas aqui o diretor ficou perdido ao juntar muitas informações e até incluiu na narrativa entrevistas de pessoas (fictícias) que trabalharam com Lucille Ball, um elemento descartável (se tirasse da edição não faria falta). Tudo é jogado na tela com pouco critério o que fica a impressão que este trabalho seria ideal se fosse uma série de televisão (ou streaming) pois teria tempo o suficiente para explorar temas interessantes da vida de um ícone da televisão estadunidense. Lucille interpretada com uma garra surpreendente pela Nicole Kidman é uma mulher forte e ousada que enfrentou muita coisa: o sucesso na televisão; o controle do sistema e a busca de sua própria voz no programa; um casamento com um latino mulherengo; a vontade de ser mãe. A falta de manejo de Sorkin na direção torna a experiência de assistir Apresentando os Ricardos aborrecida e desinteressante o que é frustrante ao se comparar com a qualidade da dupla de atores Kidman e Bardem e a ótima produção.