sábado, agosto 10, 2019

Deslembro

(Brasil/França, 2018)
Direção: Flávia Castro
Elenco: Jeanne Boudier, Eliane Giardini, Sara Antunes, Hugo Abranches.

Em um ano em que o cinema brasileiro lança uma safra excelente de filmes, o presidente da república exige um "filtro" nas produções nacionais; um nome chique para denominar censura. E nessa turbulência chega aos cinemas o belo, sensível e necessário Deslembro. Primeira ficção de Flávia Castro - e autobiográfico - o filme acompanha Joana, uma adolescente brasileira que vive exilada em Paris mas que é obrigada a retornar ao Brasil com a chegada da anistia no fim da década de 1970. Mas a sua vinda ao Rio de Janeiro a faz reviver memórias doloridas em relação ao seu pai, um desaparecido político. Assim, Deslembro é um símbolo das marcas e cicatrizes que as ditaduras produzem seja em adultos ou crianças. E também aborda a falta de diálogo e de repassar as gerações o que representou a ditadura militar no Brasil; diferente da Argentina e Chile que não cansa de abordar o tema. Dessa forma, Joana representa um país que quer esquecer o passado em virtude de uma dor imensurável, mas o "deslembrar" é um artificio perigoso pois pode sugerir memórias criadas como as recordações "positivas" da ditadura e essa ilusão pode influenciar a chegada de um governo autoritário no horizonte. Deslembro é um símbolo de um terrível ciclo político que o Brasil experimenta de tempos em tempos, e que devemos buscar uma ruptura. Um filme essencial para debater política e memória.

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