quarta-feira, janeiro 10, 2024

Monster

(Japão, 2023)
Direção: Hirokazu Koreeda
Elenco: Sakura Andô, Soya Kurosawa, Eita Nagayama, Hinata Hiiragi.

Saori é uma jovem viúva que cria o seu filho Minato com o maior amor e carinho. Mas começa a estranhar o comportamento do filho após as chegadas da escola. Cabelo cortado, sem tênis e um machucado no rosto. Averiguando melhor o que está acontecendo, Minato comenta sobre o professor Hori. Com esta informação, Saori vai à escola atrás da verdade mas descobrir o que realmente está acontecendo leva a estórias inesperadas e tocantes.
Depois de vencer a Palma de Ouro em Cannes em 2018 pelo devastador Assunto de Família, Hirokazu Koreeda não para de entregar ótimos filmes em sua filmografia. E Monster é um dos pontos altos de sua carreira. Aqui, o diretor brinda um cinema cheio de camadas em que o enredo não para de surpreender. Uma dica: para quem gostar do iraniano Ashgar Fahadir vai se deleitar com esta tocante obra. E também vai perceber semelhanças com o filme belga Closer. Mas o filme japonês se sobressai pelo trabalho brilhante e complexo do roteiro de Yuji Sakamoto (vencedor em Cannes) em que vai pulando de tema pegando o público de surpresa. Se no início o filme parece abordar a relação de mãe e filho e ao protecionismo estatal (isso mesmo), o enredo dá uma rasteira e envereda sobre outras camadas que vai da falta de humanidade que cerca as crianças. Tudo isso de forma suscita, fluida.
A ótima montagem do próprio diretor que joga ao público como as ações mudam de ponto de vista de acordo com a visão do personagem num vai e vem gerando uma teia que não para de crescer. E cria um mosaico surpreendente e doloroso sobre os fatos narrados. Destaque também para a trilha sonora de Ryuichi Sakamoto - sutil e delicada mas totalmente orgânica ao filme - e com dó no coração que este é o ultimo trabalho do grande mestre japonês.
O elenco é maravilhoso mas é a dupla de crianças que é um assombro. Enquanto Soya Kurosawa sabe demonstrar os conflitos (que pasmem são adultos) com um vigor de veterano; Hinata Hiiragi é uma fofura e todo mundo compreende da empatia de Minato por Eri.
O filme de Horeeda critica a visão japonesa que não é tão distante do restante do mundo. Aqui, ele toca em temas como o machismo perante as mães solteiras, a homofobia, e a omissão de uma organização (aqui representada pela escola) perante a um problema que eles próprios não tem interesse em solucionar.
Monster é a testemunha de como as crianças absorvem os problemas e a visão deprimente dos adultos em relação ao próximo. Aqui, Horeeda expõe personagens que não são o mal em pessoa mas que carregam em si um peso suficiente para se machucar e machucar os outros. O monstro do título são todos nos. É sobre o que a maldade é capaz de fazer em uma vida tão jovem e de longe um dos melhores filmes de 2023.

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