quarta-feira, janeiro 05, 2022

Casa Gucci

(House of Gucci, EUA/Inglaterra/Itália, 2021)
Direção: Ridley Scott
Elenco: Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jared Leto.

Em mais de quarenta anos de carreira, Ridley Scott já fez de tudo. Trabalhou em vários gêneros, realizou clássicos absolutos como o épico Gladiador, o drama transgressor Thelma & Louise, e especificamente na ficção cientifica com Blade Runner - O Caçador de Andróides e Alien, o 8º Passageiro. E quase arruína a sua carreira com bombas do quilate de Hannibal e o terrível reboot de Alien como Prometheus e Alien: Covenant. O cineasta inglês fez bons filmes baseados em estórias reais como foi o caso de O Gângster, por isso que a expectativa sobre Casa Gucci era grande mas no fim da sessão fiquei com uma sensação que o diretor não sabia do que estava fazendo.
Na Itália da década de 1970, a filha de um proprietário do ramo de transporte, Patrizia Reggiane, conhece por acaso em uma festa Maurizio Gucci, herdeiro da famosa e rica empresa de moda. Do encontro, Patrizia vê neste rapaz que quer se desgarrar dos negócios da família a oportunidade de subir na vida. Ela consegue seduzir e casar com o ingênuo, e na primeira oportunidade sabe persuadir Maurizio a retornar a família com o objetivo de comandar a renomada empresa. No entanto, as suas decisões se tonam motor para desestabilizar de vez a família Gucci.
Casa Gucci chama atenção pela breguisse (figurino, direção de arte e maquiagem bem anos 70 e 80 na milésima potência). Também chama atenção o uso excessivo de músicas em que a edição - preguiçosa diga-se de passagem - transforma em pequenos clipes. Tem de tudo: músicas italianas, David Bowie, Eurythmics, Blondie, George Michael, Tracy Chapman e Luciano Pavarotti. Com certeza, o seu soundtrack é melhor que o filme. E acredite, a edição da veterana Claire Simpson é uma bagunça que eu queria que o filme terminasse logo. Outro detalhe: o filme inicia com a locução da Patrizia para depois não usar recurso o que demonstra logo de cara um certo desleixo.
Não dá para falar do filme sem comentar o fantástico elenco - que se encontra totalmente perdido. A exceção é a Lady Gaga que com sua presença magnética sabe explorar a única personagem que é mais bem construída no roteiro. Ela usa as garras para dar vida a uma mulher esperta, viva mas gananciosa até demais a ponto de abalar a família Gucci e o seu império. Só não sei no que ela viu na cartomante Salma Hayek (desperdiçada) para "iluminar" os caminhos. Falando em desperdício, o resto do elenco é mal aproveitado em virtude do comentado sotaque italiano. Se Al Pacino está familiarizado com a cultura italiana, o seu personagem não é tão forte como aparenta ser (pouco aproveitado). Jeremy Irons não é uma boa opção para papéis latinos (alguém lembra do chileno A Casa dos Espíritos?). Adam Driver tem um personagem interessante pois Maurizio Gucci é um homem que não tinha voz própria, tudo se resumia as decisões da família ou da esposa Patrizia mas aqui o ótimo ator está um pouco apagado. Mas o desastre vai para Jared Leto que mesmo numa maquiagem irreconhecível a canastrice continua a mesma, e fico chocado do povo falar em indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante.
No decorrer de sua metragem, pensei em como Martin Scorsece faria esse filme, o que poderia ser desde uma comédia deliciosa de humor negro ou um drama pesadíssimo. Mas nas mãos de Scott, o filme é uma boa produção para ser exibida no curso de administração ao falar de uma família que não sabe dirigir uma empresa, uma marca de renome internacional que hora vira chacota e em outros momentos conhece a glória. Como falei: um grande desperdício.

Nenhum comentário: