sexta-feira, novembro 05, 2021

Meu Pai

(The Father, Inglaterra/França, 2020)
Direção: Florian Zeller
Elenco: Anthony Hopkins, Olivia Colman, Olivia Williams, Rufus Sewell.

Nos primórdios do cinema, a principal referência aos realizadores era o teatro. Por ser uma arte recém-criada, a linguagem cinematográfica foi surgindo aos poucos. Mas por ironia da vida, quase sempre as adaptações de peças teatrais enfatizam mais a linguagem teatral gerando teleteatros. Já na década de 1970, Hollywood se surpreendeu pelo enorme sucesso de bilheteria de Love Story e começou uma enxurrada de filmes sobre doenças que sempre caiam no melodrama carregado. Pois um autor de teatro francês, Florian Zeller, em seu debut, mistura teatro e mal de Alzheimer e surpreende por fazer uma obra CINEMATOGRAFICA e sem cair no piegas.
Anne é a filha única que cuida de seu pai, Anthony, um engenheiro aposentado que sofre de alto estágio de demência. Mesmo tentando manter a mente sã, Anthony está totalmente desorientado do tempo e das pessoas próximas que lhe acolhem o que gera transtorno para a sua filha que fica no embate entre lhe dar suporte ou o encaminhar para um asilo.
O filme Meu Pai apresenta duas visões de quem sofre em conta da demência. a vitima que luta para continuar a viver mas totalmente imerso na desorientação da realidade. E a filha do doente que testemunha a descida ao inferno do ente querido e ao mesmo tempo fica dividida entre os cuidados do pai e a sua vida particular.
Sob o ponto de vista técnica, a obra de Zeller chama atenção pela brilhante direção de arte de Peter Francis que transforma o apartamento em um labirinto refletindo o caos mental de Anthony tornando a imediata imersão do público na cabeça do protagonista. A montagem delicada e intricada de Yorgos Lamprinos sabe conduzir os devaneios do personagem de Anthony Hopkins.
E como um cineasta maduro e perspicaz, a fantástica estréia de Florian Zeller na direção chama atenção ao adaptar a sua própria peça e surpreende ao pegar uma narrativa teatral e transformá-la perfeitamente em uma obra cinematográfica. E esse tipo de filme exige um elenco afiado - e a dupla Anthony Hopkins e Olivia Colman dão um show. Os dois representam a dor em ficar sozinho. Ela que carrega o fardo de cuidar do pai cada vez mais o que se transforma numa responsabilidade pesada demais. Já o pai é um homem controlador que se desespera por justamente perder esse senso além do temor da solidão (sem esposa, a outra filha morta). E Hopkins dá um show particular no final de partir o coração. Meu Pai é uma dolorosa experiência sobre a demência tanto por parte da vítima como nas pessoas mais próximas.

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