segunda-feira, abril 01, 2024

Zona de Interesse

(The Zone of Interest, Inglaterra/EUA, 2023)
Direção: Jonathan Glazer
Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller, Lili Falk, Imogen Kogge.

Na Alemanha da Segunda Guerra Mundial, o comandante Rudolf Höss e sua esposa Hedwig apresentam a vida perfeita, moram em uma casa grande e o seu quintal verde cheio de plantas. Com uma rotina banal e frívola, a família Höss vive de forma plena, sem preocupações mas existe um detalhe importante e altamente mórbido. Ao lado da casa se encontra o local de trabalho de Rudolf, o terrível Campo de Concentração de Auschwitz.
Não é fácil sair do cinema após assistir ao filme Zona de Interesse. O desconforto misturado a desorientação me atingiu em cheio pois a obra parece se dividir em dois. Primeiro, uma parte visual que mescla a bela natureza em contraponto a casa do protagonista que soa como um lugar assombrado - uma redoma da rotina perfeita de uma família mas o comportamento antissemita é um show de humor mórbido e deprimente. Segundo, o som que escutamos - tanto para os personagens como o público - são os ecos tenebrosos do campo de concentração. O som horripilante casado com a trilha sonora de Mica Levi é um detalhe que não passa por despercebido. 
Zona de Interesse traduz com força a banalidade do mal; o de entender como uma boa parte da população como a alemã (uma sociedade "avançada") aceitou realizar massacres. Aqui, o casal de protagonistas se preocupa com o bem estar da família, com o futuro dos filhos; algo humano. No entanto, focando mais na vida do casal percebemos que ele é um comandante que só pensa na logística para aperfeiçoar a indústria da morte que virou os campos. Já a esposa, a coisa não é diferente. Ela só pensa na casa, como colocar as plantas para esconder o campo ao lado (esteticamente nada bonito); além de torturar os empregados (judeus escravos). Na medida que o horror ao lado se intensifica, a loucura de Rudolf e Hedwig cresce na mesma medida. O mal é uma energia que se auto alimenta. Por isso que o diretor Jonathan Glazer teve a liberdade de inserir um pouco de humanidade no meio do filme ao introduzir uma garota que esconde alimentos para os judeus - usando imagens em preto e branco em contraponto ao horror colorido da rotina dos protagonistas. Esse é o único ponto de respiro que o público sentirá em toda metragem do filme. Fora isso, Glazer realiza um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos ao usar o sensorial como elemento narrativo para sentimos a natureza fria e cruel da natureza humana. Já um dos melhores filmes do século - uma força cinematográfica como poucas.

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