quarta-feira, dezembro 01, 2021

Amor, Sublime Amor

(West Side Story, EUA, 2021)
Direção: Robert Wise e Jerome Robbins
Elenco: Natalie Wood, Richard Beymer, Rita Moreno, George Chakiris

Assisti Amor, Sublime Amor na minha adolescência e confesso que o filme não me encantou. Pelo contrário, achei chato e maçante. Resumo da ópera: não estava preparado para conferir o filme na sua totalidade. E com a aproximação da versão de Steven Spielberg (que agora me preocupa) dei mais uma chance a este musical tão falado e admirado. Pois bem, mordi minha língua. Que filmaço! Antes não tinha reparado na força e criatividade dos seus realizadores nesta singular obra que usa um enredo batido (Romeu e Julieta de novo!!!) mas de uma forma revigorante, energética além de inserir criticas sociais pertinentes.
No subúrbio de Nova Iorque da década de 1960, brancos e a comunidade latina não conseguem se entender numa situação representada pela rincha entre duas gangues: a americana Jets e a porto-riquenha Sharks. E esse caldeirão prestes a explodir ganha mais um combustível: o branco Tony se apaixona pela irmã do chefe dos Sharks, Maria.
Amor, Sublime Amor inicia com uma linda abertura em que a câmera sobrevoa Nova Iorque partindo de Manhattan expondo prédios, ruas assimétricas até chegar no subúrbio pobre onde vivem os protagonistas. Assim, o grande Robert Wise (A Noviça Rebelde) realiza um musical com veia cinematográfica, e com a ajuda primordial do seu co-diretor e coreógrafo Jerome Robbins, ambos criam fantásticos movimentos de câmera que hora acompanham os atores, em outros momentos brinca com a posição do elenco na cenografia. Ótimo uso de efeitos óticos como no primeiro encontro de Maria e Tony. Aqui a dupla Wise e Robbins realizam um musical que mais dançado do que cantado gerando cenas de impacto como os 15 minutos iniciais em que não existe dialogo e sim uma coreografia que expõe a rotina do bairro e joga de cara o conflito das gangues. Confesso que o inteligente uso da cenografia e danças me chamou muita atenção e não lembro de um outro filme que use esse recurso (penso que o britânico Os Sapatinhos Vermelhos (1948) também usou o mesmo artifício mas não assisti ao filme de Michael Powell e Emeric Pressburger).
Outro destaque é o show da parte técnica. O fantástico casamento entre a fotografia quente e iluminada de Daniel L. Fapp e a direção de arte de Boris Leven e Victor A. Gangelin que recria em estúdio o subúrbio é o suficiente para a dupla de diretores encenarem belas cenas. A montagem de Thomas Stanford também tem um papel importante ao imprimir uma energia contagiante ao filme.
E a Natalie Wood e Robert Beymer estão bem como "Julieta e Romeu" mas é a dupla de latinos Rita Moreno e George Chakiris que roubam a cena com a energia e sensualidade à flor da pele.
Amor, Sublime Amor é mais uma adaptação do clássico de Shakespeare mas que se sobressai pela criatividade, vigor e pujança e por tocar no dedo em feridas ainda atuais como a violência urbana, a xenofobia, o ódio (a polícia faz pouco caso com as desavenças o que alimenta mais esse segregacionismo). E de quebra tem um final tocante e emocionante. Vencedor merecidamente de 10 Oscars incluindo melhor filme e direção, Amor, Sublime Amor é um clássico atemporal que dar um pontapé inicial ao musical adulto em que anos mais tarde seria dominado pelo mestre Bob Fosse.

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